segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O CANDIDATO INTELECTUAL

Evangelização
O CANDIDATO INTELECTUAL


Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém, acerca dos serviços da Bom-Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela profunda capacidade intelectual.

Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida às interpelações do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do empreendimento. O Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita esperança. A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e gentios converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai.

O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos, indagou:

-A que escola filosófica obedecerá?
-A escola do céu respondeu complacente, o Divino Amigo.

E outras perguntas choveram, improvisadas.

-Quem nos presidirá à organização?
-Nosso Pai Celestial.

-Em que base aceitará a dominação política dos romanos?
-Nas do respeito e do auxílio mútuos.

-Na hipótese de sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder?
-Desculparemos a ignorância, quantas vezes for preciso.

-Qual o direito que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
-O direito de servir sem exigências.

O rapaz arregalou os olhos aflitos e prosseguiu indagando:

-Em que consistirá desse modo, o salário do discípulo?
-Na alegria de praticar a bondade.

-Estaremos arregimentados num grande partido?
-Seremos, em todos os lugares, uma assembléia de trabalhadores atenta à Vontade Divina.

-O programa?
-Permanecerá nos ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.

-Onde a voz imediata de comando?
-Na consciência.

-E os cofres mantenedores do movimento?
-Situar-se-ão em nossa capacidade de produzir o bem.

-Com quem contaremos de imediatos?
-Acima de tudo com o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.

-Quem reterá a melhor posição no ministério?
-Aquele que mais servir.

O candidato coçou a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa:

-Que objetivo fundamental será o nosso?

Respondeu Jesus, sem se irritar:

-O mundo regenerado, enobrecido e feliz.

-Quanto tempo gastará?
-O tempo necessário.

-De quantos companheiros seguros dispomos para início da obra?
-Dos que puderem compreender-nos e quiserem ajudar-nos.

-Mas não teremos recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
-No Reino Divino não há violência.

-Quantos filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?
-Em nosso apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima do número.

-A missão abrangerá quantos países?
-Todas as nações.

-Fará diferença entre senhores e escravos?
-Todos os homens são filhos de Deus.

-Em que sítio se levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém?
-No coração dos aprendizes.

-Os livros de apontamento estão prontos?
-Sim.

-Quais são?
-Nossas vidas...

O talentoso adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo.

Após longa série de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso:

-Senhor, por que não esclareces?

O Cristo afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:

-Busca-me quando estiveres disposto a cooperar.

E, assim dizendo, abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e servir por amor, sem perguntar.

Extraído do livro CONTOS E APÓLOGOS
PELO ESPÍRITO IRMÃO X
Francisco Cândido Xavier

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