sexta-feira, 31 de maio de 2019


Campanha Diferente

Esperava por você justamente aqui, para tratarmos de assunto sério, - falou-me Capistrano, velho amigo agora no Plano Espiritual, que conheci maduro e próspero, em pequena loja do Botafogo, ao tempo em que ainda me acomodava à carcaça enferma.

Em torno de nós, na esquina da rua Real Grandeza, grupos fraternos de amigos desencarnados chasqueavam, alegres, dos carros que despejavam criaturas e flores pra as comemorações dos finados, junto ao aristocrático cemitério São João Batista.

Corbelhas e buquês, recordando jóias da primavera, derramavam-se de mãos ricas e pobres, engelhadas e juvenis, em homenagem aos afetos queridos, que quase todos os visitantes supunham para sempre estatelados ali no chão.

- Soube, meu caro, - prosseguiu Capistrano singularmente abatido, - que você ainda escreve para os vivos do mundo...

E, apontando para respeitável matrona, acompanhada de dois carregadores portando ricos vasos, continuou:

- Grafe uma crônica, recomendando a extinção de semelhante excessos. Mostre a inconveniência do orgulho na casa dos mortos imaginários da Terra, que hoje reconhecemos deve ser um recinto de silêncio e oração. Em toda a parte, o progresso marca no mundo admiráveis alterações. Guerras modificam a geografia, apóstolos renovam leis, a civilização aprimora-se, engenhos varrem o espaço, indicando a astronáutica do futuro, no entanto, com raras exceções de alguns países que estão convertendo necrópoles em jardins, os nossos cemitérios repousam estanques, lembrando parques improdutivos, onde se alinham primorosas plantas de pedra sobre montões de batatas podres. Órgãos de fiscalização e sistemas de vigilância controlam mercados e alfândegas, na salvaguarda dos interesses públicos e ninguém coibe os investimentos vãos em tanta riqueza morta.

Capistrano fitou-nos, como a verificar o efeito das palavras que pronunciara, veemente, e seguiu adiante:

- Imagine você que também errei por faltar-me orientação. Tive uma filha única que foi todo o encanto de minha viuvez dolorida. Marília, aos dezoito janeiros, era a luz de minh’alma. Criei-a com todo o enternecimento do jardineiro que observa, enlevado, o crescimento de uma flor predileta. Entretanto, mimada por meus caprichos paternos, minha inexperiente menina negou-me todas as previsões. Enamorou-se, na praia, de um rapaz doidivanas, que se entregava aos exercícios da bola, e, certa feita, menosprezada por ele, tomou violenta dose de corrosivo relegando-me à solidão. Ao vê-la, nas raias da agonia, sem que meu amor pudesse arrebatá-la ao domínio da morte, rendi-me dementado, a total desespero. Nunca averiguei as razões que lhe ditaram atitude assim tão drástica e jamais procurei o moço anônimo que, decerto, ao abandoná-la, não teria a intenção de fazê-la infeliz. Passei, no entanto, a cultuar-lhe loucamente a memória. Despendi mais da metade de minhas singelas economias para erigir-lhe um túmulo de alto preço... E, por vinte anos consecutivos, adorei o monumento inútil, lavando frisos, fazendo lumes, mudando enfeites, plantando flores. Envelheci chorando sobre a lápide, e quando os meus olhos divisavam o custoso jazigo, tateava o relevo das chorosas legendas...

Um dia, chegou minha vez. O coração parou, deslocando-me do corpo hirto. No entanto, embora desencarnado, apeguei-me ao sepulcro que venerava, estirando-me nele. Se amigos logravam afastar-me para esse ou aquele mister, acabava tornando ao formoso monstro de mármore para lamentar-me a clamar pela filha que não conseguia ver. Quatro anos rolaram sobre minha aflitiva situação, quando, em determinada manhã, experimentei comentário indizível, sentindo-me à feição da terra gelada que se reaviva ao calor do sol. Inexplicavelmente contemplava Marília na tela da saudade, qual se lhe fosse receber, de novo, o beijo de amor e luz, quando antigo orientador buscou-me, presto, e conduzindo-me, bondoso, à rua General Polidoro, apontou-me um homem suarento e cansado, a carregar ternamente, nos próprios braços, triste menina muda, paralítica e pobre... Ao fixar-lhe os olhos embaciados de criança-problema, a realidade espiritual clareou-me a razão. Surpreendera Marília reencarnada, em rudes padecimentos expiatórios, e, mais tarde, vim a saber que renascera por filha do mesmo homem que lhe fora motivo ao gesto tremendo de deserção... Desde essa hora, fugi das ilusões que me prendiam a pesadelo tão longo!... Acordei renovado, para novamente respirar e viver, trabalhar e servir...

Capistrano enxugou o pranto que lhe corria copioso e ajuntou com amargura:

- Escreva, meu amigo, escreva às criaturas humanas e informe, claramente, que os vivos da espiritualidade agradecem o respeito e o carinho com que se lhes dignificam os restos, mas rogue para que se abstenham destes quadros fantásticos de vaidade ostentosa, com que se pretende honrar o nome dos que partiram... Peça para que socorram as crianças desajustadas e enfermas, enjeitadas e infelizes com o dinheiro mumificado nestes cofres de cinza... Diga-lhes para que se compadeçam dos meninos desamparados e que provavelmente, muitos daqueles entes inolvidáveis que procuram nos carneiros de luxo, estão hoje em provações cruéis, nos institutos de correção ou no leito dos hospitais, na ociosidade das ruas ou em pardieiros esburacados que o progresso esqueceu... Fale da reencarnação e explique-lhes que muitos dos imaginados mortos que ainda amam, jazem sepulcros em corpos vivos, quase sempre, desnutridos e atormentados, suplicando alimento e remédio, refúgio e consolação...

A palavra do amigo silenciou, embargada de lágrimas, e aqui me encontro, atendendo à promessa de redizer-lhe a história numa página simples. Entretanto, não guardo a pretensão de ser prontamente compreendido, de vez que se estivesse na avenida Rio Branco ou na Praça Mauá, envergando impecável costume de linho inglês, entre homens ainda encarnados, eu diria também que este caso é um conto de mortos para mortos, e que os mortos devem estar mortos sem preocupar a ninguém.

IRMÃO X.  
do livro “RELATOS DA VIDA” – Psicografia  de  FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.

quinta-feira, 30 de maio de 2019


Deixai que venham a mim as criancinhas

18. Disse o Cristo: “Deixai que venham a mim as criancinhas.” Profundas em sua simplicidade, essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às crianças, mas também o das almas que gravitam nas regiões inferiores, onde o infortúnio desconhece a esperança. Jesus chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os fracos, os escravizados e os viciosos. Ele nada podia ensinar à infância física, presa à matéria, submetida ao jugo do instinto, ainda não incluída na categoria superior da razão e da vontade que se exercem em torno dela e por ela.

Queria que os homens a Ele fossem com a confiança daqueles entezinhos de passos vacilantes, cujo chamamento conquistava, para o seu, o coração das mulheres, que são todas mães. Submetia assim as almas à sua terna e misteriosa autoridade. Ele foi o facho que ilumina as trevas, a  claridade matinal que toca a despertar; foi o iniciador do Espiritismo, que a seu turno atrairá para Ele, não as criancinhas, mas os homens de boa vontade. Está empenhada a ação viril; já não se trata de crer instintivamente, nem de obedecer maquinalmente; é preciso que o homem siga a lei inteligente que se lhe revela na sua universalidade.

Meus bem amados, são chegados os tempos em que, explicados, os erros se tornarão verdades. Ensinar-vos-emos o sentido exato das parábolas e vos mostraremos a forte correlação que existe entre o que foi e o que é. Digo-vos, em verdade: a manifestação espírita avulta no horizonte, e aqui está o seu enviado, que vai resplandecer como o Sol no cume dos montes. – João Evangelista. (Paris, 1863.)

Extraído do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.

quarta-feira, 29 de maio de 2019


 Saúde é Trabalhar

Ao longo de sua luminosa trajetória, Chico experimentou inúmeros problemas de saúde, sem permitir que os males físicos o inibissem.

Indagado, certa feita, se em algum momento sentira impaciência ou revolta, explicou:

– Não sofro tanto assim, porque a ciência médica está bastante avançada. Tenho, por exemplo, um processo de catarata inoperável e há décadas faço a medicação em meus olhos, com muita calma, porque considero, conforme me ensinou Emmanuel, que a possibilidade de ver já é um privilégio.

Notável postura, não é mesmo, leitor amigo? Um convite à reflexão em torno de males que não nos afligiriam tanto, se não os imaginássemos capazes de paralisar nossas iniciativas e descolorir nossa existência.

A forma como o mentor espiritual sedimentou-lhe essa convicção é bastante pitoresca.

Certa feita, lutando por debelar um processo hemorrágico no olho direito, Chico deixou de participar dos trabalhos mediúnicos por dois dias.

Emmanuel veio vê-lo.

– Por que não está trabalhando?

E Chico, ensaiando agastamento:

– Como o senhor sabe, estou com um olho doente.

O guia não deixou barato:

– E o outro, o que está fazendo? Ter dois olhos é luxo!

Chico conclui, após relatar o episódio:

– Poder trabalhar, não obstante a doença, já é quase saúde.

***
Diariamente, milhões de brasileiros justificam sua ausência no serviço, apresentando atestados médicos, a informar que estiveram impossibilitados de exercer suas funções.

Há algo do chamado jeitinho brasileiro em muitas dessas iniciativas, com as quais se pretende matar o serviço, em favor de alguns dias no dolce fare niente dos italianos.

Em relação às atividades espirituais e filantrópicas, no Centro Espírita, acontece com frequência maior, lamentavelmente.
Isso porque não há necessidade de atestado.

Geralmente, os faltosos nem se dão ao trabalho de avisar, ocasionando sérios embaraços em determinados setores.

Particularmente na atividade mediúnica, tal comportamento é altamente danoso, porquanto, não raro, um planejamento cuidadosamente elaborado pelos benfeitores espirituais é prejudicado pela ausência de um ou mais participantes.

Deixam de comparecer por motivos triviais:
• Chuva.
• Frio.
• Cansaço.
• Desinteresse.
• Sono.
• Visita.
• Mal-estar.
Com relação a este último motivo, não se dão conta os médiuns de que, frequentemente, uma enxaqueca, uma dor, uma tensão nervosa, um ânimo caído, decorrem da presença da entidade que deverá comunicar-se por seu intermédio.

Os mentores espirituais antecipam a ligação, a fim de que ocorra melhor familiaridade com o Espírito, favorecendo a manifestação.

O médium, que deveria saber disso, deixa de comparecer, por estar doente.
***
Em qualquer situação, no dia-a-dia, oportuno lembrar que o trabalho é o melhor remédio para nossos males.

Como o próprio Chico ensina, trabalhar, mesmo estando doente, já é um começo de recuperação.

Espiritualmente, haverá demonstração mais exuberante de saúde do que alguém disposto a servir, mesmo estando doente?

Richard Simonetti

Livro Rindo e Refletindo com Chico Xavier

terça-feira, 28 de maio de 2019


Ato de Gratidão

Agradeço-te, oh! Pai
O amor com que me envolves.
Agradeço-te a vida,
O pão, a luz, o lar
E os amigos queridos
Que me estendem as mãos
Mas agradeço ainda
A luz do sofrimento
Que me faz caminhar.
Pela dor que me envias,
Sê bendito, meu Deus!...



Crítica e Serviço

Se muitos companheiros estão vigiando os teus gestos procurando o ponto fraco para te criticarem, outros muitos estão fixando ansiosamente o caminho em que surgirás, conduzindo até eles a migalha do socorro de que necessitam para sobreviver.
É impossível não saibas quais deles formam o grupo de trabalho em que Jesus te espera.


Em Tarefa do Amor

A tarefa de amor
Resume-se em servir.
Decide-te e começa...
Une-te aos companheiros,
Sem contar desenganos.
Há irmãos que se queixam
Outros se desanimam,
Alguns te desaprovam,
Muitos te desconhecem...
Mas se segues com Deus
Nunca te cansarás.


Prova de Amor

Num sonho que mais se definia por belo encontro espiritual, o aprendiz se reconheceu à frente de nobre mentor da Vida Maior e, sequioso de ensinamentos, perguntou:
Instrutor, qual a mais alta demonstração de amor a Jesus que nos seja possível realizar, diante dos outros?
O orientador refletiu, por alguns momentos e respondeu:
Filho, a mais alta mostra de dedicação ao Divino Mestre é amar a alguém que tudo terá feito na vida para não merecê-lo.


Teu Sorriso

Se um coração foi aliviado;
Se alguém obteve novo ânimo;
Se alguma pessoa descobriu para si própria algum sinal de paz;
Ou se teu próprio ambiente surgiu mais claro;
O teu sorriso, mesmo constrangido,
Apresentou imenso valor,
Porque o sorriso,
Mesmo forçado,
Vale muito mais que não sorrir.


Do livro "MATERIAL DE CONSTRUÇÃO"


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
EMMANUEL

segunda-feira, 27 de maio de 2019


 FELIZ É TODO AQUELE...

FELIZ É TODO AQUELE QUE PODE ABRIR OS LÁBIOS NA PRIMAVERA DE UM SORRISO DE BENÇÃOS.

FELIZ É TODO AQUELE QUE PODE OLHAR O MUNDO COM OS OLHOS VIRGENS DE MALÍCIA.

FELIZ É TODO AQUELE QUE PODE OUVIR, A MÚSICA DAS COISAS SEM A LEVIANDADE QUE LACRA A AUDIÇÃO PSIQUICA.

FELIZ É TODO AQUELE QUE PODE LOCOMOVER-SE PISANDO DE LEVE NA TERRA PARA NÃO MACHUCÁ-LA.

E BEIJAR AS FLORES COM HÁLITO DE GRATIDÃO!!!

FELIZ É TODO AQUELE QUE PODE ESPALMAR AS MÃOS NUM GESTO DE PIEDADE AOS VIAJORES OUTROS SEUS IRMÃOS...

CAÍDOS, VENCIDOS, MALTRATADOS,ESQUECIDOS;

E AS VEZES, VILIPENDIADOS PELA INGRATIDÃO OU INDIFERENÇA DA HUMANIDADE.

FELIZ É TODO AQUELE QUE PODE ABRIR A JANELA DA ALMA SABENDO NO ENTANTO QUE O REINO DE DEUS NÃO ESTÁ ALHURES...

ALÉM DAS GALÁXIAS INFINITAS.

MAS NO RECÔNDITO DO PRÓPRIO CORAÇÃO;

E SE DEIXA SENSIBILIZAR PELO AMOR E TEM A VALENTIA DE AMAR MESMO OS DIFÍCEIS DE SEREM AMADOS.

FELIZ ENFIM É TODO AQUELE QUE JÁ PODE EMOCIONAR-SE COM A CARIDADE.

E COMPREENDER QUE DEUS É CARIDADE, E TODOS QUE PRATICAM-NA VIVEM DEUS E DEUS NELE HABITA.

FELIZ É TODO AQUELE QUE JÁ PODE CONQUISTAR A MERCÊ DE SACRIFÍCIOS E RENÚNCIAS O TESOURO DE LÍDIMAS AMIZADES.

QUE O TEMPO NÃO CORROI E NEM OS ENGANOS DOS VINHOS CAPITOSOS AFASTAM.

FELIZ É TODO AQUELE QUE COMO EU PODE TER VOCÊS COMO AMIGOS!!!

Jerônimo Mendonça*

*Jerônimo Mendonça Era tetraplégico, só ouvia e falava, faleceu em nov de 89. Mesmo preso numa cama em um corpo disforme construiu casas de sopa, centros espíritas, escreveu vários livros e fundou em Ituiutaba-MG, uma creche denominada Lar Pouso do Amanhecer que abriga mais de 250 crianças Jerônimo era conhecido como: “ O GIGANTE DEITADO”.

domingo, 26 de maio de 2019


Mãos à Obra


“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação”.
Paulo. (I Cor., 14:26).

A igreja de Corínto lutava com certas dificuldades mais fortes, quando Paulo lhe escreveu a observação aqui transcrita.

O conteúdo da carta apreciava diversos problemas espirituais dos companheiros do Peloponeso, mas podemos insular o versículo e aplicá-lo a certas situações dos novos agrupamentos cristãos, formados no ambiente do Espiritismo, na revivescência do Evangelho.

Quase sempre notamos intensa preocupação nos trabalhadores, por novidades em fenomenologia e revelação.

Alguns núcleos costumam paralisar atividades quando não dispõem de médiuns adestrados.

Por quê?

Médium algum solucionará, em definitivo, o problema fundamental da iluminação dos companheiros.

Nossa tarefa espiritual seria absurda se estivesse circunscrita a frequência mecânica de muitos, a um centro qualquer, simplesmente para assinalarem o esforço de alguns poucos.

Convençam-se os discípulos de que o trabalho e a realização pertencem a todos e que é imprescindível se movimente cada qual no serviço edificante que lhe compete. Ninguém alegue ausência de novidades, quando vultosas concessões da esfera superior aguardam a firme decisão do aprendiz de boa vontade, no sentido de conhecer a vida e elevar-se.

Quando vos reunirdes, lembrai a doutrina e a revelação, o poder de falar e de interpretar de que já sois detentores e colocai mãos à obra do bem e da luz, no aperfeiçoamento indispensável.


Emmanuel

sábado, 25 de maio de 2019


Conjunto


“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo...”.
Jesus – João, (17:24).

“Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra espera; arai!”.
- Cap. XX, 40.

Num templo espírita-cristão, é razoável anotar que todo trabalho é ação de conjunto.
Cada companheiro é indicado à tarefa precisa; cada qual assume a feição de peça particular na engrenagem do serviço, sem cuja cooperação os mecanismos do bem não funcionam em harmonia.
Indispensável apagar-nos pelo brilho da obra.
Na aplicação da eletricidade, congregam-se implementos diversos, mas interessa, acima de tudo, a produção da força, e, no aproveitamento da força, a grande usina é um espetáculo de grandeza, mas não desenvolve todo o concurso de que é suscetível, sem a tomada simples.
Necessário, assim, saibamos reconhecer por nós mesmos o que seja essencial a fazer pelo rendimento digno da atividade geral.
Orientando ou colaborando, em determinadas ocasiões, a realização mais importante que se nos pede é o esclarecimento temperado de gentileza ou a indicação paciente e clara da verdade ao ânimo do obreiro menos acordado, na edificação espiritual. Noutros instantes, a obrigação mais valiosa que as circunstâncias nos solicitam é o entendimento com uma criança, a conversa fraternal com um doente, a limpeza de um móvel ou a condução de um fardo pequenino.
Imprescindível, porém, desempenhar semelhantes incumbências, sem derramar o ácido da queixa e sem azedar o sentimento na aversão sistemática. Irritar-se alguém, no exercício das boas obras, é o mesmo que rechear o pão com cinzas.
Administrar amparando e obedecer, efetuando o melhor!...
Em tudo, compreender que o modo mais eficiente de pedir é trabalhar e que o processo mais justo de recomendar é fazer, mas trabalhar e fazer, sem tristeza e sem revolta, entendendo que benfeitorias e providências são recursos preciosos para nós mesmos. Em todas as empresas do bem, somos complementos naturais uns dos outros. O Universo é sustentado na base da equipe. Uma constelação é família de sóis. Um átomo é agregado de partículas.
Nenhum de nós procure destaque injustificável.
Na direção ou na subalternidade, baste-nos o privilégio de cumprir o dever que a vida nos assinala, discernindo e elucidando, mas auxiliando e amando sempre. O coração, motor da vida orgânica, trabalha oculto e Deus, que é para nós o Anônimo Divino, palpita em cada ser, sem jamais individualizar-se na luz do bem.

Emmanuel


Do livro EDUCANDÁRIO DE LUZ


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

sexta-feira, 24 de maio de 2019


APRENDIZES E ADVERSÁRIOS

Jonathan, Jessé e Eliakim, funcionários do, Templo de Jerusalém, passando por Cafarnaum, procuraram Jesus no singelo domicílio de Simão Pedro.

Recebidos pelo Senhor, entregaram-se, de imediato, à conversação.

 ― Mestre ― disse o primeiro ―, soubemos que a tua palavra traz ao mundo as Boas Novas do Reino de Deus e, entusiasmados com as tuas concepções, hipotecamos ao teu ministério o nosso aplauso irrestrito. Aspiramos, Senhor, à posição de discípulos teus...

Não obstante as obrigações que nos prendem ao sagrado Tabernáculo de Israel, anelamos servir-te, aceitando-te as idéias e lições, com as quais seremos colunas de tua causa na cidade eleita do Povo Escolhido... Contudo, antes de solenizar nossos votos, desejamos ouvir-te quanto à conduta que nos compete à frente dos inimigos...

― Messias, somos hostilizados por terríveis desafetos, no Santuário ― exclamou o segundo ―, e, extasiados com os teus ensinamentos, estimaríamos acolher-te a orientação.

― Filho de Deus ― pediu o terceiro ―, ensina-nos como agir...

Jesus meditou alguns instantes, e respondeu:

― Primeiramente, é justo considerar nossos adversários como instrutores. O inimigo vê junto de nós a sombra que o amigo não deseja ver e pode ajudar-nos a fazer mais luz no caminho que nos é próprio. Cabe-nos, desse modo, tolerar-lhe as admoestações, com nobreza e serenidade, tal qual o ferro, que após sofrer, paciente, o calor da forja, ainda suporta os golpes do malho com dignidade humilde, a fim de se adaptar à utilidade e à beleza.
Os visitantes entreolharam-se, perplexos, e Jonathan retomou a palavra, perguntando:

― Senhor, e se somos injuriados?

― Adotemos o perdão e o silêncio ― disse Jesus. ― Muita gente que insulta é vítima de perturbação e enfermidade.

― E se formos perseguidos? ― indagou Jessé.

― Utilizemos a oração em favor daqueles que nos afligem, para que não venhamos a cair no escuro nível da ignorância a que se acolhem.

― Mestre, e se nos baterem, esmurrarem? ― interrogou Eliakim. ― que fazer se a violência nos avilta e confunde?

―Ainda assim ―esclareceu o brando interpelado ―, a paz íntima deve ser nosso asilo e o amor fraterno a nossa atitude, porquanto, quem procura seviciar o próximo e dilacerá-lo está louco e merece compaixão.

― Senhor ― insistiu Jonathan ―, que resposta oferecer, então, à maledicência, à calúnia e à perversidade?

O Cristo sorriu e precisou:

― O maledicente guarda consigo o infortúnio de descer à condição do verme que se alimenta com o lixo do mundo, o caluniador traz no coração largas doses de fel e veneno que lhe flagelam a vida, e o perverso tem a infelicidade de cair nas armadilhas que tece para os outros. O perdão é a única resposta que merecem, porque são bastante desditosos por si mesmos. 

― E que reação assumir perante os que perseguem? ― inquiriu Jessé, preocupado.

― Quem persegue os semelhantes tem o espírito em densas trevas e mais se assemelha ao cego desesperado que investe contra os fantasmas da própria imaginação, arrojando-se ao fosso do sofrimento.

Por esse motivo, o socorro espiritual é o melhor remédio para os que nos atormentam...

― E que punição reservar aos que nos ferem o corpo, assaltando-nos o brio? ― perguntou Eliakim espantado. ― Refiro-me àqueles que nos vergastam a face e fazem sangrar o peito...

― Quem golpeia pela espada, pela espada será golpeado também, até que reine o Amor Puro na Terra ― explicou o Mestre, sem pestanejar. ― Quem se rende às sugestões do crime é um doente perigoso que devemos corrigir com a reclusão e com o tratamento indispensável. O sangue não apaga o sangue e o mal não retifica o mal...

E, espraiando o olhar doce e lúcido pelos circunstantes, continuou:

― É imperioso saibamos amar e educar os semelhantes com a força de nossas convicções e conhecimentos, a fim de que o Reino de Deus se estenda no mundo... As Boas Novas de Salvação esperam que o santo ampare o pecador, que o são ajude o enfermo, que a vítima auxilie o verdugo...

Para isso, é imprescindível que o perdão incondicional, com o olvido de todas as ofensas, assegure a paz e a renovação de tudo...

Nesse ínterim, uma criança doente chorou em alta voz num aposento contíguo.

O Mestre pediu alguns instantes de espera e saiu para socorrê-la, ,as, ao regressar, debalde buscou a presença dos aprendizes fervorosos e entusiastas.

Na sala modesta de Pedro não havia ninguém.

IRMÃO  X
Do livro Contos Desta e Doutra Vida
Psicografia de Francisco CÂNDIDO Xavier

quinta-feira, 23 de maio de 2019


Abrigo Ideal

E tudo vai passando, como sempre dizes,
Os dias de infortúnio e os movimentos felizes.

Tempos de infância, belos e risonhos
Envaíram-se todos, tais quais sonhos
Que não consegues explicar;
O lar de agora já não te parece
O mesmo antigo lar
Em que o colo de mãe, na luz da prece,
Inteiro se te abria,
Sustentando-te a paz no clarão da alegria...

Onde ouvir novamente as vozes que, à noitinha,
Uniam-se-te à voz inocente a cantar:
- “Oh! ciranda, cirandinha.
Vamos todos cirandar!...”

Fitavam-te, na marcha dos instantes,
Estrelas cintilantes,
Como a notar-te o sentimento puro
E a te indicarem, sem que percebesses,
As estradas difíceis do futuro.

A juventude plena de ansiedade
Passou, qual luminosa floração
E indagas onde estão
Os planos da primeira mocidade...

Refletes nas queridas afeições
No ponto solitário em que te pões...

Quantos amigos desertaram
Da senda em que persistes?
Quantos julgaram tristes
As tarefas que abraças?
E largaram-te, a sós, dizendo-se à procura
Do prazer, do renome e da ventura?!...
Enquanto passas,
No serviço de sempre,
De coração ao desalinho,
Perguntas, muitas vezes, quantos lábios
Ouviste transformados no caminho,
Lábios que te falavam, ontem, de ternura,
Em promessas de apoio e de carinho
E hoje te comunicam amargura,
Acusação, queixa e censura,
Impondo-te incerteza e incompreensão?
E os outros que, em magoada despedida,
Deixaram-te no mundo, em busca de outra vida,
Dando-te a inquietação constante que te invade
Pela chama invisível da saudade?!...

E tudo vai passando, tal qual dizes,
Os instantes felizes e infelizes,
Entretanto, alma irmã, de pés sangrando embora,
Segue amando e servindo, tempo afora...
Nada te impeça caminhar
Para a sublimação que te pede lutar,
Esculpindo, em ti mesmo, o amor cuja beleza
Palpita em tua própria natureza.

Não contes desengano, prova, idade...
Segue e não temas,
Quem serve encontra em todos os problemas
Motivação para a felicidade.

E quando tudo te pareça
Saudade e solidão
Na bruma que te envolva o coração,
Entra no claro abrigo que reténs,
Que se te faz no mundo o mais alto dos bens,
Riqueza em luz e paz que ninguém desarruma
E nunca sofre alteração alguma...
Esse refúgio ideal que te descansa
Nos tesouros de tudo quanto é teu,
É a bênção de servir que te guarda a esperança
No trabalho do bem que Deus te concedeu...

MARIA DOLORES

CAMINHOS DO AMOR

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

quarta-feira, 22 de maio de 2019


NA LEI DO BEM

Perguntas, muita vez, de alma inquieta, que vem a ser o bem, tão diversas surgem as interpretações, ao redor do bem, por toda parte.
Entendamos, contudo, que o bem genuíno será sempre o bem que possamos prestar na obra do bem aos outros.
Colheste pedradas, na construção a que te dedicas; no entanto, compadeces-te da mão que te ultraja, interpretando-lhe os golpes por sintomas de enfermidade.
Ouviste frases insultuosas, em torno do teu nome, e registras a agressão por loucura daqueles que as pronunciam, sem alterar-te no auxílio a eles.
Sofreste assalto, na tarefa que realizas, mas não te revoltas contra a injúria dos que te invadem a seara de esforço nobre, trabalhando sem mágoa, no clima da tolerância.
Podes falar, com razão, a palavra acusadora contra o adversário que te feriu; contudo, reconheces a ofensa por crise de ignorância e, nem de leve, te afastas da desculpa irrestrita.
Tens bastante merecimento para destaque e ocultas-te, na atividade silenciosa, sem fugir à cooperação, junto daqueles que te dirigem.
Conservas a possibilidade de reter o melhor quinhão de vantagens e não te lembras disso, ofertando o melhor de ti mesmo aos que te comungam a experiência.
O bem é luz que se expande, na medida do serviço de cada um ao bem de todos, com esquecimento de todo mal.
Sem afetação de santidade, ajudemos o próximo, a fim de que o próximo aprenda a ajudar-se.
Sem cartaz de virtude, olvidemos as faltas alheias, reconhecendo que poderiam ser nossas, diante das fraquezas que carregamos ainda.
Recorda que, se há espíritos transviados ou injustos, em decúbito moral, através do caminho, são eles tão necessitados da parcela de teu amor quanto os famintos, a quem dás espontaneamente o prato de pão.
A felicidade real nasce, invariável, daquela felicidade com que tornamos alguém feliz.
Façamos, assim, aos outros o que desejamos nos façam eles, na convicção de que, se cuidamos da Lei do Bem, a Lei do Bem cuidará de nós.

Pelo Espírito Emmanuel.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Justiça Divina. Lição nº 54. Página 129.
Estudos e Dissertações em torno da substância religiosa de “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec.
1ª parte, Capítulo VIII, Item 12.
Reunião pública de 28/08/1961.