sábado, 31 de maio de 2014

História de um médium


Chico psicografando para Emmanuel
 
História de um Médium

As observações interessantes sobre a Doutrina dos Espíritos sucediam-se umas às outras, quando um amigo nosso, velho lidador do Espiritismo, no Rio de Janeiro, acentuou, gravemente:


- "Em Espiritismo, uma das questões mais sérias é o problema do médium..."

- "Sob que prisma?" - Indagou um dos circunstantes.



- "Quanto ao da necessidade de sua própria edificação para vencer o meio."

- "Para esclarecer a minha observação - continuou o nosso amigo - contar-lhe-ei a história de um companheiro dedicado, que desencarnou, há poucos anos, sob os efeitos de uma obsessão terrível e dolorosa."



Todo o grupo, lembrando os hábitos antigos, como se ainda estacionássemos num ambiente terrestre, aguçou os ouvidos, colocando-se à escuta:



- "Azarias Pacheco - começou o narrador - era um operário despreocupado e humilde do meu bairro, quando as forças do Alto chamaram o seu coração ao sacerdócio mediúnico. Moço e inteligente, trabalhava na administração dos serviços de uma oficina de consertos, ganhando, honradamente, a remuneração mensal de quatrocentos mil réis.



Em vista do seu espírito de compreensão geral da vida, o Espiritismo e a mediunidade lhe abriram um novo campo de estudos, a cujas atividades se entregou sob uma fascinação crescente e singular.

Azarias dedicou-se amorosamente à sua tarefa, e, nas horas de folga, atendia aos seus deveres mediúnicos com irrepreensível dedicação. Elevados mentores do Alto forneciam lições proveitosas, através de suas mãos. Médicos desencarnados atendiam, por ele, a volumoso receituário.

E não tardou que o seu nome fosse objeto de geral admiração.



Algumas notas de imprensa evidenciaram ainda mais os seus valores
medianímicoss e, em pouco tempo, a sua residência humilde povoava-se de caçadores de anotações e de mensagens. Muitos deles diziam-se espíritas confessos, outros eram crentes de meia-convicção ou curiosos do campo doutrinário.



O rapaz, que guardava sob a sua responsabilidade
pessoal numerosas obrigações de família, começou a sacrificar primeiramente os seus deveres de ordem sentimental, subtraindo à esposa e aos filhinhos as horas que habitualmente lhes consagrava, na intimidade doméstica.

Quase sempre cercado de companheiros, restavam-lhe a
penas as horas dedicadas à conquista de seu pão cotidiano, com vistas aos que o seguiam carinhosamente pelos caminhos da vida.



Havia muito tempo perdurava semelhante situação, em face de sua preciosa resistência
espiritual, no cumprimento de seus deveres.

Dentro de sua relativa
educação medianímica, Azarias encontrava facilidade para identificar a palavra de seu guia sábio e incansável, sempre a lhe advertir quanto à necessidade de oração e de vigilância.

Acontece, porém, que cada triunfo multiplicava as suas preocupações e os seus trabalhos.



Os seus admira
dores não queriam saber das circunstâncias especiais de sua vida.



Grande p
arte exigia as suas vigílias pela noite a dentro, em longas narrativas dispensáveis. Outros alegavam os seus direitos às exclusivas atenções do médium. Alguns acusavam-no de preferências injustas, manifestando o gracioso egoísmo de sua amizade expressando o ciúme que lhes ia nalma, em palavras carinhosas e alegres. Os grupos doutrinários disputavam-no.



Azarias verificou que a sua
existência tomava um rumo diverso, mas os testemunhos de tantos afetos lhe eram sumamente agradáveis ao coração.

Sua fama corria sempre. Cada dia era porta
dor de novas relações e novos conhecimentos.



Os centros importantes começaram a reclamar a sua presença e, de vez em quando, surpreendiam-no as oportunidades das viagens pelos caminhos de ferro, em face da generosidade dos amigos, com grandes reuniões de homenagens, no ponto de
destino.



A cada instante, um admira
dor o assaltava:



- "Azarias, onde trabalha você?..."



- "Numa oficina de consertos."



- "Ó! Ó!... e quanto ganha por mês?"



- "Quatrocentos mil réis."



- "Ó! mas isso é um absurdo... Você não é
criatura para um salário como esse! Isso é uma miséria!...”



Em seguida outros ajuntavam: - "O Azarias não pode ficar nessa situação. Precisamos arranjar-lhe coisa melhor no centro da cidade, com uma remuneração à altura de seus
méritos ou, então, poderemos tentar-lhe uma colocação no serviço público, onde encontrará mais possibilidades de tempo para dedicar-se à missão...”



O pobre
médium, todavia, dentro de sua capacidade de resistência, respondia:

- "Ora, meus amigos, tudo está
bem. Cada qual tem na vida o que mereceu da Providência Divina e, além de tudo, precisamos considerar que o Espiritismo tem de ser propagado, antes do mais, pelos Espíritos e não pelos homens!...”



Azarias, contudo, se era
médium, não deixava de ser humano.



Requisitado pelas exigências dos companheiros, já nem pensava no lar e começava a assinalar na sua ficha de serviços faltas numerosas.



A
princípio, algumas raras dedicações começaram a defendê-lo na oficina, considerando que, aos olhos dos chefes, suas falhas eram sempre mais graves que as dos outros colegas, em virtude do renome que o cercava; mas, um dia, foi ele chamado ao gabinete de seu diretor que o despediu nestes termos:



"Azarias, infelizmente não me é possível conservá-lo aqui, por mais tempo. Suas faltas no trabalho atingiram o máximo e a administração central resolveu eliminá-lo do quadro de nossos companheiros."



O interpelado saiu com certo desapontamento, mas lembrou-se das numerosas promessas dos amigos.



Naquele mesmo dia, buscou providenciar para um nova colocação, mas, em cada tentativa, encontrava sempre um dos seus admira
dores e conhecidos que obtemperava:



- "Ora Azarias, você precisa ter mais c
alma!... Lembre-se de que a sua mediunidade é um patrimônio de nossa doutrina... Sossega, homem de Deus!... Volte à casa e nós todos saberemos ajudá-lo neste transe."

Na mesma data, ficou assentado que os amigos do
médium se cotizariam, entre si, de modo que ele viesse a perceber uma contribuição mensal de seiscentos mil réis, ficando, desse modo, habilitado a viver tão somente para a doutrina.



Azarias, sob a
inspiração de seus mentores espirituais, vacilava ante a medida, mas à frente de sua imaginação estavam os quadros do desemprego e das imperiosas necessidades da família.



Embora a sua relutância íntima, aceitou o alvitre.



Desde então, a sua casa foi o ponto de uma romaria interminável e sem
precedentes. Dia e noite, seus consulentes estacionavam à porta. O médium buscava atender a todos como lhe era possível. As suas dificuldades, todavia, eram as mais prementes.



Ao cabo de seis meses, todos os seus amigos haviam esquecido o sistema das cotas mensais.



Desorientado e desvalido, Azarias recebeu os primeiros dez mil réis que uma senhora lhe ofereceu após o receituário. No seu coração, houve um toque de alarma, mas o seu organismo estava enfraquecido. A esposa e os filhos estavam repletos de necessidades.



Era tarde para procurar, novamente, a fonte do trabalho. Sua residência era
objeto de uma perseguição tenaz e implacável. E ele continuou recebendo.



Os mais sérios distúrbios
psíquicos o assaltaram.



Penosos desequilíbrios íntimos lhe inquietavam o coração, mas o
médium sentia-se obrigado a aceitar as injunções de quantos o procuravam levianamente.



Espíritos engana
dores aproveitaram-se de suas vacilações e encheram-lhe o campo mediúnico de aberrações e descontroles.



Se as suas ações eram agora remuneradas e se delas dependia o pão dos seus, Azarias se sentia na obrigação de prometer alguma coisa, quando os Espíritos não o fizessem. Procurado para a felicidade no dinheiro, ou êxito nos negócios ou nas atrações do
amor do mundo, o médium prometia sempre as melhores realizações, em troca dos míseros mil réis da consulta.



Entregue a esse gênero de especulações, não mais pode receber o
pensamento dos seus protetores espirituais mais dedicados.



Experimentando toda sorte de sofrimentos e de humilhações, se chegava a queixar-se, de leve, havia sempre um cliente que lhe observava:

- "Que é isso, "seu" Azarias?... O senhor não é
médium? Um médium não sofre essas coisas!...



Se alegava cansaço, outro objetava, de pronto, ansioso pela satisfação de seus caprichos:



- "E a sua
missão, "seu" Azarias?... Não se esqueça da caridade!..."

E o
médium, na sua profunda fadiga espiritual, concentrava-se, em vão, experimentando uma sensação de angustioso abandono, por parte dos seus mentores dos planos elevados.



Os mesmos amigos da véspera piscavam, então, os olhos, falando, em voz baixa, após as despedidas:



- "Você já notou que o Azarias perdeu de todo a
mediunidade?..." - Dizia um deles.



- "Ora, isso era esperado - redarguia-se - desde que ele abandonou o trabalho para viver à custa do Espiritismo, não podíamos aguardar outra coisa."



- "Além disso - exclamava outro do grupo - todos os vizinhos comentam a sua indiferença para com a família, mas, de minha p
arte sempre vi no Azarias um grande obsidiado."



- "O pobre do Azarias perverteu-se - falava ainda um companheiro mais exaltado - e um
médium nessas condições é um fracasso para a própria doutrina..."



- "É por essa
razão que o Espiritismo é tão incompreendido! - sentenciava ainda outro - Devemos tudo isso aos maus médiuns que envergonham os nossos princípios."


Cada um foi esquecendo o
médium, com a sua definição e a sua falta de caridade. A própria família o abandonou à sua sorte, tão logo haviam cessado as remunerações.



Escarnecido em seus
afetos mais caros, Azarias tornou-se um revoltado.

Essa circunstância foi a última porta para o livre ingresso das
entidades perversas que se assenhorearam de sua vida.



O pobre náufrago da
mediunidade perambulou na crônica dos noticiários, rodeado de observações ingratas e de escandalosos apontamentos, até que um leito de hospital lhe concedeu a bênção da morte..."

O narra
dor estava visivelmente emocionado, rememorando as suas antigas lembranças.



- "Então, quer dizer, meu amigo - observou um de nós - que a perseguição da polícia ou a perseguição do padre não são os maiores inimigos da
mediunidade"...



- "De modo algum. - Replicou ele, convicto. - O Padre e a política podem até ser os porta
dores de grandes bens."



E, fixando em nós outros o seu olhar percuciente e calmo, rematou a sua história, sentenciando, gravemente:



- "O maior inimigo dos médiuns está dentro de nossos próprios muros!..."

Irmão X

Do livro: Novas Mensagens, Médium: Francisco Cândido Xavier

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Férias Espírita


 
Férias Espírita

Dedicamos aos companheiros espíritas algumas sugestões para o tempo de férias.


Viajar, se possível, no rumo de instituição consagrada à assistência, cooperando, por alguns dias, no tratamento de Irmãos em provas maiores que as nossas, como sejam os obsediados em posição difícil ou os doentes semi-desamparados.


Devotar-se à pregação ou à conversa doutrinária nos lares de caridade pública, onde estejam Irmãos hansenianos, tuberculosos ou portadores de moléstias que requisitem segregação.

Auxiliar, de algum modo, aos que jazem nos cárceres.


Ensinar os princípios espíritas evangélicos nas organizações doutrinárias mais humildes, comumente sediadas na periferia de cidades ou vilas, colaborando na sementeira da Nova Revelação.


Executar um programa de visitas fraternas aos paralíticos, cegos, enfermos esquecidos ou agonizantes no local de residência.

Observar com respeito e discrição o ambiente doméstico das viúvas em abandono, enumerando sem alarde as necessidades materiais que aí se destaquem e atendendo-as, quanto seja possível.


Contribuir com algum serviço pessoal para a segurança e conforto do templo espírita que nos beneficia, quais sejam a pintura ou renovação de paredes, a restauração de utilidades, a reparação de livros edificantes ou tarefas concernentes à ordem e à limpeza em geral.


Reunir material de instrução doutrinária, tais como jornais e impressos espíritos, distribuindo-os através de prisões e hospitais, onde permaneçam irmãos desejosos de mais amplos conhecimentos.


Costurar para os necessitados, principalmente no sentido de melhorar a rouparia de orfanatos, creches e lares outros de assistência espírita-cristã.

Preparar o enxoval para algum pequenino, em vias de renascer nos distritos de penúria e sofrimento.


Criar a alegria de um enfermo, largado ao próprio infortúnio, ou de uma criança que a provação situou em constrangedoras necessidades.

Pense nas suas férias e não permita que a sua oportunidade de elevação venha a escapar.

Albino Teixeira

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ponderação


 

Ponderação


Diante do mal quantas vezes!...

Censuramos o próximo...
Desertamos do testemunho da paciência...
Criticamos sem pensar...
Abandonamos companheiros infelizes à própria sorte...
Esquecemos a solidariedade...
Fugimos ao dever de servir...
Abraçamos o azedume...
Queixamo-nos uns dos outros...
Perdemos tempo em lamentações...
Deixamos o campo das próprias obrigações...
Avinagramos o coração...
Desmandamo-nos na conduta...
Agravamos problemas...
Aumentamos os próprios débitos...
Complicamos situações...
Esquecemos a prece...
Desacreditamos a fraternidade...
E, às vezes, olvidamos até mesmo a fé viva em Deus...

Entretanto a fórmula da vitória sobre o mal ainda e sempre é aquela senha de Jesus:

AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI!!...

Bezerra de Menezes

Do livro Visão Nova, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Autores Diversos

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Você Está Ocioso?



José Carlos de Lucca
 
Você Está Ocioso?

"A porta entre nós e o céu não poderá abrir-se enquanto esteja cerrada a que fica entre nós e o próximo".   Veratour.

O desemprego é um dos grandes fantasmas que assombram o ser humano. Atualmente chega a ser um dos grandes problemas mundiais. Quer nos países ricos como nos chamados países do terceiro mundo, o fenômeno do desemprego está presente. Vive-se um conflito interessante: o número de empregos não cresce na mesma proporção do número de pessoas que estão aptas a ingressar no mercado de trabalho. Fala-se em 800 milhões de desempregados no mundo todo, cifra correspondente a cerca de 14% da população mundial.


Porém, para os trabalhos voluntários e logicamente não remunerados, vive-se um fenômeno oposto. O número de ofertas é muito superior ao número de candidatos. Há vagas sobrando em todos os setores do serviço social. Nas creches e orfanatos, crianças carentes aguardam o que muitas vezes sobra em nossa casa e cujo destino é a lata de lixo; aquelas roupas trancadas em nossos armários, que já não usamos há tempo e que hoje apenas sevem de repasto às traças. Mas, se não possuímos bens materiais, as mesmas crianças esperam pelo nosso sorriso, pelo nosso afeto, pelo nosso carinho.


Nos hospitais, inúmeros doentes anseiam por uma visita, ainda que de alguém desconhecido. Esperam por uma palavra amiga, por alguém que possa amenizar suas dores.


Nos asilos, irmãos em término de jornada aguardam também por uma simples visita, principalmente aqueles que foram esquecidos por seus familiares.


Nos albergues, andarilhos da vida almejam receber um prato de sopa numa noite fria, um banho ou alguém que lhes dê um pouco de atenção.


Certa feita, estava na Casa Transitória Fabiano de Cristo, em São Paulo, e quanto de lá me retirava, de carro, notei a presença de um senhor de avançada idade, todo curvado, que parecia tomar o mesmo rumo para o qual me dirigia.

Condoído com aquela situação, parei o carro e indaguei àquele senhor qual o destino dele. Respondeu-me que iria pegar um ônibus na Av. Celso Garcia. Então, ofereci-lhe uma carona, no que ele concordou prontamente. Entrou no carro com alguma dificuldade física e logo entabulamos conversa.

Respondendo às minha indagações, me disse que era voluntário da Casa Transitória desde a sua fundação e que todos os sábados pela manhã havia mais de 30 anos, dedicava-se aos serviços de contabilidade daquela abençoada Instituição Espírita.


Fiquei surpreso, pois a minha primeira impressão foi de que ele era um dos inúmeros assistidos da casa. Quando chegamos ao ponto do ônibus, perguntei qual era o seu destino. Disse-me que iria até o Hospital do Tatuapé.

Pensando que estivesse com algum problema de saúde, prontifiquei-me a levá-lo. Ele aceitou a prolongação da carona e me disse que iria ao hospital, tal como fazia todos os sábados à tarde, trabalhar como voluntário. Tomado de novo impacto, perguntei-lhe que espécie de serviços prestava: disse-me, com muita simplicidade, que havia muito trabalho a ser feito naquele hospital, desde conversar com os doentes, transmitindo-lhes palavras de carinho e conforto, como também auxiliar enfermeiros, empurrando macas, segurando o frasco do soro, enfim, pequenas tarefas de auxílio aos enfermos.


Já estava envergonhado. Eu, com o meu corpo perfeito, em plena juventude, podendo desfrutar de um carro, ainda encontrava muita dificuldade em prestar algum tipo de auxílio ao próximo. Chegando ao hospital, já nas despedidas, disse-lhe que poderia mesmo se intitular um verdadeiro espírita. Mas qual não foi a minha outra surpresa ao saber que ele não era espírita.


Afirmou que era católico praticante, que ia à missa todos os domingos e que nutria afeição pelo trabalho social espírita.

Despediu-se, dizendo:


"Os necessitados estão em toda parte e o Cristo não nos pede qualquer bandeira religiosa para servir".


Basta o desejo sincero de trabalhar em favor do próximo, nosso irmão do caminho. Afinal, quem garante que amanha não seremos nós que estaremos num hospital, um asilo, num albergue? Disse-nos o Cristo: "Façam aos outros aquilo que gostariam que fizessem a vocês". É por isso que a nossa felicidade não pode ser construída à custa da infelicidade dos outros. Os espíritos superiores nos trouxeram o esclarecimento de que fora da caridade não há salvação, e nós complementamos dizendo que fora da caridade não há felicidade.


Aquele bom velhinho fazia a sua parte. Não estava ocioso, inativo. Trabalhava, sem escolher o lugar, sem preconceito religioso. Ele é um homem feliz.


Vamos arregaçar as mangas?

José Carlos de Lucca

terça-feira, 27 de maio de 2014

Oportunidade


Candeia
 
Oportunidade

"Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo está pronto." - (João, 7:6.)



O mau trabalhador está sempre queixoso. Quando não atribui sua falta aos instrumentos em mão, lamenta a chuva, não tolera o calor, amaldiçoa a geada e o vento.


Esse é um cego de aproveitamento difícil, porquanto somente enxerga o lado arestoso das situações.


O bom trabalhador, no entanto, compreende, antes de tudo, o sentido profundo da oportunidade que recebeu. Valoriza todos os elementos colocados em seus caminhos, como respeita as possibilidades alheias. Não depende das estações. Planta com o mesmo entusiasmo as frutas do frio e do calor. É amigo da Natureza, aproveita-lhe as lições, tem bom ânimo, encontra na aspereza da semeadura e no júbilo da colheita igual contentamento.


Nesse sentido, a lição do Mestre reveste-se de maravilhosa significação. No torvelinho das incompreensões do mundo, não devemos aguardar o reino do Cristo como realização imediata, mas a oportunidade dos homens é permanente para a colaboração perfeita no Evangelho, a fim de edificá-lo.

Os cegos de espírito continuarão queixosos; no entanto, os que acordaram para Jesus sabem que sua época de trabalho  redentor está pronta, não passou, nem está por vir. É o dia de hoje, é o ensejo bendito de servir, em nome do Senhor, aqui e agora...

Emmanuel

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Norma de Luz


 

Norma de Luz


Deus nos ampara a fim de que amparemos aos mais necessitados que nós mesmos.


Ajuda-nos para que ajudemos.


Sustenta-nos a fé para que apoiemos os irmãos que vacilam.


Releva-nos as faltas de maneira a relevarmos as faltas dos outros.


Socorre-nos em nossas necessidades de modo a socorrermos as necessidades alheias.


Guarda-nos a fortaleza de ânimo a fim de que possamos fortalecer os companheiros mais fracos do que nós.


Educa-nos para que saibamos educar.


Em suma, esta é a norma de luz da Providência Divina: “Auxilia e serás auxiliado”.

Bezerra de Menezes

Do livro Aulas da Vida, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

domingo, 25 de maio de 2014

Amizade Real



 
Amizade Real

Um grande senhor que soubera amontoar sabedoria, além da riqueza, auxiliava diversos amigos pobres, na manutenção do bom ânimo, na luta pela vida.



Sentindo-se mais velho, chamou o filho à cooperação. O rapaz deveria aprender com ele a distribuir gentilezas e bens.

Para começar, enviou-o à residência de um companheiro de muitos anos, ao qual destinava trezentos cruzeiros mensais.



O jovem seguiu-lhe as instruções.



Viajou seis quilômetros e encontrou a casa indicada.

Contrariando-lhe a expectativa, porém, não encontrou um pardieiro em ruínas. O domicílio, apesar de modesto, mostrava encanto e conforto. Flores perfumavam o ambiente e alvo linho vestia os móveis com beleza e decência.

O beneficiário de s
eu pai cumprimentou-o, com alegria efusiva, e, depois de inteligente palestra, mandou trazer o café num serviço agradável e distinto. Apresentou-lhe familiares e amigos que se envolviam, felizes, num halo enorme de saúde e contentamento.



Reparando a tranquilidade e a fartura, ali reinantes, o portador regressou ao lar, sem entregar a dádiva.



— Para quê? — confabulava consigo mesmo — aquele
homem não era um pedinte. Não parecia guardar problemas que merecessem compaixão e caridade. Certo, o genitor se enganara.



De volta, explicou ao velho pai, particularmente, quanto vira, restituindo-lhe a importância de que fora emissário.



O ancião, contudo, após ouvi-lo c
almamente, retirou mais dinheiro da bolsa, dobrou a quantia e considerou:



— Fizeste
bem, tornando até aqui. Ignorava que o nosso amigo estivesse sob mais amplos compromissos. Volta à residência dele e, ao invés de trezentos, entrega-lhe seiscentos cruzeiros, mensalmente, em meu nome, de ora em diante. A sua nova situação reclama recursos duplicados.



— Mas, m
eu pai — acentuou o moço —, não se trata de pessoa em posição miserável.



Ao que suponho, o lar dele possui tanto conforto, quanto o nosso.

— Folgo bastante com a notícia — exclamou o velho.



E, imprimindo terna
censura à voz conselheiral, acrescentou:



— M
eu filho, se não é lícito dar remédio aos sãos e esmolas aos que não precisam delas, semelhante regra não se aplica aos companheiros que Deus nos confiou. Quem socorre o amigo, apenas nos dias de extremo infortúnio, pode exercer a piedade que humilha ao invés do amor que santifica. Quem espera o dia do sofrimento para prestar o favor, muita vez não encontrará senão silêncio e morte, perdendo a melhor oportunidade de ser útil. Não devemos exigir que o irmão de jornada se converta em mendigo, a fim de parecermos superiores a ele, em todas as circunstâncias. Tal atitude de nossa parte representaria crueldade e dureza. Estendamos-lhe nossas mãos e façamo-lo subir até nós, para que nosso concurso não seja orgulho vão. Toda gente no mundo pode consolar a miséria e partilhar as aflições, mas raros aprendem a acentuar a alegria dos entes amados, multiplicando-a para eles, sem egoísmo e sem inveja no coração. O amigo verdadeiro, porém, sabe fazer isto. Volta, pois, e atende ao meu conselho para que nossa afeição constitua sementeira de amor para a eternidade. Nunca desejei improvisar necessitados, em torno de nossa porta e, sim, criar companheiros para sempre.



Foi então que o rapaz, envolvido na sabe
doria paterna, cumpriu quanto lhe fora determinado, compreendendo a sublime lição de amizade real.

Neio Lúcio

Do livro Alvorada Cristã, psicografia Francisco Cândido Xavier.