quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019


DESCULPAR

"Jesus lhe disse: Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete" (Mateus, 18:22.)

Atende ao dever da desculpa infatigável diante de todas as vitimas do mal para que a vitória do bem não se faça tardia.

Decerto que o mal contará com os empreiteiros que a Lei do Senhor julgará no momento oportuno, entretanto, em nossa feição de criaturas igualmente imperfeitas, suscetíveis de acolher-lhe a influência, vale perdoar sem condição e sem preço, para que o poder de semelhantes intérpretes da sombra se reduza até a integral extinção.

Recorda que acima da crueldade encontramos, junto de nós a ignorância e o infortúnio que nos cabe socorrer cada dia.

Quem poderá, com os olhos do corpo físico, medir a extensão da treva sobre as mãos que se envolvem no espinheiral do crime? Quem, na sombra terrestre, distinguirá toda a percentagem de dor e necessidade que produz o desespero e a revolta.

Dispõe-te a desculpar hoje, infinitamente, para que amanhã sejas também desculpado.

Observa o quadro em que respiras e reconhecerás que a natureza é pródiga de lições no capítulo da bondade.

O sol releva, generoso, o monturo que o injuria, convertendo-o sem alarde em recurso fertilizante.

O odor miasmático do pântano, para aquele que entende as angústias da gleba, não será mensagem de podridão, mas sim rogativa comovente, para que se lhe dê a benção do reajuste, de modo a transformar-se em terra produtiva.

Tudo na vida roga entendimento e caridade para que a caridade e o entendimento nos orientem as horas.

 Não olvides que a própria noite na terra uma pausa de esquecimento para que aprendemos a ciência do recomeço, em cada alvorada nova.

"Faze a outrem aquilo que desejas te seja feito" - advertiu-nos o Amigo Excelso.

E somente na desculpa incessante de nossas faltas recíprocas, com o amparo do silêncio e com a força de humildade, é que atingiremos, em passo definitivo, o reino do eterno bem com a ausência de todo mal.

Emmanuel

CEIFA DE LUZ  

FRANCISCO CANDIDO XAVIER

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019


Humorismo e vida

 

Cada existência é uma peça
Cada pessoa a mostrar-se
Tem o papel que precisa,
Embora sob disfarce.
            Deraldo Neville

Não te queixes, nem reclames
Sorriso é paz no caminho…
Quem se alegra segue em grupos
Quem chora fica sozinho.
            Manoel Serrador

Avarento é o companheiro
Que vive para contar
As parcelas do dinheiro
Que os outros irão gastar.
            Juca Muniz

O homem amadurece
À custa de provação;
Sem a presença do fogo
Não se pode fazer pão.
            Casimiro Cunha


O comboio para o Além
Passa por todo lugar,
Mas a morte não avisa
O dia em que vai passar.
       Leandro Gomes de Barros

Não desprezes o dinheiro…
Na hora das grandes crises,
Ele é sempre o companheiro
Que socorre aos infelizes.
            Natal Machado

É uma verdade inconteste
Que melhor se vê do Além:
Quem se afasta do remédio
Encurta a vida que tem.
                  Rancel Coelho

Conserva este aviso simples
Em favor da própria paz:
Quando o elogio te busca,
O pedido vem atrás.
            Augusto Coelho

A pessoa preguiçosa
Seja mulher, seja homem,
Um dia, vem a clamar,
Chorando o que os outros comem.
            Silvino Lopes

A face linda, na Terra,
Às vezes, taz desventura;
O rosto feio na vida
É uma defesa segura.
            Juvenal Galeno

HUMORISMO NO ALÉM

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ESPÍRITOS DIVERSOS

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019


Agrupamento Espíritas
Emmanuel

Os agrupamentos espiritistas necessitam entender que o seu aparelhamento não pode ser análogo ao das associações propriamente humanas.
Um grêmio espírita cristão deve ter, mais que tudo, a característica familiar, onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os sentimentos.
Em uma entidade doutrinária, quando surgem as dissensões e lutas internas, revelando partidarismos e hostilidades, é sinal de ausência do Evangelho nos corações, demonstrando-se pelo excesso de material humano e pressagiando o naufrágio das intenções mais generosas.
Nesses núcleos de estudo nenhuma realização se fará sem fraternidade e humildade legítimas, sendo imprescindível que todos os companheiros, entre si, vigiem na boa vontade e na sinceridade, a fim de não transformarem a excelência de seu patrimônio espiritual numa reprodução dos conventículos católicos, inutilizados pela intriga e pelo fingimento.


Seara Espírita
Emmanuel

“Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos no espinheiro, nem uvas nos abrolhos”.
– Jesus (Lucas 6:44).

“É assim, meus irmãos, que deveis julgar examinando as obras. Se os que se dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras apresentam os atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus”.
– Cap. XXI, 8.

Penetrando a seara espírita, rememora o Cristianismo Redivivo, que se lhe configura nas menores atividades, e não te circunscrevas à expectação.
Em semelhante campo de fé, sem rituais e sem símbolos, sem convenções e sem exigências, descobrirás facilmente os recomendados do Senhor, a surgirem naqueles companheiros cujas dificuldades ultrapassam as nossas.
Pleiteias a mensagem dos entes queridos que te antecederam na viagem do túmulo, entretanto, basta procures e divisarás amigos diversos que não somente perderam a presença de seres inesquecíveis, mas também as possibilidades primárias da intimidade doméstica.
Solicitas proteção para os filhos educados nos primores de tua bênção, agora em obstáculos inquietantes no estudo ou na profissão, contudo distinguirás ao teu lado, pais valorosos e incapazes de aliviar as necessidades singelas dos rebentos da própria carne, sem a assistência do amparo público.
Diligencias a cura da enfermidade ligeira que te apoquenta e contemplaras muitos daqueles que trazem moléstias irreversíveis, para os quais chega uma frase de esperança, a fim de louvarem as dores da própria vida.
Pedes, mentalmente, arrimo à solução de negócios materiais que te propiciem finanças mais dilatadas, no entanto, surpreenderas os pés desnudos de irmãos que vieram de longe, à busca de um simples pensamento confortador, vencendo, passo a passo, largas distâncias, por lhes faltar qualquer recurso para o custeio da condução.
Rogas conselho em assunto determinado, não obstante o arsenal dos conhecimentos de que dispões, todavia, reconhecerás, frente a frente, amigos diversos que nunca tiveram, em toda a existência física, a bendita oportunidade de um livro às mãos.
Se o Plano Superior já te permite pisar na seara espírita não te limites à prece.
Todos os tipos de rogativa que se voltem para o Bem Infinito são respeitáveis, no entanto, pensa em nosso Divino Mestre que orou auxiliando e realiza algo de bom, em favor dos irmãos em Humanidade, que Ele mesmo nos apresenta.
Espiritismo é Cristianismo e Cristianismo quer dizer Cristo em nós para estender o Reino de Deus e servir em seu nome.

EDUCANDÁRIO DE LUZ


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ESPÍRITOS DIVERSOS

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019


A PACIÊNCIA

7. A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu.

Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.

A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte.

Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais sofreu ele do que qualquer de vós e nada tinha de que se penitenciar, ao passo que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro. Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo. 

– Um Espírito amigo. (Havre, 1862.)

CAPÍTULO IX
Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ALLAN KARDEC

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Não Perca


Não perca a esperança.

Há milhões de pessoas aguardando os recursos de que você já dispõe.

Não perca o bom humor.

Em qualquer acesso de irritação, há sempre um suicidiozinho no campo de suas forças.

Não perca a tolerância.

É muita gente a tolerar você naquilo que você ainda tem de indesejável.

Não perca a serenidade.

O problema pode não ser assim tão difícil quanto você pensa.

Não perca a humildade.

Além da planície, surge a montanha, e, depois da montanha, aparece o horizonte infinito.

Não perca o estudo.

A própria morte é lição.

Não perca a oportunidade de servir aos semelhantes.

Hoje e amanhã, você precisará de concurso alheio.

Não perca tempo.

Os dias voltam, mas os minutos são outros.

Não perca a paciência.

Recorde a paciência inesgotável de Deus.

Autor
André Luiz

sábado, 23 de fevereiro de 2019

AGORA NÃO. DEPOIS
Emmanuel
Nem cedo, nem tarde.
O presente é hoje.
O passado está no arquivo.
O futuro é uma indagação.
Faze hoje mesmo o bem a que te determinaste.
Se tens alguma dádiva a fazer, entrega isso agora.
Se desejas apagar um erro que cometeste, consciente ou inconscientemente, procura sanar essa falha sem delongas.
Caso te sintas na obrigação de escrever uma carta, não relegues semelhante dever ao esquecimento.
Na hipótese de idealizares algum trabalho de utilidade geral, não retardes o teu esforço para trazê-lo à realização.
Se alguém te ofendeu, desculpa e esquece, para que não sigas adiante carregando sombras no coração.
Auxilia aos outros, enquanto os dias te favorecem.
Faze o bem agora, pois, na maioria dos casos, “depois” significa “fora de tempo”, ou tarde demais.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A descoberto

Cap. XXIV – Item 13, do ESE.

“... nada há encoberto que não haja de revelar-se,
nem oculto que não haja de saber-se.” – Jesus.
(Mateus, 10: 26)

Na atualidade, é deveras significativa a extensão do progresso humano nos variados campos da inteligência.
Pormenores da vida microscópica são vislumbrados por olhos pesquisadores e argutos.
Ninhos do Cosmo Infinito são tateados por delicada instrumentação astronômica.
Aparelhagem múltipla ausculta o corpo físico, desvelando-lhe a intimidade.
Experimentos inúmeros atestam a grandeza de tudo o que existe no seio da própria Terra.
Avançando em todas as direções, o homem alcança eloquente patrimônio intelectual, senhoreando leis e princípios que agrupam os seres e as coisas, mantendo o equilíbrio e a ordem do Universo.
Entretanto, na razão direta do conhecimento que vai conquistando, o espírito divisa horizontes mais vastos e fascinantes, aguçando o esforço do raciocínio.
Quanto mais conhece, mais se lhe amplia aos olhos a imensidão do desconhecido.
Quanto mais lógica no estudo, mais se lhe patenteia a exigüidade do próprio discernimento, em face da excelsitude do Todo-Divino.
Alma alguma pode encobrir, para si mesma, as próprias manifestações no quadro da vida e, de igual modo, perante a Lei, ninguém consegue disfarçar o menor pensamento.
Tudo pode ser descortinado, sopesado, medido..
.
Assim, não só a realidade ainda ignorada por nós, como também as mentalizações e os atos de nosso próprio caminho, serão revisados e conhecidos, sempre que semelhante medida se fizer necessária, no local exato e na época oportuna.
“Nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”, esclarece o Senhor.
Recordemos, assim, o ensinamento vivo em nosso próprio passo, agindo na esfera particular, como quem vive à frente da multidão, porquanto os nossos mínimos movimentos, na soledade ou na sombra, podem ser também trazidos ao campo da plena luz.
Emmanuel
O Espírito da Verdade, psicografia de Chico Xavier.
Estudos e dissertações em torno da obra
“O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

De um casarão de outro mundo
Muitas vezes pensei que outras fossem as surpresas que aguardassem um morto depois de entregar à terra os seus despojos.
Como um menino que vai pela primeira vez a uma feira de amostras, imaginava o conhecido chaveiro dos grandes palácios celestiais. Via S. Pedro de mãos enclavinhadas debaixo do queixo, óculos de tartaruga como os de Nilo Peçanha, assestados no nariz, percorrendo com as suas vistas sonolentas e cansadas os estudos técnicos, os relatórios, os mapas e livros imensos, anunciadores do movimento das almas que regressavam da Terra como um amanuense destacado de secretaria. Presumia-o um velhote bem conservado, igual aos senadores do tempo da monarquia no Brasil, cofiando os seus longos bigodes e os fios grisalhos da sua barba respeitável. Talvez que o bom do apóstolo, desentulhando o baú de suas memórias, me contasse algo de novo: algumas anedotas a respeito de sua vida segundo a versão popular; fatos do seu tempo de pescarias certamente cheios das estroinices de rapazelho. As jovens de Séforis e de Cafarnaum, na Galiléia, eram criaturas tentadoras com os seus lábios de romã amadurecida. S. Pedro por certo diria algo de suas aventuras, ocorridas, está claro, antes da sua conversão à doutrina do nazareno.
Não encontrei porém o chaveiro do céu. Nessa decepção cheguei a supor que a região dos bem-aventurados deveria ficar encravada em alguma cordilheira de nuvens inacessíveis. Tratava-se certamente de um recanto de maravilhas onde todos os lugares tomariam denominações religiosas na sua mais alta expressão simbólica: Praça das Almas Benditas, Avenida das Potências Angélicas. No coração da cidade prodigiosa, em paços resplandecentes, S. Cecília deveria tanger a sua harpa, acompanhando o coro das onze mil virgens, cantando ao som de harmonias deliciosas para acalentar o sono das filhas de Aqueronte e da noite, a fim de que não viessem com as suas achas incandescentes e víboras malditas perturbar a paz dos que ali esqueciam os sofrimentos em repouso beatífico. De vez em quando se organizariam, nessa região maravilhosa, solenidades e festas comemorativas dos mais importantes acontecimentos da Igreja. Os papas desencarnados seriam os oficiantes das missas e Te Deums de grande gala a que compareceriam todos os santos do calendário: S. Francisco Xavier com o mesmo hábito esfarrapado com que andou pregando nas Índias; S. José, na sua indumentária de serralheiro; S. Sebastião na sua armadura de soldado romano; S. Clara com o seu perfil lindo e severo de madona, sustentada pelas mãos minúsculas e inquietas dos arcanjos como rosas de carne loura. As almas bem conceituadas representariam, nas galerias deslumbrantes, os santos que a Igreja inventou para o seu agiológio.
Mas... não me foi possível encontrar o céu.
Julguei então que os espíritas estavam mais acertados em seus pareceres. Deveria reencontrar os que haviam abandonado as suas carcaças na terra, continuando a mesma vida. Busquei relacionar-me com as falanges de brasileiros emigrados no outro mundo. Idealizei a sociedade antiga, os patrícios ilustres aí refugiados, imaginando encontrá-los em uma residência principesca como a do marquês de Abrantes, instalada na antiga chácara de dona Carlota, em Botafogo, onde recebiam a mais fina flor da sociedade carioca das últimas décadas do segundo império, cujas reuniões, compostas de fidalgos escravocratas da época, ofuscavam a simplicidade monacal dos Paços de S. Cristóvão.
E pensei de mim para comigo: Os rabinos do Sinédrio, que exararam a sentença condenatória de Jesus Cristo, quererão saber as novidades de Hitler na sua fúria contra os judeus. Os remanescentes do príncipe de Bismarck, que perderam a última guerra, desejariam saber qual a situação dos negócios franco-alemães. Contaria aos israelitas a história da esterilização e aos seguidores do ilustre filho de Schoenhausen as questões do plebiscito do Sarre. Cada bem-aventurado me viria fazer uma solicitação, a que eu atenderia com as habilidades de um porta-novas acostumado aos prazeres maliciosos do boato.
Enganara-me, todavia. Ninguém se preocupava com a Terra ou com as coisas da sua gente.
Tranqüilizem-se contudo os que ficaram, porque se não encontrei o Padre Eterno com as suas longas barbas de neve, como se fossem feitas de paina alva e macia, segundo as gravuras católicas, não vi também o diabo.
Logo que tomei conta de mim, conduziram-me a um solar confortável como a casa dos Bernardelli na praia de Copacabana. Semelhante a uma abadia de frades da Estíria, espanta-me o seu aspecto imponente e grandioso. Procurei saber nos anais desse casarão do outro mundo as noticias relativas ao planeta terreno. Examinei os seus in folios. Nenhum relate havia com respeito aos santos da corte celestial, como eu os imaginava, nem alusões a Mefistófeles e ao amaldiçoado. Ignorava-se a história do fruto proibido, a condenação dos anjos rebelados, o decreto do dilúvio, as espantosas visões do evangelista no Apocalipse. As religiões estão na Terra muito prejudicadas pelo abuso dos símbolos. Poucos fatos relacionados com elas estavam naqueles documentos.
O nosso mundo é insignificante demais pelo que pude constatar na outra vida. Conforta-me porém haver descoberto alguns amigos velhos entre muitas caras novas.
Encontrei o Emílio, radicalmente transformado. Contudo, às vezes, faz questão de aparecer-me de ventre rotundo e rosto bonacheirão como recebia os amigos na Pascoal para falar da vida alheia.
- Ah! filho - exclama sempre - há momentos nos quais eu desejava descer no Rio como o homem invisível de Wells e dar muita paulada nos bandidos de nossa terra.
E, na graça de quem, esvaziando copos, andou enchendo o tonel das Danaides, desfolha o caderno de suas anedotas mais recentes.
A vida, entretanto, não é mais idêntica à da Terra. Novos hábitos. Novas preocupações e panoramas novos. A minha situação é a de um enfermo pobre que se visse de uma hora para outra em luxuosa estação de águas, com as despesas custeadas pelos amigos. Restabelecendo a minha saúde, estudo e medito. E meu coração, ao descerrar as folhas diferentes dos compêndios do infinito, pulsa como o do estudante novo.
Sinto-me novamente na infância. Calço os meus tamanquinhos, visto as minhas calças curtas, arranjo-me às pressas com a má vontade dos garotos incorrigíveis, e vejo-me outra vez diante da mestra Sinhá, que me olha com indulgência através da sua tristeza de virgem desamada, e repito, apontando as letras na cartilha: - ABC...ABCDE...
Ah! meu Deus, estou aprendendo agora os luminosos alfabetos que os teus dedos imensos escreveram com giz de ouro resplandecente nos livros da natureza. Faze-me novamente menino para compreender a lição que me ensinas! Sei, hoje, relendo os capítulos da tua glória, porque vicejam na Terra os cardos e os jasmineiros, os cedros e as ervas, porque vivem os bons e os maus, recebendo, numa atividade promíscua, os benefícios da tua casa.
Não trago do mundo, Senhor, nenhuma oferenda para a tua grandeza! Não possuo senão o coração, exausto de sentir e bater, como um vaso de iniqüidades. Mas no dia em que te lembrares do mísero pecador, que te contempla no teu doce mistério, como lâmpada de luz eterna, em torno da qual bailam os sóis como pirilampos acesos dentro da noite, fecha os teus olhos misericordiosos para as minhas fraquezas e deixa cair nesse vaso imundo uma raiz de açucenas. Então, Senhor, como já puseste lume nos meus olhos, que ainda choram, plantarás o lírio da paz no meu coração, que ainda sofre e ainda ama.
Humberto de Campos
(Recebida em Pedro Leopoldo (MG), em 27 de março de 1935)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019


Se Te Dizes

Se te dizes tão pobre, alma querida,
Que nada tens a dar
Para contribuir na construção do Amor,
Oferece no prato da humildade
A tua dor
Nos tropeços da vida,
Em favor dos irmãos de nossa própria estrada,
Recordando esta mesa,
Terna e sacrificada,
Que foi árvore em flor, brilho da natureza,
E se deixou serrar para servir
De apoio às novas preces,
Sofrendo humilhações que desconheces,
Nobre e formoso lenho,
Cuja bondade não mereço,
De maneira a expressar-te o meu apreço,
Nas palavras humílimas que tenho...


Se te dizes com tanta imperfeição
Que não consegues trabalhar
Em nossa própria redenção,
Olvidando o teu dom de agir
No socorro a quem chora,
Fita uma das lâmpadas, à frente,
Fabricada sem pompa e sem grandeza,
Que, aceitando viver em disciplina,
Vive ligada à usina,
Faz-se flâmula acesa,
Estrela maternal,
Que nos serve e ilumina,
A fim de que vejamos
Toda e qualquer lição que nos eleva,
Procurando mais luz que nos livre da treva.


Se te dizes no tempo, em tamanho cansaço
Que não podes ser útil a ninguém,
Contempla o chão que nos mantém
E se deixou cercar
Para que a nossa idéia tenha um lar.
Chão é que faixa de terra em estreito pedaço,
Que suportou enxadas e tratores,
Lamentando perder o seus lauréis de flores
E a música dos ninhos
Que lhe vinha da voz dos passarinhos,
Em troca de verdura e acolhimento,
Chão que prossegue sempre esquecido e pisado,
Prestimoso e calado,
Qual benfeitor sem voz,
Que nunca reclamou salário junto a nós.


Nunca digas “não posso”, “eu não tenho”, “é impossível”.
Seja qual for o nível
Que a existência te dá,
Alma querida, vem!...
Vem estender conosco a Seara do Bem,
Deus te utilizará.


CAMINHOS DO AMOR

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
MARIA DOLORES

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

VIDA E TRABALHO

Dos trechos de minha estrada,
Com Deus, enxergo na vida
Toda luta superada
E todo mágoa esquecida.
Deraldo Neville

No mundo, se te renovas,
Quebrando antigas algemas,
Não terás tempo sem provas,
Nem viverás sem problemas.
Natal Machado

Lindas promessas somente
Resultam de impulsos loucos,
O sonho é de muita gente,
Trabalho é de muito poucos.
Pedro Silva

O amigo Nico Belém
Viveu de golpes tranquilos,
Hoje, trabalha no Além,
Na enxada de cinco quilos.
Cornélio Pires

Quem escolhe vida mansa,
Na moleza a que se aferra,
Que se cuide, enquanto é tempo,
O Além é Terra da Terra.
Américo Falcão

O corpo, na vida, a fundo
Tem conta, missão e prazo,
Ninguém nasce neste mundo,
Simplesmente por acaso.
José Rufino

Na senda estreita do Bem,
As provas são naturais;
Perseguição pode muito,
Persistência pode mais.
Marcelo Gama
Resumo feito no Além
Da vida de Atílio Antero:
Na cultura, ganhou cem,
No serviço, teve zero.
Lulú Parola

Já melhor da obsessão,
O nosso irmão Aguiar
Trazido à beneficência,
Recomeçou a gritar.
João Moreira da Silva

Atende agora, em caminho,
À obrigação que te cabe;
Dispões das horas de hoje,
Do amanhã nada se sabe.
Casimiro Cunha

Nos pobres anseios meus,
Fito a amplidão desmedida
E encontro a Bênção de Deus
Em cada forma de vida.
Auta de Souza

Do livro “Sorrir e Pensar”
Francisco Cândido Xavier
(Autores Diversos)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

ESDE FOI LANÇADO EM 1983

HOJE ESTAREMOS INICIANDO UMA NOVA TURMA DO ESDE, NO NÚCLEO ESPÍRITA CRISTÃ A CASA DO CAMINHO, NA RUA GUALBERTO FILHO, 31, SOUSA - PB. 

ESTUDE A DOUTRINA ESPÍRITA! PARTICIPE!
A Filosofia do ESDE é: 
acolhimento, consolo, esclarecimento, orientação, cooperação, trabalho coletivo e divulgação pelo exemplo. Interação de trabalhadores e participantes num esforço coletivo de intercâmbio de experiências e reflexões, com vista à construção do conhecimento individual e grupal.
O mote do ESDE é: 
"A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas."(Emmanuel, Pão Nosso - Lição 141 - Amor Fraternal)
“Considero esse curso como de natureza a exercer influência capital sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências.” Allan Kardec - Projeto 1868.

Bibliografia básica indicada para o ESDE

1. Obras Básicas, de Allan Kardec:
O Livro dos Espíritos;
O Livro dos Médiuns;
O Evangelho segundo o Espiritismo;
O Céu e o Inferno;
A Gênese.
2. Obras complementares, de Allan Kardec:
O Espiritismo em sua expressão mais simples;
O que é o Espiritismo;
Revista Espírita 1858 - 1869;
A viagem em 1862;
A obsessão;
Obras póstumas.

TURMA DO ESDE VOVÔ CASIMIRO

Comunhão Espírita Cristã A Casa do Caminho – Sousa (PB)

domingo, 17 de fevereiro de 2019


Carta do Perdão
Maria Dolores

Alma boa, onde estiveres,
Tranquiliza quem te escuta,
Seja na dor ou na luta
Da prova que envolva alguém...
Construindo entendimento,
Eis que a vida te deseja
A palavra benfazeja
Na garantia do bem.

Recorda: às vezes, o incêndio
Que se amplia, cresce e arrasa
É uma faísca de casa,
Mantida em desatenção;
Vemos também grandes males,
Surgindo de bagatela
Que a sombra desenovela
Num pingo de irritação.

Fita os Céus... De estrela a estrela,
O Universo brilha e avança
Com garbos de segurança
Que não se sabe explicar;
É Deus que nos lembra à vida,
Desde os Paramos Supremos,
O dever que todos temos
De servir e edificar.

Onde estiveres, atende
Ao nosso claro programa:
Desculpa, trabalha e ama
Em qualquer senda a transpor;
Onde a discórdia apareça,
Aí é que Deus te eleva
Por luz que dissipe a treva
Na benção do Eterno Amor.

sábado, 16 de fevereiro de 2019


A caridade desconhecida

A conversação em casa de Pedro versava, nessa noite, sobre a prática do bem, com a viva colaboração verbal de todos.
Como expressar a compaixão, sem dinheiro? por que meios incentivar a beneficência, sem recursos monetários?
Com essas interrogativas, grandes nomes da fortuna material eram invocados e a maioria inclinava-se a admitir que sômente os poderosos da Terra se encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre interferiu, opinando, bondoso:
— Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos semelhantes. Em verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada.
Rodeado de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor.
Reconheceu, todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha pela Terra.
Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contacto com pessoas interessadas na maledicência, retraia-se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela pequena virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no espírito à maneira de calhaus em barril de mel, porquanto, além de não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade habitual; a calúnia não encontrava acesso em sua alma, de vez que toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio; reparando ameaças sobre a tranqüilidade de alguém, tentava desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumissem feição tempestuosa; se alguma sentença condenatória bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível; seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes.
Adotando essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece. Jamais pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar uma pele de carneiro aos irmãos necessitados.
Nessa posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado. Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.
Fixou o Mestre nos aprendizes o olhar percuciente e calmo e concluiu, em tom amigo:
— Distribuamos o pão e a cobertura, acendamos luz para a ignorância e intensifiquemos a fraternidade aniquilando a discórdia, mas não nos esqueçamos do combate metódico e sereno contra o mal, em esforço diário, convictos de que, nessa batalha santificante, conquistaremos a divina coroa da caridade desconhecida.

NEIO LÚCIO

JESUS NO LAR

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER