terça-feira, 30 de junho de 2020


NÃO FUJAS

Quando as sombras da provação se te adensem, ao redor dos passos, permanece firme na confiança em Deus e em ti mesmo, seguindo adiante nas tarefas que abraçaste na seara do bem.

Não existem tribulações infindáveis.

Sobretudo, não te omitas.

Aceita os encargos que as circunstâncias te impõem, buscando cumpri-los com o melhor ao teu alcance.

Não te aflijam dificuldades.

Anota as bênçãos de que dispões.

Conserva-te fiel às próprias obrigações, na certeza de que a Divina Providência te oferecerá os recursos precisos para que qualquer desequilíbrio desapareça.

Desapegue-te de toda idéia do mal.

Abençoa a quanto não raciocinem por teus princípios.

Muitas vezes, os adversários de hoje, se soubermos respeitá-los com sinceridade, estarão possivelmente amanhã na fileira de nossos melhores benfeitores.

Não te lamentes.

O aguaceiro que te incomoda é apoio da natureza para que não te falte o pão indispensável à vida.

Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem.

A árvore nascente aguarda-te a bondade e a tolerância para que te possa ofertar os próprios frutos em tempo certo.

Por mais áspero se te mostrem os obstáculos da estrada, segue adiante.

Se alguém te feriu, desculpa e prossegue à frente.

Não procures na morte provocada o esquecimento que a morte não te pode dar.

Não fujas dos problemas com que a vida te instrui.

A vida, como a fizeres, estará contigo em qualquer parte.

Lembra-te sempre: cada dia nasce de novo amanhecer.


Emmanuel

segunda-feira, 29 de junho de 2020


CONDIÇÃO IRRECUSÁVEL.

Através dos mundos, - infindáveis retortas do Laboratório de Deus, - as encarnações sucessivas alimentam as gerações sucessivas.

Em razão disso, grande número de espíritos ressurgem na matéria densa de três em três ou de quatro em quatro gerações.

Ninguém se desvencilha do círculo das encarnações dolorosas, repentinamente. Isso somente ocorre a pouco e pouco, esforço a esforço.

Depois da lenta evolução dos milênios, a Terra vive agora o “século do fato”, em que o raciocínio comanda a verificação de todos os sucessos. Desfazendo a miragem dos sofismas; época das mais belas florações do pensamento sublime e, ao mesmo tempo, das mais estranhas fecundações da animalidade instintiva por apresentar as promessas do porvir e os detritos do passado, no dealbar de nova aurora.

Descem os minutos semelhando grãos de areias na ampulheta do Espiritismo, ampliando os conhecimento da Humanidade; os espíritos a se manifestarem, aqui e ali, vão escrevendo a história de nossa própria responsabilidade ante as leis do destino.

Já não podemos dormir o sono da ingenuidade.

Necessário aplicar discernimento em todas as manifestações, sem copiar a instabilidade doudejante do catavento.

A matéria não pensa e, por outro lado, pensamentos esvoaçantes não conduzem a quaisquer metas construtivas.

Registra-se a vida humana em regime de penhora. O corpo é a caução.

Se somos cristãos cujo figurino se adaptou às regras modernas, nem por isso poderemos pautar nossos atos pelos códigos cediços da mora de aparências por fora e de enganos por dentro.

Nosso coração deve viver em mil corações que nos rodeiam.

Assim, premia com o olhar de indulgência a quem te fere, recordando que possuímos colegas de experiência terráquea a viverem, de berço ao túmulo, entre o presídio e o hospital, até desaparecerem fazendo da ambulância o carro fúnebre constantemente dilacerado pelas farpas de amargosos caminhos...

E estende o óbolo da atenção a quem te intercepte o passo, cultivando a fraternidade espontânea, como quem sabe que amanhã não podes prescindir do amparo desse ou daquele companheiro desconhecido.

Trabalhemos e trabalhemos...

Desistamos da peleja inglória de tentar, inutilmente, terçar armas contra os jorros imponderáveis da luz...

Ação por ação, a tarefa mais nobre será sempre aquela que traz consigo a produtividade no bem puro, pois todos somos credenciados a estender mãos amigas.

Quanto mais evoluída a alma, muito maior é o intervalo reencarnatório que desfruta na Espiritualidade Superior, entre duas existências.

Se intentares, pois, desferir o vôo largo da redenção, não revivas o teu “ontem”, mas sim vive o teu “hoje!”.

Abre sorrisos, verte lágrimas, lança idéias, cria palavras e espace ações, mas utiliza todas essas possibilidades para servir, construindo monumentos de amor ao próximo, enxugando o suor do povo na sublime oportunidade do presente, porquanto somente existe essa condição, abençoada e irrecusável, para diminuirmos os estágios de prova e de aflição no cenário terrestre.
LAMEIRA DE ANDRADE.

domingo, 28 de junho de 2020


PENSAI NISSO.

O homem na Terra pode realizar as mais altas façanhas da inteligência.

Medir as estrelas;

Estudar os mundos distantes;

Vencer a gravitação e arrojar-se no Espaço;

Atravessar os domínios aéreos;

Governar o oceano;

Controlar as forças da natureza;

Transmitir a palavra e a imagem, de ponta a ponta da Terra.

Analisar a essência da luz;

Escalar os Himalaia;

Refrigerar as areias do Gobi;

Arrebentar os tesouros do subsolo;

Construir arranha-céus;

Interferir na genética;

Anular a dor física;

Frustrar as epidemias;

Debelar a infecção;

Enxertar órgão e tecidos de um corpo na estrutura de outro corpo;

Prolongar a existência humana; alterar a vida dos animais e das plantas;

Promover todas as experimentações científicas;

Plasmar sonhos de arte;

Expressar em letra os mais complexos pensamentos...


Todos esses prodígios, o homem na Terra pode fazer, contudo, é da Lei do Universo que ninguém escape à cirurgia da morte.


Irmãos, refletindo em vossos problemas; pensai também nisso.

ALBINO TEIXEIRA.

sábado, 27 de junho de 2020


CARIDADE: SOLUÇÃO.


Diante do dever, pensa na caridade, serve e passa.

Diante da dor, pensa na caridade, socorre e passa.

Diante do infortúnio, pensa na caridade, auxilia e passa.

Diante da aflição, pense na caridade, consola e passa.

Diante da sombra, pensa na caridade, ilumina e passa.

Diante da perturbação, pensa na caridade, esclarece e passa.

Diante da ignorância, pensa na caridade, ensina e passa.

Diante da injúria, pensa na caridade, perdoa e passa.

Diante do golpe, pensa na caridade, tolera e passa.

Diante da tentação, pensa na caridade, ora e passa.

Diante do obstáculo, pensa na caridade, espera e passa.

Diante da negação, pensa na caridade, confia e passa.

Diante do desânimo, pensa na caridade, ajuda e passa.

Diante da luta, pensa na caridade, abençoa e passa.

Diante do desequilíbrio, pensa na caridade, remedia e passa.

Diante da tristeza, pensa na caridade, reconforta e passa.

Diante de todo mal, pensa na caridade, faze todo bem ao alcance de tuas mãos e segue adiante.

“A cada dia basta o seu próprio trabalho” – dize-nos a sabedoria do Evangelho.

Toda criatura, a caminho da perfeição, segue na estrada bendita da experiência.

Toda experiência é uma prova.

Toda prova configura um problema.

Caridade é a solução.


FABIANO DE CRISTO.

sexta-feira, 26 de junho de 2020


Suicídio


O Velho Testamento da Bíblia nos apresenta dois casos de suicídio legendários.

Esses suicídios certamente merecem uma análise mais detalhada, por parte de todos aqueles que sejam estudiosos do Velho Testamento.

Queremos evocá-los, nesta oportunidade, para que possamos tirar proveito dessas lições.

Um dos casos terríveis de suicídio apresentado no Velho Testamento judaico, na Bíblia, é o suicídio do lendário Sansão.

Depois de cego, depois de traído pela esposa Dalila, ele acaba por derrubar as colunas do edifício sob o qual estava e desencarna por suicídio.

É o grande primeiro suicídio apresentado no Velho Testamento Bíblico.

Logo depois,  encontraremos o suicídio do rei Saul, após ter tido aquele contato com a médium de Endor, conforme nos é narrado num dos livros de Reis, em que ele viu o velho amigo Samuel, ou teve de Samuel informações através dessa sensitiva, dessa médium.

Samuel lhe diz que, se ele resolvesse enfrentar os filisteus que estavam com seus exércitos acampados em redor de Israel, dentro de pouco tempo, ele e sua família estariam no Além.

E a primeira coisa que fez o rei Saul, foi desatender a proposta do amigo, com o qual ele queria falar; desacatou o exército filisteu e entrou na guerra.

Dentro de algum tempo, Jônatas, Abinadab e Melquisua, seus filhos, tinham sido mortos pelos filisteus. Ele, acompanhado pelo soldado, nos campos destroçados, toma da lança do soldado e destrói a própria vida física, cumprindo aquilo que Samuel lhe havia dito através da senhora de Endor.

Temos esses dois suicídios e verificamos que qualquer suicídio é, por si mesmo, muito lamentável.

Mas, quando chegamos no Novo Testamento da Bíblia judaica, vamos achar o grande suicídio de Judas Iscariotes.

Após haver se enganado profundamente, ao cometer a traição contra o amigo, contra Jesus Cristo, vendendo a informação sobre Ele, por trinta moedas, Judas acaba por enforcar-se e isso estabelece uma nova tragédia no corpo do Velho Testamento Bíblico e do Novo Testamento Bíblico.

Desse modo, começamos a pensar no que vem a ser propriamente o suicídio.

Sem falarmos nas questões culturais, como haraquiri, no Japão, como a morte dos gonzos do Vietnã, quando punham combustível sobre o corpo, ateavam fogo e morriam na posição de lótus, encontramos suicídio por desesperação.

As pessoas desesperadas, amotinadas na sua intimidade, as pessoas descrentes da vida, descrentes da sociedade, descrentes da Humanidade, apelam para esse ato extremo, que é o mais grave ato que alguém comete diante das leis cósmicas, diante das leis da consciência ou se quisermos, diante das Leis de Deus.

Por causa disso, há que se avaliar a impropriedade do suicídio. Esse fato que leva as pessoas a suporem que estão fugindo dos problemas, que estão fugindo da vida, provoca-lhes uma frustração sem tamanho. Porque a morte do corpo físico pode nos retirar, e nos retira de fato, do corpo físico, mas não nos retira da essência da vida.

Nós, seres espirituais, somos viventes perpétuos. Uma vez que carregamos em nós esse germe do Criador, essa genética do Criador, que é eterno, nós somos imortais.

A nossa eternidade recebe o nome de imortalidade, porque nós tivemos começo no amor de Deus.

Por que matar-nos se sabemos que a morte de fato, a morte essencial não existe?

Matamos o corpo físico que é carnal, composto por células e, dali a pouco, elas se desfazem no quimismo do solo em plena natureza.

Jamais conseguiremos, com a prática do suicídio, fugir da vida.

A vida essencial é um patrimônio da alma, é um patrimônio do Espírito, por isso nós sairemos dos corpos, mas o suicídio nunca nos retirará da vida.

*   *   *

Uma vez que ninguém consegue evadir-se da vida, não há nenhum sentido em matar-se.

Compreendemos os casos patológicos, as pessoas doentes da cabeça, doentes psiquiátricos, as pessoas em desespero, querendo fugir de si mesmas, mas não tem nenhum sentido. Essa é uma porta falsa.

Mas, afinal de contas, estamos falando desse suicídio em que a criatura toma de uma arma de fogo, uma arma branca, toma de uma poção venenosa, ou se atira em algum desvão, que lhe proponha ou que lhe permita ou que lhe facilite o suicídio.

Contudo, existem outras considerações sobre o suicídio que poderemos fazer.

Porque Freud, Sigmund Freud, ao analisar a questão do suicídio estabelece algo muito interessante para a psicanálise:

Toda criatura, diz ele, que é capaz de se suicidar, é capaz de matar.

As pessoas, em tese, que se matam, em verdade elas queriam matar alguém. Diante da impossibilidade, por qualquer razão, elas se matam a si para inculpar alguém.

É muito comum as pessoas se matarem e deixarem bilhetes, cartas, pondo culpa em terceiro, pondo culpa na sociedade.

Desse modo, começamos a perceber que, de fato, o suicida nesses casos, desejaria destruir outras pessoas.

Na impossibilidade, ele se autodestrói e culpa essas pessoas, como se desejasse deixar o peso dos seus atos sob a responsabilidade de terceiros.

Mas, todas as vezes que pensamos em suicídio, vemos que o suicídio é a queima de nossa energia vital.

Sempre que atuarmos de tal forma que queimamos nossa energia vital de maneira indevida, estamos cometendo um ato suicida.

Então, é suicida aquele que come demasiadamente, que não come para viver, mas que vive para comer. É um ato suicida porque ele está destroçando energias físicas, energias que deveriam servir-lhe à vida. Ele está patrocinando com elas a morte.

São suicidas os tabagistas, por mais inocentes que sejam. Não importa que seja meu filho, minha mãe,  meu pai ou eu mesmo.

Se estou ingerindo substâncias químicas, que vão corroendo a minha vitalidade, meu fluido vital, sou um suicida potencial, suicida involuntário, se eu não souber, mas suicida voluntário, se eu souber que aquilo me provoca morte gradativamente.

São suicidas os alcoólatras, por mais inocente que seja a bebedeira, mas a continuidade nos leva a queimar as energias vitais.

Ninguém estará no inferno ou estará cometendo um pecado por tomar uma taça de vinho, por tomar uma taça de cevada, no entanto, o hábito, a continuidade, isso vai fazendo com que o organismo perca sua tonalidade, perca tônus vital, para dar conta dessa substância indevida que a criatura ingere variadas vezes durante muito tempo.

É por causa disso, que temos que pensar na irritação: quantas vezes  mergulhamos nesse pântano da irritação, da cólera. Também é uma atitude suicida.

Cada vez que nos iramos, cada vez que entramos nesse circuito da perturbação emocional, queimamos nosso fluido vital, vamos destroçando gradativamente a nossa vitalidade e, obviamente,  esse é um gesto suicida.

Quando começamos a maquinar a destruição dos outros, maquinar alguma coisa que eu possa comprometer os outros, maquinar algo em que eu possa infelicitar os outros, não estou fazendo outra coisa senão destruir-me, porque o que faz mal à gente, disse Jesus Cristo, é o que sai da gente, é o que sai da boca da alma, porque ficamos responsáveis por isso.

Dessa maneira, nada de pensar em suicídio, nada de adotar posturas suicidas. O mais importante é amar a vida, seja ela como for, seja ela qual for, amar a vida. Agradecer a Deus pela honra de estarmos na Terra.

Cometemos um erro, vamos ser submetidos à execração pública?

Não há problema. Vamos chorar, vamos sofrer, mas logo mais o sol brilhará outra vez.

Estamos devendo dinheiro, altas somas? Não há problema, vamos resolver isto. Daqui a pouco eu trabalho, daqui a pouco eu consigo. Nada de matar-nos.

Estamos enfrentando um problema de saúde grave? Nada de matar-nos, porque logo mais, se a morte natural não sobrevier, ficaremos curados e, se ela sobrevier, ficaremos curados em definitivo.

Por isto, matar-nos nunca. A morte provocada por nós não nos levará a outro lugar que não seja o conflito consciencial e à necessidade do retorno para o necessário resgate para a reeducação.


Observação: Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 145, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.

quinta-feira, 25 de junho de 2020


SINAIS DE ALARME.

Há dez sinais vermelhos, no caminho da experiência, indicando queda provável na obsessão:

Quando entramos na faixa da impaciência;

Quando acreditamos que a nossa dor é a maior;

Quando passamos a ver ingratidão nos amigos;

Quando imaginamos maldade nas atitudes dos companheiros;

Quando comentamos o lado menos feliz dessa ou daquela pessoa;

Quando reclamamos apreço e reconhecimento;

Quando supomos que o nosso trabalho está sendo excessivo;

Quando passamos o dia a exigir esforço, sem prestar o mais leve serviço;

Quando pretendemos fugir de nós mesmos, através da gota de álcool ou da pitada de entorpecente;

Quando julgamos que o dever é apenas dos outros;

Toda vez que um desses sinais venha a surgir no trânsito de nossas ideias, a Lei Divina está presente, recomendando-nos, a prudência de parar no socorro da prece ou na luz do discernimento.

SCHEILLA.


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Amor

 


A vivência do amor é apenas uma necessidade passageira ou algo a que estamos fatalmente destinados? No que consiste esse sentimento? Como ele se manifesta? Quais as virtudes a ele vinculado? Do que o amor é capaz?


A vivência do amor é apenas uma necessidade passageira ou algo a que estamos fatalmente destinados? Na nota explicativa da questão 938, de O Livro dos Espíritos, temos as seguintes considerações de Allan Kardec:

A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de se sentir amado. Um dos maiores prazeres que lhe sejam concedidos sobre a Terra é o de reencontrar corações que se simpatizam com o seu, o que lhe dá as premissas de uma felicidade que lhe está reservada no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benevolência. [1]

Suas palavras estão intrinsecamente associadas a uma das muitas definições do que seja o amor: “Sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigura belo, digno ou grandioso.” [2]

Se estamos fatalmente destinados à vivência desse sentimento belo, digno e grandioso – porque se assim não fosse, não nos impulsionaria à benevolência em nossas escolhas e atitudes –, torna-se imprescindível o conhecimento de suas várias possibilidades, bem como das virtudes que abarca.

O que é amar? Como esse sentimento se manifesta?

Na Primeira Epístola aos Coríntios (13:1-13), o Apóstolo Paulo traz um dos mais belos cânticos sobre o que seja o genuíno amor:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entre o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se aproveitará.
O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. [3]

Em suas palavras, o Apóstolo se refere a nove virtudes do amor. Portanto, comentemos sobre elas.

A primeira a ser elencada é a paciência, quando diz que “o amor é paciente”; e a paciência é a “virtude de quem suporta males e incômodos sem queixumes nem revolta.” [2]
        
No entanto, tal virtude não representa a omissão ou a submissão diante das inconvenientes atitudes alheias, mas trata-se, na realidade, de um equilíbrio mental e emocional que permite à pessoa sustentar a serenidade e a firmeza na condução de qualquer relacionamento, até mesmo naqueles marcados por sérios conflitos. O Espírito Emmanuel afirma:

A verdadeira paciência é sempre uma exteriorização da alma que realizou muito amor em si mesma para dá-lo a outrem, na exemplificação. [4]

Por sua vez, a paciência relaciona-se com a tolerância. Por isso é que o amor “não se exaspera”.

A tolerância, segunda virtude do amor, é o “direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até diametralmente opostas às nossas.” [2] O tolerante é aquele que, por aceitar e compreender que cada indivíduo possui sua própria maneira de pensar, sentir e comportar-se, age com tato, cautela e benevolência, procurando extrair dos outros o que eles, intimamente, possuem de melhor.

A vida e as pessoas não são exatamente o que gostaríamos que fossem; quanto mais aceitarmos este fato, menos estressados e infelizes seremos.

A terceira virtude é a benevolência, pois o amor “é benigno”.

A criatura benigna é aquela que se compraz em fazer o bem. Como a afetuosidade e a gentileza são as suas principais características, ela mesma se satisfaz ao promover a satisfação alheia.

O genuíno amor sempre nos possibilita desejar o melhor a quem quer que seja, impulsionando-nos a tomar as devidas atitudes para que os benefícios realmente se concretizem. Dessa forma, ele não é somente sentimento, mas, sobretudo, ação. O Espírito André Luiz afirma: “O verdadeiro amor, para transbordar em benefícios, precisa trabalhar sempre”. [5]  
        
Ademais, a benevolência promove a incondicionalidade do amor. Esta é, portanto, sua quarta virtude, porque, de acordo com o apóstolo Paulo, o amor “não procura seus interesses”.

Amor incondicional, por definição, é aquele que não impõe condições – seja por meio de chantagens, cobranças ou exigências – para que possa existir ou expressar-se. É, portanto, a atitude de quem não espera por recompensas ou retribuições pelos benefícios que oferece a outrem. Hammed alerta:

Somos nós mesmos que nos iludimos, por querer que as criaturas deem o que não podem e que ajam como imaginamos que devam agir. [6]

Nenhum de nós tem o poder de fazer com que outra pessoa nos ame, mas todos temos a possibilidade de amá-la em primeiro lugar. E será a manifestação incondicional de nossos sentimentos que atrairá a atenção de muitas delas para nós.

Quem ama intensamente só pode acreditar, confiar, aceitar e ter a esperança de receber amor de volta. Mas não existem garantias. Quem guarda seu amor para o momento em que tiver certeza de receber amor igual corre o risco de esperar para sempre. E quando amamos com qualquer expectativa, corremos o risco de nos desapontarmos, porque não é provável que consigamos encontrar quem atenda a todas as nossas necessidades, por maiores sejam o amor e a dedicação dessa pessoa, pois as pessoas nos dão o que podem e quando podem, não necessariamente o que queremos e quando queremos.
(...) Quando deixamos de impor condições para amar, damos um enorme passo na direção do aprendizado do amor.
Mas como renunciar às nossas exigências e desenvolver o amor em seu estado mais puro? Acredito que a melhor forma de aprender a amar é mergulhando profunda e intensamente na vida. Como começar? Acho que uma boa maneira é abrindo-se para o amor, estando atento para suas manifestações, procurando não deixar passar uma ocasião de manifestá-lo. E convencendo-se de que, por mais difícil que pareça ser, você é capaz de mudar. Confie em si e trabalhe, invista.
(...) Já que vivemos em um mundo imperfeito, onde nosso amor nem sempre é correspondido, é bom nos fortalecermos para continuar a amar. Repetir sempre: “Amo porque quero. Amo por mim, não pelos outros. Em primeiro lugar, amo pela alegria que o amor me dá. Em segundo, amo pela alegria que o amor dá aos outros. Se retribuírem meu amor, ótimo. Se não, vou procurar não dar importância, porque o que eu quero é amar”. Lembrar que vivemos pela alegria de amar. Esperar que os outros façam o mesmo, mas sem expectativas nem exigências. Assim, se formos correspondidos, ficamos duplamente felizes. [7]

A quinta virtude é a maturidade, porque o amor “não arde em ciúmes”.
        
O ciúme trata-se de uma inquietação mental e emocional que ocorre diante da possibilidade – ainda que irreal – de perder algo que julgamos ser nosso por direito. Mas é justamente no campo afetivo que ele mais se expressa e desenvolve-se.

Certo grau de ciúme é bastante natural em muitos de nós. Paulo, entretanto, refere-se ao ciúme doentio, pois esse excessivo desassossego mental e emocional faz sofrer quem o alimenta e quem o suporta, prejudicando consideravelmente a relação. O psicanalista de origem suíça Valério Albisetti ensina:

O ciúme faz parte de uma visão possessiva do ambiente, do outro, de si.
(...) É neurose.
É uma doença.
Não faz crescer.
(...) Viver com o ciumento significa, na verdade, não ter vivido.
(...) Baseia-se na insegurança do próprio eu, em sua não completa, correta e sadia evolução.
(...) Quem acredita que sentindo ciúme tem amor está no caminho errado. O amor é respeito pelo outro, pelas suas escolhas, quaisquer que elas sejam.
(...) Desconfie da pessoa que tem ciúme de você. Ela quer dominá-lo, possuí-lo, não amá-lo, pois o ciumento usa o ciúme como arma para manter a outra pessoa em seu poder. Controlam, espreitam, desconfiam de tudo, asfixiam o parceiro com perguntas reduzindo-lhe ao mínimo a liberdade.
Não de deve aceitar passivamente a vida com uma pessoa ciumenta. Nem devemos iludir-nos pensando que tudo passará sem alguma intervenção planejada. Infelizmente, esse tipo de neurose não melhora com o passar do tempo, pois os ciumentos não percebem e nem admitem que o seu problema é sério.   [8]

A sexta virtude é o respeito, porque o amor “não se conduz inconvenientemente”.
        
No tumulto de nossas emoções, agimos inadequadamente quando não fazemos uso do bom senso, do equilíbrio e do respeito em nossas relações com dos demais, esquecendo que “nossa liberdade termina onde começa a do outro”. Em nome do amor, não temos o direito de ultrapassar os próprios limites, de invadir a privacidade alheia, de cercear-lhe a liberdade. Ainda de Hammed:

Ter limites é o ato de concretizar nossos sentimentos e pensamentos sem subtrair os direitos dos outros, ou seja, é escolher atividades e tomar atitudes com respeito pelas pessoas e por nós mesmos.
(...) Indivíduos descontrolados não possuem limites. Não respeitam as possibilidades, tampouco a individualidade dos outros. Invadem, de forma constante, nossa privacidade e transgridem nossos territórios emocionais, acreditando estar no direito de fazer isso.
(...) Quando queremos que os outros pensem e ajam pelos nossos padrões existenciais, desrespeitamos seus limites emocionais, mentais e espirituais, atraindo fatalmente pessoas que agirão da mesma forma para conosco.  Somente se dá aquilo que se possui. Como, pois, exigir limites de alguém, se ainda não soubemos estabelecer nossos próprios limites? [9]

A sétima virtude é a capacidade de perdoar, porque o amor “não se ressente do mal”.

Em diversas situações, ficamos “cozinhando” o nosso rancor, não deixando com que a raiva e o ressentimento, simplesmente, passem por nós. Não estamos errados em sentir tais emoções, mas, uma vez que insistimos em alimentá-las, torna-se imprescindível descobrirmos os motivos dessa necessidade, visando ao entendimento e à mudança dos aspectos de nossa personalidade que estão favorecendo essa permanência.

Como preservar-nos das desagradáveis atitudes alheias se ficarmos, única e exclusivamente, enfocando os aspectos negativos dos outros? Como desenvolver o perdão, se não compreendemos que todos têm as suas razões para fazer o que fazem? Temos condições de avaliar, com o devido acerto, as dores e as alegrias alheias?

O que realmente sustenta uma vida de amor é nosso desejo de permanecer num espaço amoroso e de reagir com amor nos momentos difíceis. É muito fácil amar quando tudo vai bem e se está rodeado de pessoas amigas. É completamente diferente sentir amor pelos outros (ou pela própria vida) em meio ao caos ou quando nos sentimos agredidos pelas atitudes dos outros – quando você é criticado, quando as pessoas invadem seu espaço ou quando lhe respondem com indiferença a um gesto generoso.  [10]

A oitava virtude é a lealdade, pois “o amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade”.

A pessoa leal é ética em tudo o que sente, pensa e faz. Suas atitudes, portanto, estão sempre alicerçadas na honestidade, na sinceridade e, acima de tudo, na fidelidade. Tal é o sentido do seguinte ditado: “viva de forma que, quando pensarem em justiça e integridade, pensem em você”.

E, por fim, a nona virtude é a humildade, porque o amor “não se ufana, nem se ensoberbece”.
        
Ufanar-se e ensoberbecer-se significa tornar-se orgulhoso, envaidecido. Dessa forma, a humildade coloca um selo nos lábios para que não fiquemos nos vangloriando de nossos gestos de paciência, tolerância, benevolência, incondicionalidade, maturidade, respeito, perdão e lealdade para com os demais. Se o inverso, porém, ocorrer, eles poderão sentir-se coagidos a nos retribuir de maneira idêntica. Obviamente que os bons sentimentos que, porventura, venham a alimentar por nós carecerá da sempre necessária espontaneidade.

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O apóstolo Paulo, depois de descrever as nove virtudes do genuíno amor, oferece-nos uma síntese do que ele é capaz: “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

É somente através da real vivência desse sentimento-atitude que fortalecemo-nos no sentido de relevar os atritos que muitos de nossos relacionamentos ainda carregam, numa tentativa de construir vinculações afetivas verdadeiramente enriquecedoras e gratificantes.
        
Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados. (Pe 4:8) [11]


Silvia Helena Visnadi Pessenda


REFERÊNCIAS  

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.

[2] Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

[3] BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

 [4] EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). O Consolador. 16. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1993. q. 254.

[5] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Nosso lar. 49. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira.1999. Cap. 16.

[6] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). As dores da alma. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 1998. p. 53.

[7] CARLSON, Richard; SHIELD, Benjamin (Org.). Os caminhos do coração: ensaios originais sobre o amor. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. Cap. “Celebrando o amor”. (Literatura não-espírita)

[8] ALBISETTI, Valerio. Ciúme: conhecer, enfrentar, superar. Tradução de Antonio Efro Feltrin. 5. ed. São Paulo: Paulinas. 2000. (Literatura não-espírita)

[9] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). A imensidão dos sentidos. 3. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2000. Cap. “Ausência de limites”.

[10] CARLSON, Richard; SHIELD, Benjamin (Org.). Os caminhos do coração: ensaios originais sobre o amor. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. Cap. “O amor é uma escolha”. (Literatura não-espírita)

[11] BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.


Literatura não-espírita

DRUMMOND, Henry. O Dom Supremo. Versão original: The greatest thing in the world. Tradução e adaptação de Paulo Coelho. Rio de Janeiro: Rocco. 1992.


SHINYASHIKI, Roberto. A Carícia Essencial: uma psicologia do afeto. 1. ed. São Paulo: Editora Gente. 1985.

FONTE: aluzdoespiritismo.com.br