quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018


CARTA ÍNTIMA

 

Auta de Souza

 

Escuta, meu Irmão! Pelo caminho

Da miséria terrestre, há muitas dores;

Muito fel, muita sombra, muito espinho,

Entre falsos prazeres tentadores.

 

Há feridas que sangram... Há pavores

De órfãos sem lar, sem pão e sem carinho;

Confortemos os pobres sofredores,

Almas saudosas do Celeste Ninho!

 

Jesus há de sorrir com o teu sorriso,

Quando faças no mundo o bem preciso,

Pelo que sofres em desesperação.

 

Todo o bem que plantares nessa vida,

Há de esperar tua alma redimida

Nos caminhos de luz e redenção!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018


Alguém Contigo

 

Nunca estarás a sós.

Ante a névoa das lágrimas, quando a incompreensão de outrem te agite os sentimentos, lembra-te de alguém que sempre te oferece entendimento e conforto.

Ante a deserção de pessoas queridas, quando mais necessitavas de presença e segurança, pensa nesse benfeitor oculto que jamais te abandona.

Ante as ameaças do desânimo, nos obstáculos para a concretização de tuas esperanças mais belas, considera o amparo desse amigo certo que, em tempo algum, te recusa bom-ânimo.

Ante a queda iminente na irritação, capaz de induzir-te à delinquência, refugia-te no clima desse doador de serenidade que te guarda o coração nas bênçãos da paz.

Ante as sugestões do desequilíbrio emotivo, suscetíveis de te impulsionarem a esquecer encargos que assumiste, reflete no mentor abnegado que jamais te nega defesa, para que usufruas a tranquilidade de consciência.

Ate prejuízos, muitas vezes acusados por amigos aos quais empenhaste generosidade e confiança, medita nesse protetor magnânimo que nunca te desampara e que promove, em teu favor, sempre que necessário, os recursos precisos á recuperação de que careças.

Ante acusações daqueles que se te fazem adversários gratuitos, amargurando-te os dias, eleva-te em pensamento ao instrutor infatigável que sempre te convida à tolerância e ao perdão.

Ante as crises da existência que te sugiram revolta e desespero, recorda o mestre da paciência que te resguarda constantemente na certeza de que não há problemas sem solução para quem trabalha e serve para o bem sem perder a esperança.

Ante acusações daqueles que se te fazem adversários gratuitos, amargurando-te os dias, eleva-te em pensamento ao instrutor infatigável que sempre te convida à tolerância e ao perdão.

Ante as crises da existência que te sugiram revolta e desespero, recorda o mestre da paciência que te resguarda constantemente na certeza de que não há problemas sem solução para quem trabalha e serve para o bem sem perder a esperança.

Ante os desgostos e contratempos que te sejam impostos pelos entes amados, não te emaranhes no cipoal das afeições possessivas, refletindo no companheiro que te ama desinteressadamente muito antes que te decidisses a conhecê-lo.

E quando perguntares quem será esse alguém que nunca te desampara e que te garante a vida, em nome de Deus, deixa que os teus ouvidos se recolham aos recessos da própria alma e escutarás o coração a dizer-te na intimidade da consciência que esse alguém é Jesus.

 

ALGO MAIS  FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER     EMMANUEL

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018


Auta de Souza

 

Jesus descia sobre o meu Horto...

Estrelas lindas no céu brilharam,

Voltou-me o riso, já quase morto.

 

E a sua boca falou tão doce,

Como se a corda de uma harpa fosse:

Filha adorada que o teu gemido

Ergueste n‘asa de uma oração,

Na treva escura sempre envolvido,

Por que soluça teu coração?

 

Levanta os olhos para o meu rosto,

Que à vista dele foge o Desgosto.

 

Não tenhas medo do sofrimento.

Ele é a escada do Paraíso...

Contempla os astros no firmamento,

Doces reflexos de meu sorriso.

Não pensa em dores nem canta mágoas

A garça nívea fitando as águas.

Sigo-te os passos por toda parte,

Vivo contigo como um irmão.

 

Acaso posso desamparar-te

Quando me trazes no coração?

Nas oliveiras do mesmo Horto,

Enquanto orares, terás conforto.

 

Além do Evangelho, a “Imitação de Cristo" lhe faz companhia nas horas de dor, à espera da “S'orella Morte":

 

Quando meu pobre coração doente,

Cheio de mágoas, desolado e aflito,

Sinto bater descompassadamente,

Abro este livro então: leio e medito.

 

NO CORREIO EVANGÉLICO

 

Auta de Souza

 

Não desprezes a dor que aperfeiçoa,

Toma a cruz generosa que te oprime

E segue pela estrada ampla e sublime

Da bondade, contente, humilde e boa.

 

Não te prendas ao golpe que magoa,

Nem à voz que te acuse ou te lastime.

O sacrifício é a luz que nos redime,

Sê fiel a Jesus! Ama e perdoa'.

 

Aceita sem revolta, nos caminhos,

A coroa de lágrimas e espinhos,

Sem recurso a conforto que te agrade.

 

Guarda a paz do Evangelho que te inspira!

Foge das Babilônias da mentira

Para a Jerusalém da eternidade.

 

Fonte: Do livro AUTA DE SOUZA

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Ditado pelo Espírito

Auta De Souza

domingo, 25 de fevereiro de 2018


ANTOLOGIA DA AMIZADE

 

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

EMMANUEL

      Atende ao bem, conquanto as dificuldades que encontres para isso.

 

Quando a noite se adensa no caminho, envolvendo todos os ângulos do espaço, uma vela acesa tem o esplendor de uma estrela que descesse do Céu para varrer na Terra a força negativa da escuridão.

 

Aspiras a vencer e vencerás, mas lembra-te de que vencer sem abrir os caminhos da vitória para os outros é avançar para o tédio da inutilidade sob o frio da solidão.

 

Não condenes pessoa alguma.

 

Somos todos irmãos ante a Providência Divina, interligados no trabalho do dia-a-dia em função de nosso aperfeiçoamento mútuo.

 

Haja o que houver, adianta-te e faze o melhor que possas.

 

Recorda que é preciso semear o bem por dentro de nós e por fora de nós, onde estivermos, de vez que, nessas diretrizes, o bem se nos fará alegria e paz, coragem e esperança nas áreas de cada hora.

 

Se pessoas estimáveis caíram em erro, não lhes aumentes o peso da culpa, destacando-lhes esse ou aquele gesto infeliz.

 

Recorda que toda conversação está carregada de poder criativo. Usa o verbo para o bem e faze com ele a felicidade de quantos te compartilham a vida.

 

Nada sucede à revelia da Providência Divina.

 

Não abandones o instrumento de trabalho que os Mensageiros do Senhor te colocaram nas mãos.

 

Asserena-te e espera. Ama e ensina com paciência.

 

Não esmoreças. A vida reserva prodígios para quem segue adiante, trabalhando e servindo...

 

Não permitas que a idéia de fracasso anule os créditos de tempo em tuas mãos. Não abandones a certeza de que podes trabalhar e servir, auxiliar e melhorar, renovar e reconstruir.

 

Não digas que a grandeza de Deus te dispensa do bem a realizar. Deus é a Luz do Universo, mas podes acender uma vela e clarear o caminho para muita gente dentro da noite.

 

Os companheiros são sempre alavancas de apoio que devemos agradecer a Deus. Diante, porém, das tarefas a realizar, não exijas tanto dos amigos queridos que te estendem amparo.

 

Ergue-te, enquanto é tempo, e faze, por ti mesmo, o bem que possas.

 

Auxiliando a outros, obterás igualmente auxílio. É por esta razão que no Serviço ao Próximo encontrarás sempre o endereço exato do Socorro mais Urgente de Deus.

 

Tranquiliza quantos te desfrutam a convivência e faze-os felizes, tanto quanto puderes.

 

As boas obras nascem do amor temperado pelo sofrimento.

 

Serve e medita. É possível que a Divina Providência haja permitido a tua queda em erro para que aprendas a tolerar e a perdoar.

 

Admiráveis são todos os espíritos nobres e retos que militam com grandeza na Causa do Bem. Entretanto, não menos admiráveis são todos aqueles que se reconhecem frágeis e imperfeitos, caindo e erguendo-se muitas vezes nas trilhas da existência sob críticas e censuras, mas sempre resistindo à tentação do desânimo, sem desistirem de trabalhar.

 

Ninguém se eleva, sem esforço máximo da vontade, dos campos do hábito para as regiões iluminadas da experiência.

 

Entretanto, ninguém atinge as múltiplas regiões da experiência sem passaportes adquiridos nas agências da dor.

 

Não penses tanto sobre o que os outros possam imaginar a teu respeito. Raramente isto acontece. Na maioria dos casos, quando notas alguém a observar-te, essa pessoa, provavelmente, deseja saber o que estás pensando a respeito dela. Em qualquer situação, mentalizemos o bem o sigamos para a frente.

 

No domínio das possibilidades materiais, as lições são diversas. O que guardas, talvez te deixe. O que desperdiças, com certeza te acusa. O que emprestas te experimenta. Em verdade, só te pertence aquilo que dás.

 

Enquanto cultivarmos melindres e ressentimentos; enquanto não pudermos aceitar os próprios adversários na condição de filhos de Deus e irmãos nossos, tão dignos de amparo quanto nós mesmos; enquanto sonegarmos serviço fraterno aos que ainda não nos estimem; e enquanto nos irritarmos inutilmente, a felicidade para nós é impossível.

 

Se trabalhas com fé em Deus, na Seara do Bem, não precisas articular muitas perguntas acerca daquilo que te compete fazer.

 

Prossegue agindo com paciência e, através do próprio serviço a que te dedicas, a Sabedoria de Deus te esclarecerá.

 

Repara o sol que é luz sublime e infatigável... O céu a constelar-se em turbilhões de estrelas, novas pátrias de luz, exaltando a esperança...

 

     Tudo no altar da natureza é prazer de auxiliar e alegria de servir.

 

Dar o pano que sobra em nosso guarda-roupa é dever, mas vestir o próximo de novas idéias, através dos nossos bons exemplos, é caridade.

 

... Não bastará, portanto, crer na sobrevivência do homem. É indispensável clarear o porvir, antecipando edificações iluminadas para o amanhã de nossas almas eternas.

 

O Espiritismo com Jesus, entretanto, não é somente o corredor de acesso ao paraíso das consolações. Representa, acima de tudo, movimento libertador da consciência encarnada, oficina de instalação do Reino Divino no campo humano.

 

Não basta sentir simplesmente a bênção da Verdade Soberana. É imprescindível dilatá-la ao círculo de nossos semelhantes, através do bem que concretize a divina palavra de que somos portadores.

 

Ante o mundo moderno, em doloroso e acelerado processo de transição, procuremos em Cristo Jesus o clima de nossa reconstrução espiritual para a Vida Eterna.

 

Imprescindível renovar o coração convertendo-o em vaso de graças divinas para a extensão das dádivas recebidas.

 

Indaguemos, estudemos, movimentemo-nos na esfera científica e filosófica, todavia, não nos esqueçamos do “amemo-nos uns aos outros” como o Senhor nos amou.

Lembremo-nos de que somos os herdeiros diretos da confiança e do amor daqueles que tombaram nos circos do martírio por trezentos anos consecutivos.

 

Sem a humildade não há progresso possível.

 

Perdendo na esfera da posse transitória, ganharemos sempre nas possibilidades de conquistar a Luz Imperecível.

 

Verbo primoroso, sem fundamentos de sublimação, não alivia, nem salva. Sentimento educado e iluminado, contudo, melhora sempre.

 

 

 

 

Bibliografia

Amigo - Emmanuel - Ed. CEU - São Paulo, 1980

Livro de Respostas - Emmanuel - Ed. CEU - São Paulo, 1980

Luz no Caminho - Emmanuel - Ed. CEU - São Paulo, 1992

 

 

ANTOLOGIA DA AMIZADE

 

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

EMMANUEL

 

sábado, 24 de fevereiro de 2018


A CÓLERA

 

Emmanuel

 

A cólera é responsável por alta percentagem do obituário no mundo, como legítimo fator de enfermidade e portadora da morte.

Além disso, é também a raiz de grande parte dos males e perturbações que dilapidam na base a segurança dos serviços associativos na Terra.

 

Nos lares invigilantes, é o gênio obscuro da discórdia.

Nas instituições respeitáveis, é o fermento da separação.

Nas vias públicas, é a porta de acesso à crueldade.

Nos círculos da fé, exprime-se por brecha pela qual se infiltram as forças destrutivas da sombra.

Nos fracos, estabelece o abatimento imediato.

Nos expoentes da inveja e do despeito, engendra o desequilíbrio já que efetua a ligação da alma com as entidades representativas de regiões inferiores e

conturbadas.

Nos corações desprevenidos, lança as teias da violência.

Nos irritadiços, espalha as sugestões da delinquência.

 

Em toda parte, quando encontra guarida em algum coração impermeável ao bem, transforma-se em suporte de terríveis processos obsessivos que somente a Compaixão Divina associada à bondade humana conseguem reduzir ou sanar.

 

Recebemos a experiência, por mais difícil, com a luz da confiança no Senhor que, nos oferecendo a luta depuradora, nos possibilita a própria regeneração.

 

A passagem na Terra é aprendizado.

 

Revoltar-se o homem, à frente da vida, é recusar a oportunidade de elevar-se ante a luz da própria sublimação.

 

CANAIS DA VIDA

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Ditado pelo Espírito

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018


Prefácio (*)
 
"Através dos Séculos"
 
Inda chora o Senhor nas horas mudas
Na cruz de vinte séculos ingratos,
Contemplando a progênie de Pilatos
E a descendência exótica de Judas.
 
Examina os Herodes insensatos,
Os novos Barrabás de mãos sanhudas
E as multidões misérrimas, desnudas
Que lhe cospem no ensino a pugilatos.
 
Chora Jesus! Amargamente chora,
E clama à sede imensa que o devora,
Buscando gerações, enchendo espaços!
 
Em toda a Terra, há lívidos incêndios..
E entre as humilhações e os vilipêndios,
Contempla o mundo que lhe foge aos braços.
 
Augusto dos Anjos.
 
(*) Como prefácio deste livro apresentamos aqui um soneto mediúnico, inédito, do eminente poeta paraibano Augusto dos Anjos, desencarnado em Leopoldo MG., no ano de 1914. Relatou-nos o médium Chico Xavier que na noite do dia 30.03.1945 em Pedro Leopoldo, quando a 2ª Grande Guerra chegava ao fim, apresentaram-se à visão espiritual o espírito do nosso William Machado Figueiredo acompanhado do poeta Augusto dos Anjos, que na oportunidade lhe ditou o soneto "Através dos séculos", transcrito. Aproveitamos a oportunidade para manifestarmos aqui a nossa homenagem pelo transcurso do centenário de nascimento de Augusto dos Anjos (1884/1984).
 
Fonte: Livro BASTÃO DE ARRIMO - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER -ESPÍRITO DE WILLIAM

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018


 

O ENCONTRO DIVINO.

 

Espírito: IRMÃO X.

 

Quando o cavaleiro D´Arsonval, valoroso senhor em França, se ausentou do medievo domicílio, pela primeira vez, de armadura fulgindo ao Sol, dirigia-se à Itália para solver urgente questão política.

Eminente cristão trazia consigo um propósito central – servir ao Senhor, fielmente, para encontra-lo.

Não longe de suas portas, viu surgir, de inesperado, ulceroso mendigo a estender-lhe as mãos descarnadas e súplices.

Quem seria semelhante infeliz a vaguear sem rumo?

Preocupava-o serviço importante, em demasia, e, sem se dignar fixa-lo, atirou-lhe a bolsa farta.

O nobre cavaleiro tornou ao lar e, mais tarde, menos afortunado nos negócios, deixou de novo a casa.

Demandava a Espanha, em missão de prelados amigos, aos quais se devotara.

No mesmo lugar, postava-se o infortunado pedinte, com os braços em rogativa.

O fidalgo, intrigado, revolveu grande saco de viagem e dele retirou pequeno brilhante, arremessando-o ao triste caminheiro que parecia devora-lo com o olhar.

Não se passou muito tempo e o castelão, menos feliz no círculo das finanças, necessitou viajar para a Inglaterra, onde pretendia solucionar vários problemas, alusivos à organização doméstica.

No mesmo trato de solo, é surpreendido pelo amargurado leproso, cuja velha petição se ergue no ar.

O cavaleiro arranca do chapéu estimada jóia de subido valor e projeta-a sobre o conhecido romeiro, orgulhosamente.

Decorridos alguns meses, o patrão feudal se movimenta na direção de porto distante, em busca de precioso empréstimo, destinado à própria economia, ameaçada de colapso fatal, e, no mesmo sítio, com rigorosa precisão, é interpelado pelo mendigo, cujas mãos, em chaga abertas, se voltam ansiosas para ele.

D´Arsonval, extremamente dedicado à caridade, não hesita. Despe fino manto e entrega-o, de longe, receando-lhe o contato.

Depois de um ano, premido por questões de imediato interesse, vai a Paris invocar o socorro de autoridades e, sem qualquer alteração, é defrontado pelo mesmo lázaro, de feição dolorida, que lhe repete a antiga súplica.

O Castelão atira-lhe um gorro de alto preço, sem qualquer pausa no galope, em que seguia, presto.

Sucedem-se os dias e o nobre senhor, num ato de fé, abandona a respeitada residência, com séquito festivo.

Representará os seus, junto à expedição de Godofredo de Bouillon, na cruzada com que se pretende libertar os Lugares Santos.

No mesmo ângulo da estrada, era aguardado pelo mendigo, que lhe reitera a solicitação em voz mais triste.

O ilustre viajor dá-lhe, então, rico farnel, sem oferecer-lhe a mínima atenção.

E, na Palestina D´Arsonval combateu valorosamente, caindo, ferido, em poder dos adversários.

Torturado, combalido e separado de seus compatriotas, por anos a fio, padeceu miséria e vexame, ataques e humilhações, até que um dia, homem convertido em fantasma, torna ao lar que não o reconhece.

Propalada a falsa notícia de sua morte, a esposa deu-se pressa em substituí-lo, à frente da casa, e seus filhos, revoltados, soltaram cães agressivos que o dilaceraram, cruelmente, sem comiseração para com o pranto que lhe escorria dos olhos semimortos.

Procurando velhas afeições, sofreu repugnância e sarcasmo.

Interpretado, agora, à conta de louco, o ex-fidalgo, em sombrio crepúsculo, ausentou-se, em definitivo, a passos vacilantes...

Seguir para onde? O mundo era pequeno demais para conter-lhe a dor.

Avançava, penosamente, quando encontro o mendigo.

Relembrou a passada grandeza e atentou para si mesmo, qual se buscasse alguma coisa para dar.

Contemplou o infeliz pela primeira vez e, cruzando com ele o olhar angustiado, sentiu que aquele homem, chegado e sozinho, devia ser seu irmão. Abriu os braços e caminhou para ele, tocado de simpatia, como se quisesse dar-lhe o calor do próprio sangue. Foi, então, que, recolhido no regaço do companheiro que considerava leproso, dele ouviu as sublimes palavras:

- D´Arsonval, vem a mim! Eu sou Jesus, teu amigo. Quem me procura no serviço ao próximo, mais cedo me encontra... Enquanto me buscavas à distância, eu te aguardava, aqui tão perto! Agradeço o ouro, as jóias, o manto, o agasalho e o pão que me deste, mas há muitos anos te estendia os meus braços, esperando o teu próprio coração!...

O antigo cavaleiro nada mais viu senão vasta senda de luz entre a Terra e o Céu...

Mas, no outro dia, quando os semeadores regressavam às lides do campo, sob a claridade da aurora, tropeçaram no orvalhado caminho com um cadáver.

D´Arsonval estava morto.

 

FONTE: LIVRO ANTOLOGIA MEDIÙNICA DO NATAL –

Psicografia: Francisco Cândido Xavier.

ANOTAÇÕES DA MEDIUNIDADE

 

Mediunidade sem exercício no bem é semelhante ao título profissional sem a função que lhe corresponde.

Não procures o médium dos Espíritos Benfeitores qual se fosses defrontado por um ser sobrenatural.

O médium é um companheiro.

É um trabalhador.

É um amigo.

E é sobretudo nosso irmão, com dificuldades e problemas análogos àqueles que assediam a mente de qualquer espírito encarnado.

Não alegues a suposta ingratidão dos outros para desertar da Seara do Bem.

Na engrenagem da vida, cada qual de nós é peça importante com funções específicas.

Ninguém recebe o conhecimento superior tão-só para o proveito próprio.

Saibamos dividir o tesouro da compreensão em parcelas de bondade.

Seja qual for o contratempo que se te erija em obstáculo na estrada a percorrer, age para o bem.

Nem sempre conseguirás materializar os amigos da Vida Maior para satisfazer a sede de verdade que tortura a muitos de nossos companheiros na Terra, mas sempre podes substancializar essa ou aquela providência suscetível de prodigalizar-lhes tranquilidade e consolação.

Nem sempre obterás a mensagem de determinados amigos que residem no Mais Além, para a edificação imediata dos que sofrem no Plano Físico; entretanto, sempre podes improvisar algum recurso com que se lhes restaurem a energia e o bom ânimo.

Nem sempre lograrás a cura de certas enfermidades no corpo de irmãos padecentes; todavia, sempre podes lenir-lhes o coração e aclarar-lhes a alma com o apoio fraterno, habilitando-lhes a mente para a cura espiritual.

A terra é médium da flor que se materializa, tanto quanto a flor é medianeira do perfume que embalsama a atmosfera.

O Sol é o médium da luz que sustenta o homem, tanto quanto o homem é o instrumento do progresso planetário.

Todos os aprendizes da fé podem converter-se em médiuns da caridade, através da qual opera o Espírito de Jesus de mil modos diferentes, em cada setor de nossa marcha evolutiva.

Ampara os teus semelhantes e encontrarás a melhor fórmula para o seguro desenvolvimento psíquico.

Amontoavam-se vermes onde se congregam frutos desaproveitados ou apodrecidos, assim como a luz brilha onde encontra força ou material que lhe sirva de combustível.

O médium, para servir a Jesus de modo positivo e eficiente, no campo da Humanidade, precisa aperfeiçoar-se à instrução, ao conhecimento, ao preparo e à própria melhoria, a fim de que se faça filtro de luz e paz, elevação e engrandecimento para a vida e para o caminho das criaturas.

Quem deseje crescer para a Espiritualidade Superior não pode menosprezar o alfabeto, o livro, o ensinamento e a meditação.

Jesus é o nosso Divino Mestre.

Eduquemo-nos com Ele, a fim de que possamos realmente educar.

Por mais que se fale em mediunidade, é forçoso referir-nos sempre à disciplina que só a Doutrina Espírita consegue orientar para o bem.

Agir no bem é buscar a simpatia dos Espíritos Sábios e Benevolentes, encontrando-a.

Para curar, é preciso trazer o coração por vaso transbordante de amor e, quem realmente ama, não encontra ensejo de reclamar.

 

ANOTAÇÕES DA MEDIUNIDADE

 

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

EMMANUEL