quinta-feira, 31 de maio de 2018


Anotações da Mediunidade

Recebamos a experiência, por mais difícil, com a luz da confiança no Senhor que, nos oferecendo a luta depuradora, nos possibilita a própria regeneração.
Podemos e devemos esposar a nossa iniciação, no aprimoramento para a Vida Superior, começando a ser bons.
Desperta e faze algo que te impulsione para a frente na estrada de elevação.
A vida não te reclama atitudes sensacionais, gestos impraticáveis, espetáculos de súbita grandeza...
Pede simplesmente sejas sempre melhor para aqueles que te cruzem os passos.
No lar, na profissão, nos templos da fé, na intimidade ou na via pública, somos convidados ao bem que Jesus testemunhou, a fim de que a nossa diretriz, a expressar-se no exemplo, projete-se nas mentes que nos rodeiam, induzindo-as à renovação.
Se a semente recusasse o sacrifício no seio da gleba em que aprende a morrer para ressurgir a benefício dos outros, não colheríamos o grão que nos supre o celeiro e, se o grão repelisse a mó que o desintegra, a pretexto de conservar-se, não disporíamos do recurso indispensável do pão que nos alimenta.
Não olvidemos que, tanto quanto possível, ao invés de rogarmos auxílio, antes de tudo, devemos auxiliar, na certeza de que, se a nossa palavra elucida e reanima, somente a nossa atitude positiva na prática dos princípios que propagamos será bastante forte para reformar-nos.
Anota, em torno de ti mesmo, a grande família humana reclamando-te pão e luz, esperança e consolo.
Guardemos a correta atitude do aprendiz do Senhor que não desconhece o sacrifício de si mesmo como estrada única para a ascensão a que se propõe.
Fenômenos mediúnicos serão sempre motivos de experimentação e de estudo, tanto favorecendo a convicção, quanto nutrindo a polêmica, mas educação evangélica e exemplo em serviço, definição e atitude, são forças morais irremovíveis da orientação e da lógica, que resistem à dúvida em qualquer parte.
Mediunidade é instrumento vibrátil e cada criatura consciente pode sintonizá-lo com o objetivo que procura.
“Acharás o que buscas” ensina o Evangelho, e podemos acrescentar “farás o que desejas”.
Assim sendo, se te relegas à maledicência, em breve te constituirás em veículo dos gênios infelizes que se dedicam à injúria e à crueldade.
Se te deténs na caça ao prazer dos sentidos, cedo te converterás no intérprete das inteligências magnetizadas pelos vícios de variada expressão.
... Todavia, se te empenhas na boa vontade para com os semelhantes, imperceptivelmente terás o coração impelido pelos mensageiros do Eterno Bem ao serviço que possas desempenhar na construção da felicidade comum.
Observa o próprio rumo para que não te surjam problemas de companhia.
Eleva-te no aperfeiçoamento próprio e caminharás de espírito bafejado pelo concurso daqueles pioneiros da evolução que te precederam na jornada de luz, guiando-te as aspirações para as vitórias da alma.
... Não nos esqueçamos, porém, de que o movimento é de intercâmbio.
Se o homem recebe o concurso dos Espíritos Benfeitores, é natural que os Espíritos Benfeitores algo esperem igualmente do homem.
Nada existe sem permuta ou sem resultado.
O lavrador planta as sementes e recolherá os frutos.
O lapidário auxilia a pedra, que lhe retribui, mais tarde, com a sua beleza e brilho.
... E nós, que tanto temos recebido de Jesus, que oferecemos em troca?
Mediunidade sem exercício no bem é semelhante ao título profissional sem a função que lhe corresponde.
Não procures o médium dos Espíritos Benfeitores qual se fosses defrontado por um ser sobrenatural.
O médium é um companheiro.
É um trabalhador.
É um amigo.
E é sobretudo nosso irmão, com dificuldades e problemas análogos àqueles que assediam a mente de qualquer espírito encarnado.
Não alegues a suposta ingratidão dos outros para desertar da Seara do Bem.
Na engrenagem da vida, cada qual de nós é peça importante com funções específicas.
Ninguém recebe o conhecimento superior tão-só para o proveito próprio.
Saibamos dividir o tesouro da compreensão em parcelas de bondade.
Seja qual for o contratempo que se te erija em obstáculo na estrada a percorrer, age para o bem.
Nem sempre conseguirás materializar os amigos da Vida Maior para satisfazer a sede de verdade que tortura a muitos de nossos companheiros na Terra, mas sempre podes substancializar essa ou aquela providência suscetível de prodigalizar-lhes tranqüilidade e consolação.
Nem sempre obterás a mensagem de determinados amigos que residem no Mais Além, para a edificação imediata dos que sofrem no Plano Físico; entretanto, sempre podes improvisar algum recurso com que se lhes restaurem a energia e o bom ânimo.
Nem sempre lograrás a cura de certas enfermidades no corpo de irmãos padecentes; todavia, sempre podes lenir-lhes o coração e aclarar-lhes a alma com o apoio fraterno, habilitando-lhes a mente para a cura espiritual.
A terra é médium da flor que se materializa, tanto quanto a flor é medianeira do perfume que embalsama a atmosfera.
O Sol é o médium da luz que sustenta o homem, tanto quanto o homem é o instrumento do progresso planetário.
Todos os aprendizes da fé podem converter-se em médiuns da caridade, através da qual opera o Espírito de Jesus de mil modos diferentes, em cada setor de nossa marcha evolutiva.
Ampara os teus semelhantes e encontrarás a melhor fórmula para o seguro desenvolvimento psíquico.
Amontoavam-se vermes onde se congregam frutos desaproveitados ou apodrecidos, assim como a luz brilha onde encontra força ou material que lhe sirva de combustível.
O médium, para servir a Jesus de modo positivo e eficiente, no campo da Humanidade, precisa aperfeiçoar-se à instrução, ao conhecimento, ao preparo e à própria melhoria, a fim de que se faça filtro de luz e paz, elevação e engrandecimento para a vida e para o caminho das criaturas.
Quem deseje crescer para a Espiritualidade Superior não pode menosprezar o alfabeto, o livro, o ensinamento e a meditação.
Jesus é o nosso Divino Mestre.
Eduquemo-nos com Ele, a fim de que possamos realmente educar.
Por mais que se fale em mediunidade, é forçoso referir-nos sempre à disciplina que só a Doutrina Espírita consegue orientar para o bem.
Agir no bem é buscar a simpatia dos Espíritos Sábios e Benevolentes, encontrando-a.
Para curar, é preciso trazer o coração por vaso transbordante de amor e, quem realmente ama, não encontra ensejo de reclamar.

ANOTAÇÕES DA MEDIUNIDADE


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
EMMANUEL



quarta-feira, 30 de maio de 2018


Na Senda de Ascensão

O animal caminha para a condição do homem, tanto quanto o homem evolui no encalço do anjo.
No reino animal, a consciência, à feição de crisálida, movimenta-se em todos os tons do instinto, no rumo da inteligência.
No reino hominal, a consciência avança em todos os aspectos da inteligência, objetivando a conquista da razão sublimada pelo discernimento.
E, no reino angélico essa mesma consciência, em múltiplas expressões de sabedoria e de amor, segue, vitoriosa, para a perfeita santificação, comungando a Perfeita Felicidade do Pai Celestial.
No campo das formas efêmeras, cada ser, portanto, pode residir, à parte, na elaboração dos próprios valores que o erguerão aos níveis mais altos da vida, entretanto, no mundo das essências, imanar-se-á com o Todo da Criação, crescendo para a Unidade Cósmica – porto divino e esperar-nos sem distinção – de modo a investir-nos, um dia, na posse da celeste herança que nos é reservada.
Desse modo, se pedes proteção e arrimo aos que te precederam na vanguarda do progresso e se aguardas a assistência dos benfeitores que, de Mais Alto, te observam as esperanças, compadece-te também das criaturas humildes que laboriosamente se agitam na retaguarda, peregrinando ao teu encontro.
Se é justo esperar pelo amor que verte sublime, do Céu, em teu benefício, é preciso derramar esse mesmo amor na furnas da Terra, a que consciências fragmentárias se acolhem, contando contigo para que se eduquem e aperfeiçoem.
Para o homem, o anjo é o gênio que representa a Providência Divina e para o animal o homem é a força que representa a Divina Bondade.
Recorda os elos sagrados que nos ligam uns aos outros na estrada evolutiva e colabora na extinção da crueldade com que até hoje pautamos as relações com os nossos irmãos menores.
Lembra-te do mel que te angaria medicação, da lã que te oferece o agasalho, da tração que te garante a colheita farta e do estábulo que te assegura reconforto e sejamos mais humanos para com aqueles que aspiram a nossa posição, dentro da Humanidade.
Auxilia aos que te seguem os passos e mantém a certeza de que receberás em pagamento de paz e luz o concurso daqueles que te antecederam no acesso à culminâncias da Vida Maior.

A fé nos confere consolação, mas, nos reveste de responsabilidade a que não podemos fugir.


ALVORADA DO REINO

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
EMMANUEL

terça-feira, 29 de maio de 2018


Cadinho

Reunião pública de 30/1/59 - Questão nº 260 -  O Livro dos Espíritos

Muitas vezes, na Terra, na posição de cultores da delinquência, conseguimos escapar das sentinelas da punição.

Faltas não previstas na legislação terrestre, como sejam certos atos de crueldade e muitos crimes da ingratidão, muros a dentro de nossa vida particular, quase sempre acarretam a queda e a perturbação, a enfermidade e a morte de criaturas que a Divina Bondade nos põe no caminho.

De outra feita, quando positivamente enodoados com o ferrete da culpa, conseguimos aligeirar nossas penas ou delas nos exonerar, subornando consciências dolosas, no recinto dos tribunais.

Todavia, a reta justiça nos espera, infalível, e além da morte, ainda mesmo quando tenhamos legado ao mundo vastas parcelas de cultura e benemerência, eis que as marcas de ignomínia se nos destacam do ser, então expostas à Grande Luz.

Nessa crise inesperada, imploramos nós mesmos retorno e readmissão nos cursos de trabalho em que se nos desmandaram a deserção e a falência, a fim de ressarcirmos os débitos que os homens não conheceram, mas que vibram, obcecantes, no imo de nossas almas.

É assim que voltamos ao cadinho fervente da purgação, retomando nos fios da consanguinidade a presença daqueles que mais ferimos, para devolver-lhes em ternura e devotamento os patrimônios dilapidados, rearticulando os elos da harmonia que nos ligam a todos, na universalidade da vida, perante a Lei.

Reverenciemos, desse modo, no lar humano, não apenas o templo de carinho em que se nos reabastecem as forças, no exercício do bem eterno, mas igualmente a rude escola da regeneração, em que retomamos o convívio dos velhos adversários que nós mesmos criamos, a ressurgirem na forma de aversões instintivas e desafetos ocultos, que nos constrangem cada hora à lição da renúncia e à mensagem do sacrifício.

E por mais inquietante se nos afigure a experiência no educandário doméstico, guardemos, dentro dele, extrema devoção ao dever, perdoando e ajudando, compreendendo e amparando sem descansar, pois somente aquele que se engrandeceu, entre as quatro paredes da própria casa, é que pode, em verdade, servir à obra de Deus no campo vasto do mundo.

Francisco Cândido Xavier
Religião dos Espíritos
Estudos e dissertações em torno da obra
“O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec
Ditado pelo Espírito
Emmanuel

segunda-feira, 28 de maio de 2018



Abramos o coração ao sol da prece e roguemos ao Pai nos conceda visão.

***

Em torno de nós, no campo físico e além dele,
corre generoso e incansável o rio da Bondade Celeste.

Emmanuel

Basta haja em nós o amor pelo bem e a vocação de servir para que as bênçãos desse manancial nos felicitem a vida.

Emmanuel
***

O trânsito em qualquer parte,
Parece um teste constante,
Exigindo, a cada instante,
Humildade e amor ao bem;
Aparece um desafio,
A prolongar-se no insulto,
E o crime que estava oculto
Arrasa os dias de alguém.

Maria Dolores

***

Em tudo é preciso conjunto para mais fácil e eficiente se tornar a tarefa a ser empreendida.

***

Copiemos a natureza em nossos atos, sendo unidos em nossos empreendimentos.
Se assim fizermos, mais facilmente venceremos os obstáculos.

Meimei

***

Onde há trabalho, existe compreensão.
Onde existe compreensão, há tolerância
Onde existe tolerância, existe cooperação.
Onde existe cooperação, existe humildade.
Onde há humildade, existe amor.
Onde existe amor, abre-se o caminho para Deus.

Emmanuel
PERDÃO E VIDA

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ESPÍRITOS DIVERSOS

domingo, 27 de maio de 2018


SURPRESA EM SESSÃO

Aquela mania de Aguinaldo Limeira raiava pela imprudência incompreensível.
Estimava o serviço de doutrinação aos desencarnados, era de uma pontualidade notável às reuniões, contribuía de boa-vontade nos serviços de assistência, mas, no trato com o invisível, não era bastante cauteloso nas conversações.

Cultivava especialmente as sessões práticas, dedicadas às entidades sofredoras e ignorantes, mas preferia realizá-las com grande público, junto do qual se esmerava em demonstrar o verbo enérgico e veemente.

Não se sentia satisfeito por mostrar o caminho ao desviado, dar pão espiritual ao faminto de luz, remédio à alma enferma.

Aguinaldo multiplicava perguntas e exigências.

Consolava, sem dúvida, e, na qualidade de trabalhador sincero, espalhava muitos bens; entretanto, dava-se a longas conversas para estabelecer a procedência dos comunicantes.

Por vezes, as entidades em luta, por motivo de padecimentos incríveis, não podiam prestar esclarecimentos minuciosos, mas o doutrinador reclamava, rogava, insistia. Quanto mais conhecido o Espírito visitante, mais se desmanchava Limeira nas indagações ociosas.

Quando arrancava certas declarações tristes, parecia alegrar-se como o caçador viciado quando apanha a presa, e, a pretexto de identificar as almas sofredoras, tendia, sem perceber, para a falta de caridade.

De quando em quando, o respeitável orientador espiritual do grupo utilizava o médium Silvares e esclarecia, de maneira direta :

– Aguinaldo, meu amigo, tem cautela no campo da identificação dos invisíveis. Se o necessitado bate à porta, atendamos sem muitas interrogações. Que adianta minudenciar a situação de pobres irmãos nossos, ignorantes e sofredores? Em muitas ocasiões, qual acontece aos doentes graves da Terra, também os desencarnados em desequilíbrio não trazem a memória muito clara, perturbados nas inquietações que lhes povoam a mente. Dá- lhes o pão do Cristo e deixa-os passar. Obrigá-los a pormenores informativos, quanto à paisagem que lhes é própria, é intensificar-lhes a dolorosa humilhação. Seria crueldade pedir aos agonizantes certos esclarecimentos de que devem estar seguros aqueles que os assistem. Além do mais, os que ensinam e doutrinam estão sempre criando imagens mentais diferentes naqueles que ouvem e aprendem, e torna-se indispensável não esquecer que tens numeroso público visível e invisível. A indagação descabida, por vezes, se ajusta à pretensão científica na pesquisa intelectual, mas aqui, meu amigo, estamos num serviço de iluminação do espírito para a melhoria do sentimento. Não te transformes de missionário do bem no advogado de acusação. Pede ao Mestre Divino te esclareça o entendimento! Limeira ouvia, mas não ponderava.

Na sessão imediata, referia-se ao trabalho indagador dos estudiosos eminentes do Espiritismo científico, e, quando algum pobre necessitado se fazia sentir, iniciava o interrogatório crucial.

Mantinha-se inalterada a situação do agrupamento, quando certa noite, diante de enorme assistência, em meio dos trabalhos, surgiu uma entidade que tomou o médium Silvares, a desfazer-se em convulsivo pranto.

 – Diga, meu irmão – falou Aguinaldo, inquieto –, diga o que sofre e o que deseja...

– Que sofro, que desejo? – gemeu o infeliz, amarguradamente 

– não posso!... não posso!... Sou um miserável convertido num monstro!...

– Como assim, meu amigo? – tornou Limeira, espicaçado pela curiosidade.

 – Ai! – suspirou a entidade lacrimosa – como doem os resultados da hipocrisia! Na Terra, enganei as criaturas, mistifiquei os semelhantes, mas, agora, sinto-me diante da própria consciência... não posso iludir a mim mesmo!

 – Com que então foi você um hipócrita no mundo? – perguntou Limeira, com atitude superior – certamente, enganou os homens, mascarando propósitos e intenções, e, muito tarde, reconhece que praticou um crime...

- É verdade, é verdade... – clamou o infeliz, soluçando.

Tão comovedoras eram as lágrimas do comunicante infortunado, que toda a assistência chorava, sob forte emoção.

Limeira, contudo, desejando imprimir o máximo efeito ao quadro, mostrava atitude inquiridora e convincente.

 – Continue, meu irmão! – prosseguiu com autoridade.

E, ao invés de confortá-lo, em nome de Jesus, levantando-lhe a esperança caída, o doutrinador insistia:

– Esclareça convenientemente o seu caso, meu irmão! de onde veio? poderá identificar-se?

O desventurado esforçava-se, em vão, para responder. O pranto embargava-lhe a voz. Parecendo insensível, Limeira sentenciou:

 – Veja, meu amigo, a que estado angustioso foi conduzido pelo hábito de mentir. O crime da hipocrisia determinou suas lágrimas presentes. A morte, que descerra os véus da ilusão, revelou sua verdadeira consciência. Conhece, o irmão, agora, os sofrimentos que aguardam os mentirosos, os homem fingidos e todos aqueles que aparentam a verdade e fogem dela, às ocultas, acolhendo-se ao crime. Fale, meu amigo, em que zona da vida tentou enganar as leis divinas... Como se chama?

Que fez na Terra? Como iludiu o próximo? Possuía você alguma crença religiosa?

Nesse momento, a entidade conseguiu interromper os soluços e falou:

– Aguinaldo, não me tortures mais com tantas interrogações!...

Escutando a voz, tonalizada em novo característico, o doutrinador estremeceu, fez-se lívido e perguntou, espantado:

– Quem é você, meu irmão? O infeliz comunicante, num gesto supremo, respondeu em tom lastimoso:

– Eu sou teu pai!... Viu-se, então, que Limeira deixou pender a fronte e começou também a chorar.

FRANCISCO CANDIDO XAVIER
PONTOS E CONTOS Pelo Espírito Irmão X

sábado, 26 de maio de 2018


LOUVORES RECUSADOS

 Conta-se no plano espiritual que Vicente de Paulo oficiava num templo aristocrático da França, em cerimônia de grande gala, à frente de ricos senhores coloniais, capitães do mar, guerreiros condecorados, políticos ociosos e avarentos sórdidos, quando, a certa altura da solenidade, se verificou à frente do altar inesperado louvor público.

Velho corsário abeirou-se da sagrada mesa eucarística e bradou, contrito:

 – Senhor, agradeço-te os navios preciosos que colocaste em meu roteiro. Meus negócios estão prósperos, graças a ti, que me designaste boa presa. Não permitas, ó Senhor, que teu servo fiel se perca de miséria. Dar-te-ei valiosos dízimos. Erguerei uma nova igreja em tua honra e tomo os presentes por testemunhas de meu voto espontâneo.

Outro devoto adiantou-se e falou em voz alta:

– Senhor, minhalma freme de júbilo pela herança que enviaste à minha casa pela morte de meu avô que, em outro tempo, te serviu gloriosamente no campo de batalha. Agora podemos, enfim, descansar sob a tua proteção, olvidando o trabalho e a fadiga.

Seja louvado o teu nome para sempre.

Um cavalheiro maduro, exibindo o rosto caprichosamente enrugado, agradeceu:

– Mestre Divino, trago-te a minha gratidão ardente pela vitória na demanda provincial. Eu sabia que a tua bondade não me desprezaria. Graças ao teu poder, minhas terras foram dilatadas. Construirei por isso um santuário em tua memória bendita, para comemorar o triunfo que me conferiste por justiça.

Adornada senhora tomou posição e exclamou:

– Divino Salvador, meus campos da colônia distante, com o teu auxílio, estão agora produzindo satisfatoriamente. Agradeço os negros sadios e submissos que me mandaste e, em sinal de minha sincera contrição, cederei à tua igreja boa parte dos meus rendimentos.

Um homem antigo, de uniforme agaloado, acercou-se do altar e clamou estentórico :

– A ti, Mestre da Infinita Bondade, o meu regozijo pelas gratificações com que fui quinhoado. Os meus latifúndios procedem de tua bênção. É verdade que para preservá-los sustentei a luta e alguns miseráveis foram mortos, mas quem senão tu mesmo colocaria a força em minhas mãos para a defesa indispensável? Doravante, não precisarei cogitar do futuro... De minha poltrona calma, farei orações fervorosas, fugindo ao imundo intercâmbio com os pecadores. Para retribuir-te, ó Eterno Redentor, farei edificar, no burgo onde a minha fortuna domina, um templo digno de tua invocação, recordando-te os sacrifícios na cruz!

Os agradecimentos continuavam, quando Vicente de Paulo, assombrado, reparou que a imagem do Nazareno adquiria vida e movimento...

Extático, viu-se à frente do próprio Senhor, que desceu do altar florido, em pranto.

O abnegado sacerdote observou que Jesus se afastava a passo rápido; contudo, em se sentindo junto dele, em se, sentindo e perguntou-lhe, igualmente em lágrimas: – Senhor, por que te afastas de nós?

O Celeste Amigo ergueu para o clérigo a face melancólica e explicou:

– Vicente, sinto-me envergonhado de receber o louvor dos poderosos que desprezam os fracos dos homens válidos que não trabalham, dos felizes que abandonam os infortunados...

O interlocutor sensível nada mais ouviu. Cérebro turbilhão desmaiou, ali mesmo, diante da assembléia intrigada, sendo imediatamente substituído, e, febril, delirou alguns dias, prisioneiro de visões que ninguém entendeu.

Quando se levantou da incompreendida enfermidade vestiu-se com a túnica da pobreza, trabalhando incessantemente na caridade, até ao fim de seus dias.

Os adoradores do templo, entretanto, continuaram agradecendo os troféus de sangue, ouro e mentira, diante do mesmo altar e afirmaram que Vicente de Paulo havia enlouquecido.

CONTOS E APÓLOGOS

PELO ESPÍRITO IRMÃO X
FRANCISCO CANDIDO XAVIER

sexta-feira, 25 de maio de 2018


Caridade - Atitude

Caridade que se expresse tão somente na cessão do supérfluo pode facilmente induzir-nos à vaidade.

Não é difícil dar o que retemos, no entanto, a virtude genuína pede a doação de nós mesmos, através do que temos e do que somos.

Em razão disso, é preciso não esquecer que a caridade também e acima de qualquer circunstância, o sentimento que nos rege a atitude.

No templo doméstico, é compreensão e gentileza.

Em família, é cooperação desinteressada e fraterna.

Na profissão, é a honestidade.
No trabalho, é o dever bem cumprido.

Na dor, é fortaleza.

Na alegria, é temperança.

Na saúde, é a presença útil.

Na enfermidade, é a paciência.

Na abastança, é o serviço a todos.

Na pobreza, é diligência.

Na direção, é a responsabilidade.

Na obediência, é humildade digna.

Entre amigos, é a confiança.

Entre adversários, é perdão das ofensas.

Entre os fortes, é o socorro aos mais fracos.

Entre os bons, é o auxílio aos menos bons.

Na cultura, é o amparo à ignorância.

No poder, é a autoridade sem abuso.

Em sociedade, é o apoio fraterno que devemos uns aos outros.

Na vida privada, é a conduta reta ante o próprio julgamento.

Não vale espalhar um tesouro amoedado com as vítimas de penúria, alimentando o ódio e a incompreensão, a revolta e o pessimismo nas almas.

         Aceitemos a experiência que o Senhor nos reserva cada dia, fazendo o melhor ao nosso alcance.

Seja a nossa tarefa um cântico de paz e esperança, eficiência e alegria, onde estivermos.

E recebendo o divino dom de pensar e entender, irradiando os mais belos ideais que nos enriquecem a vida, em forma de serviço aos semelhantes, a caridade será, em nossos corações, a luz constante clareando, desde as sombras da terra os mais remotos horizontes de nosso luminoso porvir.

Mensagem de Emmanuel, do livro Duzentos, psicografia de Chico Xavier.


quarta-feira, 23 de maio de 2018


I
Provação é sombra necessária.
Meimei


II
Um dia, todas as trevas serão dissipadas, todas as prisões serão abertas, todos os andrajos serão varridos para fora do mundo e todos os gemidos cessarão.
Meimei


III
Somos servos privilegiados com valioso empréstimo de dons sublimes.
Abstenhamo-nos, desse modo, da perda de tempo e ataquemos a tarefa que nos compete atender.
Emmanuel


IV
Afeiçoemo-nos ao Cristo, sentindo-lhe as lições e vivendo-as, convictos de que não haverá melhor mundo sem homens melhores.
Emmanuel


V
Somente o homem verdadeiramente convertido a Jesus adquire suficiente poder para desligar-se dos domínios do "eu", buscando o Reino de Deus.
Emmanuel


VI
Aprendamos a viver para o bem dos outros, a fim de encontrarmos o nosso verdadeiro bem.
Emmanuel


VII
Aceitamos a luz do Evangelho na consciência e no coração, somos, de imediato, promovidos à condição de cooperadores do Divino Pomicultor, no campo imenso da vida.
Emmanuel


VII
Obstáculo é auxilio.
Emmanuel

IX
Todo ser criado simples e ignorante é compelido a lutar pela conquista da razão e, atingindo a razão, entre os homens é compelido igualmente a lutar a fim de burilar-se devidamente.
Emmanuel


X
O mundo, substancialmente considerado, é o Paraíso que jamais se distanciou de nós outros.
Seus característicos de paisagem revelam o éden repleto de árvores, flores e luzes.
Emmanuel


XI
Buscando a luz, não amaldiçoe a sombra.
André Luiz


XII
O bem pede doação total para que se realize no mundo o bem de todos.
Emmanuel


XIII
Serve onde estiveres e como puderes, nos moldes da consciência tranqüila.
Emmanuel


XIV
Ajuda aos que te sustentam a moradia.
Emmanuel


XV
Ampara os que te asseguram o bem-estar.
Emmanuel


XVI
Do escuro menosprezo da Terra, fez Jesus o caminho radiante para os Céus.
Emmanuel




XVII
Se é justo esperar pelo amor que verte sublime do Céu em teu benefício, é preciso derramar esse mesmo amor nas furnas da Terra a que consciências fragmentárias se acolhem, contando contigo para que se eduquem e aperfeiçoem.
Emmanuel


XVIII
Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da coragem e resiste ao sopro frio do desalento, prosseguindo no trabalho que a vida te confiou.
Emmanuel


XIX
Trabalha, aprende, ama, crê, espera e auxilia!...
Emmanuel


XX
O discípulo sincero não ignora que é preciso trabalhar por absorver-se na Luz Divina do Espírito e, ao passo que se esforça, está convencido de que o Senhor lhe virá ao encontro, abrindo-lhe o entendimento.
Emmanuel


XXI
Recebamos a experiência, por mais difícil, com a luz da confiança no Senhor que, oferecendo-nos a luta depuradora, possibilita-nos a própria regeneração.
Emmanuel


XXII
A vida não te reclama atitudes sensacionais, gestos impraticáveis, espetáculos de súbita grandeza...
Pede simplesmente sejas sempre melhor para aqueles que te cruzem os passos.
Emmanuel


XXIII
Se te menosprezam ou te injuriam, guarda-te em silêncio no auxilio ao próximo e surpreenderás deus no íntimo de teus mais íntimos pensamentos, prestigiando-te as intenções.
Meimei




XXIV
Sejam quais forem as aflições e problemas que te agitem a estrada, confia em Deus amando e construindo, perdoando e amparando sempre, porque Deus, acima de todas as calamidades e de todas as lágrimas, far-te-á sobreviver, abençoando-te a vida e sustentando-te o coração.
Meimei


XXV
Entrega a aflição de cada dia ao silêncio de cada noite.
Meimei


XXVI
Senhor!
Deste-nos o trabalho por sustento da vida.
Concede-nos, por misericórdia, mais trabalho com que nos dirijamos dentro da segurança precisa para a Vida Maior.
Batuíra


XXVII
Não importa que a ventania da discórdia esteja rugindo em torno de nós. O importante será erguer o coração e as mãos, a palavra e a atitude para construir.


XXVIII
Estorvos à realização de teus ideais te afligirão a senda, contudo, se quiseres servir, atrairás braços inúmeros que estarão contigo, sintonizados no esforço das boas obras.
Emmanuel


XXIX
Ouvirás a consciência sem fugir-lhe às anotações e perceberás, para logo, que é forçoso sanar o erro, entretanto, observarás claramente que ninguém suprime um erro em definitivo sem o clima da compaixão sem a luz do entendimento.
Emmanuel


XXX
A única saída para superar qualquer provação será enfrentá-la com humildade e coragem procurando-se esquecer o mal e seguir o bem, trabalhar e servir com ânimo e decisão, reconhecendo-se que a Divina Providência, amanhã, far-nos-á novo dia.
Emmanuel


XXXI
Diante de quaisquer contratempos, pensa no Bem.
Emmanuel


XXXII
O trabalho estafante...
Será ele a providencia que te habilita à vitória contra o assédio de perturbações que te espreitam a estrada.
Emmanuel


XXXIII
Dificuldade mede eficiência.
Emmanuel


XXXIV
Ofensa avalia a compreensão.
Emmanuel


XXXV
Muitas vezes, a criatura na Terra implora o Socorro Divino, derrubando os apoios humanos que a Divina Providência lhe ergueu no caminho para que lhe sirvam de escora em momento justo.
Emmanuel


XXXVI
Todos no mundo, enquanto envergamos a veste física, possuímos conosco os elementos da regeneração e da cura de que necessitamos para o triunfo na escola da vida.
Emmanuel


XXXVII
"Ajuda-te e Deus te ajudará", ensina a antiga sabedoria, mas, na maioria de nossas petições e requerimentos, é imperioso ajudar aos outros em nome de Deus para que, em nome de Deus, também os outros nos possam auxiliar.
Emmanuel






XXXVIII
Alguém projetou o fel da calúnia sobre o teu nome?
Esquece e caminha.
Muitas vezes, o coração do amigo é ainda frágil e cede ao primeiro impulso da arrasadora ventania do mal.
Emmanuel


XXXIX
A cruz das provações é caminho para o alto.
Mariano José Pereira da Fonseca


XL
Nunca te creias inútil.
Meimei


Bibliografia

Cap. I e II – Palavras do Coração – Meimei – Ed. Céu. São Paulo – 1982
Cap. III – Esperança e Luz – Autores diversos – Ed. CEU. São Paulo – 1993
Cap. IV, V, VI, VII – Perante Jesus – Emmanuel – Ed. IDEAL – São Paulo – 1990
Cap. VIII – Construção do Amor – Emmanuel – Ed. CEU – São Paulo – 1988
Cap. IX, X – Aulas da Vida – Autores diversos – Ed. IDEAL – São Paulo – 1981
Cap. X, XX – Harmonização – Emmanuel – Ed. GEEM – são Paulo – 1990
Cap. XII, XIII, XIV, XV – Livro da Esperança – Emmanuel – Ed. CEC – Uberaba, MG, 1964
Cap. XVI, XVII, XVIII, XIX – Alvorada do Reino – Emmanuel – Ed. IDEAL – São Paulo – 1988
Cap. XXI, XXII – Canais da Vida – Emmanuel – Ed. CEU. São Paulo – 1986
Cap. XXIII, XXIV, XXV, XXVI – Irmãos Unidos – Autores Diversos Ed. GEEN. São Paulo – 1988
Cap. XXVII, XXVIII, XXIX, XXX – Hoje – Emmanuel Ed. CEU. São Paulo – 1984
Cap. XXXI, XXXII – Coragem – Espíritos diversos – Ed. CEC. Uberaba, MG, 1972
Cap. XXXIII, XXXIV, XXXV, XXXVI, XXXVII – Inspiração – Emmanuel – Ed. GEEN, São Paulo – 1978
Cap. XXXVIII – Instrumentos do Tempo – Emmanuel – Ed. GEEN – São Paulo – 1974
Cap. XXXIX – Falando a Terra – Espíritos diversos – Ed. FEB Rio de Janeiro, 1983
Cap. XI – Deus Aguarda – meimei – Ed. GEEM – São Paulo – 1980

ANTOLOGIA DA ESPERANÇA


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
ESPÍRITOS DIVERSOS