quinta-feira, 31 de março de 2011

Vidas Sucessivas


Vidas Sucessivas

"Não te maravilhes de te haver dito: Necessário vos é nascer de novo."
Jesus. (JOÃO, 3:7.)

A palavra de Jesus a Nicodemos foi suficientemente clara.

Desviá-la para interpretações descabidas pode ser compreensível no sacerdócio organizado, atento às injunções da luta humana, mas nunca nos espíritos amantes da verdade legítima.



A reencarnação é lei universal.

Sem ela, a existência terrena representaria turbilhão de desordem e injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os fenômenos dolorosos do caminho.

O homem ainda não percebeu toda a extensão da misericórdia divina, nos processos de resgate e reajustamento.

Entre os homens, o criminoso é enviado a penas cruéis, seja pela condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados.

A Providência, todavia, corrige, amando... Não encaminha os réus a prisões infectas e úmidas. Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem a vestimenta carnal e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem, uns à frente dos outros.
 
Para a Sabedoria Magnânima nem sempre o que errou é um celerado, como nem sempre a vítima é pura e sincera. Deus não vê apenas a maldade que surge à superfície do escândalo; conhece o mecanismo sombrio de todas as circunstâncias que provocaram um crime.

O algoz integral como a vítima integral são desconhecidos do homem; o Pai, contudo, identifica as necessidades de seus filhos e reúne-os, periodicamente, pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes, a fim de que aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do destino, com a bênção de temporário esquecimento.



Francisco Cândido Xavier. Da obra: Caminho, Verdade e Vida.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.



 

quarta-feira, 30 de março de 2011

SEJA VOLUNTÁRIO


SEJA VOLUNTÁRIO



Seja voluntário na evangelização infantil.

Não aguarde convite para contribuir em favor da Boa Nova no coração das crianças. Auxilie a plantação do futuro.

Seja voluntário no Culto do Evangelho.

Não espere a participação de todos os companheiros do lar para iniciá-lo. Se preciso, faça-o sozinho.

Seja voluntário no templo espírita. Não aguarde ser eleito diretor para cooperar. Colabore sem impor condições, em algum setor, hoje mesmo. Seja voluntário no estudo edificante. Não espere que os outros lhe chamem a atenção. Estude por conta própria. Seja voluntário na mediunidade.

Não aguarde o desenvolvimento mediúnico, sistematicamente sentado à mesa de sessões. Procure a convivência dos espíritos superiores, amparando os infelizes. Seja voluntário na assistência social. Não espere que lhe venham puxar o paletó, rogando auxílio. Busque os irmãos necessitados e ajude como puder. Seja voluntário na propaganda libertadora. Não aguarde riqueza para divulgar os princípios da fé. Dissemine, desde já, livros e publicações doutrinárias. Seja voluntário na imprensa espírita.

Não espere de braços cruzados a cobrança da assinatura. Envie o seu concurso, ainda que modesto, dentro das suas possibilidades.

Sim, meu amigo. Não se sinta realizado. Cultive espontaneamente as tarefas do bem. A sementeira é grande e os trabalhadores são poucos.

Vivemos os tempos da renovação fundamental.

Atravessamos, portanto, em serviço, o limiar da Era do Espírito.

Ressoam os clarins da convocação geral para as fileiras do Espiritismo.

Há mobilização de todos. Cada qual poder servir a seu modo.

Aliste-se enquanto você se encontra válido. Assuma iniciativa própria. Apresente-se em alguma frente de atividade renovadora e sirva sem descansar. Quase sempre, espírita sem serviço é alma a caminho de tenebrosos labirintos do Umbral.

Seja voluntário na Seara de Jesus, nosso Mestre e Senhor!

CAIRBAR SCHUTEL

Fonte: O Trabalho Voluntário na Casa Espírita - Alkindar de Oliveira:

http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/o-trabalho-voluntario.pdf

terça-feira, 29 de março de 2011

ENCONTRO EM HOLLYWOOD

Marilyn Monroe

1 - ENCONTRO EM HOLLYWOOD

Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire Boulevard, em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do Memoriam Park Cemetery, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon Avenue.

A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos libertos da experiência física, e estranhos.

Tudo, no interior, tranqüilidade e alegria.

Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à oração. Entre as árvores que a primavera pintura de verde novo, numerosas entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas nas outras, à feição de convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e extenso.

Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais guardavam o acesso para o interior de pequena construção que hospeda as cinzas de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo. A um canto, li a inscrição: =Marilyn Monroe – 1926-1962=. Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam:

- Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no Mundo Espiritual?

- Sim – respondeu ele, e acentuou com expressão significativa: - não se detenha, porém, a tatear-lhe a legenda mortuária... Ela está viva e você pode encontrá-la. Aqui e agora...

- Como?

O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino refúgio no largo recinto, e falou:

- Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência...

A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente enferma, repousava a cabeleira loura no colo de simpática senhora que a tutelava. Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes. Informados de que nos seria lícito abordá-la, para alguns momentos de conversa, aproximando-nos, respeitosos.

Clinton fêz a apresentação e aduzi:

- Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.

- Um brasileiro a procurar-me, depois da morte?

- Sim, e porque não? – acrescentei – a sua experiência pessoal interessa a milhões de pessoas no mundo inteiro...

E o diálogo prosseguiu:

- Uma experiência fracassada...

- Uma lição talvez.

- Em que lhe poderia ser útil?

- A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiraram os filmes e que lhe recordam no mundo a presença marcante...

- Quem gostaria de acolher um grito de dor?

- A dor instrui...

- Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para cogitar de filosofia.

- Mas fale mesmo assim...

- Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito de beleza e fortuna, emancipação e sucesso... Isso dá popularidade e a popularidade é um trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculos de grandeza moral, incessantemente, no circo do cotidiano.

- Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira exclusiva?

- Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para obter a liberdade... Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a controlá-la. A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...

Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra inteira, dali mesmo, em Hollywood, e ajuntei:

- Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer mencionar a liberdade do sexo?

- Especialmente.

- Porquê?

- Concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de modo geral, se julga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na maioria das vezes, compromete as bases da vida. Agora que regressei à Espiritualidade, compreendo que a reencarnação é uma escola com muita dificuldade de funcionar para o bem, toda vez que a mulher foge à obrigação de amar, nos filhos, a edificação moral a que é chamada.

- Deseja dizer que o sexo...

- Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e renovação, capaz de ser guiado para a luz ou para as trevas, conforme o rumo que se lhe dê.

- Ser-lhe-ia possível clarear um pouco mais este assunto?

- Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas e na esfera das obras espirituais, e, se não for respeitado por uma sensata administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram nos níveis mais baixos da evolução.

- Miss Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvindo os conceitos -, devo asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe alterou a lucidez.

- A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada – acentuou ela sorrindo. – Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os mortos lhes possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmo, os vivos, se encontrarão, mais tarde, diante desse mesmo problema... A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo. Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão. Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sentimento, por não saber governar a minha liberdade... Depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose de pílulas
mensageiras do sono...

- Conseguiu dormir na grande transição?

- De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto, inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara, sentindo-me duas pessoas a um só tempo...

Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identifica-me, porque lograva mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara...

Infelizmente para mim, o aposento abrigava alguns malfeitores desencarnados que, mais tarde, vim a saber, me dilapidavam as energias. Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com o meu corpo inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço permissão para não relembrar...

- Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz anestesia e repouso?

- Efetivamente, não tive a intenção de fugir da existência, mas, no fundo, estava incursa ao suicídio indireto. Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregara-me a excessos que me arrasaram as oportunidades de elevação... Ultimamente, fui informada por amigos daqui de que não me foi possível descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência perniciosa de Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de discernimento quanto às leis que regem o equilíbrio da alma.

- Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da obsessão...

- Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criaturas humana, é um flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a ciência no mundo se decida a estudar-lhe os problemas e resolvê-los...

A entrevistada mostrava sinais de fadiga e, pelos olhos da enfermeira que lhe guardava a cabeça no regaço amigo, percebi que não me cabia avançar.

- Miss Monroe – concluí -, foi um prazer para mim este encontro em Hollywood. Podemos, acaso, saber quais são, na atualidade, os seus planos para o futuro?

Ela emitiu novo sorriso, em que se misturavam a tristeza e a esperança, manteve silêncio por alguns instantes e afirmou:

- Na condição de doente, primeiro, quero melhorar-me... Em seguida, como aluna no educandário da vida, preciso repetir as lições e provas em que fali... Por agora, não devo e nem posso ter outro objetivo que não seja reencarnar, lutar, sofrer e reaprender...

Pronunciei algumas frases curtas de agradecimento e despedida e ela agitou a pequenina mão num gesto de adeus. Logo após, alinharei estas notas, à guisa de reportagem, a fim de pensar nas bênçãos do Espiritismo Evangélico e na necessidade da sua divulgação.

Do livro Estante da Vida,
 de  IRMÃO X, psicografia de Chico Xavier.
Lançado em homenagem ao primeiro centenário de desencarnação de Allan Kardec.
Uberaba, 31 de março de 1969.



































































































segunda-feira, 28 de março de 2011

Fidelidade a Jesus


Fidelidade a Jesus

Meus filhos:

As raízes do pensamento cristão encontram-se fortemente fixadas nos exemplos do Mestre, que lhe confirmaram todos os ensinamentos.

Desenvolvendo-se no solo ubérrimo do sacrifício, estiveram irrigadas com as chuvas da abnegação e da fidelidade aos postulados enunciados, desenvolvendo a árvore evangélica mediante o adubo do holocausto de todos aqueles que se deixaram arrebatar pela revolução moral transformadora, que se iniciara nas paragens bucólicas da Galiléia, nos memoráveis dias do Seu ministério.

Todos quantos se permitiram impregnar pelas incomparáveis lições, superaram os limites da carne transitória, oferecendo-se ao testemunho com a própria vida física, que não temiam perder, por estarem seguros da realidade do mundo espiritual.

Convictos da Ressurreição deixaram-se sacrificar, porquanto sabiam que a imortalidade os aguardava, coroando-os de paz.

Seguindo-Lhe o exemplo de amor e abnegação, Estevão deixou-se destroçar pelas pedras que Saulo desencadeara contra ele, iniciando a Era do martirológio, seguido por Tiago, que foi decapitado, e pelos demais companheiros, que provaram da morte, a fim de encontrarem a Vida, incluindo Pedro, crucificado, e Paulo, tendo a cabeça decepada por certeiros golpes de uma espada.

E depois deles, mais de um milhão de criaturas se entregaram sem resistência às feras nos circos, às fogueiras, aos linchamentos, aos exílios hediondos, aos trucidamentos e crucificações, sem uma queixa ou arrependimento mínimo que fosse.

Seus exemplos de fé e de coragem levantaram multidões que os seguiram, apaixonadas e confiantes, enquanto o poder imperial e a selvageria humana os perseguiam de maneira inclemente.

A pouco e pouco, porém, o poder do amor fez tremer a força do poder cruel e as conversões alteraram o rumo da História da Humanidade.

Após a vitória sobre Maxêncio, nas Rochas Vermelhas, junto à ponte Mílvia, no dia 28 de outubro de 312, Constantino, conforme diz a tradição, que tivera a visão de uma cruz luminosa, na qual estava escrito In hoc signo vinces! (Com este sinal vencerás!) deixou-se arrebatar, colocando nos seus estandartes aquele sinal que o estimulou e aos seus soldados à conquista do adversário reconhecidamente mais forte, e que morreu afogado, promulgando o Edito de Milão, no dia 13 de junho de 313, facultando que a doutrina cristã fosse exercida livremente em todo o Império.

Se, a vitória, de alguma forma, significou abertura para maior desdobramento do ideal cristão, representou, também, um momento grave para as decisões dos futuros crentes, que passaram a incentivar a ostentação herdada do paganismo, o culto exterior e a ritualística remanescente das velhas crenças que ora se faziam substituir.

Logo depois, Euzébio lamentaria essa ocorrência, recordando que, à medida que o martírio diminuía, a qualidade da fé deteriorava, em razão da debilidade de conduta dos novos crentes.

Prosseguindo na identificação com o Estado, em 380 o Imperador Teodósio, que se encontrava enfermo em Tessalônica, fez-se batizar, defendendo os católicos contra os arianos e contra os pagãos, tornando público o Edito (de Tessalônica), através do qual o Cristianismo se transformava em religião do Estado, após instalar S. Gregório Nazianzeno na Sé episcopal de Constantinopla.

Mais tarde, durante a governança do império romano do Oriente, Justiniano, o Grande, com a anuência dúbia do Papa Virgílio, convocou o II Concílio de Constantinopla, no qual, mediante ardilosa conspiração, conseguiu tornar heréticas as doutrinas de Orígenes, que professava a reencarnação, retirando-a da teologia que esposava, no ano de 553, mediante eleição ignóbil que venceu por 3 a 2 votos.

A imensa noite medieval encarregou-se de sombrear a Mensagem, clara e pura, com as paixões mundanas e os vícios que se espalharam por toda parte, dificultando que Santos e Místicos pudessem deter a imensa onda de desalinho moral e social.

Surgiram então, em nome dAquele que é todo amor e perdão, as hediondas Cruzadas, a Santa Inquisição, os dogmas ultramontanos, a hediondez e o horror nas fileiras da religião.

A misericórdia de Deus, no entanto, atendendo aos apelos de Jesus, fez que renascessem na Terra Francisco de Assis, Teresa dÁvila, João da Cruz, Pedro de Alcântara, Joana dArc, entre outros, sensibilizando os indivíduos, enquanto diversos mais, como John Wyclif, Jan Huss, Jerônimo de Praga, Martinho Lutero, João Calvino, Huldrych Zwingli. Libertaram o pensamento, a fé religiosa, a cultura, preparadores que se fizeram da restauração, que caberia a Allan Kardec realizar, em 1857, quando da publicação de “O Livro dos Espíritos”, inaugurando a época da fé raciocinada, que arrancou o Evangelho das peias da ignorância e da superstição ante a claridade diamantina do pensamento científico e filosófico que lhe veio em apoio incondicional.

O Espiritismo é Jesus novamente de retorno ao coração humano com os braços distendidos, oferecendo oportunidade de refazimento e de iluminação com os olhos postos na felicidade futura que cada qual busca.

Não obstante tantos séculos de sacrifícios e lutas, de decadência e renovação, chegando o Consolador, novos embates incendeiam as mentes e os sentimentos se esfacelam em lutas inesperadas, que repetem os torvos embates do passado, tentando diminuir a grandeza do Evangelho, tido por muitos estudiosos como de secundária ou nenhuma importância para a sociedade hodierna, embora a relevante significação que lhe foi concedida pelo eminente Codificador do Espiritismo, que o publicou mediante a visão espírita em 1864, tornando-o um dos pilotis da Doutrina.

Fixados nos desmandos do pretérito, os homens permanecem repetindo as experiências infelizes, mesmo no campo da fé religiosa, de que se desejam libertar, sem que se alcem aos patamares elevados do amor e da caridade para consigo mesmos e para com o seu próximo. Quase vinte séculos depois do Mártir da Cruz, e a Sua palavra continua sofrendo diatribes de muitos que dizem servi-lO como de outros tantos que O detestam e se entregam a duelos inglórios, que mais os martirizam do que os libertam.

Não poucos daqueles que se consideram Seus discípulos pensam apenas em honrarias e destaques, em identificação com os postos de comando no mundo, nos campeonatos do verbalismo insensato, agredindo-se e atacando aos demais, sem que hajam despertado para o significado profundo destes momentos de dores e incertezas que pairam sobre o planeta que lhes serve de domicílio temporário.

A Sua voz continua conclamando-nos a todos ao amor ao próximo como a nós mesmos, que se converterá em ação de caridade iluminativa e libertadora direcionada àqueles que sofrem e se debatem na ignorância da sua realidade, exigindo sacrifícios e renúncias, qual ocorreu naqueles pretéritos dias de martírio e solidariedade.

E porque a Seara continua grande, todos os esforços devem ser envidados, a fim de que a Sua luz alcance os Espíritos em aturdimento, e o Seu conforto, rico de esperança, penetre os corações que ainda se encontram à margem como excluídos no mundo, e que estão esperando.

Não há outra alternativa nestes dias, senão servir e servir com devotamento.

Este é o instante anelado por todos que O amamos.

Ele espera que nos desobriguemos do compromisso de caridade que assumimos perante a própria e a Consciência Cósmica.

Impossível o repouso nesta hora grave em quaisquer sítios de plenitude, que por acaso nos esperem.

A nossa honra é o desafio de prosseguir sem descanso, enquanto a dor humilhe e descoroçoe as criaturas que se encontram em nosso caminho, tornando-nos, ao menos, pirilampos na noite escura, ensaiando claridade para que possam seguir com segurança.

Estamos convidados para a contínua tarefa de amar e passar despercebidos, construindo a sociedade melhor e mais fraterna que Ele iniciou e a nossa imprevidência vem impedindo de estabelecer-se na Terra.

Fixar o pensamento em Jesus e trilhar pelas diretrizes espíritas conforme Allan Kardec no-las ofereceu é o dever desta hora, que nenhum de nós, espíritas, encarnados ou desencarnados, pode desconsiderar.

Trabalhar, portanto, vencendo o tempo no calendário terrestre, é a distinção que nos cabe, até que as paisagens humanas estejam modificadas e o querido Planeta se converta em mundo de regeneração, conforme anunciado pelos Prepostos de Jesus, que O vieram trazer de volta através do Espiritismo.

Augurando-vos êxito na luta sem quartel da fraternidade e do amor ao próximo, abraça-vos o servidor humílimo e paternal de sempre,

BEZERRA

__________

(Página psicofônica recebida pelo médium Divaldo P. Franco, na reunião mediúnica da noite de 12 de janeiro de 2000, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
Revista “Reformador” nº 2055- junho/2000- págs 24-26- FEB

domingo, 27 de março de 2011

Não vá a Casa Espírita...


 Não vá a Casa Espírita...

 Certo dia aproximei-me daquela casa espírita, cheio de receio por tudo o que me diziam a respeito dos espíritas. Mas a curiosidade era tanta que quando dei por conta já estava entrando e não foi possível mudar de idéia.

 Minha mente advertia: "Tenha cuidado! Tenha cuidado!". Afinal de contas, estava ignorando o conselho de um colega que dizia: "Não vá à casa espírita! Você vai ficar horrorizado com o que fazem lá".

 Mas agora já era tarde. Uma senhora, com estranha bondade, convidou-me a entrar. Atento a tudo e a todos sentei-me na última fileira. Pensei comigo: "aqui está bom, estou mais perto da porta".

 Logo comecei a prestar a atenção na palestra, pois a platéia estava atenta ao que dizia um senhor de meia idade. Ele falava sobre coisas que eu não podia entender, ou talvez não queria, pois tinha receio.

 Aos poucos fui me sentindo à vontade. "Que estranho!" - pensei. Há muito tempo que não me sentia tão bem. Parecia que aquele pesado fardo que eu estava carregando tinha ficado mais leve.

 As palavras, aos poucos, foram me envolvendo e então percebi que aquele senhor falava de perdão, de caridade, de fazer bem ao próximo, da reforma íntima para ser feliz. Falou até de Jesus!

 Após a palestra, fui convidado a ir a uma outra sala. Vi uma senhora se aproximar de mim, impondo suas mãos sobre minha cabeça, parecendo estar em oração.

 Atento a tudo e a todos, por via das dúvidas também resolvi fazer uma prece, já que não fazia uma desde há muito tempo.

 Quando ia para casa, pensando no que tinha me acontecido e como estava me sentindo melhor, tive vontade de retornar outro dia.

 Era uma tarde de sábado. Novamente eu me aproximava daquela casa. Para meu espanto, crianças e jovenzinhos também estavam chegando. "O que será que fazem aqui estas criaturinhas? Será que elas não têm medo?" -intimamente me indagava.

 Assim que entrei perguntei àquela senhora, minha conhecida do outro dia, o que faziam lá aquelas crianças. Bondosamente me explicou que estavam ali para as aulas de Evangelização Infantil e para o encontro dos grupos de jovens. Eles também estudavam a Doutrina Espírita e os ensinamentos de Jesus.
 E assim, aos poucos fui conhecendo e me envolvendo com as atividades daquela casa. Hoje, quando me perguntam sobre essa escola de almas que freqüento, eu brinco: "Não vá à casa espírita! Pois você vai ficar impressionado com tantas coisas boas que acontecem lá".

 Essa é a história de um personagem fictício que já foi vivido por muitos que, mesmo diante dos preconceitos, da ignorância e da desinformação que ainda há em relação à Doutrina Espírita, se dispuseram a conhecê-la.

 E a despeito de tudo, surpreendem-se com uma realidade muito diferente daquela apregoada pelos que, mesmo desconhecendo, emitem pareceres sobre algo que não se dispõem a compreender.



 Artigo de Cleto Brutes



























 








sábado, 26 de março de 2011

Tranqüilizante


Tranqüilizante

Não são os problemas da vida em si que nos agravam a tensão nervosa... São as questões-satélites que nascem de nossas dificuldades para aceitá-los.

Quantas vezes, pervagamos na Terra, sofrendo emoções desequilibradas, diante de companheiros queridos que não desejam, por agora, o nosso modo de ser? E em quantas outras nos atormentamos inutilmente, perante obstáculos complexos que claramente não nos será possível liquidar em apenas um dia?

Entretanto, observemos:
- enfermidades aparecerão sempre no mundo, pedindo tratamento e não inconformidade para as melhoras precisas;
- entes amados em luta são telas de rotina, solicitando entendimento e não atitudes condenatórias para alcançarem o reequilíbrio;
- erros nossos e faltas alheias fazem parte do nosso aprendizado na escola da experiência, exigindo calma e não censura para serem retificados;
- tentações são inevitáveis, em todos os sentidos, nos climas de atividade indispensáveis à nossa formação de resistência, reclamando serenidade e não agitação para serem extintas.

Em todas as situações aflitivas, use a prece como sendo o nosso melhor tranquilizante no campo do espírito.
E quando problemas apareçam, não se deixe arrastar nas labaredas da angústia.
Você pode ficar em paz.
Para isso, basta que você trabalhe e deixe Deus decidir.

(Do livro "Busca e Acharás", pelo Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier, edição IDEAL)








sexta-feira, 25 de março de 2011

RECOMECEMOS

Mariana e Cidália

RECOMECEMOS



“Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho." - Jesus.
(MATEUS, 9:16.)


Não conserves lembranças amargas.
Viste o sonho desfeito.
Escutaste a resposta de fel.


Suportaste a deserção dos que mais amas.
Fracassaste no empreendimento.
Colheste abandono.


Padeceste desilusão.
Entretanto, recomeçar é bênção na Lei de Deus.


A possibilidade da espiga ressurge na sementeira.
A água, feita vapor, regressa da nuvem para a riqueza da fonte.


Torna o calor da primavera, na primavera seguinte.
Inflama-se o horizonte, cada manhã, com o fulgor do sol, reformando o valor do dia.


Janeiro a janeiro, renova-se o ano, oferecendo novo ciclo ao trabalho.
É como se tudo estivesse a dizer:
"Se quiseres, podes recomeçar".


Disse, porém, o Divino Amigo que ninguém aproveita remendo novo em pano velho.
Desse modo, desfaze-te do imprestável.
Desvencilha-te do inútil.


Esquece os enganos que te assaltaram.
Deita fora as aflições improfícuas.


Recomecemos, pois, qualquer esforço com firmeza, lembrando-nos, todavia, de que tudo volta, menos a oportunidade esquecida, que será sempre uma perda real.


EmmanuelDo livro “Palavras de Vida Eterna”, de Chico Xavier








quinta-feira, 24 de março de 2011

VIDA NOTURNA


VIDA NOTURNA



1 - Sou vidrado em espetáculos noturnos “da pesada” — penumbra nevoenta, luzes faiscantes, som “manero”, turma animada... Um êxtase!
É compreensível. Há quem goste de banho de lama, férias no Polo Norte, tanajura frita. Há até Espíritos que apreciam morar no Umbral! Gosto não se discute.

2 - Umbral?
Vejo que você não leu a obra de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, onde descreve uma região densa e escura que circunda a Terra, habitada por Espíritos em desajuste, ainda presos aos interesses da Terra. Seria o purgatório da Igreja Católica. Para nós, espíritas, o Umbral.

3 - E o que tem isso a ver com minha curtição?
É que essas casas noturnas parecem sucursais do Umbral. Ambiente sombrio, inconseqüência, gente avoada e até drogada...

4 - Espíritos também?
Aos montes, perturbados e perturbadores gravitando em torno dos encarnados.

5 - Qual o problema se estamos todos numa boa?
Muitos pacientes no manicômio também se sentem assim. Criminosos, assaltantes, estelionatários, adúlteros, estão todos “numa boa”. Só que essa “boa” de hoje será a “péssima” de amanhã, em lamentável envolvimento com o desajuste.

6 - Que mal pode haver num lugar onde a gente vai curtir um som, em ambiente de descontração e alegria, num agito muito feliz?
Começa pelo som, tão ensurdecedor que fatalmente músicos e freqüentadores habituais terão problemas auditivos. Depois o envolvimento com o álcool, as drogas, que correm soltos, o sexo promíscuo e mais a sintonia com Espíritos umbralinos. Resultado a médio e longo prazo: perturbação, enfermidade, obsessão, infelicidade. Decididamente, não é uma boa.

- Nada disso me afeta. Sinto-me muito bem.

Problemas dessa natureza não surgem da noite para o dia. Há um efeito cumulativo, como um copo d’água que só transborda quando cheio.

8 - Há no Espiritismo alguma proibição a respeito?
O apóstolo Paulo dizia “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convêm”.
É exatamente esse o ponto de vista doutrinário. Faça o que deseja, mas considere que nem sempre o objeto de seus desejos é algo conveniente.

Cuidado com o Umbral!

Do Livro: Não Pise na Bola, de Richard Simonetti.



quarta-feira, 23 de março de 2011

A LEI DO CAMINHÃO DE LIXO ...



A LEI DO CAMINHÃO DE LIXO ...



Um dia peguei um taxi para o aeroporto.

Estávamos rodando na faixa certa quando, de repente, um carro preto saiu de repente do estacionamento direto na nossa frente.

O taxista pisou no freio bruscamente, deslizou e escapou de bater em outro carro, foi mesmo por um triz!

O motorista desse outro carro sacudiu a cabeça e começou a gritar para nós nervosamente. Mas o taxista apenas sorriu e acenou para o cara, fazendo um sinal de positivo. E ele o fez de maneira bastante amigável.

Surpreso lhe perguntei: 'Porque você fez isto? Este cara quase arruína o seu carro, a nós e quase nos manda para o hospital ?!?!'

Foi quando o motorista do taxi me ensinou o que eu agora chamo de "A Lei do Caminhão de Lixo."

Ele explicou que muitas pessoas são como caminhões de lixo.

Andam por aí carregadas de lixo, cheias de frustrações, de raiva, traumas e desapontamento.

À medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar, e às vezes descarregam sobre a gente.

Nunca tome isso como pessoal.

Isto não é problema seu! É dele!

Apenas sorria, acene, deseje-lhes sempre o bem, e vá em frente. Não pegue o lixo de tais pessoas e nem o espalhe sobre outras pessoas no trabalho, EM CASA, ou nas ruas.

Fique tranquilo... respire E DEIXE O LIXEIRO PASSAR.

O princípio disso é que pessoas felizes não deixam os caminhões de lixo estragarem o seu dia. A vida é muito curta, não leve lixo com você!

Limpe os sentimentos ruins, aborrecimentos do trabalho, picuinhas pessoais, ódio e frustrações.

Ame as pessoas que te tratam bem. E trate bem as que não o fazem. A vida é dez por cento do que você faz dela e noventa por cento da maneira como você a recebe!

Tenha um bom dia, e lembre-se! Livre-se dos lixos!
 
FONTE: Texto copiado da Internet.

terça-feira, 22 de março de 2011

COMO ADORAR A DEUS?


COMO ADORAR A DEUS?

Em todas as épocas, todos os povos praticaram, a seu modo, atos de adoração a um Ente Supremo, o que demonstra ser a idéia de Deus inata e universal. Com efeito, jamais houve quem não reconhecesse intimamente sua fraqueza, e a conseqüente necessidade de recorrer a Alguém, todo poderoso, buscando-Lhe o arrimo, o conforto e a proteção, nos transes mais difíceis desta tão atribulada existência terrena.

Tempos houve em que cada família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados.

Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando até a se postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam, ajudando-as em guerras defensivas ou de conquista.

Em sua imensa ignorância, os homens sempre imaginaram que, tal qual os chefes tribais ou os reis e imperadores que os dominavam aqui na Terra, também os deuses fossem sensíveis às manifestações do culto exterior, e daí a pomposidade das cerimônias e dos ritos com que os sagravam. Imaginavam-nos, por outro lado, ciosos de sua autenticidade ou de sua hegemonia e, vez por outra, adeptos de uma divindade entravam em conflito com os de outra, submetendo-a a provas, sendo então considerado vencedora aquela que conseguisse operar feito mais surpreendente.

Sirva-nos de exemplo o episódio constante do III Livro dos Reis, cap. 18, v. 22 a 40. Ali se descreve o desafio proposto por Elias aos adoradores de Baal, para saber-se qual o deus verdadeiro. Colocadas as carnes de um boi sobre o altar dos holocaustos, disse Elias a seus antagonistas: "Invocai, vós, primeiro, os nomes dos vossos deuses, e eu invocarei, depois, o nome do meu Senhor; e o deus que ouvir, mandando fogo, esse seja o Deus."

Diz o relato bíblico que por mais que baalitas invocassem o seu Deus, em altos brados e retalhando-se com canivetes e lancetas, segundo o seu costume, nada conseguiram.

Chegada à vez do deus de Israel, este fez cair do céu um fogo terrível, que devorou não apenas a vítima e a lenha, mas até as próprias pedras do altar.

Diante disso, auxiliado pelo povo, Elias agarrou os seguidores de Baal e, arrastando-os para beira de um rio, ali os decapitou. O monoteísmo, depois de muito tempo, impôs-se, afinal, ao politeísmo, e seria de crer-se que, como esse progresso, compreendendo que o Deus adorado por todas as religiões é um só, os homens passassem, pelo menos, a respeitar-se mutuamente, visto as diferenças, agora, serem apenas quanto à forma de cultuar esse mesmo Deus.

Não foi tal, porém, o que sucedeu. E os próprios "cristãos", séculos, contrastando frontalmente com os piedosos ensinamentos do Cristo, empolgados pelo fanatismo da pior espécie, não hesitaram em trucidar, a ferro e fogo, milhares de "hereges" e "infiéis", para maior honra e glória de Deus!" – como se Aquele que é o Senhor da Vida pudesse sentir-se honrado e glorificado com tão nefandos assassínios...

Atualmente, bastante enfraquecido, o sectarismo religioso começa a derruir, o que constitui prenúncio seguro de melhores dias, daqui, daqui para o futuro.

Acreditamos, mesmo, que, graças à rápida aceitação que a Doutrina Espírita vem alcançando por toda parte, muito breve haveremos de compreender que todos, sem exceção, somos de origem divina e integrantes de uma só e grande família. E posto que Deus é Amor, não há como adorá-Lo senão "amando-nos uns aos outros", pois, como sabidamente nos ensina João, o apóstolo ( I ep., 4:20), "se o homem não ama a seu irmão, que lhe está próximo, como pode amar a Deus, a quem não vê?"

Rodolfo Calligaris

segunda-feira, 21 de março de 2011

Desprendimento dos bens terrenos

Prece na palhoça da Casa em 2003.

Desprendimento dos bens terrenos

Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, freqüentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. Se, por efeito de imprevistos reveses, vos tornardes qual Job, dizei, como ele: "Senhor, tu mos havias dado e mos tiraste. Faça-se a tua vontade." Eis ai o verdadeiro desprendimento. Sede, antes de tudo, submissos; confiai nAquele que, tendo-vos dado e tirado, pode novamente restituir-vos o que vos tirou. Resisti animosos ao abatimento, ao desespero, que vos paralisam as forças. Quando

Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa idéia vos ajudará a desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras do Salvador: "O meu reino não é deste mundo."

A ninguém ordena o Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária mendicidade, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia em carga para a sociedade.

Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens terrenos. Fora egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo eximir-se da responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui. Deus a concede a quem bem lhe parece, a fim de que a administre em proveito de todos. O rico tem, pois, uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si mesmo. Rejeitar a riqueza, quando Deus a outorga, é renunciar aos benefícios do bem que se pode fazer, gerindo-a com critério. Sabendo prescindir dela quando não a tem, sabendo empregá-la utilmente quando a possui, sabendo sacrificá-la quando necessário, procede a criatura de acordo com os desígnios do Senhor. Diga, pois, aquele a cujas mãos venha o que no mundo se chama uma boa fortuna: Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-lo segundo a tua santa vontade.

Aí tendes, meus amigos, o que eu vos queria ensinar acerca do desprendimento dos bens terrenos. Resumirei o que expus, dizendo: Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela. Não sejais depositário infiel, utilizando-os unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade. Não vos julgueis com o direito de dispor em vosso exclusivo proveito daquilo que recebestes, não por doação, mas simplesmente como empréstimo. Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus. - Lacordaire. (Constantina, 1863.)



CAPÍTULO XVI - NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON
Do livro “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO”
Allan Kardec

domingo, 20 de março de 2011

O ADVERSÁRIO INVISÍVEL

Quadro: Jesus salvando Almas.

O ADVERSÁRIO INVISÍVEL

À frente do Senhor, nos arredores de Sídon, quatro dos discípulos, após viagem longa por diferentes caminhos, a serviço da Boa Nova, relatavam os sucessos do dia, observados pelo Divino Amigo, em silêncio:

- Eu – dizia Pedro sob impressão forte -, surpreendido por quadro constrangedor. Impiedoso capataz batia, cruel, sobre o dorso nu de três mães escravas, cujos filhinhos choravam, estarrecidos. Um pensamento imperioso de auxílio dominou-me. Quis correr, sem detença, e, em nome da Boa Nova, socorrer aquelas mulheres desamparadas. Certo, não entraria em luta corporal com o desalmado fiscal de serviço, mas poderia, com a súplica, ajudá-lo a raciocinar. Quantas vezes, um simples pedido que nasce do coração aplaca o furor da ira?

O apostolo fixou um gesto significativo e acentuou:

- No entanto, tive receio de entrar na questão, que me pareceu intrincada...Que diria o perverso disciplinador? Minha intromissão poderia criar dificuldades até mesmo para nós...

Silenciando Pedro, falou Tiago, filho de Zebedeu:

- No trilho de vinda para cá, fui interpelado por jovem mulher com uma criança ao colo. Arrastava-se quase, deixando perceber profundo abatimento... Pediu-me socorro em voz pungente e, francamente, muito me condoí da infeliz, que se declarava infortunada viúva dum vinhateiro. Sem dúvida, era dolorosa a posição em que se colocara e, num movimento instintivo de solidariedade, ia oferecer-lhe o braço amigo e fraterno, para que se apoiasse; mas, recordei, de súbito, que não longe dali estava uma colônia de trabalho ativo...

O companheiro interrompeu-se, um tanto desapontado, e prosseguiu:

- E se alguém me visse em companhia de semelhante mulher? Poderiam dizer que ensino os princípios da Boa Nova e, ao mesmo tempo, sou motivo de escândalo. A opinião do mundo é descaridosa...

Outro aprendiz adiantou-se.

Era Bartolomeu, que contou, espantadiço:

- Em minha jornada para cá, não me faltou desejo à sementeira do bem. Todavia, que querem? Apenas lobriguei conhecido ladrão. Vi-o a gemer sob duas figueiras farfalhudas, durante longos minutos, no transcurso dos quais me inclinei a prestar-lhe assistência rápida... Pareceu-me ferido no peito, em razão do sangue e porejar-lhe da túnica; mas tive receio de inesperada incursão das autoridades pelo sítio e fugi... Se me pilhassem, ao lado dele, que seria de mim?

Calando-se Bartolomeu, falou Filipe:

- Comigo, os acontecimentos foram diversos... Quase ao chegar a Sídon, fui cercado por uma assembléia de trinta pessoas, rogando conselhos sobre a senda de perfeição. Desejavam ser instruídas quanto às novas idéias do Reino de Deus e dirigiam-se a mim, ansiosamente. Contemplavam-me, simples e confiantes; todavia, ponderei as minhas próprias imperfeições e senti escrúpulos... Vendo-me roído de tantos pecados e escabrosos defeitos, julguei mais prudente evitar a critica dos outros. A ironia é um chicote inconsciente. Por isso, emudeci e aqui estou.

Continuava Jesus silencioso, mas Simão Pedro caminhou para ele e indagou:

- Mestre, que dizes? Desejamos efetivamente praticar o bem, mas como agir dentro das normas de amor que nos traças, se nos achamos, em toda parte do mundo, rodados de inimigos?
O Amigo Celeste, porém, considerou, breve:

- Pedro, todos os fracassos do dia constituem a resultante da ação de um só adversário que muitos acalentam. Esse adversário invisível é o medo. Tiveste medo da opinião dos outros, Tiago sentiu medo da reprovação alheia, Bartolomeu asilou o medo da perseguição e Felipe guardou o medo da crítica...

Aflito, o pescador de Cafarnaum interrogou:
- Senhor, como nos livraremos de semelhante inimigo?

O Mestre sorriu compassivo e respondeu:

- Quando o tempo e a dor difundirem, entre os homens, a legítima compreensão da vida e o verdadeiro amor ao próximo, ninguém mais temerá.

Em seguida, talvez porque o silêncio pesasse em excesso, afastou-se sozinho, na direção do mar.


Pelo espírito: Irmão X
Livro: Pontos e Contos Psicografia Francisco Cândido Xavier