terça-feira, 31 de maio de 2016


Chamamento e Serviço

Emmanuel

 

Cada criatura na Terra guarda consigo o título adequado com que a vida lhe assinala a tarefa pessoal e intransferível.

O professor que ensina.

O médico que redime a saúde.

O sacerdote que orienta os interesses do espírito.

O juiz que preserva o direito.

O artista que plasma o sentimento.

O construtor que levanta o templo do lar.

O operário que atende ao trabalho a que se destina.

O semeador que assegura a bênção do pão.

Aqui é o título do pai de família, definindo os sacrifícios que um homem é constrangido a fazer no reduto doméstico, além é a missão de amor conferida à mulher na posição de mãe e esposa, irmã e enfermeira, educadora e socorrista, amparando corações abatidos e sustentando almas frágeis.

Não julgues que os chamados para a edificação do Reino de Deus atinja simplesmente as pessoas categorizadas no plano da atividade religiosa.

A conscrição do Evangelho abrange a todos.

Todos somos convidados pelos desígnios do Senhor, a expressar-nos, através dos acontecimentos e circunstâncias da marcha humana, para o ministério que a Humanidade exige de nós, em favor do concerto da paz, em seus mecanismos, que devem gerar o progresso e o bem para todas as criaturas.

Satisfaze, desse modo, ao serviço imediato que a hora te apresenta, na certeza de que as obrigações retamente cumpridas são os únicos degraus para a verdadeira ascensão.

Não procures os cimos do mundo ao preço de mentira e de astúcia, porque ninguém trai os imperativos da vida.

Debalde o despotismo guardará o poder e em vão a sovinice conservará o ouro da Terra, de vez que amanhã o toque simples da enfermidade ou da morte, situará o ímpio e o onzenário no lugar que lhes é próprio.

Atende com amor e perseverança ao chamamento do Céu, que te confiou essa ou aquela obra a fazer, ainda mesmo que isso te imponha temporais de lágrimas ao campo do coração, porquanto, somente com o dever irrepreensivelmente executado candidatar-te-ás à eleição para as obras sublimes da Vida Maior.

Pelo idioma do serviço que produzas, chamarás a ti, sem palavras, novos companheiros que te possam auxiliar e compreender.

 

segunda-feira, 30 de maio de 2016


IDENTIFICAÇÃO DO ESPÍRITO

 

– Corria o ano de 1581, quando um caso estranho ocorreu em Sevilha – contou-nos o Espírito do Padre Diego Ortigosa, em agradável tertúlia fraternal.

– Desencarnara um médico atencioso e amigo dos pobres, D. Juarez Costanera y Salcedo – continuou ele com a graça do narrador inteligente –, quando, alguns meses mais tarde, apareceu uma jovem que se dizia assistida pela alma do esculápio, ensinando medicação à pobreza desamparada. Encheu-se-lhe a casa humilde e tosca de famintos da saúde e o médico desencarnado atendia, de boa vontade, orientando o tratamento de criaturas

enfermas e infelizes. A donzela, convertida em intermediária, não mais encontrou tempo para cuidar de aí mesma. As horas disponíveis eram escassas para atender a pessoas doentes e abatidas de sua cidade e vizinhanças. Pouco a pouco, o fenômeno tornava-se conhecido a distância e grande número de peregrinos lhe batiam à porta. Vinham de longe e queriam possuir, de novo, a saúde, a paz, a esperança.

Corria o interessante trabalho regularmente, mas os familiares de Costanera y Sucedo não viram com bons olhos a movimentação popular, em torno da memória do seu chefe desencarnado.

A jovem Cecília Anteguera, que servia de médium entre o morto prestativo e as criaturas angustiadas, tinha vida simples, atendendo às necessidades dos outros e aos seus próprios deveres em família, mas foi denunciada à Inquisição como feiticeira.

Não tardou o encarceramento. A acusada invocou os princípios de caridade a que servia, recorreu ao nome de Deus, amigos dedicados intercederam por ela, junto aos algozes, mas a pobrezinha foi retida, incomunicável, para longas inquirições. A par dos beneficiários agradecidos que pediam a sua absolvição, surgiram senhoras fanatizadas e cavalheiros inconscientes que afirmavam tê-la visto entregando-se a noturnos sortilégios, na via pública, ou explorando a boa fé alheia, como ladra vulgar, terminando as acusações gratuitas com o pedido de condenação formal e imediata. Alguns chegavam a rogar lhe fosse dada a benção da fogueira ou a graça de ser esquartejada viva, no auto-de-fé, em nome da caridade da Igreja.

E não valeram os bons ofícios dos protetores prestigiosos.

O padre Gaspar Alfonso Costanera y Salcedo, primo do morto, estava interessado na perseguição e, por isso, fez o possível por guardar a jovem na cela imunda. Prometia uma verificação pessoal. Queria certificar-se. Muitos santos da Igreja haviam visto e ouvido as almas dos mortos. E acrescentava, pedante, que esses fatos eram conhecidos desde os patriarcas hebreus, não obstante a proibição de Moisés, que se manifestara contrário ao intercâmbio com os mortos. Entretanto, a seu ver, aquela mulher seria uma bruxa mentirosa e repugnante. Seu primo D. Juarez estava no Céu, gozando a companhia dos anjos e não voltaria, a confabular com mortais desprezíveis. Para isso recebera missas a rodo e solenes exéquias. Que motivo, perguntava ele, levaria um médico a apaixonar-se pelos doentes, além do túmulo? Os Santos e Santas tinham visto almas glorificadas, em beatitude celeste, mas aquela endemoninhada tinha o topete de afirmar que o seu ilustre parente continuava a interessar-se pela medicina, depois da morte.

Não seria loucura? interrogavam os amigos da acusada. E, se fosse, não seria justo desculpar a demente?

O padre loquaz, porém, deblaterava, irritadiço, e insistia pela prova final.

Com efeito, após longos dias de expectativa, Cecília Anteguera, abatida e enferma, trazendo

nos punhos e braços os sinais de terríveis flagelações, foi trazida a uma sala vastíssima, onde se reuniam alguns juízes eclesiásticos, sob a presidência do Inquisidor-mor.

A pobre medianeira, sob olhares sarcásticos, rogou, em silêncio, a Deus a visita do médico desencarnado. Não seria razoável que o Espírito desse prova de sua sobrevivência? Ficaria desamparada, perante os verdugos?

Eis que D. Juarez, o morto, se aproxima.

Transfigura-se a médium. Observando-lhe a palidez e as alterações fisionômicas, o padre Gaspar atende a um sinal do Inquisidor-mor e pergunta, contendo a emoção:

– Estamos em presença do demônio?

A entidade sorriu, utilizando os lábios de Cecília, e respondeu:

– Estais em presença do Espírito.

– Como se chama? – indagou o clérigo.

– Não tenho nome – replicou o desencarnado –, o Espírito é universal.

E continuou o diálogo :

– Confessa que já morreu?

– Sim, já perdi o corpo físico.

– Tem uma pátria?

– Tenho.

– Qual?

– O mundo inteiro.

– Deixou alguma família na Terra?

– Deixei,

– Como se chama essa família?

Antes da resposta, os inquisidores denotavam grande aflição, mas D. Juarez respondeu sem hesitar:

– Chama-se Humanidade.

– Vem do inferno ou do purgatório?

– Não é de vossa conta.

– Tem recomendações a fazer a pessoas do mundo carnal?

– Não devo lembrar o que me compete esquecer para o bem comum.

– Reconhece a autoridade da Igreja?

– Reconheço a eterna autoridade de Jesus - Cristo.

– Oh! Oh!... – exclamaram os circunstantes.

– Finalmente, qual a sua profissão de fé, o seu propósito? – perguntou o padre Gaspar, exasperado.

D. Juarez, o morto, respondeu sem titubear:

– Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a mim mesmo, cultivar a verdade, fazer o bem e colaborar na fraternidade universal.

Nesse instante, levantaram-se todos, sob grande revolta. O Inquisidor-mor recomendou o recolhimento da endemoninhada, até ulterior deliberação, explicando-se aos sevilhanos que coisa alguma ficara esclarecida e que o assunto não passava de farsa condenável e odiosa.

O narrador fez uma pausa mais longa, mas um dos amigos presentes, interpretando o nosso interesse, indagou :

– E a médium? que lhe aconteceu?

– Vocês ainda perguntam? – disse o padre Ortigosa, em tom significativo – como a Inquisição não podia punir o Espírito, queimou a intermediária, em soleníssimo auto-de-fé.

Em seguida sorriu bondosamente e concluiu :

– Cecília de Anteguera, porém, logo após entregar o corpo às cinzas, uniu-se ao Espírito de D. Juarez, em serviço muito mais elevado e profícuo às criaturas humanas, encontrando no sacrifício a sua melhor realização, convertendo-se ainda em devotada amiga de todos os seus acusadores e verdugos, aos quais sempre recebeu, caridosamente, nos primeiros degraus da passagem sombria do túmulo.

 

FRANCISCO CANDIDO XAVIER

LÁZARO REDIVIVO

Pelo Espírito Irmão X

domingo, 29 de maio de 2016


O PREÇO DA REMISSÃO

 

No grande castelo português do século XVII, José Antônio Maria de Alenquer, jovem senhor feudal, chama os três servidores mais íntimos a conselho.

Quer liquidar José Joaquim, o pequeno bastardo, nascido nos últimos tempos da existência do pai viúvo.

Manuel Macário, o mordomo, a esposa e a filha ouvem-no, interessados.

Ganharão pequena fortuna pela cumplicidade.

E José Joaquim, menino de sete anos, que se deslumbra perante a vida, é conduzido pelos quatro a extenso poço lotado de peixes vorazes. E, enquanto a criança fita o bojo das águas, o irmão desapiedado arroja-lhe o corpo frágil no precipício.

Leve rumor.

Um grito abafado. E depois o silêncio.

José Antônio Maria de Alenquer senhoreia enorme herança. E a vida continua ...

 

8 de fevereiro de 1957. Telegrama dos jornais: " A criança foi devorada em vida pelas piranhas!

Em poucos minutos, dela só restava o esqueleto!

Presenciada pelos pais do menor a horripilante cena!

A população da pequena cidade de Monte Alegre, no Baixo Amazonas, ainda não se refez do choque emocional causado pela tragédia que envolveu uma criança de sete anos, devorada em vida e em poucos minutos por um cardume de famintas piranhas e, o que é pior, na presença dos pais e de irmã menor, todos horrorizados.

O menino Adílson, a vítima, filho do pescador Darlan, era uma criança muito estimada pela sua vivacidade e seu temperamento ameno. No dia em que perdeu a vida, de maneira tão brutal, havia sido mandado pelo pai, em companhia de sua irmã Josefina, de onze anos, numa pequena canoa, a fim de levar um recado a um conhecido, na outra margem do rio Gurupatuba, que corre nos fundos da casa do pescador.

 

Já no meio da travessia, Adílson, a um movimento menos feliz, perdeu o equilíbrio e caiu na água.

Incontinenti, o local onde mergulhou o menor tingiu-se de sangue.

A infortunada criança caíra exatamente num cardume de vorazes piranhas, que em poucos minutos, ou mesmo segundos, a devoraram.

Horrorizados, os pais de Adílson e a irmãzinha do menino assistiram à cena impressionante, sem nada poderem fazer, tal a conhecida rapidez com que age essa espécie de peixe.

Refeito da brutalidade da cena e passado o cardume, o pai de Adílson, como um louco, mergulhou nas profundas águas do rio e de lá voltou trazendo, apenas, um esqueleto, quase totalmente descarnado.

Essa ocorrência deixou chocados a quantos dela tiveram conhecimento."

 

A voracidade das piranhas e o assombro da pequena família foram o preço da remissão da falta cometida...

 

A VIDA ESCREVE – Hilário SILVA

sábado, 28 de maio de 2016


DOCE NOME

 
Não obstante a defecção de Caim e o abandono de José, filho de Jacob, o nome de irmão é talvez um dos títulos mais doces que existem no mundo.

O verdadeiro amor fraternal não pede compensações, não experimenta ciúme, não é exclusivista. Reclama somente a felicidade do objeto amado, com a qual se contenta.

Jesus chamava irmãos a todos os seguidores de seu ideal divino e seus legítimos continuadores viviam em comunidade fraternal.

Os cristãos martirizados nos circos penetravam na arena abraçados e felizes. Damas do patriciado davam as mãos a escravas misérrimas, unidas para o sacrifício. Não se conheciam antes. As filhas dos romanos aristocráticos haviam nascido no berço da dominação, enquanto as servas dos nobres haviam chegado ao mundo à sombra do cativeiro. Enfrentavam, porém, as feras sacrílegas, de mãos entrelaçadas, porque o Evangelho do Reino Celeste lhes revelara o doce mistério da sublime fraternidade.
 
Eram irmãs, diante do Eterno: era tudo o que podiam saber no supremo holocausto a Jesus-Cristo, por quem vertiam o sangue generoso e renovador. Francisco de Assis, abnegado companheiro dos homens e da Natureza, sentia-se irmão do lobo de Gúbio, ao qual dirigia a palavra em nome de Deus. Paulo de Tarso, o apóstolo da gentilidade, escrevendo aos hebreus, que representavam o povo escolhido, recomenda-lhes, no versículo primeiro do capítulo treze, a conservação do amor fraternal.

Paulo tinha razões sérias para emitir o conselho porque, se não podemos opinar sobre o amor angélico, inacessível ainda ao nosso entendimento, podemos algo dizer sobre os afetos humanos. E nas atividades além do túmulo, a legítima ligação fraternal, sublime e constante, elevada e sincera, é talvez a única que jamais surpreende ou desconcerta.

Constituindo reais exceções os enlaces das almas em união imperecível, na face do planeta, em regra geral os cônjuges, depois da morte, descobrem, por fim, que consumiram imensas quantidades de combustível das paixões para aprenderem a ser bons irmãos um do outro.

Filhos e pais, nas mesmas circunstâncias, adquirem expressivos ensinamentos, em virtude dos imperativos da reencarnação.

Muitas vezes, a consanguinidade constitui o cadinho purificador.

O devotamento fraterno, porém, alcança culminâncias divinas. A realidade não lhe embacia o clarão, nem a morte lhe desfigura a beleza. Continua sempre, como as árvores generosas que dilatam as raízes, cobrindo-se de flores e de frutos.

O irmão não conhece os dramas passionais dos desejos desatendidos, não exige considerações exteriores, não solicita senão a ventura dos que lhe gozam o carinho e a dedicação. Por isso mesmo, embora estejamos muito distantes da plena execução da regra áurea, a Humanidade não será integralmente feliz, enquanto o amor fraternal não estabelecer o seu império no mundo.

Semelhantes considerações vieram-me ao raciocínio, ao receber a visita de uma senhora recentemente desencarnada. A pobre criatura, ainda estremunhada, ao acordar de longo pesadelo terrestre, perguntou-me por certo escritor que já se livrou do corpo enfermo há alguns anos.

Ante minha surpresa, explicava-se, atenciosa:

– Trata-se dum homem de letras que escreveu na mocidade algumas páginas cômicas do anedotário fescenino, tornando-se na idade madura um grande amigo dos que sofriam, pela sua nova compreensão.


– Já sei – disse-lhe sorrindo –, a princípio ele molhava a pena no vermelhão com que se pintam os palhaços inteligentes para atender as exigências do público, em seguida ensopoua no vasto tinteiro das lágrimas. Começou bebendo o vinho adocicado da fantasia para vomitar, mais tarde, o vinagre amargoso do desengano.

– Isso mesmo – respondeu curiosa.

E acrescentou:

– Esse homem morreu e continuou escrevendo. Ninguém o via, nem o ouvia. Entretanto, à maneira do viajante que manda notícias de longe, prosseguiu, animando os companheiros de luta, falando-lhes do estranho e belo país a que fora recolhida sua alma, sendo reconhecido por todos nós, através de seu pensamento mais vivo que nunca. Ser-me-á tão difícil encontrá-la?

 
Observando-me o silêncio, pronunciou um nome que me era familiar.

 
Interrompi-a, porém, espantado, acentuando:

– Ouça, minha amiga! chame-o pelo “doce nome”.

– Doce nome?

– Sim, chame-o “irmão” e talvez compareça ao seu encontro.

E porque a interlocutora revelasse profundo assombro no olhar, esclareci, bem humorado:

Conheço a pessoa que procura, e devo-lhe, boa irmã, explicações. Como a senhora sabe, o nome é uma túnica com que nos diferenciamos uns doa outros. Ora, na Terra, o único manto que valia a pena ser disputado era, efetivamente, o do Cristo, sobre o qual os soldados lançaram a sorte. Como não ignora, alguns amigos do companheiro a que se refere, exigiram-lhe, por entusiástico amor, a túnica, depois do transe definitivo do corpo, e ele, receoso de uma consagração que não merecia, pediu a Deus um traje novo e atirou seu antigo manto no vale sombrio do esquecimento a da morte.

 

Do livro LÁZARO REDIVIVO

Pelo Espírito

Irmão X, FRANCISCO CANDIDO XAVIER

 

sexta-feira, 27 de maio de 2016


Trabalhar Sempre

 

Não te imobilizes, à beira da estrada, aguardando o ensejo de ser feliz.

O êxito real não é um fruto de ouro, na bandeja da gratuidade.

Adere ao trabalho e aprende a servir.

Seja qual seja o lugar em que estivermos, é preciso empregar as forças disponíveis da própria existência, no esforço máximo ante o dever a cumprir, para que nos entreguemos ao melhor que consigamos fazer de nós mesmos.

A vitória em determinado setor, sem dúvida, surgir-te-á com o auxílio que os outros te ofereçam, mas somente perseverará contigo, através do auxílio que te disponhas a oferecer aos outros.

Não te julgues inútil e nem te suponhas superior aos demais.

Recorda as múltiplas possibilidades que usufruis, no sentido de te desdobrares no amparo aos semelhantes e trabalha pelo prazer de agir, colaborando na segurança da vida comunitária.

Entre desejar e esperar, melhor é fazer e a senda única indicada a todos aqueles que realizam algo de útil, a benefício do próximo, será sempre servir ampliando o trabalho e trabalhar sempre para melhor servir.

 

Vem e Auxilia

 

Acendeste mais luz na inteligência e, por isso, consegues observar, mais longe, o campo das necessidades humanas.


Sabes onde se oculta a ignorância, suscitando a carência de luz e onde se alteia o brilho do conhecimento enobrecido que te faculta o reconhecimento da universalidade da vida, a prenunciar- te o júbilo da consciência cósmica.


Entretanto, não olvides estender a mão aos companheiros que renteiam contigo, chegando da retaguarda.

Muitos se marginalizam nas trevas por desconhecerem o caminho que já podes trilhar.


Ontem, igualmente tateavas.

Hoje, conheces.

Reparte o pão da luz espiritual que amealhaste, a fim de que outros se nutram dele, de modo a buscarem, por eles próprios, a riqueza das instruções que usufruis.


Não reproves aqueles que ainda não dispõem da força precisa, a fim de acompanhar-te.

Ei-los que te aguardam as diretrizes.


Sabes que ninguém adquire a elevação espiritual por osmose.

Em razão disso, todos os irmãos que vacilam na estrada, entre a negação e o sofrimento, entre a dúvida e o desânimo não te reclamam prodígios que lhes operem a renovação do mundo interior, de um momento para outro.


Todos eles, filhos de Deus, tanto quanto nós, são criaturas que se candidatam à escalada para a Vida Maior e, para isso, te rogam apenas o calor da simpatia e uma réstia de luz.

 

 

 
Vencer

 

Resguarda a consciência

Sempre limpa de culpas.

Ante as provas da vida,

Não esmoreças, nunca.

 

Se vieste a cair,

Ergue-te e recomeça.

Cultiva no trabalho

A bênção de teu pão.

 

Lembra a regra da paz:

Ama e perdoa sempre.

Estende o bem a todos

E vencerás com Deus.

 

 

Extraído do Livro  “O ESSENCIAL”

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

EMMANUEL

 

quinta-feira, 26 de maio de 2016


Mensagem

 

 Querida mãezinha Ony e querido papai Antônio.

Compreendemos o desejo de ambos que ficou igualmente sendo nosso.  Notícias.  Os amados que permanecem no mundo estão habitualmente interessados, quando não ansiosos, pela obtenção de informes e particularidades, quanto a nós que voltamos para o Lar de Origem.

Pais queridos, se pudéssemos desdobraríamos a própria alma, através da correspondência, esmiuçando pormenores a fim de tranquilizá-los.  A criatura se despede do corpo físico, pressionada pelas imposições da morte, e depois?  Esse propósito de penetração no Mais Além e essa aflição por saber o que se faz depois de transporta a barreira da Grande Transformação, afinal de contas, são intuitos compreensíveis e naturais.

Não creiam que se possa escrever sem o conselho daqueles que nos orientam, se nem tudo, da própria Terra, não pode a criatura que escreve, expor numa carta, através da distância, é justo saibam que também nós, por aqui, não estamos numa sociedade sem regras e convenções respeitáveis.

Explicam mentores dignos que, se todos os nossos entes queridos estão destinados a conhecer os caminhos da experiência que atravessamos, não é necessário anteceder-nos, em sugestões e relatórios francamente desaconselháveis, de vez que as estradas de trânsito entre as duas vidas – a do Mundo Físico e a do Mundo Espiritual – diferem muito entre si.

Posso, no entanto, adiantar-lhes que se ainda sou eu quem se encarrega deste correio, é que a Rose prossegue muito preocupada em apoiar o Sidnei e auxiliá-lo, quanto possível, nas renovações que um marido jovem reclama na área dos homens, porque a vida deve ser vivida e não seria a Rosemary quem criaria qualquer entrave aos ideais e às necessidades do companheiro.  Em vista disso, a querida irmã, confiando em mim, deixa-me, por enquanto, o encargo de fazer-se lembrada pelos pais queridos e pela vovó Maria Goulart especialmente. Quanto à nossa Soninha está fazendo exercícios para se largar da timidez.  E, por tudo isso, me desinibo e vou garatujando o que posso.

Depois da mensagem na qual lhes expus as nossas notícias primeiras, fomos transferidas de residência. Não me peçam nomes que valeriam por antecipações inconvenientes. Estamos num parque-cidade-jardim, se posso definir com estas três palavras o grande centro de recuperação e cultura em que presentemente nos achamos.  O vovô Engelberto e o vovô Eugênio (pois já entramos em relacionamento com o nosso avô Eugênio, igualmente) entabolaram entendimentos para que fôssemos admitidas num grande instituto de reformulação espiritual, e tivemos permissão para desfrutar a companhia e a proteção da mãezinha Custódia, que nos serve de governanta maternal.

Penso que ficarão satisfeitos se lhes contar que fomos acolhidas pela Diretora, a Irmã Frida, da lista de amizades do vovô Engelberto, com a maior distinção. O vovô dirigiu-se a ela, em alemão, e ambos conversaram animadamente. Voltando-se cortesmente para nós, se bem me lembro, a Irmã Frida nos disse sorrindo; “BRECH GUT.  ES WIRD MICH SCHER FREUEN IHNEN NUTZLICH ZUN SEIN.” Compreendo que não guardei de cor  a antepenúltima expressão dela,  mas o vovô solicitou-lhe a troca de idéias em português e a nossa Diretora, sem pestanejar – se exprimiu em português-brasileiro com tal mestria que nos sentimos à vontade para a instalação em perspectiva.

 

A cidade é grande e especializada. Muitas atividades lhe caracterizam o ambiente e não há tempo para meditações ociosas, para quem deseja valer-se da meditação como norma de preparação para o serviço a fazer e para as realizações por atingir.

Ninguém é obrigado a trabalhar, porque a violência onde estamos é vocábulo desconhecido, mas quantos se empenham a agir e servir adiantam-se com facilidade, na marcha para adiante, com aquisições valiosas para a organização do presente e do futuro. Quem prefere a inércia recebe uma cota simples de recursos para a própria sustentação, mas não consegue meios para renovar-se, de vez que a fixação de companheiros dedicados à imobilidade e à lamentação não lhes permite maiores incursões no progresso ambiente.  E isso ocorre até que se decidam a sair espiritualmente de si próprios, buscando, por iniciativa deles mesmos, o trabalho que lhes melhorará as condições.

As religiões são praticadas segundo as tendências dos que se agregam no sítio que tento descrever, todos, porém, com a marca da responsabilidade e da fé em que se inspiram, sem que haja antagonismos entre umas e outras. A criatura evolui por si mesma, desde que assim o deseje.  Por essa razão, a transferência de muitos irmãos, de cultos para cultos outros mais propensos à solidariedade e às edificações liberais, é incessante.

E o que é de se admirar é que ninguém onde estamos é obrigado a crer que passou pelo fenômeno da desencarnação.  E como somos ainda poucos os que nos achamos conscientes disso, não mencionamos nossas idéias diante de pessoas desconhecidas ou que conservam absoluta negação quanto à morte, pela qual já passaram. 

Ainda na semana finda, em conversação  com uma senhora amiga, ela se lamentava de haver perdido uma filha num acidente de aviação, quando a minha interlocutora é que vive aqui desencarnada e a filha saiu ilesa do desastre havido, continuando a residir em grande cidade brasileira.

A maior parte dos que vivem no parque onde temos transitória moradia, se queixam de perdas de memória, de abatimentos e doenças inexplicáveis,  quando não lutam contra  processos de angústia que eles mesmos confessam desconhecer nas origens. Há muita gente na enfermagem e no magistério, agindo com respeitosa prudência para não suscetilizar pessoa alguma. Os médicos analistas são muitos, e os religiosos esclarecidos, ou ainda não totalmente esclarecidos, trabalham com intensidade no reconforto e no reerguimento espiritual de muitos de seus clientes, interessados na própria melhoria.

E a vida continua. Quem quiser receber luzes que as distribua e quem se proponha a encontrar alegria, deve doá-la aos outros.  As tarefas são múltiplas, mas a noite é curta, e a mãezinha Custódia me recomenda terminar.

Escrevi o que pude e como pude, mas creiam a mãezinha Ony e o papai Antônio que, ao beijá-los com o meu enternecimento e carinho de todos os dias, continuo sendo a  filha que lhes consagra todo o amor que possa trazer no próprio coração, sempre a filha agradecida,

                                                                                     Jane

Jane Furtado Koerich

 
Do livro Porto de Alegria, psicografia de Chico Xavier                                                                         

quarta-feira, 25 de maio de 2016


Mensagem de Chico Xavier aos Pacientes do Instituto Bairral

 

Foi tamanho o fascínio que a família dos internados do Instituto exerceu sobre mim, da primeira vez que estive aqui, que não hesitei em voltar para dar um abraço a todos os nossos amigos, a todos os amigos de Itapira, mas, muito especialmente, a todos vocês, meus irmãos e minhas irmãs que se encontram sob este abençoado teto, buscando a restauração espiritual que, na essência, nós todos estamos procurando em nossa existência terrestre.

Nós todos fomos colocados dentro da reencarnação como criaturas que buscam a sua própria recuperação diante das Leis de Deus. Se existem companheiros nossos que não se encontram nessa condição, em qualquer região do mundo, esse alguém será uma criatura rara que talvez esteja dispensando cuidados especiais de missões verdadeiramente angélicas.

Mas nós todos somos espíritos em recuperação e, de quando em quando, precisamos de recolhimento, seja num quarto de hotel, num aposento de nossa própria casa, num regime que nós consideramos como sendo regime de férias, ou então, em uma casa abençoada como esta nossa em que nos demoramos mais um pouco, tratando de nossa própria restauração.

Viemos dar um abraço a todos, pedindo a todos os nossos amigos, a todas as nossas amigas, que aqui se encontram, aquela fé viva e profunda, que devemos ter na Divina Providência, que nunca nos abandona. Às vezes nos achamos dentro da vida terrestre como criaturas sitiadas por problemas afetivos que nos parecem, às vezes, de solução absolutamente inacessível, mas podemos estar certos de que as mãos Misericordiosas de Deus, através de muitos modos, nos socorrem. Não há ninguém abandonado. Nós todos estamos recebendo zelos particulares de Nosso Senhor Jesus Cristo, em nome de Deus.

E basta que façamos a aceitação de nossas dificuldades, de nossas lutas, para prosseguirmos adiante. Às vezes chegamos mesmo a sentir no coração que todos processo religioso de fé será uma ilusão. Quantos de nós teremos dito: “Mentira!” quando nós ouvimos uma oração. Mas isso é natural.

Nós todos sofremos e, quando nos achamos nesta situação, recusamos, às vezes, embora transitoriamente, até mesmo o socorro da fé. Mas tudo isso é natural.

A vida não termina no corpo terrestre. Continuaremos adiante. Então, tanto quanto pudermos, tenhamos fé, confiança na Providência Divina, certeza de que não estamos abandonados.

E as nossas dificuldades, que elas sejam para nós lições abençoadas do caminho, como as lições e provas que nós só aprendemos na escola, quando estamos buscando determinada titulação para que a vida se nos faça valiosa no plano terrestre.

Peçamos a Deus coragem, força para superar as nossas crises, apoio íntimo para que a paz nos felicite e que nós possamos viver com a alegria maravilhosa com que Deus organizou o mundo que habitamos. O sol a derramar-se em luz permanente, o dia claro, as fontes derramando água limpa, árvores que nos estendem verdadeiros braços pejados de frutos que atendem a nossa alimentação.

O milagre da sementeira pelo qual pequeninas sementes fazem lavouras enormes que sustentam a coletividade, o prodígio do trabalho através do qual nós podemos esquecer os nossos problemas e valorizar o nosso tempo melhorando as nossas condições de vida.

A felicidade de termos amigos e também a alegria de termos adversários, que são aqueles representantes da incompreensão a nosso respeito que nos auxiliam também a policiar o próprio coração e caminhar com mais segurança.

Tudo que existe na Terra é grande, tudo é belo, tudo nos induz à confiança no Poder Maior que organizou este mundo como casa privilegiada para nós todos.

A Terra, no fundo, se assemelha, em dimensões muito mais vastas, a um instituto como este, em que nós todos estamos internados, do ponto de vista espiritual, para cogitar de nosso próprio aperfeiçoamento.

Então, eu não tenho nenhuma palavra que possa traduzir conselho ou orientação.

Eu também sou um irmão de todos, um servidor de todos, e me encontro em recuperação. Sou também um espírito doente. Compreendo que meu corpo é assim como uma cela, em que me internaram pela Misericórdia de Deus, para que eu pudesse cuidar de meu tratamento. Quando eu recebo o abraço de um amigo, a prece de outro, o carinho de um coração maternal; quando me encontro com alguém que me ampara, que me estende um conselho, que me transmite algum ensinamento, eu compreendo que tudo isso é remédio para que eu aplique a mim mesmo.

Então, eu estou diante de meus irmãos e minhas irmãs, mas com muita simpatia e com muita vontade de ficar aqui, com muita vontade de me matricular também na família de internados do Instituto Bairral. Ficar com vocês, alimentar-me com vocês à mesa, compreender com vocês as dificuldades, muitas vezes, da nossa vida mental pra nos acomodarmos com certas situações de nossa família, seja família da consangüinidade, seja família social; trocar idéias com vocês, me sentar debaixo das árvores, ouvir estas preces, as músicas cantadas por vocês, para que eu pudesse aprender mais.

Não pensem que eu estou aqui ensinando alguma coisa. Eu vim dizer a vocês, meus irmãos e minhas irmãs: - Que vontade de ficar com vocês! E vocês todos que oram, peçam também por mim a Deus, para que, quando eu puder, eu venha ficar com vocês.

Deus abençoe a vocês todos pela atenção com que me ouvem.

Deus abençoe vocês todos por tudo de bom que vocês me oferecem.

Eu desejo a vocês a paz e a alegria, e que esta casa seja sempre abençoada por Jesus e por seus Mensageiros. É tudo o que eu posso dizer.

Muito obrigado!

Chico Xavier

 

(Mensagem proferida por inspiração de seu benfeitor Emmanuel, aos 22 de Agosto de 1973, no auditório do cinema do Instituto Bairral, em Itapira, São Paulo)