sábado, 31 de outubro de 2015


 

Entoando o hino "Glória aos Servos Fiéis", no Templo da Paz antes de começar a fala do instrutor.

 

“Glória aos Servos Fiéis”:

 

Ó Senhor!

Abençoa os teus servos fiéis,

Mensageiros de tua paz,

Semeadores de tua esperança.

 

 

Onde haja sombras de dor,

Acende-lhes a lâmpada da alegria;

Onde domine o mal, ameaçando a obra do bem,

Abre-lhes a porta oculta à tua misericórdia;

Onde surjam acúleos do ódio,

Auxilia-nos a cultivar

as flores bem-aventuradas de teu sacrossanto amor!

 

 

Senhor! são eles

Teus heróis anônimos,

Que removem pântanos e espinheiros,

Cooperando em tua divina semeadura...

Concede-lhes os júbilos interiores,

Da claridade sagrada em que se banham as almas redimidas.

 

Unge-lhes o coração com a harmonia celeste

Que reservas ao ouvido santificado;

Descortina-lhes as visões gloriosas

Que guardas para os olhos dos justos;

 

 

Condecora-lhes o peito com as estrelas da virtude leal...

Enche-lhes as mãos de dádivas benditas

Para que repartam em teu nome

A lei do bem,

A lua da perfeição,

O alimento do amor,

A veste da sabedoria,

A alegria da paz,

A força da fé,

O influxo da coragem,

A graça da esperança,

O remédio retificador!...

 

 

Ó Senhor,

Inspiração de nossas vidas,

Mestre de nossos corações,

Refúgio dos séculos terrestres!

Faze brilhar teus divinos lauréis

E teus eternos dons,

Na fronte lúcida dos bons -

Os teus servos fiéis!

 

Francisco Cândido Xavier - Obreiros da Vida Eterna - pelo Espírito André Luiz 11

sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Cantiga da Esperança
Alma querida,
Por mais que o mundo te atormente
A fé simples e boa,
Por mais te lance gelo na alma crente,
Na sombra que atraiçoa,
Alma sincera,
Escuta!...
Sofre, tolera, aprende, aperfeiçoa,
Porque de esfera a esfera,
Ninguém consegue a palma da vitória,
Sem apoio na luta.

Espera, que a esperança é a luz do mundo –
Oculta maravilha –
Que, em toda a parte, se revela e brilha
Para a glória do amor.
A noite espera o dia, a flor o fruto,
O espinho a rosa, o mármore o buril,
O próprio solo bruto
Espera o lavrador
Armado de atenção, arado e zelo...

O verme espera o sol para aquecê-lo.

A fonte amiga que se desentranha
Do coração de pedra da montanha,
Enquanto serve, passa e se incorpora
Aos encargos do rio que a devora,
E espera descansar,
Quando chegue escondida
A paz da grande vida
Que há no seio do mar.

Seja o que for
Que venhas a sofrer,
Abraça o lema regenerador
Do perdão por dever.

Leva pacientemente o fardo que te leva,
Entre o rugir do vento e o praguejar da treva...
Abençoa em caminho
Os açoites da angustias em torvo redemoinho;
Onde não passas, coração
E segue sem parar,
Amando, restaurando, redimindo...

Edificando, em suma,
Não te revoltes contra coisa alguma!...

Ao vir a tarde mansa,
Na doce quietação crepuscular,
Quando a graça do corpo tomba e finda,
Verás como foi alta, nobre e linda
A ventura de esperar.

E, enquanto a noite avança
Para dar-te as visões de uma alvorada nova,
Nas asas da esperança,
Bendirás a amargura, a dor e a prova,
Agradecendo a Terra a bênção de entendê-las.
Subiras, subiras
Para o ninho da luz nas estâncias da paz,
Que te aguarda, tecido em radiações de estrelas!...

Então, compreenderás
Que, além do mais Além –
No Coração da Altura –
Deus trabalha, Deus sonha, Deus procura,
Deus espera também!...
Maria Dolores
Do livro: Antologia da Espiritualidade, Médium: Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Próximo e Nós
Esperas ansiosamente encontrar o Senhor e um dia chegarás à Divina Presença; entretanto, antes de tudo, a vida te encaminha à presença do próximo, porque o próximo é sempre o degrau da bendita aproximação.

Mas quem é o meu próximo? - perguntarás decerto, qual ocorreu ao Doutor da Lei nas luzes da parábola.

Todavia, convém saber que, além do próximo mais próximo a quem nomeias como sendo o coração materno, o pai querido, o filho de nossa bênção, o irmão estimável e o amigo íntimo, no clima doméstico, o próximo é igualmente o homem que nunca vista, tanto aquele que te fixa indiferente em qualquer canto da rua. É a criança que passa, o chefe que te exige trabalho, o subordinado que te obedece, o sócio de ideal, o mendigo que te fala a distância...

É a pessoa que te impõe um problema, verificando-te a capacidade de auxílio; é quem te calunia, medindo-te a tolerância; quem te oferece alegria, anotando-te o equilíbrio; é a criatura que te induz à tentação, testando-te a resistência... É o companheiro que te solicita concurso fraterno, tanto quanto o inimigo que se sente incapaz de pedir-te o mais ligeiro favor.

Às vezes tem um nome familiar que te soa docemente aos ouvidos; de outras, é categorizado por ti à conta de adversário, que não te aprova o modo de ser. Em suma, o próximo é sempre o inspetor da vida que nos examina a posição da alma nos assuntos da Vida Eterna. Entre ele e nós se destacam sempre a necessidade e a oportunidade a que se referia Jesus na parábola inesquecível.

Isto porque o Bom Samaritano foi efetivamente o socorro para o irmão caído na estrada de Jerusalém para Jericó, mas o irmão tombado no caminho de Jerusalém para Jericó foi para o Bom Samaritano, o ponto de apoio para mais um degrau de avanço, no caminho para o encontro com Deus.
Emmanuel
Do livro: Rumo Certo, Médium: Francisco Cândido Xavier

quarta-feira, 28 de outubro de 2015


Emoções Perturbadoras

O homem que se candidata a uma existência feliz, tem a obrigação de vigiar as suas emoções perturbadoras, a fim de evitar-se desarmonias perfeitamente dispensáveis, na economia do seu processo de evolução.

As emoções perturbadoras decorrem do excesso de auto-estima, do apego aos bens materiais e às pessoas, e do orgulho, entre outros fatores negativos.

O excesso de consideração que o indivíduo se concede, leva-o à irritação, ao ciúme, à agressividade, toda vez que os acontecimentos se dão diferentes do que ele espera e supõe merecer.
O apego responde-lhe pela instabilidade emocional, trabalhando-lhe a ganância, a soberba e a ilusão da posse, que concede a falsa impressão de situar-se acima do seu próximo.

O orgulho intoxica-o, levando-o à pressuposição de credenciado pela vida a ocupar uma situação privilegiada e ser alguém especial, merecedor de homenagens e honrarias, em detrimento dos demais.
Qualquer ocorrência que se apresente contraditória a esses engodos gerados pelo ego insano, e as emoções perturbadoras se lhe instalam, proporcionando desequilíbrios de largo porte, exceto se ele se resolve por digerir a situação e mudar de paisagem mental.

Superar tais emoções que têm raízes no seu passado espiritual, eis o grande desafio.
Assim, cumpre que ele envide todos os esforços para o autodescobrimento e a aplicação das energias em combater a inferioridade que predomina em a sua natureza.

"Não há nada, a que o homem não se acostume com o tempo", afirma um velho brocardo popular.

A liberação das emoções perturbadoras é resultado dos hábitos insalubres de entregar-se-lhe sem resistência.

Tão comum se faz ao indivíduo a liberação dos instintos perniciosos geradores deles, que este se não dá conta do desequilíbrio em que vive.
Adaptando-se ao autocontrole, eliminará, a pouco e pouco, a explosão dessas emoções perturbadoras.

Mediante o pequeno código de conduta, torna-se fácil a assimilação de outros hábitos que são saudáveis e felicitam:
- considera a própria fragilidade que te não faz diferente das demais pessoas;

- observa o esforço do teu próximo e valoriza-o;
- treina a paciência ante as ocorrências desagradáveis;

- reflexiona quanto à transitoriedade da posse;
- medita sobre a necessidade de ser solitário;

- propõe-te a adaptação ao dever, por mais desagradável se te apresente;
- aprende a repartir, mesmo quando a escassez caracterizar as tuas horas. . .

Um treinamento íntimo criará novos condicionamentos que te ajudarão na formação de uma conduta ditosa e tranquila.
Foram as emoções perturbadoras que levaram Pedro, temeroso, a negar o Amigo, e Judas, o ambicioso, a vendê-lo aos inimigos da Verdade.

O controle delas, sob a luz da humildade e da fé, proporcionou à humanidade o estoicismo de Estevão, a dedicação até o sacrifício de Paulo – que as venceram – e toda a saga de amor e grandeza do homem abnegado de todos os tempos.
Joanna de Ângelis

terça-feira, 27 de outubro de 2015


Senhor, Ensina-nos!

A orar sem esquecer o trabalho;
a dar sem olhar a quem;
a servir sem perguntar até quando;
a sofrer sem magoar seja quem for;
a progredir sem perder a simplicidade;
a semear o bem sem pensar nos resultados;
a desculpar sem condições;
a marchar para frente sem contar os obstáculos;
a ver sem malícia;
a escutar sem corromper os assuntos;
a falar sem ferir;
a compreender o próximo sem exigir entendimento;
a respeitar os semelhantes sem reclamar consideração;
a dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxas de reconhecimento.

Senhor, fortalece em nós a paciência para com as dificuldades dos outros,assim como precisamos da paciência dos outros para com
nossas dificuldades.
Ajuda-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir-Te os desígnios onde e como queiras, hoje, agora e sempre.

Emmanuel

segunda-feira, 26 de outubro de 2015


Se eu desencarnar, farei falta ao centro espírita onde trabalho?
 Escrito por Wellington Balbo
 
Há alguns anos fiz uma reflexão para saber se estou fazendo caridade e para quem eu faço essa caridade.
Iniciei com pergunta simples:
Se eu desencarnar hoje o Movimento Espírita nacional sofrerá algum abalo?
Naturalmente não.
Prossegui:
Se eu desencarnar hoje o Movimento Espírita do estado onde resido sofrerá algum abalo?
Também não.
E a cidade onde moro, será que terá algum impacto no Movimento Espírita da cidade onde moro?
Evidentemente que não.
E quanto ao centro espírita que milito. Será que as atividades sofrerão com a minha ausência?
E a conclusão foi a mesma das respostas anteriores, ou seja, não.
Todo esse trabalho prosseguirá realizando-se com ou sem a minha presença. Portanto, se há algúem beneficiado nisso tudo sou eu. Se faço algo é para mim.  O que ocorre é que,  de uma ou outra forma as pessoas beneficiam-se do bem que fazemos a nós mesmos.
Exato, porque investir nosso precioso tempo nas atividades edificantes realizadas pelas instituições espíritas é um bem que feito a nós mesmos. É, digamos, a autocaridade.
E a ideia acima modifica nossa visão de caridade e, também, do trabalho desenvolvido no centro espírita.
Percebemos que não é o centro espírita que necessita de nós, de nosso empenho, mas, o contrário. Somos nós que, para nosso equilíbrio, necessitamos das atividades que o centro espírita disponibiliza.
O centro espírita é quem nos dá a chance sublime de trabalharmos no plantio do bem.
É o centro espírita nosso grande empregador para que enriqueçamos nosso espírito.
Isso dá-nos oportunidade de desenvolvermos em nós a humildade. Humildade que, aliás, era uma característica de Allan Kardec.
O Codificador chegou a questionar os Espíritos sobre falhar em sua missão. Os missionários de Jesus responderam que o professor Rivail não era insubstituível, e que outro realizaria a sublime tarefa caso Kardec falhasse. Não foi o caso, Kardec venceu. Mas, observe o caro leitor a humildade do codificador em perguntar sobre uma possível falha de sua parte.
Em realidade estamos todos pois nestes mundos de Deus aprendendo que ao servir somos os primeiros beneficiados.
Por isso, proponho uma reflexão:
Você já agradeceu as pessoas que teve oportunidade de ajudar? Já agradeceu aos fundadores das instituições que nos dão emprego no campo do bem?
Em realidade todas as vezes que, de alguma forma somos úteis, devemos elevar nosso preito de gratidão a quem servimos.
Por quê?
Porque são essas pessoas que nos dão emprego no bem. Quando somos úteis, quando servimos alguém, lembremos que o agradecimento deve ser nosso e não do outro. Além de colocar justiça, porque nos dá a oportunidade de servir, livra-nos da amargura de ficar esperando um obrigado ou reconhecimento.
O mesmo ocorre com as instituições espíritas:
São elas que nos proporcionam trabalho e oportunidade de servir.
Agradeçamos, pois…

 

domingo, 25 de outubro de 2015


Sofrerá perseguições


“E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” - Paulo. (II Timóteo, 3:12.)

Incontestavelmente, os códigos de boas maneiras do mundo são sempre respeitáveis, mas é preciso convir que, acima deles, prevalecem os códigos de Jesus, cujos princípios foram por Ele gravados com a própria exemplificação.
O mundo, porém, raramente tolera o código de boas maneiras do Mestre Divino.
Se te sentes ferido e procuras a justiça terrestre, considerar-te-ão homem sensato; contudo, se preferes o silêncio do Grande Injustiçado da Cruz, ser-te-ão lançadas ironias à face.
Se reclamas a remuneração de teus serviços, há leis humanas que te amparam, considerando-te prudente; mas se algo de útil produzes sem exigir recompensa, recordando o Divino Benfeitor, interpretar-te-ão por louco.
Se te defendes contra os maus, fazendo valer as tuas razões, serás categorizado por homem digno; entretanto, se aplicares a humildade e o perdão do Senhor, serás francamente acusado de covarde e desprezível.
Se praticares a exploração individual, disfarçadamente, mobilizando o próximo a serviço de teus interesses passageiros, ser-te-ão atribuídos admiráveis dotes de inteligência e habilidade; todavia, se te dispões ao serviço geral para benefício de todos, por amor a Jesus, considerar-te-ão idiota e servil.
Enquanto ouvires os ditames das leis sociais, dando para receber, fazendo algo por buscar alheia admiração, elogiando para ser elogiado, receberás infinito louvor das criaturas, mas no momento em que, por fidelidade ao Evangelho, fores compelido a tomar atitudes com o Mestre, muita vez com pesados sofrimentos para o teu coração, serás classificado à conta de insensato.
Atende, pois, ao teu ministério onde estiveres, sem qualquer dúvida nesse particular, certo de que, por muito tempo ainda, o discípulo fiel de Jesus, na Terra, sofrerá perseguições.

Francisco Cândido Xavier

 

Vinha de Luz

 

3o livro da Coleção “Fonte Viva”

(Interpretação dos Textos Evangélicos)

 

Ditado pelo Espírito

Emmanuel

 

sábado, 24 de outubro de 2015


O Apelo Divino
Reunidos os componentes habituais do grupo doméstico, o Senhor, de olhos melancólicos e lúcidos, surpreendendo, talvez, alguma nota de oculta revolta no coração dos ouvintes, falou, sublime:

— Amados, quem procura o Sol do Reino Divino há de armar-se de amor para vencer na grande batalha da luz contra as trevas. E para armazenar o amor no coração é indispensável ampliar as fontes da piedade.

Compadeçamo-nos dos príncipes; quem se eleva muito alto, sem apoio seguro, pode experimentar a queda em desfiladeiros tenebrosos.


Ajudemos aos escravos; quem se encontra nos espinheiros do vale pode perder-se na inconformação, antes de subir a montanha redentora.

Auxiliemos a criança; a erva tenra pode ser crestada, antes do sol do meio-dia.

Amparemos o velhinho; nem sempre a noite aparece abençoada de estrelas.

Estendamos mãos fraternas ao criminoso da estrada; o remorso é um vulcão devastador.

Ajudemos aquele que nos parece irrepreensível; há uma justiça infalível, acima dos círculos humanos, e nem sempre quem morre santificado aos olhos das criaturas surge santificado no Céu.

Amparemos quem ensina; os mestres são torturados pelas próprias lições que transmitem aos outros.

Socorramos aquele que aprende; o discípulo que estuda sem proveito, adquire pesada responsabilidade diante do Eterno.


Fortaleçamos quem é bom; na Terra, a ameaça do desânimo paira sobre todos.

Ajudemos o mau; o espírito endurecido pode fazer-se perverso.


Lembremo-nos dos aflitos, abraçando-os, fraternalmente; a dor, quando incompreendida, transforma-se em fogueira de angústia.


Auxiliemos as pessoas felizes; a tempestade costuma surpreender com a morte os viajores desavisados.

A saúde reclama cooperação para não arruinar-se.

A enfermidade precisa remédio para extinguir-se.

A administração pede socorro para não desmandar-se.

A obediência exige concurso amigo para subtrair-se ao desespero.

Enquanto o Reino do Senhor não brilhar no coração e na consciência das criaturas, a Terra será uma escola para os bons, um purgatório para os maus e um hospital doloroso para os doentes de toda sorte.

Sem a lâmpada acesa da compaixão fraternal, é impossível atender à Vontade Divina.

O primeiro passo da perfeição é o entendimento com o auxílio justo...

Interrompeu-se o Mestre, ante os companheiros emudecidos.

E porque os ouvintes se conservassem calados, de olhos marejados de pranto, Ele voltou à palavra, em prece, e suplicou ao Pai luz e socorro, paz e esclarecimento para ricos e pobres, senhores e escravos, sábios e ignorantes, bons e maus, grandes e pequenos...

Quando terminou a rogativa, as brisas do lago se agitaram, harmoniosas e brandas, como se a Natureza as colocasse em movimento na direção do Céu para conduzirem a súplica de Jesus ao Trono do Pai, além das estrelas...
Neio Lúcio
Do livro: Jesus no Lar, Médium: Francisco Cândido Xavier.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015


Desfazendo Acusações


Nas ruidosas campanhas contra o Espiritismo, não raro surge aqueles que acusam os desencarnados através de variados modos.

Por que motivo os Espíritos não descobrem os segredos ocultos da Natureza, atenuando as dificuldades que rodeiam a existência do homem? Porque não escrevem livros técnicos avançados, solucionando os intrincados problemas da Ciência e da Indústria? Como não oferecem recursos para a cura da morféia ou o câncer? Regressando às escalas mais baixas, no pentagrama das inquirições puramente intelectuais, encontramos criaturas perguntando porque não indicamos o local onde se encontra bolsa perdida da senhora M. ou que razão nos leva ao desinteresse pela procura do anel de preço, esquecido no bonde pelo senhor B.


Desconhecendo a Bondade de Deus, o Doador Anônimo do Universo, os escritores orgulhosos afirmam que todas as conquistas da cultura humana são devidas ao pensamento dos vivos, como se as suas declarações se destinassem a ferir a suposta vaidade dos mortos, para que venham disputar com os homens, na aquisição de gloríolas efêmeras.

É preciso considerar, todavia, que se os desencarnados assumissem na Terra o papel de orientadores tangíveis da evolucão, na descoberta de utilidades novas, esses mesmos escritores se revoltariam contra eles, acoimando-os de infratores da lei de liberdade, a invadirem seara alheia. Estejam, porém, tranquilos os nossos amigos do mundo físico, porque ninguém, com bastante esclarecimento, em nosso plano, se sente autorizado a interferir diretamente nas edificações que competem aos missionários, estudiosos e trabalhadores da Terra. A esfera que habitamos agora, se oferece bastante luz à nossa mente, oferece também problemas inúmeros, que precisamos resolver, atendendo às nossas necessidades para a vida eterna. A morte do corpo não se faz acompanhar de estacionamento, no qual seríamos forçados a contemplar os encarnados, nem das delícias do céu ou das torturas do inferno. Somos compelidos por ela a novos caminhos de ascensão, em que o Infinito nos deslumbra. A matéria diferenciada convida-nos a trabalhar em fascinantes enigmas, a evolução apresenta outros aspectos e a universalidade conduz-nos a maravilhosas invenções de felicidade e paz.


O campo de lutas renovadas não nos deixa ensejos à interferência indébita no labor cometido ao homem de carne, e, ainda que as oportunidades nos permitissem a colaboração dessa natureza, não seria lícito subtrair a criatura humana à faculdade de orientação própria, na descoberta de si mesma.


Se o pauperismo e a enfermidade fossem eliminados de vez, possivelmente o orgulho e a vaidade consolidariam o seu império na existência terrestre, encerrando os habitantes do Planeta em grosseira crosta de egoísmo, por milênios inumeráveis, além de cerrar-lhes a visão do panorama universal. Quanto ao serviço de invenções e descobrimentos, a esfera invisível, atendendo aos superiores desígnos de Deus, presta concurso fraternal e indireto às realizações terrenas, mas não impõe inovações espetaculares ao quadro evolutivo das criaturas.


E por falar nos engenhos de que a civilização se enriquece, cada vez mais, é imprescindível considerar que o homem não se pode queixar no tocante às edificações que lhe foram autorizadas pela Providência Divina, importando observar como as utiliza.


Permitiu Deus que a criatura humana recebesse a embarcação a velas: organizou-se então a pirataria do passado; deu-lhe o navio a vapor e armaram-se verdadeiras cidades flutuantes, que atacam as coletividades praieiras sem aviso prévio; conferiu-lhe o Senhor a descoberta da matéria explosiva, para que as montanhas de pedra calçassem a residência aos filhos da Terra e a fim de que as mãos humanas colaborassem na estruturação de uma superfície planetária mais acolhedora e mais bela. Entretanto, fêz-se da conquista preciosa a bomba destruidora que deixa, cair a chuva da morte sobre lares e hospitais inocentes. Concedeu o Altíssimo ao mundo necessitado o trator e o automóvel; em breve, porém, tornavam-nos como padrão para o fabrico de tanques arrasadores que talam as mais humildes ervas do campo. Autorizou o Pai a entrega do telefone sem fio às nações insuladas umas das outras, a fim de que aprendessem a fraternidade legítima; aproveita-se o recurso para a expedição de sinistras mensagens de morte a submarinos criminosos que atacam mulheres e crianças em viagem no mar. Mandou o Doador Divino que o avião fosse entregue aos povos terrestres, facilitando o intercâmbio entre as diversas regiões do Globo e incentivando a solidariedade mundial; todavia, a máquina do ar foi convertida no pássaro do extermínio, ferindo e deformando, matando e destruindo.


Que fez o homem do progresso científico que o Senhor conferiu à Terra, se ele saiu da caverna da idade da pedra, a caminho dos palácios gregos e dos anfiteatros romanos, dos castelos medievais e dos arranha-céus modernistas, regressando, agora, apressadamente, à caverna de cimento armado dos abrigos antiaéreos?


Não formulamos a interrogação como as pessoas atacadas de pessimismo crônico.


Acreditamos sinceramente no mundo melhor, na fraternidade legitima e na paz restaurada.


Queremos responder tão somente aos inquiridores ociosos que indagam, sarcásticos, sobre a atuação dos espíritos desencarnados, no círculo das invenções e descobrimentos, que a Terra tem recebido excessivamente da Bondade de Deus, retribuindo mal a confiança celeste, acrescentando que se eu fosse alguém, com bastante autoridade, rogaria ao Altíssimo interromper o serviço de doação de novos engenhos para o homem terrestre, pelo menos durante mil anos sucessivos, até que ele reconsidere a velha atitude de menosprezo aos bens divinos, crescendo devidamente para a verdadeira compreensão da luz espiritual.

Irmão X

Do livro: Lázaro Redivivo, Médium: Francisco Cândido Xavier

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

MAX, o mendigo

Em 1850, numa vila da Baviera, morreu um velho quase centenário, conhecido por pai Max. Por não possuir família, ninguém lhe determinava a origem. Havia cerca de meio século que se invalidara para ganhar a vida, sem outro recurso além da mendicidade, que ele dissimulava, procurando vender, pelas herdades e castelos, almanaques e outras miudezas. Deram-lhe a alcunha de conde Max, e as crianças o chamavam somente pelo título - circunstância esta que o fazia rir sem agastamento. Por que esse título? Ninguém saberia dizê-lo. O hábito o sancionara. Talvez tivesse provindo da sua fisionomia, das suas maneiras, cuja distinção fazia contraste com a miserabilidade dos andrajos.
Muitos anos depois da morte, Max apareceu em sonho à filha do proprietário de um castelo em cuja estrebaria era outrora hospedado, porque não possuía domicílio próprio. Nessa aparição, disse ele:
 
"Agradeço o terdes lembrado o pobre Max nas vossas preces, porque o Senhor as ouviu. Alma caritativa, que vos interessastes pelo pobre mendigo, já que quereis saber quem sou, vou satisfazer-vos, ministrando, ao mesmo tempo e a todos, um grande ensinamento.
"Há cerca de século e meio era eu um dos ricos e poderosos senhores desta região, porém orgulhoso da minha nobreza. A fortuna imensa, além de só me servir aos prazeres, mal chegava para o jogo, para o deboche, para as orgias, que eram a minha única preocupação na vida.
"Quanto aos vassalos, porque os julgasse animais de trabalho destinados a servir-me, eram espezinhados e oprimidos, para proverem as minhas dissipações. Surdo aos seus queixumes, como em regra também o era com todos os infelizes, julgava eu que eles ainda se deveriam ter por honrados em satisfazer-me os caprichos. Morri cedo, exausto pelos excessos, mas sem ter, de fato, experimentado qualquer desgraça real. Ao contrário, tudo parecia sorrir-me, a ponto de passar por um dos seres mais ditosos do mundo. Tive funerais suntuosos e os boêmios lamentavam a perda do ricaço, mas a verdade é que sobre o meu túmulo nenhuma lágrima se derramou, nenhuma prece por mim se fez a Deus, de coração, enquanto minha memória era amaldiçoada por todos aqueles para cuja miséria contribuíra. Ah! E como é terrível a maldição dos que prejudicamos! Pois essa maldição não deixou de ressoar-me aos ouvidos durante longos anos que me pareceram uma eternidade. Depois, por morte de cada uma das vitimas, era um novo espectro ameaçador ou sarcástico que se erguia diante de mim, a perseguir-me sem tréguas, sem que eu pudesse encontrar um vão esconso onde me furtasse às suas vistas! Nem um olhar amigo!
"Os antigos companheiros de devassidão, infelizes como eu, fugiram, parecendo dizer-me desdenhosos: "Tu não podes mais custear os nossos prazeres." Oh! Então, quanto daria eu por um instante de repouso, por um copo de água para saciar a sede ardente que me devorava! Entretanto eu nada mais possuía, e todo o ouro a jorros derramado sobre a Terra não produzia uma só bênção, uma só que fosse... ouviste, minha filha?!
"Cansado por fim, opresso, qual viajor que não lobriga o termo da jornada, exclamei:
“Meu Deus, tende compaixão de mim! Quando terminará esta situação horrível?" Então uma voz - primeira que ouvi depois de haver deixado a Terra - disse: "Quando quiseres." Que será preciso fazer, grande Deus? - repliquei. Dizei-o, que a tudo me sujeitarei. - "É preciso o arrependimento, é preciso te humilhares perante os mesmos a quem humilhastes; pedir-lhes que intercedam por ti, porque a prece do ofendido que perdoa é sempre agradável ao Senhor." E eu me humilhei, e eu pedi aos meus vassalos e servidores que ali estavam diante de mim, e cujos semblantes, pouco a pouco mais benévolos, acabaram por desaparecer. Isso foi para mim como que uma nova vida; o desespero deu lugar à esperança, enquanto eu agradecia a Deus com todas as forças de minha alma.
"A voz acrescentou: "Príncipe..." ao que respondi: "Não há aqui outro príncipe senão Deus, o Deus Onipotente que humilha os soberbos. Perdoai-me Senhor, porque pequei; e se tal for da vossa vontade, fazei-me servo dos meus servos."
"Alguns anos depois reencarnei numa família de burgueses pobres. Ainda criança perdi meus pais, e fiquei só, no mundo, desamparado. Ganhei a vida como pude, ora como operário, ora como trabalhador de campo, mas sempre honestamente, porque já cria em Deus. Mas aos 40 anos fiquei totalmente paralítico, sendo-me preciso daí por diante mendigar por mais de 50 anos, por essas mesmas terras de que fora o absoluto senhor. Nas herdades que me haviam pertencido, recebia uma migalha de pão, feliz quando por abrigo me davam o teto de uma estrebaria. Ainda por uma acerba ironia do destino, apelidaram-me Sr. Conde... Durante o sono, aprazia-me percorrer esse mesmo castelo onde reinei despoticamente, revendo-me no fausto da minha antiga fortuna! Ao despertar, sentia de tais visões uma impressão de amargura e tristeza, mas nunca uma só queixa se me escapou dos lábios; e quando a Deus aprouve chamar-me, exaltei a sua glória por me haver sustentado com firmeza e resignação numa tão penosa prova, da qual hoje recebo a recompensa. Quanto a vós, minha filha, eu vos bendigo por terdes orado por mim."
Nota - Para este fato pedimos a atenção de todos quantos pretendem que, sem a perspectiva das penas eternas, os homens deixariam de ter um freio às suas paixões Um castigo como este do pai Max será porventura menos profícuo do que essas penas sem-fim, nas quais hoje ninguém acredita?
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. FEB.