sexta-feira, 31 de outubro de 2014


Desajuste Aparente

Há quem afirme que a Doutrina dos Espíritos é viveiro de crentes indisciplinados, pelo excesso das interpretações e pelo arraigado individualismo dos pontos de vista. Outros proclamam que a Nova Revelação desloca a vida mental daqueles que a esposam, compelindo-os à renunciação.


Tais enunciados, porém, não encontram guarida nos fundamentos da verdade.


O Espiritismo, naturalmente, amplia os horizontes do ser.

A visão mais clara do Universo e a mais alta concepção da justiça dilatam na mente a sede de libertação, para mais altos voos do espírito, e a compreensão mais clara, aliando-se à mais viva noção de responsabilidade, estabelece sublimes sentimentos para a alma, renovando os centros de interesse para o campo íntimo, que se vê, de imediato, atraído para problemas que transcendem a experiência vulgar.

Realmente, para quem estima os padrões convencionalistas, com plena adaptação ao menor esforço, não será fácil manejar caracteres livres, nos domínios da fé, porque os desvairamentos da personalidade invariavelmente nos espreitam, tentando-nos a impor sobre outrem o tacão do nosso modo de ser.


Dentro da Nova Revelação, todavia, não há lugar para qualquer processo de cristalização dogmática ou de tirania intelectual.

A imortalidade desvendada convida o homem a afirmar-se e o centro espiritual do aprendiz desloca-se para interesses que transcendem a esfera comum.


As inteligências de todos os tipos, tanto quanto os mundos, gravitam em torno de núcleos de força, que as influenciam sustentam.

O panorama do infinito, descortinado ao homem pelo nosso ideal, atrai o cérebro e o coração para outros poderes, e a criatura encarnada, imperceptivelmente induzida a operar em serviços diferentes, parece desajustada e sedenta, à procura de valores efetivamente importantes para os seus destinos na vida eterna.


As escolas religiosas oficializadas ou organizadas, presas a imperativos de estabilidade econômicas, habitualmente gravitam em derredor da riqueza perecível ou da autoridade temporal da Terra e jazem magnetizadas pela ideia de domínio e influência que, no mundo, facilitam a solidariedade e a união, de vez que a maioria dos espíritos encarnados, ainda cegos para a divina luz, reúnem-se e obedecem alegremente, ao redor do ouro ou do comando sobre os mais fracos.


Mas no Espiritismo é difícil aglutinar caracteres libertados, sob o estandarte nivelador da convenção.


Assim como aconteceu nos trezentos anos que antecederam a escravização política do Evangelho redentor, o discípulo da nossa Doutrina Consoladora pretende encontrar um caminho de acesso à vida superior.


Aceita as facilidades humanas para dar com largueza e desprendimento da posse.

Disputa o contentamento de trabalhar para servir.


Busca a liberdade para submeter-se às obrigações que lhe cabem.

Adquire luz para ajudar na extinção das trevas.


“Está no mundo sem ser do mundo.”


É alguém que, em negando a si mesmo, busca o Mestre da Verdade, recebendo, de boa vontade, a cruz do próprio sacrifício para a jornada de ressurreição.


E demorando-se cada discípulo, em esfera variada de trabalho, observamos que eles todos, à maneira de viajores, peregrinando escada acima, cada qual contemplando a vida e a paisagem do degrau em que se encontra, oferecem o espetáculo de almas em desajuste e extremamente separadas entre si, porquanto os habitantes do vale ou da planície, acostumados aos mesmos quadros de cada dia, com a repetição das mesmas nuances de claridade solar, não conseguem esquecer, de improviso, as velhas atitudes de muito tempo em nem podem entender o roteiro dos que se desinteressam da ilusão, caminhando, em sentido contrário ao deles, ao encontro de outra luz.

Emmanuel

Do livro: Roteiro, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014


Exercício de Compaixão


Se fosses o pedinte agoniado que estende a mão à bondade pública...

Se fosses a mãezinha infeliz, atormentada pelo choro dos filhinhos que desfalecem de fome...


Se fosses a criança que vagueia desprotegida à margem do lar...

Se fosses o pai de família, atribulado, ante a doença e penúria que lhe devastam a casa...


Se fosses o enfermo desamparado, suplicando remédio...


Se fosses a criatura caída em desvalimento, implorando compreensão...

Se fosses o obsidiado, carregando inomináveis suplícios interiores, para desvencilhar-se das trevas...


Se fosses o velhinho atirado às incertezas da rua...


Se fosses o necessitado que te roga socorro, decerto perceberias com mais segurança a função da fraternidade para sustento da vida.


Se estivéssemos no lado da dificuldade maior que a nossa, compreenderíamos, de imediato, o imperativo da caridade incessante e do auxílio mútuo.


Reflitamos nisso. E nós, que nos afeiçoamos a estudos diversos, com vistas à edificação da felicidade e ao aperfeiçoamento do mundo, façamos quanto possível, semelhante exercício de compaixão.

Albino Teixeira

Do livro Caminho Espírita, psicografia de Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014


Trabalhemos Também

“E dizendo: Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões.” — (ATOS, CAPÍTULO 14, VERSÍCULO 15.)



O grito de Paulo e Barnabé ainda repercute entre os aprendizes fiéis.


A família cristã muita vez há desejado perpetuar a ilusão dos habitantes de Listra.


Os missionários da Revelação não possuem privilégios ante o espírito de testemunho pessoal no serviço. As realizações que poderíamos apontar por graça ou prerrogativa especial, nada mais exprimem senão o profundo esforço deles mesmos, no sentido de aprender e aplicar com Jesus.


O Cristo não fundou com a sua doutrina um sistema de deuses e devotos, separados entre si; criou vigoroso organismo de transformação espiritual para o bem supremo, destinado a todos os corações sedentos de luz, amor e verdade.


No Evangelho, vemos Madalena arrastando dolorosos enganos, Paulo perseguindo ideais salvadores, Pedro negando o Divino Amigo, Marcos em luta com as próprias hesitações; entretanto, ainda aí, contemplamos a filha de Magdala, renovada no caminho redentor, o grande perseguidor convertido em arauto da Boa Nova, o discípulo frágil conduzido à glória espiritual e o companheiro vacilante transformado em evangelista da Humanidade inteira.


O Cristianismo é fonte bendita de restauração da alma para Deus.

O mal de muitos aprendizes procede da idolatria a que se entregam, em derredor dos valorosos expoentes da fé viva, que aceitam no sacrifício a verdadeiira fórmula de elevação; imaginam-nos em tronos de fantasia e rojam-se-lhes aos pés, sentindo-se confundidos, inaptos e miseráveis, esquecendo que o Pai concede a todos os filhos as energias necessárias à vitória.

Naturalmente, todos devemos amor e respeito aos grandes vultos do caminho cristão; todavia, por isto mesmo, não podemos olvidar que Paulo e Pedro, como tantos outros, saíram das fraquezas humanas para os dons celestiais e que o Planeta Terreno é uma escola de iluminação, poder e triunfo, sempre que buscamos entender-lhe a grandiosa missão.

Emmanuel

Do livro: Pão Nosso, Médium: Francisco Cândido Xavier.

terça-feira, 28 de outubro de 2014


Hospitais e renovação moral



Explicações do Doutor Bezerra de Menezes sobre os hospitais e seu importante papel na renovação moral da humanidade.

- Os hospitais são núcleos onde a dor física reconduz o espírito do enfermo a reflexões superiores, ajustando-o a novos padrões. Com isso, a transformação para o Bem que não se conseguiu fazer em décadas de saúde pode ser conquistada em algumas semanas de dor que, juntamente com a inspiração dos amigos invisíveis, possibilitará a cirurgia moral do doente através da renovação de conceitos e da modificação de projetos.


Certamente que muitos se permitem a melhoria apenas por alguns dias, enquanto se mantenham vítimas da dor. No entanto, a casa hospitalar na Terra tem sido o jardim da infância da elevação do Espírito. Se este não desejar tornar-se um bom aluno, não poderá, mais tarde, acusar a Providência de não tê-lo ajudado. Além do mais, é no Hospital terreno que a maioria dos enfermos encontra a última pousada antes da volta à vida verdadeira na qual vive seus últimos momentos no corpo denso. Isso também é um fator benéfico que permite ao mundo espiritual auxiliar no preparo adequado de tais transições, naturalmente que levando em consideração as peculiaridades de cada caso e o merecimento do enfermo para o tipo de ajuda que lhe esteja disponível no momento da morte. Por isso, essas casas de dor educativa recebem os eflúvios de Amor diretamente do coração do Cristo. Já os centros educacionais que procuram infundir conceitos elevados nas consciências, são as ferramentas de Deus que a Providência utiliza para tentar corrigir o mal antes que o parque hospitalar precise ser acionado. Através do ensinamento, das lições que são compartilhadas pelas inteligências em crescimento, a Bondade do Pai ampara aqueles que poderão evitar os erros graças aos esclarecimentos que recebam. Professores abnegados, homens e mulheres pouco reconhecidos pela sociedade das aparências são considerados por Deus como os Embaixadores da Nova Era, escultores do Novo Homem, fomentadores de Novos Horizontes de onde podemos considerar, sem qualquer exagero, que um único e devotado professor é encarado pelos Espíritos Superiores, como um verdadeiro CENTRO DE PROFILAXIA, um centro de difusão de medicamentos poderosíssimos para a cauterização de pequenas feridas nascidas da ignorância. Ao espalhar não apenas o saber formal das diversas áreas do conhecimento, mas, igualmente, o bom exemplo a uma juventude cada vez mais desguarnecida de parâmetros de nobreza e de limites para seus comportamentos, ensinando boas maneiras, cultivando a afetividade que os lares têm sido impotentes para transmitir, cada mestre-escola é um enviado de Deus ao campo de batalhas da vida humana. Então, as escolas de todos os níveis onde persistam os ideais no coração de seus dirigentes e trabalhadores são tão importantes quanto os Hospitais, merecendo o amparo sublime das Forças Superiores para que prossigam instigando boas coisas a todos quantos se candidatem à renovação interior, transformando-se em seres humanos mais Humanos.

Ao escutarem tais revelações, os acompanhantes de Bezerra se surpreendiam, diante de conceitos tão superiores externados em frases simples.

Jamais haviam imaginado que hospitais e escolas recebiam do Alto tão elevada catalogação, ainda que não lhes fosse novidade a existência de luminosas entidades em tais ambientes, prestando relevantes serviços de salvação.

Do livro Herdeiros do Novo Mundo, cap. 14, Espírito Lúcius – psicografia de André Luiz Ruiz.

 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014


Desculpar

Procura motivos para desculpar tantos quantos te possam ter ofendido dessa ou daquela forma, com ou sem motivos aparentes, direta ou indiretamente, para que a vitória da paz, e a implantação da harmonia, em torno de teus passos não se demore a estabelecer.

É, certo que, o mal que te possam ter causado sem que “nada tenhas feito por merecer”, estará sendo apreciado cedo ou tarde pelo Tribunal da Justiça Divina, e que, em sendo assim, terás por certo teus direitos reconhecidos e, por conseguinte, quem te houver causado prejuízos de qualquer ordem, arcará, inevitavelmente, com as consequências dos atos e ações, indevidamente relacionados com teu nome.

Mas, como individuo encarnado num planeta de provas e expiações, bem distante da pureza espiritual, como nos informam os Espíritos Superiores, é prudente e até mesmo inteligente, procurar desculpar e esquecer o quanto já te mostres capaz, as possíveis falhas do teu semelhante em relação a ti, pois, do mesmo modo que te utilizar para julgar as palavras, atos e ações de teus irmãos, serás também, medido e pesado, pela Justiça Maior, com os respectivos instrumentos de que tenhas te servido, para que também tu, prestes contas dos teus desatinos frente à contabilidade Celeste.


Procura entender, que nem todos os que nos ofendem ou caluniam, o fazem por maldade, e sim por pura ignorância e, até, por motivos de infortúnio e desespero, a quem precisamos dar nossa cota de contribuição e empenho no socorro que devemos ofertar aos necessitados que nos pedem ajuda e compreensão no dia a dia de nossas vidas, concedendo-nos excelentes oportunidades de desenvolver em nós as virtudes divinas do amor no exercício da verdadeira caridade.


Quem, de nós, em sã consciência, poderá medir ou, sequer avaliar, a extensão das trevas nas mãos que se envolveram em crimes? Quem, de nós, seres humanos estará suficientemente capacitado a tudo, para distinguir toda a extensão da dor e da necessidade que provoca em alguém o desespero e a revolta?

Acautela-te, portanto, ante todo aquele que te possa trazer dissabores ou prejuízos, buscando na oração o combustível da fé e da esperança, desculpando infinitamente a todos, deixando a cargo da Soberana Justiça do Universo o julgamento final e inequívoco, em benefício de todos, e, que em relação a ti, possa garantir paz e tranquilidade para que tua consciência se conserve harmonizada e em cumprimento das sábias e imutáveis Leis de Deus.

Josepha

domingo, 26 de outubro de 2014


Deus é Amor.

Jamais condenes.


Deus é, sobretudo, amor.


Em arena vasta do Plano Espiritual, achava-se um homem desencarnado em julgamento.


O mentor indicado para instruí-lo, quanto ao que lhe cabia fazer, a fim de regenerar-se, passou a encontrar muita dificuldade para desincumbir-se dos próprios encargos.


Acontece que o recinto das advertências fora invadido por enorme turba de acusadores.


Esse apontava o infeliz, na condição de celerado que lhe havia aniquilado a família no mundo; aquele mostrava-lhe os punhos cerrados, prometendo-lhe vingança pelos males de que fora vitima; outro pedia para ele a pior sentença; e outras entidades, incluindo mulheres desventuradas, dirigiam-lhe frases cruéis.


Então, o orientador indagou do réu se não lembrava, por si mesmo, algum bem que havia feito. Não teria, porventura, auxiliado em favor de alguma criança perdida ou amparado a essa ou aquela viúva sem ninguém? Nunca se aproximara de um mendigo doente, buscando reduzir-lhe as necessidades? Acaso, não haveria socorrido algum animal apedrejado ou protegido alguma fonte?


O infortunado companheiro revelou ansiedade e amargura nos olhos, a engolirem as próprias lágrimas, e respondeu pela negativa, confessando ainda que impusera a morte a sua própria mãe, com certeira punhalada, de modo a furtar-lhe as ultimas jóias escondidas num jirau.


Foi aí que a massa de escarnecedores se desmandou em gritaria.

O mentor recomendou mais ordem novamente e já se preparava a solicitar o parecer de orientadores domiciliados em planos mais altos, quando nobre mulher, de aparência simples, mas nimbada de luz, penetrou o salão e explicou-se em alta voz:


- Senhor juiz, manda a verdade seja dita que este homem proporcionou imensa alegria a uma filha de Deus, assim que todos somos. Ele foi a esperança e o sonho, a felicidade e a força que lhe acalentaram a vida...


- Ainda assim – ponderou o magistrado – terá ele de amargar longo período de provas, encarcerado num corpo disforme, entre as criaturas da Terra.


Ela, porém, aclarou com humildade:


- Compreendo que a justiça deve exercer-se, em auxilio a nós todos. Essa mulher, no entanto, o abençoará e acompanhará seja onde for... Lutará por ele e chorara de dor e de alegria, até que a beleza com que Deus o criou lhe brilhe na face por bendita luz....


O Juiz, admirado, volto a perguntar-lhe:


- Senhora, quem sois vós que defendeis assim um celerado?


A dama não declinou a própria condição, mas encaminhou-se para o réu, abraçou-o e beijou-lhe o rosto de que os demais se afastavam com asco... Em seguida, ergueu a fronte e, contemplando a assembléia espantada, proclamou enternecida:

- Declaro, perante Deus, que ele é meu filho.

Meimei

Do livro: Deus Aguarda, Médium: Francisco Cândido Xavier.

sábado, 25 de outubro de 2014


Elevação Espiritual

A elevação espiritual não se nos incorpora à vida;

nem pela prosperidade;

nem pela carência;

nem pelo renome;

nem pela obscuridade;

nem pela cultura intelectual;

nem pela insipiência;

nem pela autoridade humana;

nem pela condição de subalternidade;

nem pelo ajustamento à vida considerada normal;

nem pelos conflitos psicológicos que se carregue;

nem pelos amigos;

nem pelos adversários

nem pelo apoio do elogio;

nem pelo desapreço da injúria.

A elevação íntima depende unicamente de nossa reação pessoal ao aceitar e usar para o bem tudo isso.

Albino Teixeira

quarta-feira, 22 de outubro de 2014


Amparo à Criança

Se nos propomos a edificar o futuro com o Cristo de Deus é necessário auxiliar a criança.


Se desejamos solucionar os problemas do mundo, de maneira definitiva, é indispensável ajudar a criança.


Se buscamos sustentar a dignidade humana, abolindo a perturbação e imunizando o povo contra as calamidades da delinquência, é preciso proteger a criança.


Se anelamos a construção da Era Nova, na qual as criaturas entrelacem as mãos na verdadeira fraternidade, em bases de serviço e sublimação espiritual, é imprescindível socorrer a criança.


Entretanto convenhamos que os grandes malfeitores da Terra, os fazedores de guerras e os verdugos das nações, via de regra foram crianças primorosamente resguardadas contra quaisquer provações na infância. E ainda hoje os jovens transviados habitualmente procedem de climas domésticos em que a abastança material não lhes proporcionou ensejo a qualquer disciplina, pelo conforto excessivo.
Urge, pois, não só amparar a criança, mas educar a criança e induzi-la ao esforço de construção do Mundo Melhor.

Batuira

terça-feira, 21 de outubro de 2014


Coisas Mínimas

Pouca gente conhece a importância da boa execução das coisas mínimas. 


Há homens que, com falsa superioridade, zombam das tarefas humildes, como se não fossem imprescindíveis ao êxito dos trabalhos de maior envergadura. Um sábio não pode esquecer-se de que, um dia, necessitou aprender com as letras simples do alfabeto.


Além disso, nenhuma obra é perfeita se as particularidades não forem devidamente consideradas e compreendidas.


De modo geral, o homem está sempre fascinado pelas situações de grande evidência, pelos destinos dramáticos e empolgantes.


Destacar-se, entretanto, exige muitos cuidados. Os espinhos também se destacam, as pedras salientam-se na estrada comum.


Convém, desse modo, atender as coisas mínimas da senda que Deus nos reservou, para que a nossa ação se fixe com real proveito à vida.


A sinfonia estará perturbada se faltou uma nota, o poema é obscuro quando omite um verso.


Estejamos zelosos pelas coisas pequeninas. São parte integrante e inalienável dos grandes feitos. Compreendendo a importância disso, o Mestre nos interroga no Evangelho de Lucas: “Pois se nem podeis ainda fazer as coisas mínimas, porque estais ansiosos pelas outras?”

Emmanuel

segunda-feira, 20 de outubro de 2014


Perdas

Efetivamente, em algumas ocasiões, teremos sofrido prejuízos grandes, por determinação de ocorrências ou pessoas.

Convém perguntar, porém, quantas vezes fomos furtados por nós mesmos, através do nosso hábito de adiar.

Diante do bem por fazer, quantas vezes teremos dito:


“Será melhor amanhã?”


Alguém feriu a você?


Alguém lhe delapidou patrimônios ou direitos adquiridos?


Não se irrite.


Concentre-se as energias de que dispõe na reconstrução dos próprios recursos e observará o refazimento, em mais alto nível, de todos os bens que lhe perecem perdidos.


Deus trabalha no íntimo da vida.


Em silêncio.


Em paz.

André Luiz

sábado, 18 de outubro de 2014


A Última Tentação

Dizem que Jesus, na hora extrema, começou a procurar os discípulos, no seio da agitada multidão que lhe cercava o madeiro, em busca de algum olhar amigo em que pudesse reconfortar o espírito atribulado...

Contemplou, em silêncio, a turba enfurecida.


Fustigado pelas vibrações de ódio e crueldade, qual se devera morrer, sedento e em chagas, sob um montão de espinhos, começou a lembrar os afeiçoados e seguidores da véspera...


Onde estariam seus laços amorosos da Galiléia?...


Recordou o primeiro contato com os pescadores do lago e chorou.


A saudade amargurava-lhe o coração.


Por que motivo Simão Pedro fora tão frágil? Que fizera ele, Jesus, para merecer a negação do companheiro a quem mais se confiara?


Que razões teriam levado Judas a esquecê-lo? Como entregara, assim, ao preço de míseras moedas, o coração que o amava tanto?


Onde se refugiara Tiago, em cuja presença tanto se comprazia?

Sentiu profunda saudade de Filipe e Bartolomeu, e desejou escutá-los.

Rememorou suas conversações com Mateus e refletiu quão doce lhe seria poder abraçar o inteligente funcionário de Cafarnaum, de encontro ao peito...


De reminiscência a reminiscência, teve fome da ternura e da confiança das criancinhas galiléias que lhe ouviam a palavra, deslumbradas e felizes, mas os meninos simples e humildes que o amavam perdiam-se, agora, à distância...


Recordou Zebedeu e suspirou por acolher-se-lhe à casa singela.


João, o amigo abnegado, achava-se ali mesmo, em terrível desapontamento, mas precisava socorro para sustentar Maria, a angustiada Mãe, ao pé da cruz.


O Mestre desejava alguém que o ajudasse, de perto, em cujo carinho conseguisse encontrar um apoio e uma esperança...


Foi quando viu levantar-se, dentre a multidão desvairada e cega, alguém que ele, de pronto, reconheceu.


Era a mesmo Espírito perverso que o tentara no deserto, no pináculo do templo e no cimo do monte.


O Gênio da Sombra, de rosto enigmático, abeirou-se dele e murmurou:

– Amaldiçoa, os teus amigos ingratos e dar-te-ei o reino do mundo! Proclama a fraqueza dos teus irmãos de ideal, a fim de que a justiça te reconheça a grandeza angélica e descerás, triunfante, da cruz!... Dize que os teus amigos são covardes e duros, impassíveis e traidores e unir-te-ei aos poderosos da Terra para que domines todas as consciências. Tu sabes que, diante de Deus, eles não passara de míseros desertores...


Jesus escutou, com expressiva mudez, mas o pranto manou-lhe mais intensamente da olhar translúcido.


– Sim – pensava –, Pedro negara-o, mas não por maldade. A fragilidade do apóstolo podia ser comparada à ternura de uma oliveira nascente que, com os dias, se transforma no tronco robusto e nobre, a desafiar a implacável visita dos anos. Judas entregara-o, mas não por má-fé. Iludira-se com a política farisaica e julgara poder substituí-lo com vantagem nos negócios do povo.


Encontrou, no imo dalma, a necessária justificação para todos e parecia esforçar-se por dizer o que lhe subia do coração.


Ansioso, o Espírito das Trevas aguardava-lhe a pronúncia, mas o Cordeiro de Deus, fixando os olhos no céu inflamado de luz, rogou em tom inesquecível:


– Perdoa-lhes, Pai! Eles não sabem o que fazem!...


O Príncipe das Sombras retirou-se apressado.


Nesse instante, porém, ao invés de deter-se na contemplação de Jerusalém dominada de impiedade e loucura, o Senhor notou que o firmamento rasgara-se, de alto a baixo, e viu que os anjos iam e vinham, tecendo de estrelas e flores o caminho que o conduziria ao Trono Celeste.


Uma paz indefinível e soberana estampara-se-lhe no semblante.


O Mestre vencera a última tentação e seguiria, agora, radiante e vitorioso, para a claridade sublime da ressurreição eterna.

Irmão X

Do livro: Contos e Apólogos, Médium: Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014


Fala Amparando

Quando estiveres a ponto de condenar alguém, lembra-te de ti mesmo.


Quantas vezes terás ferido, quando te propunhas auxiliar? 


Muitos daqueles que povoam as penitenciárias, dariam a própria vida para que o tempo recuasse, propiciando-lhes ensejo de se fazerem vítimas ao invés de verdugos... 


Prefeririam cegueira e mudez no instante de vazarem a acusação ou extrema paralisia na hora da violência.

E qual acontece aos irmãos segregados no cárcere, quantas criaturas carregam enfermidade e frustração nas grades mentais do arrependimento tardio? 

Trajam-se em figurino recente e conservam a bolsa farta, mas, por dentro trazem desencanto e remorso por fogo e cinza no coração. 

Supõem-se livres, no entanto, jazem presas, intimamente, na cela da angústia em que enjaularam a própria alma, por não haverem calado a frase cruel no momento oportuno...

Poderiam ter evitado o desastre moral que lhes dói na lembrança, contudo, por se acomodarem à impaciência, atearam o incêndio que resultou em loucura e destruição.

Não sirvas vinagre a fel à mesa da própria vida. 


Onde surpreendas perturbação e sombra estende o socorro da paz e o benefício da luz. 


Compadece-te dos ingratos e desertores, quanto te condóis dos que passam sob teus olhos, mutilados e infelizes. 


Ninguém praticaria o mal se, antes, lhe conhecesse o fruto amargoso.

Compreendamos para que sejamos compreendidos.


Agora, talvez, poderás censurar os erros dos semelhantes. 


Amanhã, porém, mendigarás o perdão dos outros pelos teus desatinos.

Entrega a aflição de cada dia ao silêncio de cada noite. 


Lembra-te de que, por maiores tenham sido os desregramentos da Humanidade na Terra, o Céu nunca fez coleções de nuvens para amaldiçoar ou punir, mas sim, cada manhã, acende o brilho solar por mensagem bendita de tolerância e de amor, endereçando aos homens a esperança infatigável de Deus.

Meimei

quarta-feira, 15 de outubro de 2014


Kardec e os Detratores
Comumente encontrarmos, aqui e ali, ferrenhos opositores dos postulados espíritas. Embebidos de um forte sentimento de repulsa, lançam mão de diversos argumentos para afirmarem que o Espiritismo é "coisa" do demônio, para pessoas leigas, de gente "bitolada". De modo agressivo, tentam dissuadir-nos da crença na reencarnação, na mediunidade, na multiplicidade de mundos habitados...

Muitas vezes nos ofendemos com tais pessoas e sentimos um forte desejo de sair em defesa, criticando-lhes os pontos de vista, os absurdos bíblicos, o materialismo cego, o egocentrismo desmedido e tantas fórmulas esdrúxulas de que se utilizam. Todavia, procedendo assim longe estaremos de nos diferenciarmos desses irmãos, assumindo postura semelhante.

Nesses momentos de descontentamento, a figura do Mestre Lionês deve ser o nosso exemplo.

Sempre procurado por diverso tipo de pessoas e submetido a toda sorte de perguntas, nunca se exacerbou, deixando que o descontrole dele tomasse conta.

Quando percebia no questionador o propósito único de depreciar a imagem da Doutrina, argumentava, ponderado, que nenhum interesse tinha em submeter-se aos seus caprichos, pois o objetivo do Espiritismo não é criar prosélitos, mas sim, levar aqueles de crença sincera a buscarem o melhor para si próprios. Embora muitos fossem homens de notável cultura, não se preocupava em convencê-los, compreendendo as necessidades de cada um e respeitando as suas convicções.

Ao sentir no opositor um fanático religioso, ouvia-o com atenção e em momento algum lançava mão de argumentos ofensivos, respondendo a contento as perguntas propostas e esclarecendo ao interlocutor os pontos doutrinários espíritas, sempre brando e enérgico, nunca agressivo e submisso.

Se buscado por aqueles que nada tinham contra a Doutrina e que se imbuíam de um desejo verdadeiro de aprender, com a mesma paciência e disposição prestava esclarecimentos e, caso solicitado, encaminhava estes a um estudo mais sério e detido das manifestações, levando-os à compreensão que ele mesmo já havia logrado.

Portanto, se pretendemos a defesa doutrinária do Espiritismo, a única forma de não sucumbirmos é seguir as pegadas de Kardec. Ao invés de retribuirmos a ofensa com o desequilíbrio, devemos ser firmes em realçar as verdades espíritas sem, contudo, condenar as "verdades" que esta ou aquela pessoa queira nos impor, deixando que o tempo se encarregue de fazê-las enxergar seus equívocos.

E, caso não nos seja suficiente toda essa argumentação, ouçamos o próprio Allan Kardec a dizer: "Quando uma coisa é má, todos os elogios não a tornarão boa. Se o Espiritismo é um erro, ele cairá por si mesmo; se é uma verdade, todas as diatribes não farão dele uma mentira." (O Que é o Espiritismo, cap. I, pág. 16, ed. IDE).
Pedro Camilo

terça-feira, 14 de outubro de 2014


No Começo das Tarefas

Cultive brevidade e precisão, em seu noticiário, sem cair na secura.

Uma carta é um retrato espiritual de quem a escreve.

Cuidaremos de escrita bem traçada, porquanto não nos será lícito transformar os amigos em decifradores de hieróglifos.

Não escrever cartas em momentos de crise ou de excitação.

Sempre que possível, as nossas notícias devem ser mensageiras de paz e otimismo, esperança e alegria.

Escreva construindo.

Uma carta que saia de seu punho é você conversando.

Qualquer assunto pode ser tratado com altura e benevolência.

Quando você não possa grafar boas referências, em relação à determinada pessoa, vale mais silenciar quanto a ela.


Somos responsáveis pelas imagens que criamos na mente dos outros, não apenas através do que falarmos, mas igualmente através de tudo aquilo que escrevermos.

André Luiz