A LEI DO TRABALHO
Os caminhos da evolução no nível humano são ciência e trabalho. Para preparar o reino do espírito é indispensável, antes, transformar a Terra, para que as construções superiores tenham suas bases em continuidade. É necessário, antes de pensar no progresso futuro, amadurecer o progresso presente. Maravilhoso é vosso dinamismo trabalhador e criador, não o tomeis, todavia, como meta absoluta, como tipo definitivo e completo de vida, mas apenas como meio para atingir um estado mais distante e algo superior. Aprendei a ver seus pontos fracos e a querer superá-los, porque neles também estão as culpas, os males e as dores que vos afligem. Admirai e, acima de tudo, aperfeiçoai; mas não tomeis a sério demais vossa civilização mecânica, que vos prepara um amanhã bem triste se não "completar-se” pelos caminhos do espírito. Não é inútil, mesmo praticamente, conhecer o universo, sua lei, a linha do destino, as forças do bem e do mal que nele agem, corrigi-las, dominar a dor e as provas para a própria felicidade numa vida sem limites. Aceitai o trabalho e a ciência, mas colocai-os no nível que lhes compete: o de apenas arar o campo em que deverá florescer um jardim. Mesmo o tipo médio terá de esperar sua ascensão e preparar-se para as super construções sutis do espírito. Vosso dinamismo violento exprime vosso tipo dominante, vosso trabalho de criação nos níveis mais baixos da vida humana é apenas a base do grande edifício, cujo vértice se perde no céu.
Se o trabalho, tal como o entendeis, transforma a terra, não modifica, porém, o homem. O homem é o valor máximo, o centro dinâmico que sempre retorna. É a fase de consciência alcançada, a matriz de todas as construções futuras. Não basta criar o ambiente, indispensável agir também no âmago e criar o homem. Vossa atividade humana ilumina-se, então, com luz interior; valoriza-se com significado imensamente mais alto. Vossa mentalidade utilitária fez do trabalho uma condenação, transformastes o dom divino de plasmar o mundo à vossa imagem num tormento insaciável de posse. A lei “do ut des” (Dou para que tu dês), que impera no mundo econômico, fez do trabalho uma forma de luta e uma tentativa de furto. É uma dor que pesa sobre vós, mas isso é justo e cabível, porque exprime exatamente o que sois e o que mereceis. Todos os vossos males são devidos à vossa imperfeição social e à vossa impotência de saber fazer melhor.
Por isso, tantos males, como a guerra, são ocasionados pelo que sois e pelo que eles são, inevitáveis, até que vos transformeis. O trabalho não é uma necessidade econômica, mas uma necessidade moral. Ao conceito de trabalho econômico tem que substituir-se o de trabalho função-social. Direi mais: função biológica construtora. Tem a função de criar novos órgãos exteriores (a máquina), expressão do psiquismo; a função de fixar, com a repetição constante, os automatismos (sempre escola construtora de aptidões); a tarefa de coordenar o indivíduo no funcionamento orgânico da sociedade. Ao conceito limitadíssimo, egoísta e socialmente danoso, de trabalho-lucro, é preciso substituir o conceito de trabalho-dever e de trabalho-missão. Isto é um encaminhamento ao altruísmo, não um altruísmo sentimental e desordenado mas prático e ponderado, cujas vantagens são calculadas. Dado o tipo humano dominante, o altruísmo só pode nascer como utilidade coletiva. Utilidade que, pela lei do menor esforço, coloca-o, inexoravelmente, na linha da evolução. Limitar o trabalho, mesmo material, com a única finalidade egoísta do lucro, é diminuir-se, abdicando da consciência do próprio valor de que o trabalho é prova e confirmação; é um mutilar-se, uma renúncia à função de célula social, de construtor, que por menor que seja, tem seu lugar no funcionamento orgânico do universo.
Concebei o trabalho como instrumento de construção eterna, mas cujo fruto vos pertence, em forma de capacidade conquistada para a eternidade e não como lucro de vantagens imediatas e caducas. A verdadeira recompensa está em vosso valor, que o trabalho cria e mantém; não vos pode ser roubado. Amai o trabalho como disciplina do espírito, como escola de ascensões, como absoluta necessidade da vida, correspondente aos imperativos supremos da Lei, que impõe vosso progresso mediante vosso esforço. Ele dará um sentido de seriedade, de dever, de responsabilidade perante a vida, fazendo dela um campo de exercícios, ao invés de um carnaval de gozadores; evitará o espetáculo de tantas leviandades que insultam o pobre; dará alto valor ao dinheiro que deve ter sabor de esforço e que é o único honesto.
Assim, o trabalho não é uma condenação social dos deserdados, mas um dever de todos, a que não é lícito fugir. Na minha ética é imoral quem se subtrai à própria função social de colaborar no organismo coletivo, em que cada um tem de estar em seu posto de combate. O ócio não é lícito, mesmo se permitido pelas condições econômicas. Esta é a moral mais baixa “do ut des”. Moral selvagem que tendes de ultrapassar. Assim, não é apenas por dever social, mas também por si mesmo; para não morrer, pois, o espírito deve nutrir-se cada dia de atividades; cada dia reconstruir-se, realizando-se no mundo da ação. Parar além do repouso indispensável é culpa de lesa-evolução. Quem vadia rouba à sociedade e a si mesmo. O novo mandamento é: trabalhar.
Estas são as bases do mundo econômico do futuro, em que urge introduzir os conceitos morais de função e de coordenação de atividades. Em nenhum campo se pode ser agnóstico, amoral, espiritualmente ausente, numa sociedade consciente, orgânica e decidida a progredir. Só assim se eliminará tanto atrito inútil, de classes; tantos antagonismos de indivíduos e de povos. É necessário formar esta nova consciência de trabalho, porque só então ele se elevará à função social, à coordenação solidária (colaboracionismo) de forças sociais. Os conceitos do velho mundo econômico são absolutamente insuficientes. Temos que purificar a propriedade, tornando-a filha do trabalho. É necessário consolidar e não demolir essa instituição, reforçando-a nas bases, no momento da formação, que deve corresponder de modo absoluto a um princípio de equidade.
Em minha ética, rouba aquele que, por vias transversas, pouco importa se legais, acumula rapidamente, enriquecendo de um golpe; rouba quem vive de bens hereditários, no ócio; rouba quem não dá à sociedade todo o rendimento de sua capacidade. Para evitar esses males, temos que cortar o mal pela raiz, que está na alma humana. Este o primeiro passo a dar no campo das ascensões humanas: fazer um homem que saiba quem é, qual é seu dever, qual sua meta na Terra e na eternidade; um homem que se mova não no círculo estreito de um separatismo egoísta, mas num mundo de colaborações sociais e universais; um homem mais evoluído, que saiba acrescentar às suas aspirações materiais, as mais poderosas, de caráter espiritual; que faça do trabalho não uma condenação, mas um ato de valor e de conquista. Se ao retrocedermos no passado, o trabalho era posição de vencido e de escravo, ao contrário, ao progredirmos no futuro, mais o trabalho se tornará ato nobre de domínio e de elevação.
Eis o que vos aguarda no futuro. O progresso científico e mecânico iniciou novo ciclo de civilização. As forças naturais serão dominadas e submetidas, e o homem, tornando-se verdadeiramente rei do planeta, aí assumirá a direção das forças da matéria e da vida. As civilizações futuras vos imporão um regime de coordenação e de consciência, na qual se valorizará grandemente o tão depreciado valor moral e psíquico, fator fundamental para um ser que, em plena responsabilidade e conhecimento das consequências, terá que assumir a função de central psíquica, em torno da qual girarão, não mais o presente estado de luta e de anarquia, mas todas as forças do planeta, em perfeito funcionamento orgânico.
A luta presente é viva, porque é ativo o esforço que tende à construção das novas harmonias. A ciência se espiritualizará. Exaurida sua função utilitária, ultrapassará aquele seu caráter, adquirindo valor moral e metas espirituais. A sutilização dos meios de pesquisa levar-vos-á, inevitavelmente, ao contato com essa mais profunda realidade do imponderável. A ética será um fato demonstrável, portanto, obrigatório para qualquer ser racional. Não será mais lícita a inconsciência do egoísmo, do vício, do mal, que tantas dores semeia em vossa vida. A evolução vos aperta e constrange fatalmente de todos os lados; vosso irrequieto dinamismo já trabalha vivamente para isso. A beleza do futuro será, sobretudo, o funcionamento harmônico de vosso mundo; vosso progresso será uma conquista de ordem, que vos harmonizará com a ordem reinante no universo. A matéria que completou seu ciclo de vida, atingiu o estado de ordem no universo astronômico; também o espírito, que hoje está para vós no período das primeiras formações caóticas, realizará a fase de ordem tanto mais quanto mais avançar no ciclo da vida.
Esperam-vos: ascensão e dilatação do concebível, transformações de consciência para dimensões superiores e contatos com os mais inexplorados ângulos do universo e campos de conhecimento. Deus se aproximará de vós, em vossa concepção, e o sentireis cada vez mais presente, cósmico, surpreendente. Vós, fundidos em Sua ordem, sereis muito mais felizes que hoje. Esse será o prêmio de vosso esforço.
Extraído do livro "A Grande Síntese", de Pietro Ubaldi.
Título do original Italiano
La Grande Sintesi
Copyright by
Fraternidade Francisco de Assis
18ª Edição — 1997
(Revista pela Fraternidade Francisco de Assis)
Assim, o trabalho não é uma condenação social dos deserdados, mas um dever de todos, a que não é lícito fugir. |
Concebei o trabalho como instrumento de construção eterna, mas cujo fruto vos pertence, em forma de capacidade conquistada para a eternidade e não como lucro de vantagens imediatas e caducas. |
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