terça-feira, 30 de novembro de 2010

A missão do Brasil



A missão do Brasil
Richard Simonetti

As comemorações da proclamação da República, em 15 de novembro, evocam o “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Como admitir essa revelação diante da corrupção quase institucionalizada, a violência urbana, a escalada dos vícios, a dissolução dos costumes e a exclusão social que afetam considerável parcela da população?

É preciso levar em conta que não se trata de um decreto divino, mas de uma proposta do Cristo, conforme a informação do Espírito Humberto de Campos, em psicografia de Chico Xavier, no livro que leva esse título proclamatório. Sua realização depende dos brasileiros. Podemos fracassar, como fracassaram outras nações, como destaca Emmanuel no livro A Caminho da Luz, em psicografia do mesmo Chico.

O Espiritismo, além de informação dessa natureza, tem uma contribuição em favor da missão do Brasil?

Sem dúvida, a partir da bandeira desfraldada por Allan Kardec na máxima Fora da Caridade não há Salvação. A caridade é o antídoto do egoísmo, sentimento gerador de todos os males citados na pergunta anterior. Se vencermos o egoísmo, realizaremos tranquilamente essa proposta grandiosa.

Poderíamos situar os espíritas como um novo sal da terra?

Sim, a favorecer o tempero da fraternidade, com a edificação de obras sociais espíritas, onde se cultiva espírito de serviço, onde se trabalha pelo bem de todos. Poderíamos resumir a temática espírita em favor de um mundo melhor numa única palavra: participação. Na medida em que há participação, multiplicam-se creches, hospitais, albergues, escolas, lares da infância e da velhice, que divulgam pelo exemplo o verbo renovador do Espiritismo, demonstrando que somente se estivermos dispostos a participar, vendo no serviço prestado ao próximo a única ponte para a felicidade autêntica, estaremos a caminho de um mundo melhor.

Quais seriam os grandes desafios a serem vencidos pelo movimento espírita nesse mister?

São dois a meu ver. O primeiro é o desafio das sombras. Lembro a afirmativa famosa de Paulo, contida na Epístola aos Efésios (6:12), segundo a qual teremos que lutar contra os príncipes e as potestades do mal, contra Espíritos que se infiltram nas instituições devotadas ao Bem, comprometendo os trabalhadores de tal forma que acabam abandonando as suas tarefas.

O que fazem esses Espíritos?

Diz Humberto de Campos, numa crônica famosa, Bichinhos, psicografada por Chico Xavier, que esses Espíritos estimulam a inveja e o ciúme, a incompreensão e a suspeita. Explica: Quando o “disse-me-disse” invade uma instituição, o demônio da intriga se incumbe de toldar a água viva do entendimento e da harmonia, aniquilando todas as sementes divinas do trabalho digno e do aperfeiçoamento espiritual. E acentua: Dentro de minha nova condição, apenas conheço um remédio: nossa adaptação individual e coletiva à prática real do Evangelho do Cristo. Contra os corrosivos bichinhos do egoísmo degradante, usemos os antissépticos da Boa Nova.

E o segundo desafio?

É o da moralização, pelo combate a antigas tendências à irresponsabilidade que caracterizam considerável parcela da população brasileira, em iniciativas que a sabedoria popular denomina o jeitinho brasileiro. Esse jeitinho quase sempre é uma mentira, um infringir regulamentos.

Como vencer esse desafio?

Com o empenho de não fazer nada, absolutamente nada passível de levar prejuízos ao próximo, o que está implícito na recomendação de Jesus de que devemos fazer ao próximo o bem que desejamos para nós.

Não estaremos em prejuízo numa sociedade onde todos querem levar vantagem?

Se Jesus pensasse assim, não teríamos o Evangelho, onde ele demonstra, com a clareza do exemplo, que se queremos eliminar o mal, é preciso praticar o Bem; se queremos eliminar as sombras, é preciso fazer luz; se desejamos acabar com a corrupção, é preciso que não a exercitemos em circunstância alguma, a partir de infrações aparentemente insignificantes, como furar fila, estacionar em lugar proibido, sonegar impostos, mentir para tirar vantagem…

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