segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


De Caminho em Caminho
Segue fazendo o bem.

Provavelmente, não te faltarão espinhos e pedras.
Pedras, no entanto, servem nas construções e espinhos lembram rosas.

Não percas a oportunidade de auxiliar.

Se alguém te lança entraves à marcha, não te vincules à idéia do 
mal.

Reflete na Bondade de Deus e caminha.

Não acuses a ninguém.

Compadece-te e age amparando.

Quem te pareça no erro, unicamente haverá estragado em si mesmo o 
sonho de amor e aperfeiçoamento com que nasceu. 

Não gastes tempo, medindo obstáculos ou lastimando ocorrências infelizes.

Ouve as frases do 
bem que te induzem à frente e esquece tudo aquilo que se te representa por apelo à desistência ou desânimo.

Alguns dos minutos das horas de que disponhas, investidos no reconforto aos irmãos emparedados no sofrimento, ser-te-ão contados por créditos de 
alegria e de paz.

Sê a coragem dos que esmorecem e a consolação dos que perdem a esperança.

Onde encontres a presença da sombra, acende a luz da renovação.

Quando alguém te fale em tribulações do presente, destaca as possibilidades do futuro.

Aos irmãos que te exponham pre
juízos de agora, aponta as vantagens que virão.

Estende a própria 
alma na dádiva que fizeres.
De tudo quanto ouças e vejas, fales ou faças, prevalece tão somente o 
amor que puseres nas próprias manifestações.

Se percebes a vizinhança da tempestade, não te esqueças de que acima das nuvens reina o 
céu azul.
E se te reconheces, dentro da noite, conserva a segurança de tua 
, recordando sempre de que o amanhã trará um novo alvorecer.

Meimei

·         Médium: Francisco Cândido Xavier


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018


Comércio e Intercâmbio

O Comércio é também uma escola de fraternidade. Realmente, carecemos da atenção do vendedor, mas o vendedor espera de nós a mesma atitude.

Diante de balconistas fatigados ou irritadiços, reflitamos nas provações que, indubitavelmente, os constrange nas retaguardas da família ou do lar, sem negar-lhes consideração e carinho.

A pessoa que se revela mal-humorada, em seus contatos públicos, provavelmente carrega um fardo pesado de inquietação e doença.

Abrir caminho, à força de encontrões, não é só deselegância, mas igualmente lastimável descortesia.

Dar passagem aos outros, em primeiro lugar, seja no elevador ou no coletivo, é uma forma de expressar entendimento e bondade humana.

Aprender a pedir um favor aos que trabalham em repartições, armazéns, lojas ou bares, é obrigação.

Evitar anedotário chulo ou depreciativo, reconhecendo-se que as palavras criam imagens e as imagens patrocinam ações.

Zombaria ou irritação complicam situações sem resolver os problemas.

Quando se sinta no dever de reclamar, não faça de seu verbo instrumento de agressão.

O erro ou o engano dos outros talvez fossem nossos se estivéssemos nas circunstâncias dos outros.

Afabilidade é caridade no trato pessoal.


André Luiz, do livro Sinal Verde, psicografia de Chico Xavier.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018


SE FOSSE UM HOMEM DE BEM, TERIA MORRIDO.

22. Falando de um homem mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: “Se fosse um homem bom, teria morrido.” Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais daquele axioma, não suspeitais de que proferis uma blasfêmia.

Se morre um homem de bem, cujo vizinho é mau homem, logo observais: “Antes fosse este.” Enunciais uma enormidade, porquanto aquele que parte concluiu a sua tarefa e o que fica talvez não haja principiado a sua. Por que, então, haveríeis de querer que ao mau faltasse tempo para terminá-la e que o outro permanecesse preso à gleba terrestre? Que diríeis se um prisioneiro, que cumpriu a sentença contra ele pronunciada, fosse conservado no cárcere, ao mesmo tempo que restituíssem à liberdade um que a esta não tivesse direito? Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na Terra, estareis em cativeiro.

Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira.

 – Fénelon. (Sens, 1861.)
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS - CAPÍTULO V
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – ALLAN KARDEC

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018


Jesus e Dificuldade
“... Não se vos turbe o coração...”. JESUS (JOÃO, 14:27)

Jesus nunca prometeu aos discípulos qualquer isenção de dificuldades, mas com frequência reclamava-lhes o coração para a confiança.


No cenáculo, descerrando, afetuoso, o coração para os aprendizes, dentre muitas palavras de esperança e de amor, asseverou com firmeza: - “Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.


Pacificava o ânimo dos companheiros timoratos, entre quatro paredes, sabendo que, em derredor, se agigantava a trama das sombras.


Lá fora, Judas era atraído aos conchavos da deserção; sacerdotes confabulavam com escribas e fariseus sobre o melhor processo de enganarem o povo, para que o povo pedisse a morte d’Ele; agentes do Sinédrio penetravam pequenos agrupamentos de rua açulando contra Ele as forças da opinião; perseguidores desencarnados excitavam o cérebro dos guardas que o deteriam no cárcere, e, quantos Lhe seguiam a atividade, regurgitando ódio gratuito, prelibavam-Lhe o suplício...


Jesus, percuciente, não desconhecia a conspiração das trevas...


Entretanto, lúcido e calmo, findo o entendimento com os irmãos de apostolado, dirige-se à oração no jardim, para, além da oração, confiar-se aos testemunhos supremos...


Não procures, assim fugir à luta que te afere o valor.

Aceita os desafios da senda, como quem se reconhece chamado a batalhar pela vitória do bem, com a obrigação permanente de extinguir o mal em nós mesmos.


E não apeles para o Senhor como advogado da fuga calculada ao dever.


Lembra o Mestre que a ninguém prometeu avenidas de sonho e horizontes azuis na Terra, mas, sim, convicto de que a tempestade das contradições humanas não poupariam nem a Ele próprio, advertiu-nos, sensatamente:


- “Não se vos turbe o coração”.

Emmanuel

Do livro: Palavras de Vida Eterna, Médium: Francisco Cândido Xavier.

domingo, 23 de dezembro de 2018


1
Respeito os estudos sobre o Apocalipse, mas não tenho largueza de pensamento para interpretar o Apocalipse como determinados técnicos o interpretam e situam.
Mas, acima do próprio Apocalipse, eu creio na bondade eterna do Criador que nos insuflou de vida imortal. Então, acima de todos os Apocalipses, eu creio em Deus e na imortalidade humana, e essas duas realidades preponderarão em qualquer tempo da humanidade.


2
Dentro da visão espírita-cristã, céu, inferno e purgatório começam dentro de nós mesmos. A alegria do bem praticado é o alicerce do céu. A má intenção já é um piso para o purgatório e o mal devidamente efetuado, positivado, já é o remorso que é o princípio do inferno.


3
Acreditamos que para melhores esclarecimentos sobre médiuns e mediunidade, as obras de Allan Kardec devem ser consultadas e estudadas. Com todo o nosso respeito aos entrevistadores, devemos dizer que solicitar de nós uma explicação sobre Deus é o mesmo que pedir a um verme para que se pronuncie quanto à glória e a natureza do Sol, embora o verme, se pudesse falar, diria, com toda a certeza, da veneração e do amor que consagra ao Sol que lhe garante a vida.


4
Agora, o problema no Brasil, pessoalmente, opinião minha, o que deveria ser faceado pela comunidade brasileira como um dos problemas mais sérios é o problema do trabalho. O amor ao trabalho e a fidelidade ao cumprimento do dever. Se nós todos trabalharmos, se carpirmos a terra, se construirmos, se lidarmos com a pedra, com o barro, com a sementeira, com os fios; se tecermos; se todos nós nos unirmos para criar valores em nosso benefício, a pobreza deixará de existir.


5
Não posso julgar os companheiros que sintam receio da mediunidade, porque a minha mediunidade realmente começou muito cedo, eu não tive oportunidade de sentir medo, isso para mim começou em criança em minha vida, e passou a fazer parte de minha existência atual.


6
Eu penso com aquela assertiva do nosso André Luiz, que é um mentor que nós respeitamos, se cada um de nós consertar de dentro o que está desajustado, tudo por fora estará certo.

EMMANUEL

livro ”PALAVRAS DE CHICO XAVIER”


FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

sábado, 22 de dezembro de 2018


Ato de Gratidão

A minha gratidão franca e profunda
É tudo o que te oferto, alma querida,
No doce regozijo que me inunda,
Por todo o amparo que me deste à vida.

Notaste a provação em meus caminhos
E estendeste-me as mãos ternas e generosas,
Como quem faz do chavascal de espinhos
Um tapete de rosas.

Nada olvidaste para o meu alento...
Seguindo a minha dor de cada dia,
Trouxeste, com grandeza, à penúria que enfrento,
Proteção e agasalho, assistência e alegria.

Enxugaste-me o pranto da tristeza,
Em tua própria fé que me avigora,
Recordando em minh’alma a luz acesa,
Quando a sombra se esvai ao contato da aurora.

Fizeste mais... Quiseste, junto a mim,
O júbilo constante em presença dourada,
Com carícias de fonte e encantos de jardim
Para quem me partilhe as fadigas da estrada.

A fim de renovar-me o pensamento imerso
No turbilhão de fel que tanta vez me alcança,
Falaste-me de amor, ante as Leis do Universo,
Elevando-me o ser às bênçãos da esperança.

Por tudo te agradeço, alma formosa e amiga,
Nos empeços e pedras que transponho,
Encontro em ti o apoio que me abriga,
A bondade em resposta às ânsias de meu sonho...

Mas acima de tudo, a ti me entrego,
Na extrema gratidão, por onde vou,
Porque entendes as lutas que carrego
E aceitaste-me a vida como eu sou.

CAMINHOS DO AMOR

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
MARIA DOLORES

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018


HORA DO NATAL

Glória a Deus!...
Paz na Terra e bondade entre os homens!...
Natal!...
Brilha Natal em júbilo divino!...
Luzes, vozes e mãos, enlaçando-se em prece, cânticos de afeição, renovando o destino!...
Mas ouve, coração...
Enquanto a mesa farta lembra extenso jardim que te acena e sorri, enquanto a fé te envolve o teto em reconforto, não digas que Jesus não precisa de ti.
O Excelso Benfeitor, cujo amparo louvamos, ilumina-Te o passo e aguarda-Te, inda agora, para estender no mundo as fontes da alegria, para lenir a dor da multidão que chora!...
Escuta!...
Rente a nós, lá fora, há muita gente, em plena solidão, entregue à ventania, há quem contemple o céu, mendigando consolo, quem suporte a penúria exposta à noite fria. Quantos rogam debalde o afeto que perderam, quantos gritam na estrada em desespero vão!...
Orfandade, viuvez, desalento, amargura, rebeldia, abandono, angústia, privação...
Alguém te bate à porta e te repete o nome!... Desce para ajudar, da altura a que elevas..
Como outrora, Jesus vem buscar-te a bondade e Te pede socorro aos que vagam nas trevas.
Traze aos irmãos em sombra o apoio e a simpatia, que os arranquem do fel e soergam do pó. O sorriso, uma flor, um bolo, o braço amigo, um gesto de ternura, uma palavra só. Quanto possas, esparze a bênção da esperança, que suprima a tristeza e a revolta na Terra. Sê a força do bem que enalteça o caminho, o auxílio de quem sofre, o perdão a quem erra...
Natal!...
Em meio à festa, as emoções te afligem, sentes fome de luz, anseias regressar à pureza da infância, às promessas da escola, às primeiras canções no refúgio do lar!...
É a verdade mostrando a própria singeleza, nas trilhas de ascensão em celeste esplendor!...
É a paz do Céu que nos abraça a vida, a presença do criador e a vitória do amor!...
Pelo Espírito Maria Dolores.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Preito de Amor. Lição nº 06. Página 29.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018


A Oferenda Cristã

Antigamente, a fé exibia nos templos as vísceras fumegantes dos animais mortos, quando não imolava o sangue humano para aliciar a simpatia dos gênios inferiores categorizados à conta de anjos e deuses, nos santuários primitivistas.
Espetáculos deprimentes desdobravam-se diante do altar, gerando o temor e a superstição que orientavam a magia vulgar.
Evoluída a fé, o incenso e a mirra, as essências e os perfumes substituíram as ofertas sanguinolentas, modificando o culto exterior e amenizando os costumes.
Com Jesus, entretanto, as oferendas da fé são justas e expressivas.
O discípulo do Evangelho é convidado a imolar a si mesmo, nas áreas da renúncia pelo bem dos semelhantes, afim de que a Terra se faça o templo do Amor Divino.
Com Cristo, não mais oblatas de sangue e lágrimas, nem dádivas de prata e ouro...
Não mais o ceticismo da ignorância, nem a exaltação de interesses mesquinhos, mas, sim o próprio coração do aprendiz erguido ao trabalho da felicidade comum, em bases no próprio aperfeiçoamento.
Se pretendes trazer ao Mestre o feito de teu caminho, recorda que o Cristo não deseja adoradores de sua figura excelsa, mas, artífices e servidores da Boa Nova que saibam calar auxiliando, amar com desprendimento e servir sem repouso, porque somente nesse culto íntimo de afetuoso devotamento, é que conseguiremos, em verdade, comungar-lhe, hoje e sempre, a edificação do Reino de Amor e Luz.

EMMANUEL - CONSTRUÇÃO DO AMOR - FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018


A resposta celeste

Solicitando Bartolomeu esclarecimentos quanto às respostas do Alto às súplicas dos homens, respondeu Jesus para elucidação geral:

— Antigo instrutor dos Mandamentos Divinos ia em missão da Verdade Celeste, de uma aldeia para outra, profundamente distanciadas entre si, fazendo-se acompanhar de um cão amigo, quando anoiteceu, sem que lhe fosse possível prever o número de milhas que o separavam do destino.

Reparando que a solidão em plena Natureza era medonha, orou, implorando a proteção do Eterno Pai, e seguiu.

Noite fechada e sem luar, percebeu a existência de larga e confortadora cova, à margem da trilha em que avançava, e acariciando o animal que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se e dormir. Começou a instalar-se, pacientemente, mas espessa nuvem de moscas vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o a retomar o caminho.

O ancião continuou a jornada, quando se lhe deparou volumoso riacho, num trecho em que a estrada se bifurcava. Ponte rústica oferecia passagem pela via principal, e, além dela, a terra parecia sedutora, porque, mesmo envolvida na sombra noturna, semelhava-se a extenso lençol branco.

O santo pregador pretendia ganhar a outra margem, arrastando o companheiro obediente, quando a ponte se desligou das bases, estalando e abatendo-se por inteiro.

Sem recursos, agora, para a travessia, o velhinho seguiu pelo outro rumo, e, encontrando robusta árvore, ramalhosa e acolhedora, pensou em abrigar-se, convenientemente, porque o firmamento anunciava a tempestade pelos trovões longínquos. O vegetal respeitável oferecia asilo fascinante e seguro no próprio tronco aberto. Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar tão forte que o tronco vigoroso caiu, partido, sem remissão.

Exposto então à chuva, o peregrino movimentou-se para diante.

Depois de aproximadamente duas milhas, encontrou um casebre rural, mostrando doce luz por dentro, e suspirou aliviado.

Bateu à porta. O homem ríspido que veio atender foi claro na negativa, alegando que o sítio não recebia visitas à noite e que não lhe era permitido acolher pessoas estranhas.

Por mais que chorasse e rogasse, o pregador foi constrangido a seguir além.

Acomodou-se, como pôde, debaixo do temporal, nas cercanias da casinhola campestre; no entanto, a breve espaço, notou que o cão, aterrado pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar, perdendo-se nas trevas.

O velho, agora sozinho, chorou angustiado, acreditando-Se esquecido por Deus e passou a noite ao relento. Alta madrugada, ouviu gritos e palavrões indistintos, sem poder precisar de onde partiam.

Intrigado, esperou o alvorecer e, quando o Sol ressurgiu resplandecente, ausentou-se do esconderijo, vindo a saber, por intermédio de camponeses aflitos, que uma quadrilha de ladrões pilhara a choupana onde lhe fora negado o asilo, assassinando os moradores.

Repentina luz espiritual aflorou-lhe na mente.

Compreendeu que a Bondade Divina o livrara dos malfeitores e que, afastando dele o cão que uivava, lhe garantira a tranqüilidade do pouso.

Informando-Se de que seguia em trilho oposto à localidade do destino, empreendeu a marcha de regresso, para retificar a viagem, e, junto à ponte rompida, foi esclarecido por um lavrador de que a terra branca, do outro lado, não passava de pântano traiçoeiro, em que muitos viajores imprevidentes haviam sucumbido.

O velho agradeceu o salvamento que o Pai lhe enviara e, quando alcançou a árvore tombada, um rapazinho observou-lhe que o tronco, dantes acolhedor, era conhecido covil de lobos.

Muito grato ao Senhor que tão milagrosa-mente o ajudara, procurou a cova onde tentara repouso e nela encontrou um ninho de perigosas serpentes.

Endereçando infinito reconhecimento ao Céu pelas expressões de variado socorro que não soubera entender, de pronto, prosseguiu adiante, são e salvo, para desempenho de sua tarefa.

Nesse ponto da curiosa narrativa, o Mestre fitou Bartolomeu demoradamente e terminou:

— O Pai ouve sempre as nossas rogativas, mas é preciso discernimento para compreender as respostas dEle e aproveitá-las.

JESUS NO LAR

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
DITADO PELO ESPÍRITO NEIO LÚCIO

terça-feira, 18 de dezembro de 2018


Avarentos

Triste pai desencarnado compareceu na Sala de Auxílio e rogou ao nobre instrutor que presidia costumeira reunião:
- Devotado amigo, tenho ainda na Terra dois filhos, em plena madureza, e suplico autorização a fim de amparar, mais seguidamente, um deles, que me parece à beira de queda iminente.
E, ante a benévola expressão do dignatário sublime, o requerente continuou:
- Ignorante dos princípios de causa e efeito, meu Leocádio ajuntou milhões, fazendo-se proprietário de imensa fortuna. É um sovina desditoso, a movimentar-se entre cofres recheados e assentamentos de banco, preciosidades e jóias. Coração dantes generoso, ressecou-se com o tempo. Nele vejo agora usurário cruel... Em casa, transformou-se em doido varrido. Esqueceu-se de que a esposa lhe merece carinho, de que os filhos, ainda jovens, precisam educação; se reclamam, dá-lhes dinheiro farto para que lhe não perturbem as reflexões aparentemente tranquilas, nas quais se deleita em pesadelos dourados. Não consegue mentalizar outra coisa que não seja fazendas e terras, moedas e cadernetas bancárias. E ao mesmo tempo que mostra prodigalidade exagerada, ao pé da família, fora do ambiente doméstico, não dá tostão a ninguém. É um verdugo dos empregados que o servem, fiscalizando panelas e armários... Nos favores que presta, cobra tributo alto, e, nas compras que realiza, pechincha tudo... Em matéria de fé religiosa, aceita qualquer interpretação, desde que ninguém lhe censure o desvairado apego à finança, que se lhe erige agora no pensamento por ídolo irremovível.
Inquietando-se, diante do silêncio com que era observado, rematou, súplice:
- Juiz amorável, dá-me permissão para seguir, passo a passo, o meu pobre filho que a paixão do dinheiro transfigurou em alienado mental!
Porque o peticionário se interrompesse, chocado pela emoção, perguntou o mentor:
- Se te pronuncias, na condição de pai de dois filhos, é natural que te refiras ao outro.
- O outro? disse o interessado, entremostrando larga esperança – o outro é Levindo, caráter ilibado, irrepreensível. Desde a mocidade, é um gênio de gabinete. Há precisamente quarenta anos, não tem outra preocupação que não seja estudar os filósofos e os cientistas da Humanidade. Vive cercado de prateleiras, em que se alinham documentos de milenária importância. Lê Platão no Grego puro e decifra os códigos egípcios com uma habilidade que nada tem a invejar Champollion. Conhece as religiões com admirável senso crítico. Responde com precisão a todas as consultas que se lhe formulem, quanto às civilizações antigas e novas...
Diante da pausa que surgiu, espontânea, o emissário da Esfera Superior indagou, presto:
- Que faz ela com tamanho cabedal de cultura?
- Meu filho basta a si próprio – informou o genitor, entre orgulhoso e tranqüilo.
E o ajuste continuou:
- É professor com muitos discípulos?
- Não se trata de um professor, mas de um sábio.
- Não ensina, porém, o que sabe, nem mesmo alfabetiza esse ou aquele irmão necessitado de escola?
- Ele não necessita trabalhar para o próprio sustento.
- Mesmo assim, não se dedica, por espírito de serviço, a colaborar nas atividades de alguma instituição de beneficência?
- Sinceramente, não. Guarda a índole de quem é devotado à paz de si mesmo e não suporta as complicações do povo.
- Não adota crianças, de modo a plasmar-lhes os sentimentos pelos padrões de vida superior?
- Não tolera a ingratidão e teme perfilhar hoje meninos que amanhã lhe furtem a segurança...
- Não escreve nem fala em público para instruir os semelhantes e consolá-los?
- De maneira nenhuma. Não se anima a descer da altura intelectual em que vive para rentear com aqueles que, decerto, o levariam ao desprimor pela discussão... Vive só, figurando-se-me um astro luminescente, mas absolutamente incompreendido na Terra...
O representante da excelsa justiça meditou por alguns momentos e, como quem não podia perder tempo, resumiu o conselho, asseverando:
- Reconsidera a solicitação, meu amigo. Ambos os teus filhos são avarentos, necessitados do Socorro Divino; entretanto, o usurário escravizado ao ouro surpreende no próprio dinheiro um excitante à provação e ao trabalho. Ainda que deseje repousar nos teres e haveres que retém, não encontrará, na abastança material, senão motivo a incessantes suplícios. Conhecerá mais cedo a verdade, por viver em contato mais direto com a hipocrisia. Estará em luta constante para segurar a fortuna que amontoou, sofrendo aflição e desconfiança entre os melhores amigos, e, tão logo desencarne, experimentará desilusões terríveis, seguindo, agoniando, as ambições de muitos dos familiares que lhe disputarão os despojos nos tribunais, à feição de milhafres sobre o corpo da presa. Desencantado e sofredor, ele próprio suplicará a reencarnação, apressadamente, a fim de olvidar os antigos enganos e reparar os próprios erros. Mas o teu filho supostamente sábio é sovina da alma, ameaçado de solidão e desequilíbrio, por muitos séculos, de vez que atravessa os dias sem proveito para ninguém. Insulado no orgulho e na vaidade de saber e fugindo à felicidade e a obrigação de servir, lembra ele o poço de águas ricas e cristalinas que, por isolado e inútil, acaba verminado de podridão em si mesmo...
E, ante o pai assombrado, o juiz terminou:
- Ampara o teu filho atormentado, na Terra, pela usura da posse; no entanto, não te esqueças de que a avareza da inteligência que enlouquece o outro é muito pior.
IRMÃO X

RELATOS DA VIDA

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018


A exaltação da cortesia

À frente da multidão de sofredores e desalentados, relacionou o Mestre às bem-aventuranças, destacando, com ênfase, a declaração de que os mansos herdariam a Terra.

A afirmativa, porém, soou entre os discípulos de maneira menos agradável.

Tal asserção não seria encorajamento à ociosidade mental?

Se o Evangelho reclamava espíritos valorosos na sementeira das verdades renovadoras, como acomodar a promessa com a necessidade do destemor? Se o mal era atrevido e contundente, em todos os climas e posições, como estabelecer o triunfo inadiável do bem através da incapacidade de reagir, embora pacificamente?

Nessas interrogações imprecisas, reuniu-se a assembléia familiar no domicilio de Pedro.

Iniciados os comentários edificantes da noite, entreolhavam-se os discípulos entre a indagação e a curiosidade.

O Divino Amigo parecia perceber os motivos da expectação, em torno, mas esperava, sereno, que os seguidores se pronunciassem.

Foi então que Judas, rompendo o véu de respeito que aureolava a presença do Mestre, inquiriu, loquaz:

— Senhor, por que atribuíste aos mansos a posse final da Terra? Os corações acovardados gozarão de semelhante bênção? Os incapazes de testemunhar a fé, nos momentos graves de luta e sacrifício, serão igualmente bem-aventurados?

Jesus não respondeu, de imediato.

Vagueou o olhar, através dos circunstantes, como a pedir-lhes a exposição de quaisquer dúvidas que lhes povoassem a alma.

Pedro cobrou ânimo e perguntou:

— Sim, Mestre: se um malfeitor visitar-me a casa, não devo recordar-lhe os imperativos do acatamento recíproco? entregar-me-ei sem qualquer admoestação fraternal aos seus delituosos caprichos, a pretexto de guardar a mansidão a que te referiste?

O Cristo sorriu, como tantas vezes, e enunciou, calmo:

— Enganaram-se todos, naturalmente. Eu não fiz o elogio da preguiça, que se mascara de humildade, nem da covardia que se veste de cordura para melhor acomodar-se às conveniências humanas. As criaturas que se afeiçoam a semelhantes artifícios sofrerão duramente os instrumentos espirituais de que o mundo se utiliza para reajustar os caracteres tortuosos e indecisos. Exaltei, na realidade, a cortesia de que somos credores uns dos outros. Bem-aventurados os homens de trato ameno que sabem usar a energia construtiva entre o gesto de bondade e o verbo da compreensão! Bem-aventurados os filhos do equilíbrio e da gentileza que aprendem a negar o mal, sem ferir o irmão ignorante que o solicita sem saber o que pede! Abençoados os que repetem mil vezes a mesma lição, sem alarde, para que o próximo lhes aproveite a influenciação na felicidade justa de todos! Bem-aventurados aqueles que sabem tratar o rico e o pobre, o sábio e o inculto, o bom e o mau, com espírito de serviço e entendimento, dando a cada um, de conformidade com os seus méritos e necessidades e deixando os sinais de melhoria, de elevação, bem-estar e contentamento por onde cruzam! Em verdade vos digo que a eles pertencerá o domínio espiritual da Terra, porque todo aquele que acolhe os semelhantes, dentro das normas do amor e do respeito, é senhor dos corações que se aperfeiçoam no mundo!

Alívio e alegria transbordaram do ânimo geral e, de olhos fitos, agora, nas águas imensas do grande lago, o Senhor pediu a Mateus encerrasse o fraterno entendimento da noite, pronunciando uma prece.

NEIO LÚCIO

domingo, 16 de dezembro de 2018


A receita da felicidade

Tadeu, que era dos comentaristas mais inflamados, no culto da Boa Nova, em casa de Pedro, entusiasmara-se na reunião, relacionando os imperativos da felicidade humana e clamando contra os dominadores de Roma e contra os rabinos do Sinédrio.

Tocado de indisfarçável revolta, dissertou largamente sobre a discórdia e o sofrimento reinantes no povo, situando-lhes a causa nas deficiências políticas da época, e, depois que expendeu várias considerações preciosas, em torno do assunto, Jesus perguntou-lhe:

— Tadeu, como interpreta você a felicidade?

— Senhor, a felicidade é a paz de todos.

O Cristo estampou significativa expressão fisionômica e ponderou:

— Sim, Tadeu, isto não desconheço; entretanto, estimaria saber como se sentiria você realmente feliz.

O discípulo, com algum acanhamento, enunciou:

— Mestre, suponho que atingiria a suprema tranquilidade se pudesse alcançar a compreensão dos outros.

Desejo, para esse fim, que o próximo me não despreze as intenções nobres e puras.

Sei que erro, muitas vezes, porque sou humano; entretanto, ficaria contente se aqueles que convivem comigo me reconhecessem o sincero propósito de acertar.

Respiraria abençoado júbilo se pudesse confiar em meus semelhantes, deles recebendo a justa consideração de que me sinta credor, em face da elevação de meu ideal.

Suspiro pelo respeito de todos, para que eu possa trabalhar sem impedimentos.

Regozijar-me-ia se a maledicência me esquecesse.

Vivo na expectativa da cordialidade alheia e julgo que o mundo seria um paraíso se as pessoas da estrada comum se tratassem de acordo com o meu anseio honesto de ser acatado pelos demais.

A indiferença e a calúnia doem-me no coração.

Creio que o sarcasmo e a suspeita foram organizados pelos Espíritos das trevas, para tormento das criaturas.

A impiedade é um fel quando dirigida contra mim, a maldade é um fantasma de dor quando se põe ao meu encontro.

Em razão de tudo isso, sentir-me-ia venturoso se os meus parentes, afeiçoados e conterrâneos me buscassem, não pelo que aparento ser nas imperfeições do corpo, mas pelo conteúdo de boa-vontade que presumo conservar em minha alma.

Acima de tudo. Senhor, estaria sumamente satisfeito se quantos peregrinam comigo me concedessem direito de experimentar livremente o meu gênero de felicidade pessoal, desde que me sinta aprovado pelo código do bem, no campo de minha consciência, sem ironias e críticas descabidas.

Resumindo, Mestre, eu queria ser compreendido, respeitado e estimado por todos, embora não seja, ainda, o modelo de perfeição que o Céu espera de mim, com o abençoado concurso da dor e do tempo.

Calou-se o apóstolo e esboçou-se, na sala singela, incontido movimento de curiosidade ante a opinião que o Cristo adotaria.

Alguns dos companheiros esperavam que o Amigo Celeste usasse o verbo em comprida dissertação, mas o Mestre fixou os olhos muito límpidos no discípulo e falou com franqueza e doçura:

— Tadeu, se você procura, então, a alegria e a felicidade do mundo inteiro, proceda para com os outros, como deseja que os outros procedam para com você. E caminhando cada homem nessa mesma norma, muito breve estenderemos na Terra as glórias do Paraíso.

JESUS NO LAR

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
DITADO PELO ESPÍRITO NEIO LÚCIO