quinta-feira, 2 de junho de 2011

Saudade

Manoel Bastos Tigre

Saudade



Saudade – palavra doce,


Que traduz tanto amargor,


Saudade é como se fosse


Espinho cheirando a flor.



Saudade – ventura ausente,


Um bem que longe se vê,


Uma dor que o peito sente,


Sem saber como e porquê.



Um desejo de estar perto,


De quem está longe de nós;


Um ai que não sei ao certo


Se é um suspiro ou uma voz.



Um sorriso de tristesa,


Um soluço de alegria,


O suplício da incerteza


Que uma esperança alivia.



Nessas três sílabas há de


Caber toda uma canção,


Bendita a dor da saudade


Que faz bem ao coração.



Um longo olhar que se lança


Numa carta ou numa flor;



Saudade, irmã da esperança,


Saudade, filha do amor.



Uma palavra tão breve,


Mas tão longe de sentir!


E há tanta gente que a escreve


E a não sabe traduzir.



Gosto amargo de infelizes


Foi como a chamou Garret;


Coração calado, dizes


Num suspiro o que ela é.



A palavra é bem pequena,


Mas diz tanto, de uma vez!


Por ela valeu a pena


Inventar-se o português.



Saudade – um suspiro, uma ânsia,


Uma vontade de ver


A quem nos vê, a distância,


Com olhos de bem querer.



A saudade é calculada,


Por algarismos também:


Distância multiplicada,


Pelo fator – querer bem.



A alma gela-se de tédio,


Enchem-se os olhos de ardor.


Saudade – dor que é remédio


Remédio que aumenta a dor!.


Manoel Bastos Tigre
(1882-1957)

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