Manoel Bastos Tigre |
Saudade
Saudade – palavra doce,
Que traduz tanto amargor,
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.
Saudade – ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente,
Sem saber como e porquê.
Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.
Um sorriso de tristesa,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.
Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção,
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.
Um longo olhar que se lança
Numa carta ou numa flor;
Saudade, irmã da esperança,
Saudade, filha do amor.
Uma palavra tão breve,
Mas tão longe de sentir!
E há tanta gente que a escreve
E a não sabe traduzir.
Gosto amargo de infelizes
Foi como a chamou Garret;
Coração calado, dizes
Num suspiro o que ela é.
A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto, de uma vez!
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê, a distância,
Com olhos de bem querer.
A saudade é calculada,
Por algarismos também:
Distância multiplicada,
Pelo fator – querer bem.
A alma gela-se de tédio,
Enchem-se os olhos de ardor.
Saudade – dor que é remédio
Remédio que aumenta a dor!.
Manoel Bastos Tigre
(1882-1957)
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