sexta-feira, 10 de junho de 2011

Estudar e viver integralmente o Espiritismo...

Divaldo Franco

Estudar e viver integralmente o Espiritismo...



Divaldo Pereira Franco é entrevistado sobre os 150 Anos de "O Livro dos Espíritos" e os 60 Anos de seu trabalho na difusão do Espiritismo, e faz comentários acerca do Movimento Espírita no Brasil e no Exterior.


Reformador: Qual o impacto que "O Livro dos Espíritos" provocou em sua vida?

Divaldo: Quando fui orientado pelo Espírito Manuel Vianna de Carvalho, a ler “O Livro dos Espíritos”, no ano de 1946, ele me informou que, através do estudo dessa obra básica do Espiritismo, eu encontraria os elementos fundamentais para tornar-me espiritista. O seu desconhecimento, embora eu fosse médium, não me credenciava à compreensão da finalidade da existência terrena, do destino, dos sofrimentos, da imortalidade. Li-o, pois, uma, duas, diversas vezes (e continuo estudando-o), fascinando-me com os seus ensinamentos, com a lógica das questões – perguntas, respostas, e os comentários do Codificador – desde o primeiro momento, o que resultou numa real modificação de metas em minha atual existência. Sem o conhecimento dessa obra excepcional, eu continuaria tropeçando nas sombras da ignorância e da perturbação, comprometendo-me com o erro cada vez mais.



Reformador: Quais foram suas primeiras atuações espíritas no Brasil e no Exterior?



Divaldo: Em a noite de 27 de março de 1947, na União Espírita Sergipana, em Aracaju, proferi a primeira palestra espírita desta minha existência carnal. No dia imediato, por solicitação do então presidente da mesma, José Martins Peralva Sobrinho, pronunciei a segunda, a fim de atender ao público que acorreu àquela nobre Instituição. Em seqüência, viajei ao interior do Estado da Bahia, dando prosseguimento ao compromisso espontaneamente assumido. Em março de 1948, viajei a Belo Horizonte, onde pronunciei diversas conferências. A primeira palestra fora do Brasil foi em Buenos Aires, na Confederación Espiritista Argentina, a convite da Federación Espiritista Juvenil Argentina, dirigida por Juan Antonio Durante, no mês de novembro de 1962. No ano seguinte, estive em Montevidéu, a convite da Sociedad Espírita hacia la Verdad, quando proferi a primeira palestra no Uruguai. Posteriormente, estive em Assunção, no Paraguai, havendo visitado até este momento 59 países dos cinco continentes.







Reformador: Qual avaliação ou lição que destaca em seus 60 anos de labor na difusão do Espiritismo?



Divaldo: Fazendo uma análise evocativa das atividades desenvolvidas nestes sessenta anos de dedicação à Doutrina Espírita e sua vivência, constato que poderia haver produzido muito mais. Nada obstante, considerando as circunstâncias de cada período, verifico haver-me desincumbido do compromisso moral que assumi espontaneamente, com o melhor de mim mesmo. Eram muito mais difíceis as viagens, o acesso aos veículos de comunicação de massa, a conquista dos auditórios leigos. Sendo funcionário autárquico, vinculado ao Instituto de Previdência e Assistência do Estado (IPASE ), somente dispunha dos fins de semana, dos feriados, das férias, que aplicava no atendimento aos convites que me eram formulados. Em diversas cidades do Brasil e de inúmeros países, tive a honra de proferir publicamente palestras espíritas em meios hostis, enfrentando regimes totalitários, como em Portugal e Espanha, situações de beligerância, como no Panamá e Venezuela. Constato que venho realizando o que me é possível até o limite das forças, conforme o sábio conceito do egrégio Codificador. Tenho conseguido resistir a muitos embates, a acusações de toda ordem, a agressões morais e físicas, ao descaso e à zombaria, a perseguições sistemáticas, sem que jamais haja revidado ou me permitido o luxo de defesa. Em silêncio, e tentando fazer o melhor ao meu alcance, sigo adiante, buscando o Guia e Modelo da Humanidade, que foi plantado numa cruz, e o eminente mestre Allan Kardec, que pagou altíssimo preço pela coragem de ser fiel à tarefa que lhe foi concedida, conforme narra em Obras Póstumas, quando analisa o primeiro decênio após a publicação de O Livro dos Espíritos, em admirável nota de rodapé ao seu diálogo com o Espírito Verdade acerca de sua missão.







Compreendi, desde cedo, que a dedicação a uma causa do relevo do Espiritismo, além de ser honra que considero não merecer, é um desafio às forças do Mal que conspiram contra o Bem na Terra. Nunca, porém, têm me faltado o apoio, a dedicação e o carinho dos Benfeitores espirituais e de amigos especiais que são mais do que irmãos. Assim, nunca desanimei, prosseguindo com imensa alegria na lavoura do Senhor.



Reformador: Como analisa os 150 Anos da Doutrina Espírita?



Divaldo: Este período que medeia entre a data do surgimento do Espiritismo no mundo, em 18 de abril de 1857, e a atualidade, confirma a excelência da Doutrina que os guias da Humanidade trouxeram à Terra e da qual Allan Kardec se fez o Codificador. Isto porque, embora as relevantes conquistas do pensamento científico, filosófico e tecnológico houvessem alcançado patamares jamais dantes imaginados, nenhum dos seus ensinamentos foi ultrapassado, nenhum dos seus paradigmas sofreu qualquer alteração, antes, pelo contrário, os seus postulados têm recebido confirmação dos mais diferentes ramos do conhecimento, mantendo-se perfeitamente atuais. O Espiritismo tem podido avançar com as doutrinas científicas e filosóficas que nele encontram as explicações necessárias para a perfeita compreensão dos fenômenos que vêm estudando.



Reformador: A que fatores atribui a ampla disseminação do Espiritismo em nosso país?



Divaldo: Inicialmente, à destinação histórica reservada ao Brasil, na condição de Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, na feliz imagem ditada pelo Espírito Humberto de Campos, através do venerando apóstolo da mediunidade Francisco Cândido Xavier. Depois, às personagens ilustres e nobres que o abraçaram no século XIX e no seguinte, dentre os quais, Dr. Bezerra de Menezes, Ewerton Quadros, Bittencourt Sampaio, para citar apenas alguns dentre os incontáveis servidores de Jesus, nesse período, seguidos por médiuns notáveis como Frederico Júnior, Eurípedes Barsanulfo, Francisco Cândido Xavier, Zilda Gama, Yvonne do Amaral Pereira, os inesquecíveis conferencistas Manuel Vianna de Carvalho, Ivon Costa, Lameira de Andrade, Batuíra, Cairbar Schutel, dentre outros eminentes divulgadores e escritores tais como Deolindo Amorim, José Herculano Pires, Carlos Imbassahy, Ismael Gomes Braga, Leopoldo Machado, investigadores da talha de Hernani Guimarães Andrade...as obras de amor, de caridade e de iluminação de consciências, que têm sido erguidas em todo o País, confirmando o seu caráter cristão e dignificador.



Reformador: E no Exterior, como avalia a difusão do Espiritismo?



Divaldo: Felizmente, fora do Brasil, o Movimento Espírita vem-se estruturando com segurança, firmado nos alicerces da Codificação, conforme herdamos do ínclito mestre Allan Kardec. Em toda parte, os espíritas estão se movimentando com eficiência, trabalhando em prol de corretas traduções das obras de Kardec, que, no passado, não receberam os cuidados necessários, havendo sido adulteradas ou mal interpretadas. Concomitantemente, com esforço e dedicação, empenham-se para levar a Doutrina aos grandes veículos da mídia, desmistificando-a das acusações de que tem sido vítima pela intolerância e má-fé dos seus opositores, que a atacam sem a conhecer sequer. Espíritas devotados têm viajado pelos mais diferentes rincões levando a mensagem clara e pura da Doutrina, sensibilizando todos quantos os vão ouvir e com eles conviver. Igualmente, o trabalho nobre de tradução de outras obras para enriquecimento dos interessados tem contribuído eficazmente para a sua difusão.



Reformador: O que tem a dizer sobre o CEI, que está completando 15 anos de fundação?



Divaldo: Em ocasião muito feliz foi criado o Conselho Espírita Internacional, que vem reunindo instituições espíritas em uma saudável unificação de propósitos com o objetivo de se evitar movimentos nacionalistas com características estranhas à Codificação, alterações e enxertos personalistas que lhe modificariam a estrutura. Graças a essa providencial realização, os Congressos Mundiais, que resultam dos Encontros freqüentes, nos diferentes países, oferecem uma paisagem harmônica dos conteúdos doutrinários, firmando-se compromissos de fidelidade e respeito à Codificação, que é a linha mestra e o piloti de segurança da Doutrina.



Reformador: Poderá transmitir uma mensagem aos leitores de Reformador?



Divaldo: O conhecimento do Espiritismo, conforme o herdamos de Allan Kardec e dos eminentes cooperadores do mestre, como Léon Denis, Gabriel Delanne, Alexander Aksakof, Cesare Lombroso, Ernesto Bozzano, somente para citar alguns, liberta o ser humano dos atavismos infelizes que o retém na retaguarda, oferecendo-lhe o abençoado campo terrestre de lutas em favor do aperfeiçoamento moral. Estudar, portanto, o Espiritismo, para vivê-lo integralmente, consciente da finalidade existencial, é o compromisso que firmamos no Grande Lar antes do retorno ao corpo físico.





Fonte: Revista Reformador, publicação da Federação Espírita Brasileira. Outubro. 2007.

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