NAS FONTES DA VIDA
“...e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”.
(Gênese, cap. I)
Nova luz maravilhosa alvorece no horizonte do mundo fenomênico. No tépido regaço das águas, prepara-se o planeta para acolher o primeiro germe, princípio de novo modo de existir. O momento é solene. O universo assiste à gênese da suprema maravilha, amadurecida em seu seio, através de períodos incomensuráveis de lenta preparação, quase consciente do esforço titânico da Substância nascente, da qual brotará, no ponto culminante, a síntese máxima: a vida. Nasce a flor mais complexa e mais bela, em que mais límpido transparece o conceito da Lei e o pensamento de Deus. Deus, sempre presente no âmago das coisas, aparece sempre mais evidente à proporção que se ascende, em sua progressiva manifestação, Deus aproxima-se de Sua criatura.
Ao detonar da primeira centelha nos confins extremos do mundo dinâmico, saturado de passado e totalmente amadurecido, o universo tremeu evocador e clarividente. A matéria existira, movimentara-se a energia, mas somente a vida saberia chorar ou alegrar-se, odiar ou amar, escolher e compreender; compreender o universo e a Lei e pronunciar o nome de seu Pai: Deus. Nasce a vida; não a forma que vedes, mas o princípio que por si criará aquela forma para si mesma, como veículo e meio de ascensão. Naquele princípio que animará a primeira massa protoplasmática, existe o germe de todas as sucessivas e ilimitadas realizações da nova forma da Substância; para cima, subindo sempre, até às emoções e às paixões, permanece o germe do bem e do mal, de todo o vosso mundo ético e intelectual. A fuga eletrônica de um raio de sol transformar-se-á em beleza e alegria, sensação e consciência.
Nosso caminho, alcançando a vida, atinge regiões cada vez mais altas. Desta exposição irrompe um hino de louvor ao Criador. Minha voz funde-se no canto imenso de toda a criação. Diante do mistério que se realiza, no momento supremo da gênese, a ciência torna-se mística expansão, a exposição árida incendeia-se perme ada pelo hálito do sublime; através da crua fenomenologia cientí fica sopra o senso do divino. Diante das coisas supremas, dos fe nômenos decisivos que somente aparecem nas grandes curvas da evolução, os princípios racionais da ciência e os princípios éticos das religiões fundem-se no mesmo lampejo de luz, numa única verdade. Por que a verdade descoberta por vós, racionalmente, de veria ser diferente da verdade que vos foi revelada? Diante da última síntese, caem os antagonismos inúteis do momento e de vosso espírito unilateral e cego. Cada verdade e concepção parcial tem que reentrar no Todo: a ciência tanto quanto a fé, o que nasce do coração e da mente, a matemática mais avançada e a mais alta aspi ração mística, a matéria e o espírito, nenhuma realidade, por mais relativa que seja, pode ser excluída. Se a ciência é realidade subs tancial, como pode permanecer fora da síntese? Se o aspecto ético da vida é também realidade substancial, como pode ser descuidado? Essas novas concepções podem chocar vosso misoneísmo; tão grande salto à frente talvez vos cause medo; esse conceito de Divindade pode encher-vos de desânimo, mais que de amor. Mas também tendes que admitir e, com isso, torna-se pequeno apenas o conceito do homem, em relação ao conceito de Deus, que se agiganta além da medida. Isso poderá desagradar aos egoístas e aos soberbos, jamais às almas puras.
No momento solene volita nos espaços um hálito divino. O pensamento, permeado pelo grande mistério, olha e recolhe-se em oração.
Orai assim:
“Adoro-te, recôndito Eu do universo, alma do Todo, Meu Pai e Pai de todas as coisas, minha respiração e respiração de todas as coisas.
Adoro-te, indestrutível essência, sempre presente no espaço, no tempo e além, no infinito.
Pai, amo-te, mesmo quando Tua respiração é dor, porque Tua dor é amor; mesmo quando Tua Lei é esforço, porque o es forço que tua Lei impõe é o caminho das ascensões humanas.
Pai, mergulho em tua potência, nela repouso e me aban dono, peço à fonte o alimento que me sustente.
Procuro-te no âmago onde Tu estás, de onde me atrais. Sinto-Te no infinito que não atinjo e donde me chamas. Não Te vejo e, no entanto, ofuscas-me com Tua luz; não Te ouço, mas sinto o tom de Tua Voz; não sei onde estais, mas encontro-Te a cada passo, esqueço-Te e Te ignoro, no entanto, ouço-Te em toda a minha palpitação. Não sei individuar-Te, mas gravito em torno de Ti, como gravitam todas as coisas, em busca de Ti, centro do universo.
Potência invisível que diriges os mundos e as vidas, Tu estás em Tua essência acima de toda a minha concepção. Que serás Tu, que não sei descrever nem definir, se apenas o reflexo de Tuas obras me enceguece? Que serás Tu, se já me assombra a incomensurável complexidade desta Tua emanação, pequena cen telha espiritual que me anima integralmente? O homem Te busca na Ciência, invoca-Te na dor, Te bendiz na alegria. Mas na grandio sidade de Tua potência, como na bondade de Teu amor, estás sempre além, além de todo o pensamento humano, acima das formas e do devenir, um lampejo do infinito.
No ribombar da tempestade está Deus; na carícia do humilde está Deus; na evolução do turbilhão atômico, na arran cada das formas dinâmicas, na vitória da vida e do espírito, está Deus. Na alegria e na dor, na vida e na morte, no bem e no mal, está Deus; um Deus sem limites, que tudo abarca, estreita e do mina, até mesmo as aparências dos contrários, que guia para seus fins supremos.
E o ser sobe, de forma em forma, ansioso por conhecer-Te, buscando uma realização cada vez mais completa de Teu pensa mento, tradução em ato de Tua essência.
Adoro-Te, supremo princípio do Todo, em Teu revestimento de matéria, em Tua manifestação de energia; no inexaurível renovar-se de formas sempre novas e sempre belas; eu Te adoro, conceito sempre novo, bom e belo, inesgotável Lei animadora do universo. Adoro-Te grande Todo, ilimitado além de todos os limites de meu ser.
Nesta adoração, aniquilo-me e me alimento, humilho-me e me incendeio; fundo-me na Grande Unidade, coordeno-me na grande Lei, a fim de que minha ação seja sempre harmonia, as censão, oração, amor.
Orai assim, no silêncio das coisas, olhando sobretudo para o âmago que está dentro de vós. Orai com espírito puro, com in tenso arrebatamento, com poderosa fé, e a radiação anímica, har moniosamente sintonizada com grande vibração, invadirá os espaços. E ouvireis uma voz de conforto, que vos chegará do infinito.
PIETRO UBALDI
A GRANDE SÍNTESE
Síntese e Solução dos Problemas da Ciência e do Espírito.
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