quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Esperança dos Homens


Na praça da cidade o encontramos, rodeado de grande multidão. Com dificuldade, conseguimos chegar junto dele. Ao lhe fitar o rosto, o amei de pronto.

De seu porte altivo irradiava-se uma autoridade serena e irretorquível. Seus cabelos longos, de cor castanho-clara, derramavam-se em ondas sobre os ombros, balouçando suavemente quando mexia a cabeça de um lado para o outro, respondendo perguntas ou explicando alguma coisa.

A barba, da mesma tonalidade dos cabelos, terminava em duas pontas sob o mento. A pele, amorenada pelo sol causticante daquela região, deixava entrever o azul das veias que passavam sob ela. Sua voz máscula, ao mesmo tempo suave, transmitia uma sensação de imensa alegria a quem o escutava. Os olhos, todavia, ressaltavam em sua imponente figura: castanhos, eram, ao mesmo tempo, lúcidos e profundos. A maneira direta e desassombrada com que olhava nos olhos de quem dele se aproximava, levava a se acreditar que podia ler a alma de qualquer criatura, não se lhe podendo ocultar qualquer segredo.

Quando falava, sua voz era clara e bem modulada, e sua retórica – durante os discursos – utilizava vocábulos simples e imagens do cotidiano, sem qualquer afetação.

Enfim, o seu ser emanava uma aura de simpatia e tranqüilidade impossível de descrever.

Os componentes do grupo, que haviam chegado junto a ele, confiantes e eufóricos ante a perspectiva de desmoralizá-lo, estavam agora desconcertados e perplexos.

E, quando finalmente conseguiram chegar perto dele: rogavam-lhe insistentemente: Ele é digno de que lhe concedas isto, pois ama nossa nação, e até nos construiu a sinagoga4.

Sem delonga, Jesus os seguiu. Perto de nossa casa, alguns servos de meu pai nos alcançaram, trazendo a seguinte mensagem para ele: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa; nem mesmo me achei digno de vir ao teu encontro. Dize, porém, uma palavra, para que o meu criado seja curado. Pois também estou sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e a um digo: Vai! e ele vai; e a outro: Vem! e ele vem; e ao meu servo: Faze isto! e ele o faz 5.

O episódio causou-me tanta surpresa, quanto ao grupo que viera buscar o Mestre. Ele próprio, mostrando grande admiração, voltou-se para a multidão que o seguia, dizendo: Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé 6. E, dirigindo-se aos enviados de meu pai, disse-lhes que poderiam retornar, pois a cura pedida já ocorrera. Em seguida, retirou-se em direção à margem do lago.

Ansioso, corri para casa, encontrando Telêmio, sentado na cama, numa surpreendente recuperação, e meu pai de joelhos, chorando convulsivamente, a louvar o nome do Nazareno.

Quando tudo serenou, havendo os visitantes se retirado, naturalmente estarrecidos e desapontados, meu pai contou-me que, enquanto esperava, lhe aparecera o espírito de um jovem de grande beleza, envolto em aura luminosa, o qual lhe falou sobre o homem que haviam ido buscar: Ele é o príncipe da paz! Afirmara o Mensageiro dos Céus. Nele se cumprem as esperanças dos aflitos e infortunados da Terra. Doravante começa uma Nova Era quando, como prefigurava o profeta, o lobo conviverá tranqüilamente com o cordeiro. O egoísmo cederá lugar à Abnegação, o ódio ao Amor, o crime à Fraternidade, o vício à Virtude. Um valor novo desponta no horizonte espiritual dos povos, ao seu influxo divino, para dignificar a existência humana: a Caridade.

Graças à sua inspiração sublime, os homens aprenderão a sair da concha estreita dos seus pequenos interesses, para o vale iluminado e rico da dedicação absoluta ao bem estar dos seus irmãos. Em verdade isto é, segundo ele, um pálido resumo do muito que lhe foi dito pelo nobre ser espiritual.

Tão grande impacto lhe causara a revelação, que não se julgara digno de receber em nossa casa aquele que, segundo o Celeste Enviado, era a Luz do Mundo e a Esperança dos Homens.

4 Lc 7, 4.
5 Lc 7, 6-8.
6 Lc 7, 9.


Extraído do livro Encontro Marcado, de Djalma Argollo.

páginas 22 a 24.
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ano de 2005



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