Três ou quatro vezes tive a oportunidade de acompanhar as tarefas de nosso querido Jerônimo Mendonça em nossa região e no interior do Estado de São Paulo. E em tão pouco tempo, pude aprender muito com ele. Sempre conduzido naquela cama especialmente construída para um tetraplégico cego, com distúrbios
cardíacos tão importantes que, se levantasse um pouco mais suas costas, ou as abaixasse, dificilmente
conseguiria respirar. Esse tipo de maca que o carregava para todo lugar tecnicamente recebe o nome de Trendenlenburg.
Quando assisti à sua primeira palestra, estranhei o fato de, após a explanação, ele sempre cantar uma música que nada tinha de doutrinário.
Era um canto infantil chamado “O Pica-Pau”, que dizia:
Pica-pau é um passarinho muito
alegre e gentil, que habita as florestas
majestosas do Brasil... Com
penacho na cabeça, que lhe dá tom
marcial, dentre todos os passarinhos,
com certeza é o general.
Incomodado com aquela situação, um dia perguntei-lhe o porquê daquela canção depois de uma palestra de teor tão profundo.
E Jerônimo, sempre sorrindo, contou-me então:
“Há muito tempo, enquanto repousava, apareceu-me um Mentor amigo que disse precisar de minha ajuda. E levou-me para uma região do mundo espiritual, muito pantanosa, obscura. Fiquei um pouco assustado, mas antes que tivesse tempo de questionar qualquer coisa, o Guia disse-me: “Jerônimo, cante!” Eu não entendi
direito... Mas ele repetiu, em forma de intimação.
Mais assustado ainda, a única canção que me veio à mente foi esse folclore infantil que minha mãe tinha me ensinado quando eu ainda era muito pequeno.
Qual não foi minha surpresa quando, imediatamente após iniciar a melodia, começaram a surgir Espíritos que vinham do fundo daquele lodo, como que a espiar de onde vinha aquela música, aquele som.
Foi então que meu Benfeitor me falou sem deixar margens para perguntas: “Jesus não disse que toda ovelha conhece a voz de seu pastor? Pois então, esses foram ovelhas suas, em épocas negativas, quando você os liderava.”
“Então – concluiu Jerônimo – nunca mais deixei de cantar essa melodia, onde quer que fosse, para tirar do umbral minhas antigas companhias, para que eles, reconhecendo minha voz, me vendo nesse corpo mutilado, percebessem que as Leis Divinas nunca esquecem ninguém e, quando nos alcançam, não chegam para nos castigar, mas para nos erguer a planos melhores.” (Lembramos que em novembro deste ano serão completados 20 anos de sua desencarnação.)
JOSÉ ANTÔNIO V. DE PAULA
depaulajose@hotmail.com
De Cambé
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