segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A recompensa da gratidão


A recompensa da gratidão

Ela viera das terras distantes de Cesaréia de Filipe, na Decápole. Era considerada impura, pois há 12 anos um fluxo sanguíneo não a deixava. Recorrera a todos os métodos possíveis, na ânsia da cura.

Tudo inútil. Seu mal era considerado um sinal de desventura, um castigo divino.

Após ter gasto tudo que possuía, ela resolvera buscar a próspera Cafarnaum, na esperança de encontrar um remédio ainda não experimentado, um médico ainda não consultado.

Chegou à cidade no momento em que o sublime Profeta de Nazaré acabava de saltar nas brancas praias de Cafarnaum.

Pelos caminhos, ela ouvira falar daquele Homem, pela boca dos que tinham sido abençoados por Suas mãos e haviam recuperado a saúde.

O povo se comprime. Todos almejam chegar mais perto. A figura de Jesus se destaca com Sua túnica tecida sem costura, Seu manto quadrangular de borlas tecidas em fios de linho.

A mulher tenta se aproximar Dele. O coração parece lhe saltar do peito. O que dizer-Lhe? Como falar da sua desdita, expondo-se, em meio a tanta gente?

Ela já fora tão humilhada. As marcas da problemática orgânica lhe denunciavam a enfermidade. Estava descarnada, anêmica.

Ela acreditava Nele. Parecia sentir que uma força extraordinária se desprendia Dele. Todo Ele era grandeza. Almejava gritar, tocá-Lo. Isto: tocá-Lo seria suficiente para que se curasse.

Então, numa rua estreita, enquanto a multidão se adensava cada vez mais, ela aproximou-se e por trás, alongou o braço esquálido e Lhe tocou as vestes com a ponta dos dedos.

Maravilha! O sangue estancou de imediato. A dor se foi. Uma sensação estranha a dominou. Sentiu-se renovada. Foram alguns segundos de êxtase. Logo, a voz Dele se destacou na multidão:

Quem me tocou?

Os discípulos dizem que é impossível saber, pois todos O apertam, comprimem.

Ela se atira aos pés Dele e confessa:

Fui eu, Senhor. Guardava a certeza que, em tocando-Te as vestes, recuperaria a saúde.

Jesus a envolve em Seu olhar e a sossega:

Filha, vai em paz. A fé te salvou. Fica livre do teu mal!

Algum tempo depois, Ele foi preso. Às horas de angústia da incerteza do destino Dele, se seguiu a cruel subida até à Colina da Caveira.

Sob o peso do madeiro que carrega, enfraquecido por não ter Se alimentado desde a noite anterior e pelas longas horas de flagelação, Ele cai.

Ela não se contém. Burla a vigilância dos soldados e corre-Lhe ao encontro. Com uma toalha branca, limpa-Lhe a face ensanguentada e dorida.

Quando a retira, nela estava estampado o rosto Dele, tingido pelo sangue.

Vai em paz! Lembrar-Me-ei de ti...- escuta ela em seu coração.

* * *

Antigas tradições cristãs dizem que essa mulher se chamava Serápia e que, a partir desse episódio, ficou conhecida como Verônica, que quer dizer: verdadeira imagem.

Verônica ou Berenice - que importa? O que ressalta é o exemplo de gratidão que se permite externar.

Ela acompanha o Mestre, na Sua caminhada dolorosa, afronta a soldadesca, tudo para limpar o rosto Daquele que um dia a envolvera em Seu olhar amoroso, desejando-lhe paz.

Ele lhe retribui o gesto, deixando impresso Seu semblante na toalha alvinitente.

A recompensa da gratidão.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. A mulher hemorroíssa, do livro As primícias do reino, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Sabedoria.





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