quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NO MOMENTO DE JULGAR


NO MOMENTO DE JULGAR



No momento de julgar alguém, como poderás julgar esse alguém, de todo, se não conheces tudo?

Terá sucedido um crime, estarrecendo a multidão.

Suponhamos que um homem desequilibrado haja posto uma bomba em certa casa, no intuito de destruir-lhes os moradores. Entretanto, por trás dele estão aqueles que fabricaram o engenho mortífero; os que o conservaram para utilização em momento oportuno; os outros que lhe identificaram o perigo, aprovando-lhe a existência; e aqueles outros ainda que, indiferentes, lhe acompanharam o fogo no estopim, sem a mínima disposição de apagá-lo.

De que maneira medirias o remorso do espírito de um homem assassinado, na hipótese desse mesmo assassinado haver provocado o seu contendor até que o antagonista lhe furtasse o corpo, num instante de insanidade? E como observarias o pesar do semelhante, às vezes, ilhado no fundo de uma penitenciária, na posição de um vivo-morto, quando o imaginado morto permanece vivo? E com que metro verificarias o sofrimento de um e outro?

Com que pancadas ou palavras agressivas conseguirias punir, durante algumas horas, a criatura menos feliz que já carrega em si o tormento da culpa à feição de suplício que lhe atenaza o coração, noite e dia?

Ante a queda moral de alguém, é mais razoável entrarmos para logo no assunto, na condição de partícipes dela, antes que nos alcemos à indébita função de censores.

Não precisaríamos tanto de justiça, se não praticássemos a injustiça e nem tanto de medicina se não tivéssemos doença.

Necessitaríamos, porventura, na Terra, de tantas e tão multiplicadas lições, em torno do bem, se o mal não nos armasse riscos, quase que em todas as direções do Planeta?

E onde estão aqueles que estejam usufruindo a glória da instalação segura no bem, sem o prejuízo de algum mal, ou aqueles outros que atravessam os espinheiros do mal, sem a vantagem de algum bem?

No momento de julgar, peçamos a Inspiração da Providência Divina para os magistrados que as circunstâncias vestiram com a toga, a fim de que acertem, nas suas decisões, em louvor do equilíbrio geral, porquanto é tão delicado o encargo do juiz chamado a interferir no corpo da ordem social, quão difícil é a tarefa do cirurgião convocado a interferir no corpo físico.

E quanto a nós outros, os que não somos trazidos a sentenças de lei, já que não nos achamos compromissados para isso, usemos a sobriedade e a compaixão em todos os nossos processos de vivência pessoal no cotidiano, conscientes, quanto devemos estar, de que os justos são as âncoras dos injustos e de que os bons constituem a esperança para todos aqueles que a maldade ensandece.

No momento de julgar, ainda que te coloquem no último banco, entre os últimos réus, e mesmo que se te negue o direito de defender a própria consciência edificada e tranqüila, a ninguém condenes, nem mesmo àqueles que, porventura, te condenem.

Usa sempre a misericórdia e acertarás.

Emmanuel // Chico Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário