Suicídio
O Velho Testamento da Bíblia nos
apresenta dois casos de suicídio legendários.
Esses suicídios certamente
merecem uma análise mais detalhada, por parte de todos aqueles que sejam
estudiosos do Velho Testamento.
Queremos evocá-los, nesta
oportunidade, para que possamos tirar proveito dessas lições.
Um dos casos terríveis de suicídio
apresentado no Velho Testamento judaico, na Bíblia, é o suicídio do lendário
Sansão.
Depois de cego, depois de traído
pela esposa Dalila, ele acaba por derrubar as colunas do edifício sob o qual
estava e desencarna por suicídio.
É o grande primeiro suicídio
apresentado no Velho Testamento Bíblico.
Logo depois, encontraremos
o suicídio do rei Saul, após ter tido aquele contato com a médium de Endor,
conforme nos é narrado num dos livros de Reis, em que ele viu o velho amigo
Samuel, ou teve de Samuel informações através dessa sensitiva, dessa médium.
Samuel lhe diz que, se ele
resolvesse enfrentar os filisteus que estavam com seus exércitos acampados em
redor de Israel, dentro de pouco tempo, ele e sua família estariam no Além.
E a primeira coisa que fez o rei
Saul, foi desatender a proposta do amigo, com o qual ele queria falar;
desacatou o exército filisteu e entrou na guerra.
Dentro de algum tempo, Jônatas, Abinadab
e Melquisua, seus filhos, tinham sido mortos pelos filisteus. Ele, acompanhado
pelo soldado, nos campos destroçados, toma da lança do soldado e destrói a
própria vida física, cumprindo aquilo que Samuel lhe havia dito através da
senhora de Endor.
Temos esses dois suicídios e
verificamos que qualquer suicídio é, por si mesmo, muito lamentável.
Mas, quando chegamos no Novo
Testamento da Bíblia judaica, vamos achar o grande suicídio de Judas
Iscariotes.
Após haver se enganado
profundamente, ao cometer a traição contra o amigo, contra Jesus Cristo,
vendendo a informação sobre Ele, por trinta moedas, Judas acaba por enforcar-se
e isso estabelece uma nova tragédia no corpo do Velho Testamento Bíblico e do
Novo Testamento Bíblico.
Desse modo, começamos a pensar no
que vem a ser propriamente o suicídio.
Sem falarmos nas questões
culturais, como haraquiri, no Japão, como a morte dos gonzos do Vietnã, quando
punham combustível sobre o corpo, ateavam fogo e morriam na posição de lótus,
encontramos suicídio por desesperação.
As pessoas desesperadas,
amotinadas na sua intimidade, as pessoas descrentes da vida, descrentes da
sociedade, descrentes da Humanidade, apelam para esse ato extremo, que é o mais
grave ato que alguém comete diante das leis cósmicas, diante das leis da
consciência ou se quisermos, diante das Leis de Deus.
Por causa disso, há que se
avaliar a impropriedade do suicídio. Esse fato que leva as pessoas a suporem
que estão fugindo dos problemas, que estão fugindo da vida, provoca-lhes uma
frustração sem tamanho. Porque a morte do corpo físico pode nos retirar, e nos
retira de fato, do corpo físico, mas não nos retira da essência da vida.
Nós, seres espirituais, somos
viventes perpétuos. Uma vez que carregamos em nós esse germe do Criador, essa
genética do Criador, que é eterno, nós somos imortais.
A nossa eternidade recebe o nome
de imortalidade, porque nós tivemos começo no amor de Deus.
Por que matar-nos se sabemos que
a morte de fato, a morte essencial não existe?
Matamos o corpo físico que é
carnal, composto por células e, dali a pouco, elas se desfazem no quimismo do
solo em plena natureza.
Jamais conseguiremos, com a
prática do suicídio, fugir da vida.
A vida essencial é um patrimônio
da alma, é um patrimônio do Espírito, por isso nós sairemos dos corpos, mas o
suicídio nunca nos retirará da vida.
* * *
Uma vez que ninguém consegue
evadir-se da vida, não há nenhum sentido em matar-se.
Compreendemos os casos
patológicos, as pessoas doentes da cabeça, doentes psiquiátricos, as pessoas em
desespero, querendo fugir de si mesmas, mas não tem nenhum sentido. Essa é uma
porta falsa.
Mas, afinal de contas, estamos
falando desse suicídio em que a criatura toma de uma arma de fogo, uma arma
branca, toma de uma poção venenosa, ou se atira em algum desvão, que lhe
proponha ou que lhe permita ou que lhe facilite o suicídio.
Contudo, existem outras
considerações sobre o suicídio que poderemos fazer.
Porque Freud, Sigmund Freud, ao
analisar a questão do suicídio estabelece algo muito interessante para a
psicanálise:
Toda criatura, diz ele, que
é capaz de se suicidar, é capaz de matar.
As pessoas, em tese, que se
matam, em verdade elas queriam matar alguém. Diante da impossibilidade, por
qualquer razão, elas se matam a si para inculpar alguém.
É muito comum as pessoas se
matarem e deixarem bilhetes, cartas, pondo culpa em terceiro, pondo culpa na
sociedade.
Desse modo, começamos a perceber
que, de fato, o suicida nesses casos, desejaria destruir outras pessoas.
Na impossibilidade, ele se
autodestrói e culpa essas pessoas, como se desejasse deixar o peso dos seus
atos sob a responsabilidade de terceiros.
Mas, todas as vezes que pensamos
em suicídio, vemos que o suicídio é a queima de nossa energia vital.
Sempre que atuarmos de tal forma
que queimamos nossa energia vital de maneira indevida, estamos cometendo um ato
suicida.
Então, é suicida aquele que come
demasiadamente, que não come para viver, mas que vive para comer. É um ato
suicida porque ele está destroçando energias físicas, energias que deveriam
servir-lhe à vida. Ele está patrocinando com elas a morte.
São suicidas os tabagistas, por
mais inocentes que sejam. Não importa que seja meu filho, minha mãe, meu
pai ou eu mesmo.
Se estou ingerindo substâncias
químicas, que vão corroendo a minha vitalidade, meu fluido vital, sou um
suicida potencial, suicida involuntário, se eu não souber, mas suicida
voluntário, se eu souber que aquilo me provoca morte gradativamente.
São suicidas os alcoólatras, por
mais inocente que seja a bebedeira, mas a continuidade nos leva a queimar as
energias vitais.
Ninguém estará no inferno ou
estará cometendo um pecado por tomar uma taça de vinho, por tomar uma taça de
cevada, no entanto, o hábito, a continuidade, isso vai fazendo com que o
organismo perca sua tonalidade, perca tônus vital, para dar conta dessa
substância indevida que a criatura ingere variadas vezes durante muito tempo.
É por causa disso, que temos que
pensar na irritação: quantas vezes mergulhamos nesse pântano da
irritação, da cólera. Também é uma atitude suicida.
Cada vez que nos iramos, cada vez
que entramos nesse circuito da perturbação emocional, queimamos nosso fluido
vital, vamos destroçando gradativamente a nossa vitalidade e, obviamente,
esse é um gesto suicida.
Quando começamos a maquinar a
destruição dos outros, maquinar alguma coisa que eu possa comprometer os
outros, maquinar algo em que eu possa infelicitar os outros, não estou fazendo
outra coisa senão destruir-me, porque o que faz mal à gente, disse Jesus
Cristo, é o que sai da gente, é o que sai da boca da alma, porque ficamos
responsáveis por isso.
Dessa maneira, nada de pensar em
suicídio, nada de adotar posturas suicidas. O mais importante é amar a vida,
seja ela como for, seja ela qual for, amar a vida. Agradecer a Deus pela honra
de estarmos na Terra.
Cometemos um erro, vamos ser
submetidos à execração pública?
Não há problema. Vamos chorar,
vamos sofrer, mas logo mais o sol brilhará outra vez.
Estamos devendo dinheiro, altas
somas? Não há problema, vamos resolver isto. Daqui a pouco eu trabalho, daqui a
pouco eu consigo. Nada de matar-nos.
Estamos enfrentando um problema
de saúde grave? Nada de matar-nos, porque logo mais, se a morte natural não
sobrevier, ficaremos curados e, se ela sobrevier, ficaremos curados em
definitivo.
Por isto, matar-nos nunca. A
morte provocada por nós não nos levará a outro lugar que não seja o conflito
consciencial e à necessidade do retorno para o necessário resgate para a
reeducação.
Observação: Transcrição do Programa Vida e
Valores, de número 145, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
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