A Era da Transição segundo o espiritismo
Marta Antunes Moura
Em seu Discurso Profético afirma Jesus: Haveis de ouvir falar sobre guerras e rumores de guerras. Cuidado para não vos alarmardes. É preciso que essas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Pois se levantará nação contra nação e reino contra reino. E haverá fome e terremotos em todos os lugares. Tudo isso será o princípio das dores.1
Tal profecia condiz com as condições vigentes na sociedade planetária atual que, a despeito do progresso tecnológico e científico alcançado, tem longo caminho a percorrer no campo da moralidade. Vivemos o Período de Transição situado entre diferentes gerações, como afirma Allan Kardec: [...] os elementos das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermediário, assistimos à partida de uma e à chegada de outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelas características que lhes são peculiares. As duas gerações que se sucedem têm ideias e pontos de vista opostos. Pela natureza das disposições morais e, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas , torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.2
A Transição evolutiva apresenta características muito nítidas (veja “O Sermão Profético” em Reformador de março de 2012, p. 25), que podem ser sintetizadas na expressão “sinais dos tempos”, indicativa de que “são chegados os tempos marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para a regeneração da Humanidade”.3
Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem, e moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Esses dois progressos se realizam paralelamente, visto que a perfeição da habitação guarda relação com a do habitante. Fisicamente, o globo terrestre tem sofrido transformações que a Ciência tem comprovado [...]. Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens concorrem para isso pelos esforços de sua inteligência. [...]4
Cálculos que definem quanto tempo vai durar a Transição são meramente especulativos, pois importa considerar o livre-arbítrio, individual e coletivo, como fatores determinantes. Uma certeza, contudo, se sobressai: a Transição apresenta desafios significativos, consequentes das ações humanas e das transformações na estrutura da habitação planetária, fatores que definem as condições de vida em sociedade, do presente e do futuro. As tribulações do Período de Transição representam, contudo, oportunidades concedidas pela divina providência para melhoria moral e intelectual do ser humano. Nesse aspecto, pontua Kardec: Sim, por certo a Humanidade se transforma, como já se transformou em outras épocas, e cada transformação é marcada por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento: crises muitas vezes penosas, dolorosas, que arrastam consigo as gerações e as instituições, mas sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral.5
Os desafios da Transição produzem agitações em ambos os planos de vida: À agitação dos encarnados e dos desencarnados se juntam, por vezes e mesmo na maioria das vezes, já que tudo se conjuga, na Natureza, as perturbações dos elementos físicos; é então, por um tempo, uma verdadeira confusão geral, mas que passa como um furacão, depois do que o céu se torna sereno, e a Humanidade, reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas ideias, percorre uma nova etapa de progresso.6
Os acontecimentos reveladores da Transição, consoante a previsão de Jesus anunciada no seu Sermão Profético (Mateus, 21:1-31; Mar-cos, 13:1-23 e Lucas, 21:5-24), falam, entre outros, de conflitos bélicos, lutas fratricidas, atos de violência, traições, caos social – todos reveladores do atraso moral que ainda predomina no Planeta – os quais, conjugados às calamidades naturais, produzem muito sofrimento, a despeito do significativo desen-volvimento tecnológico e científico. Vemos, assim, que o progresso intelectual fez surgir uma sociedade mais instruída, todavia moralmente enferma.
Até aqui, a Humanidade tem realizado incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Restalhes, ainda, um imenso progresso a realizar: fazerem que reinem entre si a caridade, a fraternidade e a solidariedade, que lhes assegurem o bem estar moral.7
Para tanto, faz-se necessário férreo combate às imperfeições espirituais, sobretudo o egoísmo, como asseveraram os Espíritos orientadores da Codificação Espírita. No processo de melhoria moral, a destruição do egoísmo é apontada como a base para a construção de uma sociedade humana mais solidária. O Espírito Fénelon reconhece, todavia, que não é tarefa fácil: De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de extirpar é o egoísmo, porque resulta da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se, já que tudo concorre para mantê-la: suas leis, sua organização social, sua educação.[...]8
A eliminação do egoísmo ou minimização de ações egoísticas são, como tudo, um processo educativo, que requisita esforços incessantes no lar, na escola, no ambiente profissional, na via pública, no templo etc., como bem esclarece o Espiritismo: Louváveis esforços são empregados para fazer que a Humanidade progrida. Os bons sentimentos são animados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra época; não obstante, o verme roedor do egoísmo continua a ser a praga social. É um mal real, que se espalha por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Assim, é preciso combatê-lo como se combate uma moléstia epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: remontando à causa do mal. Que se procurem em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências, patentes ou ocultas, que excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. [...] A cura poderá ser demorada, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for cortado pela raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. [...]9
O desenvolvimento de virtudes, consequência natural da batalha contra as imperfeições, faz surgir, então, uma sociedade mais espiritualizada, mais moralizada, atenta não só ao bem-estar próprio, mas ao do próximo. A Humanidade, tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas; compreende o vazio com que foi embalada, a insuficiência de suas instituições para lhe dar felicidade; já não encontra, no estado das coisas, as satisfações legítimas a que se sente com direito. É por isso que se despoja das fraldas da infância e se lança, impelida por uma força irresistível, para margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos limitados. É a um desses períodos de transformação, ou, se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a Humanidade. Da adolescência ela passa à idade viril. [...] O presente é demasiado efêmero; ela sente que o seu destino é mais vasto e que a vida corpórea é restrita demais para encerrá-lo inteiramente. Por isso, mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de descobrir o mistério da sua existência e de adquirir uma consoladora certeza. E é no momento em que ela se encontra muito apertada na esfera material, em que transborda a vida intelectual, em que o sentimento da espiritualidade lhe desabrocha no seio, que homens que se dizem filósofos pretendem encher o vácuo com as doutrinas do niilismo e do materialismo! [...]10
Referências:
1 BÍBLIA DE JERUSALÉM. Diversos tradutores. São Paulo: Paulus, 2004. 3. reimp. Mateus, 24:6-8.
2 KARDEC, Allan. A gênese . Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. 28, p. 535.
3 ______. ______. It. 1, p. 513.
4 ______. ______. It. 2, p. 514.
5 ______. ______. It. 9, p. 521.
6 ______. ______. p. 522.
7 ______. ______. It. 5, p. 516.
8 ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 917.
9 ______. Comentário de Kardec à q. 917.
10 ______. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. 14, p. 525-526.
Fonte: PORTAL DA FEB
Referências:
1 BÍBLIA DE JERUSALÉM. Diversos tradutores. São Paulo: Paulus, 2004. 3. reimp. Mateus, 24:6-8.
2 KARDEC, Allan. A gênese . Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. 28, p. 535.
3 ______. ______. It. 1, p. 513.
4 ______. ______. It. 2, p. 514.
5 ______. ______. It. 9, p. 521.
6 ______. ______. p. 522.
7 ______. ______. It. 5, p. 516.
8 ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 917.
9 ______. Comentário de Kardec à q. 917.
10 ______. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 18, it. 14, p. 525-526.
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