sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pragas


Cairbar Schutel

Capítulo XVI Do livro Interpretação Sintética do Apocalipse   1918
As sete últimas pragas

Autor: Cairbar Schutel

PRAGAS


Não queremos fechar este capítulo sem dizer alguma cousa sobre as chamadas PRAGAS DE DEUS.

Era crença antiga, que todo o mal que sobrevinha aos homens, era mandado por Deus, como castigo da sua desobediência.

Mas o mal vinha e vem para todos, e tanto os bons como os maus sofrem as suas conseqüências; uns sofrem mais, outros sofrem menos.

As religiões dogmáticas, como o Romanismo e o Protestantismo, que interpretam o Evangelho e as Escrituras à letra, estão subordinadas, ainda, a esse "deus" mau, vingativo, cruel, e, por isso, afirmam que Deus é quem manda as pragas massacrar os homens.

Para nós espíritas, que encontramos nos Ensinos Evangélicos o ESPÍRITO QUE VIVIFICA, as Escrituras comportam interpretação muito diferente das que conceberam os padres romanos e protestantes.

Deus não pode fazer o mal, porque, se assim fosse, o seu reino, estaria destruído. Quando os fariseus disseram que Jesus agia pelo espírito do mal, o Mestre respondeu: "Todo reino dividido contra si mesmo não pode subsistir". E demais, como é possível exterminar um mal com outro mal?

O fato, porém, é que o Apocalipse diz que as "PRAGAS SÃO MANDADAS POR DEUS". E as pragas são as tempestades, os raios, os terremotos, a seca, etc... Já dissemos que a evolução do Planeta traz como conseqüência uma revolução, quer na sua crosta, quer no seu centro, quer nas suas camadas atmosféricas; e as revoluções não se fazem sem dores. Entretanto, o homem poderia perfeitamente se livrar dessas dores se, usando bem da liberdade que o Criador lhe facultou, aplicasse a sua inteligência trabalhando para remover esses males, ou aparelhando-se a fim de os enfrentar sem perigo para a sua saúde e para a sua vida.

Assim como levaram anos e anos inventando máquinas de guerra, organizando planos sinistros, em que só cogitavam do mal, por que não trabalharam para preservar a saúde e a própria vida e dos seus semelhantes? Assim como descobriram o pára-raios, que livra uma casa ou edifício da faísca elétrica, não poderiam também descobrir isoladores de fenômenos sísmicos? Nós temos, por exemplo, o sismógrafo, que é um aparelho que registra a hora, a duração e a amplitude dos fenômenos sísmicos. Não poderíamos ter um outro aparelho para reduzir essa amplitude?

Não poderíamos mesmo prever o momento em que se deveria dar um desses fenômenos, como o astrônomo vê antecipadamente um eclipse, e fazermos sair da cidade ou da povoação ameaçada, as pessoas que aí morassem, para não sofrerem as suas conseqüências?

A mesma coisa se dá com a peste que, com muito trabalho e cautelas higiênicas, pode ser evitada perfeitamente, assim como se podem amenizar as conseqüências da seca, etc., etc... Diz o Antigo Testamento que, no reinado de Faraó, houve sete anos de fartura e sete anos de miséria, de seca, que absorveu todas as colheitas. Nomeado, porém, José, filho de Jacó, vice-rei do Egito, fez largas previsões para os anos de carestia e o povo foi remediado nas suas necessidades.

Tanto "vice-rei" temos nós na Terra, assim como temos tantos Faraós, e nenhum se lembrou de chamar um novo José para remediar as necessidades do povo e precavê-lo da futura crise que terrivelmente o ameaça!

É mais fácil dizer que "é castigo de Deus", é mais fácil blasfemar, negar a Divindade do que se submeter à sua santa vontade, que é sempre boa e vem ao encontro de nossas necessidades.

Dirá o leitor que os nossos projetos seriam irrealizáveis, por ser impossível descobrir os meios de pô-los em prática. E nós responderemos com o Doutor Pinheiro Guedes: "O impossível está sempre diante da fraqueza humana. Mas quantos impossíveis o homem de gênio tem vencido?! Que é a vida senão uma luta sem tréguas contra o impossível?!

"A vida é impossível sem o fogo; e a criatura humana descobre o meio de produzir o fogo. Era impossível transpor os mares; o homem venceu os mares. Quantos impossíveis se erguem ante o homem, são outras tantas batalhas a vencer. O progresso representa uma série de vitórias incruentas; a civilização, os despojos opimos. A ciência, as artes, as indústrias são conquistas, representam assinalados triunfos do espírito humano".

E que será mais fácil: provisões para sustentar uma guerra 4 anos, ou provisões para dar que comer a um povo, que ainda trabalha, por espaço de 4 anos? Será mais fácil fazer um vapor que ande no fundo do mar, ou reservatórios que guardem a água esterilizada para matar a sede de um povo?

Não, não digam, apegando-se à letra e desprezando o espírito, que Deus é quem mandou as PRAGAS, porque praguento é o homem que usa mal da sua liberdade, e não Deus que nos dá luz e inteligência para evitarmos o mal e gozarmos os frutos do bem que fizemos.

O que Deus faz, estatuindo suas leis, sábias e imutáveis, de toda a eternidade, é deixar que os homens, no uso de seu livre arbítrio, atraiam sobre si as reações naturais, tanto do bem como do mal. Os anjos representam, figuradamente, a ação viva e inteligente da Lei, de que são os executores, em todas as ordens da criação, não como instrumentos vingativos de um Deus pessoal, mas como vigilantes auxiliares do Ser Infinito, a fim de que "cada um receba conforme suas obras", e sempre, amorosamente, para experiência e retorno dos culpados, ou para estímulo e recompensa aos justos.

Felizes serão os que sofreram com paciência e resignação, "porque novas terras e novos céus, onde habita a justiça, ser-lhes-ão dados por herança.


 

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