sábado, 19 de fevereiro de 2011

A força do Espiritismo


Seria fazer uma idéia muito falsa do Espiritismo acreditar que sua força vem das manifestações materiais e que, impedindo essas manifestações, pode-se miná-lo em sua base. Sua força está na filosofia, no apelo que faz à razão, ao bom senso. Na Antiguidade, era objeto de estudos misteriosos, cuidadosamente escondidos do povo. Hoje, não tem segredos para ninguém; fala uma linguagem clara, sem equívocos.

Nele não há nada de místico, nada de alegorias passíveis de falsas interpretações; quer ser compreendido por todos, porque chegou o tempo de as pessoas conhecerem a verdade; longe de se opor à difusão da luz, ele a revela para todas as pessoas. Não exige uma crença cega, quer que se saiba por que se crê; ao se apoiar na razão, será sempre mais forte do que aqueles que se apóiam no nada. Os obstáculos que tentassem antepor à liberdade das manifestações poderiam lhe dar fim? Não, porque só produziriam o efeito de todas as perseguições: o de estimular a curiosidade e o desejo de conhecer o que é proibido. Por outro lado, se as manifestações espíritas fossem privilégio de um único homem, ninguém duvida que, pondo esse homem de lado, as manifestações acabariam. Infelizmente, para os adversários, elas estão ao alcance de todos, desde o simples até o sábio, desde o palácio até ao mais humilde casebre; qualquer um pode a elas recorrer. Pode-se proibir que sejam feitas em público; mas sabe-se precisamente que não é em público que elas se produzem melhor, e sim reservadamente. Portanto, como cada um pode ser médium, quem pode impedir uma família no seu lar, um indivíduo no silêncio de seu gabinete, o prisioneiro na cela, de ter comunicação com os Espíritos, apesar da proibição dos seus opositores e mesmo na presença deles?

Se as proíbem em um país poderão impedi-las nos países vizinhos, no mundo inteiro, uma vez que não há um país, em qualquer dos continentes, onde não haja médiuns? Para prender todos os médiuns seria preciso prender a metade da população humana; se até mesmo chegassem, o que não seria muito fácil, a queimar todos os livros espíritas, estariam reproduzidos no dia seguinte, porque sua fonte é inatacável, e não se podem prender nem queimar os Espíritos, que são seus verdadeiros autores.

O Espiritismo não é obra de um homem; ninguém se pode dizer seu criador, porque ele é tão antigo quanto a Criação; encontra-se por toda parte, em todas as religiões e na religião Católica ainda mais, e com mais autoridade do que em qualquer outra, porque nela se encontram os mesmos princípios: os Espíritos de todos os graus, suas relações ocultas e patentes com os homens, os anjos de guarda, a reencarnação, a emancipação da alma durante a vida, a dupla vista, as visões, as manifestações de todos os gêneros, as aparições e até mesmo as aparições tangíveis, isto é, as materializações. Com relação aos demônios, não passam de maus Espíritos e, salvo a crença de que foram destinados ao mal por toda a eternidade, enquanto o caminho do progresso está livre para os outros existe entre eles apenas a diferença de nome.

O que faz a ciência espírita moderna? Ela reúne num corpo de doutrina o que estava esparso; explica em termos próprios o que estava somente em linguagem alegórica; elimina o que a superstição e a ignorância produziram para deixar apenas a realidade e o positivo: eis seu papel; mas o de fundadora não lhe cabe. A Doutrina Espírita mostra o que é, coordena, mas não cria nada, por isso suas bases são de todos os tempos e de todos os lugares. Quem, pois, ousaria se acreditar forte o suficiente para abafá-la com sarcasmos e até mesmo com a perseguição? Se a proibirem num lugar, renasce em outros, no próprio terreno de onde a expulsaram, porque está na natureza e não é dado ao homem anular uma força da natureza nem opor seu veto aos decretos de Deus.

Afinal, que interesse haveria em entravar a propagação das idéias espíritas? Essas idéias, é bem verdade, se opõem aos abusos que nascem do orgulho e do egoísmo. Porém, esses abusos de que alguns se aproveitam prejudicam a coletividade humana que, portanto, será favorável às idéias espíritas, que terão como adversários sérios apenas aqueles que são interessados em manter esses abusos. Por sua influência, ao contrário, essas idéias, tornando os homens melhores uns para com os outros, menos ávidos dos interesses materiais e mais resignados aos decretos da Providência, são uma certeza de ordem e de tranqüilidade.

Extraído de O Livro dos Espíritos, conclusão, item 6, páginas 336 a 339, de Allan Kardec.

Um comentário:

  1. Muito bom!
    Parabéns pela escolha das matérias, essa do livro dos espíritos,deveria ser lida e relida todos os dias pelo menos

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