terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

DIÁLOGOS COM AS SOMBRAS

LIVRO DE LEITURA OBRIGATÓRIA DOS ESPÍRITAS. 

RESUMO E CONCLUSÕES


Creio haver chegado ao final da tarefa que me impus, na tentativa de fixar no papel alguns dos muitos ensinamentos amealhados, em mais de uma década, no trato íntimo e permanente com inúmeros companheiros desencarnados. Não me foi possível evitar que este livro se revestisse das características de um depoimento pessoal, pela razão, que me parece muito simples e válida, de que ele é mesmo um depoimento pessoal, pela própria natureza das experiências que procura transmitir.

Seu objeto é o ser humano, usualmente em penoso estado de desarmonização interior; não são quantidades físicas de substâncias químicas, cujas reações podemos prever, estudar e repetir à vontade, na frieza clássica
dos números, dos pesos, das medidas. Os irmãos que comparecem aos nossos grupos mediúnicos estão em crises, por vezes, seculares, e até milenares. Perderam-se no emaranhado de suas perplexidades e não podem atinar sozinhos com a trilha que os leve para fora do poço profundo e escuro, de volta àluz abençoada do Senhor, sob a qual possam contemplar suas imperfeições e empenhar-se em alijá-las do coração.

O trabalho de doutrinação, chamado tão apropriadamente de trabalho de resgate, em inglês (rescue work), só é possível em clima de total doação, de empatia, de profundo e sincero amor fraterno, o que o torna uma atividade do coração, muito pessoal, essencialmente humana. Não há nele espaço para meias-verdades, fingimentos “inocentes”, indiferença ou comodismos.

O grupo mediúnico é instrumento de socorro, ferramenta de trabalho, campo de experimentações fraternas e escada por onde sobem não apenas os nossos companheiros desarvorados, mas subimos também nós, que tentamos redimir-nos na tarefa sagrada do serviço ao próximo. O grupo merece e exige cuidados muito especiais, dedicação constante, vigilância permanente, desde antes mesmo de constituir-se. É preciso criar para ele uma estrutura robusta, mas suficientemente flexível, para que possa funcionar sem hesitações e
interrupções. Se o trabalho que lhe for cometido, pelos companheiros espirituais, revelar-se fecundo e promissor, ele será implacavelmente assediado. Levantar-se-ão contra ele forças obstinadas, dispostas a tudo para fazê-lo calar-se e dissolver-se. Assim, nada de ilusões: a medida de seu êxito, em termos espirituais, é precisamente a perseguição indormida, a pressão assídua de companheiros em desequilíbrio, que não hesitarão diante de nenhum recurso, para destruí-lo.

Por isso, na fase de planejamento, devem ficar bem definidos, além de suas finalidades e objetivos, seus métodos de trabalho. Nunca chegaremos a prever todas as situações que um grupo poderá enfrentar, mas seus métodos têm que ser suficientemente ágeis, para as acomodações necessárias, sem prejuízo das tarefas que se desdobram. Nunca saberemos o suficiente em matéria de contacto com os nossos irmãos desvairados pela dor e pela revolta.

Cada sessão é diferente, cada manifestação traz uma surpresa ou um ensinamento novo. É necessário que observemos com toda a atenção qualquer pormenor, aprendamos a lição que cada um deles contém e a incorporemos ao acervo da experiência.

Citarei um pequeno incidente, aparentemente sem importância.

Nossos amigos espirituais de há muito nos haviam prevenido de que, em hipótese alguma, deixássemos ultrapassar o horário de atendimento, como ficou dito e explicado alhures, neste livro. Muito bem. Redobrei o cuidado com o controle do tempo e, então, veio outra observação: recomendavam-me que procurasse colocar o relógio diante de meus olhos, de forma que, para consultá-lo, não fosse necessário virar-me e tomá-lo nas mãos, como costumava fazer. Por que a recomendação? Muito simples: não apenas a preocupação excessiva com o tempo pode desviar-nos do clima exigido pelo trabalho, mas porque até mesmo o próprio gesto de voltar-me poderia quebrar a continuidade da tarefa junto ao irmão incorporado, exigindo provavelmente esforço maior dos companheiros desencarnados. Quem poderia imaginar que a mera posição de um relógio, na sala de trabalho, fosse tão importante, a ponto de merecer advertência específica?

Além de tais observações esporádicas, dos companheiros espirituais, infinitamente mais experimentados do que nós, o estudo é uma necessidade imperiosa, absoluta. Temos a tendência de julgar que sabemos mais do que realmente sabemos. É fácil testar essa verdade. Leia você, leitor, qualquer página de “O Livro dos Espíritos”, ou de “O Livro dos Médiuns”, e verá que há sempre aspectos que você não havia ainda notado, observações que passaram despercebidas, ângulos insuspeitados, por mais que você esteja certo de conhecer bem a obra de Kardec. O mesmo é válido para qualquer outrodocumento doutrinário sério, como as obras complementares.

O aprendizado tem que ser constante, por várias razões. Primeiro, porque nossa memória é falha, e leva-nos a esquecer recomendações e instruções importantes, já lidas no passado. Segundo, porque mesmo durante a leitura, a mente divaga, e lemos trechos substanciais, sem a participação do consciente.

Um grupo, porém, não são apenas finalidades, objetivos e métodos; ele é também gente. Encarnada e desencarnada.

Quanto aos encarnados, nossos companheiros em torno da mesa, toda a atenção deve ser posta em selecioná-los, O grupo tem que começar de maneira certa, para subsistir. Se for constituído à base de elementos inconstantes e inseguros, serão remotas suas possibilidades de sobrevivência e inseguros os trabalhos, por melhores que sejam as intenções.

Além dos demais pontos críticos, a seleção dos médiuns é da mais alta importância, bem como a maneira de tratá-los e integrá-los no trabalho, a fim de que possam dar de si mesmos, em clima de segurança e confiança. O médium não deve dominar o grupo, nem ser dominado por ele, e sim portar-se como um dos trabalhadores que o compõem. Se a recomendação de estudar sempre é válida para o grupo, como um todo, para o médium ela adquire as proporções de uma obrigação.

O doutrinador não será jamais o sumo-sacerdote de um novo culto, a impor ritos e fórmulas mágicas, a ditar ordens, como um general em campanha; ele é apenas mais um trabalhador, o que não significa que a disciplina do grupo deva correr à matroca. Usualmente, o doutrinador acumula as funções de dirigente
encarnado dos trabalhos, pela simples razão de que, no contexto de um grupo humano, alguém precisa assumir a liderança. Liderança, porém, não é despotismo. Se ele é também o dirigente humano, precisa contar com o respeito afetuoso de seus companheiros, para que possam trabalhar todos em harmonia.

Se sentir que não tem condições pessoais para doutrinar, deve atribuir essas funções a outros membros da equipe, que julgue mais bem qualificados.

São rigorosas as especificações de um bom doutrinador; dilicilmente reúnem-se todas as características desejáveis numa só pessoa. Por isso, lembrei por aí, no livro, que não há doutrinadores perfeitos; contentemo-nos em ser razoáveis e lutemos por adquirir as qualidades que nos faltam. De minha parte, considero algumas dessas qualidades como apenas desejáveis, e outras indispensáveis. Entre estas colocaria, como vimos:

* Formação doutrinária

* Evangelização

* Autoridade moral

* Fé

* Amor

O grande ativador desses petrechos espirituais é, sem dúvida alguma, o amor. Para o doutrinador, o preceito evangélico do “amai-vos uns aos outros”, e aquele outro, “amai os VOSSOS inimigos”, não são apenas frases bonitas, para declamar aos Espíritos, mas condições essenciais ao trabalho. O amor
fraterno, no trabalho de doutrinação, tem que ser sentido mesmo, e não apenas fingido ou forçado; tem que emergir das profundezas do ser, como um movimento irreprimível, no qual nos doamos integralmente, quer o
companheiro aceite ou não, de pronto, a nossa entrega. O impacto do amor Sincero, no coração de um irmão que sofre, éuma das coisas mais impressionantes e comoventes do trabalho de doutrinação. Vemo-lo repetir-se a cada instante, sempre o mesmo, e nunca nos cansamos de admirar a sua força positiva e construtiva. Jamais deixei de me surpreender com o espetáculo emocionante desse impacto, o único, em nossa miserável existência de seres imperfeitos, que nos dá realmente a sensação de que o amor é um milagre que podemos realizar em nome do Cristo.

Quando Ele falou a João que nós somos deuses, creio que se referia especificamente ao amor em nós. Ao criar-nos, Deus colocou em nós a fagulha do amor, dizem os grandes instrutores. E freqüentemente nos esquecemos de que uma fagulha do infinito é também infinita e, por isso, são ilimitadas as nossas possibilidades de crescimento, pelas trilhas do amor. Parece que o Pai imantou com esse amor a nossa pequenina limalha e, por isso, somos irresistivelmente atraídos para Ele, através do espaço infinito e do tempo imemorial.

Assim, quando conseguimos transmutar-nos em amor, ante os companheiros que sofrem, estamos nos colocando no sentido e na direção que segue todo o Universo.

Quem poderá resistir?

— “Se Deus está conosco — dizia o nosso Paulo — quem estará contra nós?”

Se me fosse pedido o segredo da doutrinação, diria apenas uma palavra:

AMOR!

Extraído do livro Diálogos com as sombras, de Hermínio C. Miranda.

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