segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Caridade

Chico Xavier autografando.

A Caridade
PELO ESPÍRITO SÃO VICENTE DE PAULO
(Sociedade de Estudos Espíritas, sessão de 8 de junho de 1858)



Após comunicação do espírito de São Vicente de Paulo, sobre a Caridade, perguntou-se:
Permitiríeis que formulássemos algumas perguntas complementares a respeito do que acabastes de dizer?

Resp. – Eu o desejo muito; meu objetivo é vos esclarecer; perguntai o que quiserdes.

1. Pode-se entender a caridade de duas maneiras: a esmola propriamente dita e o amor aos semelhantes. Quando dissestes que era necessário que o coração se abrisse à súplica do infeliz que nos estendesse a mão, sem questionarmos se não seria fingida a sua miséria, não quisestes falar da caridade do ponto de vista da esmola?

Resp. – Sim; somente nesse parágrafo.

2. Dissestes que era preciso deixar à justiça de Deus a apreciação da falsa miséria. Parece-nos, entretanto, que dar sem discernimento às pessoas que não têm necessidade, ou que poderiam ganhar a vida num trabalho honesto, será estimular o vício e a preguiça. Se os preguiçosos encontrassem aberta com muita facilidade a bolsa dos outros, multiplicar-se-iam ao infinito, em
prejuízo dos verdadeiros infelizes.

Resp. – Podeis discernir os que podem trabalhar e, então, a caridade vos obriga a fazer tudo para lhes proporcionar trabalho; entretanto, também existem falsos pobres, capazes de simular com habilidade misérias que não possuem; é para os tais que se deve deixar a Deus toda a justiça.

3. Aquele que não pode dar senão um centavo, e que deve escolher entre dois infelizes que lhe pedem, não tem razão de inquirir quem, de fato, tem mais necessidade, ou deve dar sem exame ao primeiro que aparecer?

Resp. – Deve dar ao que pareça sofrer mais.

4. Não se deve considerar também como fazendo parte da caridade o modo por que é feita?

Resp. – É sobretudo na maneira de fazer a caridade que está o seu maior mérito; a bondade é sempre o indício de uma bela alma.

5. Que tipo de mérito concedeis àqueles a quem chamamos de benfeitores de ocasião?

Resp. – Só fazem o bem pela metade. Seus benefícios não lhes aproveitam.

6. Disse Jesus: “Que vossa mão direita não saiba o que faz vossa mão esquerda.” Têm algum mérito aqueles que dão por ostentação?

Resp. – Apenas o mérito do orgulho, pelo que serão punidos.

7. Em sua acepção mais abrangente, a caridade cristã não compreende igualmente a doçura, a benevolência e a indulgência para com as fraquezas dos outros?

Resp. – Imitai Jesus; ele vos disse tudo isso. Escutai-o mais que nunca.
N. do T.: Vide questão 886, de O Livro dos Espíritos.

8. A caridade é bem compreendida quando praticada exclusivamente entre pessoas que professam a mesma opinião ou pertencem a um mesmo partido?

Resp. – Não. É sobretudo o espírito de seita e de partido que se deve abolir, porquanto todos os homens são irmãos. É sobre essa questão que concentramos os nossos esforços.

9. Suponhamos que alguém vê dois homens em perigo, mas não pode salvar senão um. Qual dos dois deverá salvar, considerando-se que um deles é seu amigo e o outro é seu inimigo?

Resp. – Deve salvar o amigo, pois este amigo poderia acusá-lo de não gostar dele; quanto ao outro, Deus se encarregará.

 
A G O S T O D E 1 8 5 8
R E V I S T A E S P Í R I T A
ALLAN KARDEC


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