domingo, 29 de agosto de 2010

LÉON DENIS, APÓSTOLO DO ESPIRITISMO



LÉON DENIS, APÓSTOLO DO ESPIRITISMO



Na história do espiritismo contam-se almas dotadas do mais puro amor e devotamento e cujo apostolado foi marcado não apenas por trabalhos notáveis, no terreno literário, mas por uma exemplificação vivencial extraordinária, por um espírito de propaganda inusitadamente ativo e eficiente.

Os velhos espíritas franceses ainda guardam a lembrança de um desses homens, até hoje venerado como um mestre inesquecível.



Qualquer pessoa identificada com a filosofia espírita conhece os nomes de Léon Denis, Gabriel Delanne e Henri Brun e sabem que, depois de Allan Kardec, são eles os primeiros autores que se devem ler, clássicos espíritas cuja inteligência contribuiu para dar à nova doutrina alicerces sólidos, admiravelmente poderosos e que permanecerão por muito tempo ainda capazes de levar aos pesquisadores dotados de boa vontade todas as garantias desejáveis a esclarecer-lhes a razão e amplificar-lhes a fé.



Nessa galeria admirável Léon Denis parece colocar-se em primeiro plano e pode-se, sem constrangimento, afirmar que foi o melhor discípulo e o mais perfeito prosseguidor da obra de Allan Kardec.



Escritor de talento notável, orador considerado sublime, homem do mais alto gabarito moral, Denis dedicou sua vida à propaganda do Espiritismo. Foi realmente um apóstolo no velho sentido que se dava à palavra, e sua obra, em conjunto, será um dia considerada filosoficamente de primeira ordem, grandiosa e passível de reter a atenção admirada de todos os pensadores e homens de boa vontade, libertos de sectarismos religiosos ou laicos.



Nenhum outro autor soube pôr em tão alto relevo a obra de Allan Kardec, nenhum mais eficazmente contribuiu para a difusão dessa obra, nenhum exibiu-a sob mais intensa luz, nenhum melhor aditou-a, explicou-a e pô-la ao alcance das massas populares sedentas de verdade e sempre curiosas de desvendar os grandes problemas da vida e da morte.



Nascido em Foug, perto de Toul (Mestre-et-Moselle), a 1º de janeiro de 1846, Denis desencarnou a 12 de abril de 1927 aos 81 anos. Residia em Tours, no departamento de Indre-et-Loire, no nº 19 da Place dês Arts, em uma grande casa de onde se via o rio Loire e suas ribeiras maravilhosas. Essa casa, entretanto por encontrar-se perto de uma ponte, foi destruída durante a guerra permanecendo em Tours apenas a residência onde, por muitos anos, na Place Prébends D’Oe, residiu na companhia de seus velhos pais. Foi entretanto na casa de Place dês Arts que Denis escreveu suas mias importantes páginas e onde também desencarnou, rodeado por fiéis amigos, entre eles Gaston Luce, seu biógrafo, e Mlle.Claire Baumard, autora de “Léon Denis na Intimidade”.



Léon Denis está enterrado no cemitério de Tours, onde viveu por mais de 60 anos. Conheceu Allan Kardec quando o mestre lionês visitou a cidade em 1867, em viagem de propaganda. Depois disso em Paris, visitou-o muitas vezes. Todavia Denis havia lido “O Livro dos Espíritos” quando contava 18 anos e era um simples operário. Prefaciando a biografia de Henri Sausse sobre Kardec, por sinal, seu derradeiro trabalho literário, ele conta: “Foi como uma iluminação súbita de todo o meu ser”.



Comentando a obra de Kardec, Denis tem esta frase lapidar: “A doutrina de Allan Kardec, é o resultado combinado dos conhecimentos de duas humanidades que se interpenetram, porém todas as duas imperfeitas e caminhando para a Verdade; ainda que superior a todos os sistemas, a todas as filosofias do passado, permanece aberta às retificações aos esclarecimentos do futuro”.



Eis aqui um ensinamento que vale bem a pena reter nesta hora em que vamos surgir, em meio à intolerância, à indiferença e aos sectarismos mais diversos, religiosos ou laicos, tantas hipóteses novas que pretendem se apoiar sobre a ciência e a razão para definir o psiquismo e as leis às quais ele obedece.



Léon Denis obedeceu durante toda a sua vida a tese espírita kardecista com o mesmo entusiasmo, com o mesmo fervor que dele fizeram um dos homens mais ouvidos de sua época em que, curiosamente, mais abundaram os negadores sistemáticos.



Para tornar suas palestras tão eficazes quanto possível, Denis distribuía uma brochura na qual, com simplicidade, explicava o que é o Espiritismo. Esse opúsculo tem por título “O porquê da vida” e é um hábil e curto resumo dos ensinamentos kardecistas. Mas o seu trabalho literário não se deteria aí. De sua pena saíra obras de indiscutível valor, tanto por sua forma literária quanto filosófica: “Depois da Morte”, “No Invisível”, “Espiritismo e Mediunidade”, “Cristianismo e Espiritismo”, “O Problema do Ser e do destino”, “O Grande Enigma”, “Deus e o Universo”, “Jeanne D’Arc Médium”, “O Mundo Invisível e a Guerra” e, por último, “O Gênio e o Mundo Invisível”.



Entre as simples brochuras contam-se ainda: “Por que a Vida?”, “O Lado de Lá da sobrevivência do Ser”, “O Espiritismo e o Clero Católico”, “Síntese Espiritualista” e “Espíritos e Médiuns”.



A obra “Depois da Morte”, foi lida por milhares de pessoas, ajudando a minorar as dores de uma humanidade dilacerada pela guerra. “Jeanne D’Arc Médium” foi traduzida para o inglês Sir Arthur Conan Doyle, com o qual se carteou. Os dois espíritas encontraram-se no Congresso Espírita de 1925, em Paris, que Denis presidiu com notável lucidez. Depois disso Doyle visitou-o em Tours. Denis teve por amigo um outro espírito de elite de seu tempo, Jean Jaurès, o socialista barbaramente assassinado às vésperas da guerra. Jaurès, além de político, era professor de filosofia e um espírito dotado de singular bondade, o que o aproximou de Denis. Este tributou-lhe toda uma série de artigos pela “Revue Spirite”, após o assassinato.



É curioso notar que em sua obra Denis continuamente chama a atenção para os perigos reais do Espiritismo mal compreendido, posto a serviço de fins ridículos ou de um comércio desonesto. Não se cansava de propor que a experimentação deve ter finalidade elevada, moral e interpretando um interesse geral. Aos seus olhos esse perigo necessitava ser enfatizado. Em “Depois da Morte” dedica todo um capítulo ao problema. Na obra “No Invisível”, lançada em 1901, oferece úteis anotações quanto a maneira de se operar a experimentação e a mais racional maneira de desenvolver-se a mediunidade.



Em “O Cristianismo e o Espiritismo” escreve:



“Para que o trigo germine é preciso a queda das nevascas e a triste incubação do inverno. Sopros poderosos virão dissipar os nevoeiros da ignorância e os miasmas da corrupção. As tempestades passarão, o céu azul tornará a se mostrar. A obra divina se revelará em uma eclosão nova. A fé renasce nas almas e o pensamento do Cristo irradiará de novo, mais cintilante, sobre o mundo regenerado”.



“O Gênio Céltico e o Mundo Invisível” coroa magistralmente a obra do mestre. Nele deparamos, colhidas ainda em 1925, múltiplas comunicações do próprio Allan Kardec e, por isso, nesse livro Denis reconhece, uma vez mais que sua obra é devida sobretudo à colaboração dos amigos espirituais.



“Foi – escreve – sob a instigação do espírito de Allan Kardec que eu realizei este trabalho. Nele se encontra uma série de mensagens que ele nos ditou por incorporação, em condições que excluem qualquer dúvida”.



Na publicação “France Active”, de janeiro de 1928, quase dois anos após o seu desencarne, um crítico se exprime, a respeito de “O Gênio Céltico” com as seguintes palavras:



“É um livro emocionante que se imporá mesmo à zombaria dos profanos e no qual, as mais vezes, pelo Espírito do próprio Allan Kardec, somos iniciados aos princípios que os druidas dirigiam já ao cepticismo dos homens. A unidade de Deus, a sobrevivência do ser sob forma fluídica, a evolução na escala infinita dos Mundos e a pluralidade das existências.



Em que esquina nos encontramos no caminho da Vida? Tenho a impressão de que o véu que esconde ainda as esferas espirituais, como nos escondia há alguns anos as ondas hertzianas, não vai tardar a romper-se. Um vento assoprará dos quatro cantos do mundo e dissipará as sombras, escreve o Eclesiastes.



O livro de Denis reconforta nossas impaciências, é simples, dessa prodigiosa simplicidade que só a articula o apóstolo e nos põe em contato com a luz secreta pela qual nossas almas serão revivificadas para sempre. Ele nos faz penetrar um pouco mas a frente na comunhão universal.”

Fonte: Anuário Espírita 1969.

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