Sofrê
O calendário marcava o mês de março de 1933.
Chico achava-se hospedado na casa do senhor José Álvaro Santos, morador em Lagoa Santa, cidade de Minas Gerais.
O senhor José trouxera Chico consigo, de Pedro Leopoldo, para ajudá-lo a encontrar trabalho em Belo Horizonte, capital mineira. Mas as dificuldades eram inúmeras. Chico precisava retornar a Pedro Leopoldo e o senhor José, seu amigo e benfeitor, precisava ir ao Rio de Janeiro, cumprir encontro familiar.
Chico, muito agradecido ao senhor José, partiu para a cidade de Vespasiano e de lá retornaria a Pedro Leopoldo. Voltava preocupado porque não conseguira o emprego tão desejado.Enquanto ele aguardava o trem da Central do Brasil, já em Vespasiano, foi procurado por duas pessoas, que já o conheciam. Um deles, sabedor da vinda de Chico para candidatar-se ao emprego em Belo Horizonte, após cumprimentá-lo alegremente,disse-lhe que o emprego já o esperava na capital mineira. Continuava dizendo que os recursos que Chico teria seriam excelentes e toda sua família seria também beneficiada.
Chico mostrou-se radiante e lembrou-se de quanto seu pai ficaria feliz por ter aumento no orçamento doméstico. Mas, o portador da boa notícia, ao ver Chico disposto a ir imediatamente para Belo Horizonte e assumir o emprego, comunicou-lhe que havia condições para que a proposta fosse aceita. Chico, olhando calmamente para o interlocutor, indagou:
—Qual seria a condição?
E a resposta causou grande tristeza para o médium:—Chico, dizia a pessoa, para você aceitar o emprego, que já é seu, você terá de renunciar ao Espiritismo e dizer a todos que o livro Parnaso de Além-Túmulo, é de sua autoria e não dos Espíritos.
Chico, de imediato, negou-se a essa proposta e explicou como o livro fora escrito pelos Espíritos, tomando suas mãos, da qual ele não participara com nenhum pensamento. O livro jamais fora escrito por ele e sim pelos poetas que nele deixaram seus pensamentos. Ele, Chico, nunca seria capaz de escrever nem uma simples trova. Diante disso, o amigo lhe perguntou:
—Chico, você conhece um pássaro chamado “sofrê”?
—Não, respondeu-lhe.
E, logo em seguida, o outro responde:
—O “sofrê” é um pássaro que imita os outros pássaros. Assim é com você. Sua vocação é como a desse pássaro. Você tenta imitar os poetas. Não acredito em Espíritos, Chico. Isso não existe. Os poemas são seus e não como você julga serem psicografados. E rindo, como que zombando por ver Chico continuar afirmando que eram dos Espíritos os poemas, os “amigos” se afastaram, dizendo-lhe que, então, voltasse a Pedro Leopoldo.
Chico, muito triste, ouviu Emmanuel dizer-lhe:
— Volte, Chico, para Pedro Leopoldo e continuemos no trabalho do Senhor. Você não é um “sofrê”, mas precisa sofrer para aprender.
Érica
Bibliografia: No Mundo de Chico Xavier - Elias Barbosa, EditoraIDE - 8ª ed., 1992.
Jornal Espírita on-line SEAREIRO.
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