terça-feira, 15 de julho de 2014

Literatura e Espiritismo

Literatura e Espiritismo

Quando Napoleão fez a campanha do Egito, levou um grupo de sábios para estudar, cientificamente, a terra dos Faraós.

Uma noite, em que as estrelas realçavam no céu profundo,  mais fotogênicas do que as stars de Hollywood, viajava Napoleão e sua comitiva sobre o Nilo, a bordo de um pequeno barco. Em dado momento, os sábios pegaram uma discussão a respeito da existência de Deus. Enquanto isso, Napoleão passeava no tombadilho, cenho franzido e destra sobre o coração  - nesse gesto clássico que a História registrou - preocupado com os problemas da campanha.

Daí a pouco, os sábios chegaram a um acordo: Deus não existia.

Ouvindo essa conclusão unânime, Napoleão parou junto deles, e indagou:

- Então, afirmam os senhores que Deus não existe?

- Sim, general. É uma hipótese inútil no mecanismo do Universo.

Napoleão olhou demoradamente o céu em plena floração estelar, e voltando-se para os sábios, perguntou:

- Alors, qui a donc fait ces étoiles?

(Quem foi, então, que fez essas estrelas?) Os sábios emudeceram, e Napoleão continuou o passeio ao longo do tombadilho.

O problema do Além nunca esteve ausente das cogitações dos grandes mestres da literatura universal. Todos eles possuem o sentido da Espiritualidade. A obra de Shakespeare, como se sabe, está povoada de Espíritos, a começar pela mediunidade de Hamlet.

Lê-se em Montaigne: "Se eu ouvia falar dos espíritos que voltam, das feiticeiras ou de qualquer outra história que não podia entender, vinha-me compaixão pelas pobres criaturas iludidas. Hoje, acho que, pelo menos, devia eu ser igualmente lamentado."

A visão espiritual de Balzac fê-lo declarar certa vez: "Tudo o que somos está na alma."

Ninguém ignora que toda a vida psíquica de Dostoievski foi dominada pela tortura de Deus. O sentimento divino impregna os seus romances mais expressivos, notadamente Os Irmãos Karamazov, que foi o livro de cabeceira de Tolstoi; às vésperas de deixar este mundo.

Kafka, considerado um dos filósofos do absurdo, e cujas personagens se movem numa atmosfera de realismo fantástico, talvez não se tenha apercebido da grande verdade que lhe clareou o pensamento heterodoxo no instante em que lançou estas palavras no seu Diário: "Não há outro mundo senão o mundo espiritual. O que chamamos o mundo sensível é o Mal no mundo espiritual, e o que chamamos mal, é a necessidade de nossa eterna evolução."
Eis aí um trecho que qualquer espírita assinaria, a principiar por Allan Kardec. Esse mesmo Kafka, em conversa com o seu amigo e confidente Gustav Janouch, disse que "escrever é, na realidade, uma forma de evocar os espíritos."
O gênio de Proust anteviu o nascimento de nossa consciente imortalidade após as núpcias com a morte, nesta passagem de "Les Plaisirs et les Jours": Et de nos noces avec la mort qui sait si pourra naître notre consciente immortalité.

E Joyce não afirmou, pela boca de uma personagem de Ulisses, que "a morte é a mais alta forma de vida"?
Mas há o reverso da medalha, como tudo na vida. Há os modernos filósofos do desespero, como Sartre, Albert Camus e outras autoridades competentes no assunto, que chafurdam no submundo do chamado Existencialismo, armazenando compromissos cármicos. Piores do que estes, só mesmo os cultores de um certo tipo de Parapsicologia à la diable, que Indalício Mendes classificou, espirituosamente de espiritismo sem alma.

São os "inocentes úteis" do Materialismo.
Alberto Romero

 

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