quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sessão Comemorativa na Sociedade de Paris



No início da sessão uma prece especial para a circunstância substituiu a invocação geral, que serve de introdução às sessões ordinárias. Ela foi assim concebida:



Glória a Deus, soberano senhor de todas as coisas!

Senhor, pedimos que espalheis vossa santa bênção sobre esta Assembléia.

Nós vos glorificamos e vos agradecemos porque vos aprouve esclarecer nosso caminho pela divina luz do Espiritismo.

Graças a esta luz, a dúvida e a incredulidade desapareceram do nosso espírito e também desaparecerão deste mundo; a vida futura é uma realidade e marchamos sem incerteza para o porvir que nos está reservado.

Sabemos de onde viemos e para onde vamos, e por que estamos na Terra.

Conhecemos a causa de nossas misérias e compreendemos que tudo é sabedoria e justiça em vossas obras.



Sabemos que a morte do corpo não interrompe a vida do Espírito, mas que lhe abre a verdadeira vida; que não destrói nenhuma afeição sincera; que os que nos são caros não estão perdidos para nós e que os encontraremos no mundo dos Espíritos. Sabemos que enquanto esperamos, eles estão ao nosso lado; que nos vêem e nos ouvem e podem continuar suas relações conosco.

Ajudai-nos, Senhor, a espalhar entre os nossos irmãos da Terra, que ainda estão na ignorância, os benefícios desta santa crença, porque ela acalma todas as dores, dá consolação aos aflitos, coragem, resignação e esperança nas maiores amarguras da vida.

Dignai-vos estender vossa misericórdia sobre nossos irmãos falecidos e sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas preces, seja qual for a crença que tenham tido na Terra.

Fazei que o nosso pensamento benevolente leve alívio, consolação e esperança aos que sofrem.

A seguir o Presidente dirige a seguinte alocução aos Espíritos:

Caros Espíritos de nossos antigos colegas: Jobard, Sanson, Costeau, Hobach e Poudra:

Convidando-vos a esta reunião comemorativa, nosso objetivo não é apenas vos dar uma prova de nossa lembrança, que, como sabeis, é sempre cara à nossa memória; viemos, sobretudo, felicitar-vos pela posição que ocupais no mundo dos Espíritos e agradecer as excelentes instruções que, de vez em quando, nos vindes dar desde a vossa partida.

A Sociedade se rejubila por vos saber felizes; ela se honra por vos haver contado entre os seus membros, e de vos contar agora entre os seus conselheiros do mundo invisível.



Apreciamos a sabedoria de vossas comunicações e seremos sempre felizes todas as vezes que julgardes por bem vir participar de nossos trabalhos.

A esse testemunho de gratidão associamos todos os Espíritos bons que, habitual ou eventualmente, vêm trazer-nos o tributo de suas luzes: João Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas Madeleine, Santo Agostinho, Sonnet, Baluze, Vianney – o cura d’Ars, Jean Raynaud, Delphine de Girardin, Mesmer e os que apenas tomam a qualificação de Espírito.

Devemos um particular tributo de reconhecimento ao nosso guia e presidente espiritual, que na Terra foi São Luís. Nós lhe agradecemos por ter-se dignado a tomar a nossa sociedade sob o seu patrocínio e pelas marcas evidentes de proteção que nos tem dado. Nós lhe rogamos, igualmente, que nos assista nesta circunstância.

Nosso pensamento se estende a todos os adeptos e apóstolos da nova doutrina, que deixaram a Terra, em especial aos que nos são pessoalmente conhecidos, a saber: N. N...

A todos aqueles a quem Deus permite nos venham ouvir, dizemos:

Caros irmãos em crença, que nos precedestes no mundo dos Espíritos: unimo-nos em pensamento para vos dar um testemunho de simpatia e atrair sobre vós as bênçãos do Todo-Poderoso.

Nós lhe agradecemos a graça que ele vos fez de serdes esclarecidos pela luz da verdade antes de deixardes a Terra, porque esta luz vos guiou à entrada na vida espiritual. A fé e a confiança em Deus, que ela vos deu, vos preservaram da perturbação e das angústias que acompanham a separação daqueles a quem afligem a dúvida e a incredulidade.



Ela vos deu a coragem e a resignação nas provas da vida terrestre; mostrou o objetivo e a necessidade do bem, as conseqüências inevitáveis do mal, e agora colheis os seus frutos.

Deixastes a Terra sem pesar, sabendo que íeis encontrar bens infinitamente mais preciosos que aqueles que aqui deixastes; vós a deixastes com a firme certeza de reencontrar os objetos de vossas afeições e de poder voltar, em Espírito, para sustentar e consolar os que ficavam na retaguarda. Enfim, estais no mundo dos Espíritos, como num país que vos era conhecido antecipadamente.

Estamos muito felizes por ter visto nossas crenças confirmadas por todos aqueles dentre vós que vieram comunicar-se; nenhum veio dizer que tinha sido iludido em suas esperanças e que estávamos equivocados sobre o futuro. Ao contrário, todos disseram que o mundo invisível tinha esplendores indescritíveis, e que suas expectativas tinham sido ultrapassadas.

A vós, que gozais agora da felicidade de ter tido fé, e que recebeis a recompensa de vossa submissão à lei de Deus, vinde em auxílio dos nossos irmãos da Terra que ainda se encontram nas trevas. Sede os missionários do Espírito de Verdade, para o progresso da Humanidade e para o cumprimento dos desígnios do Altíssimo.

Nosso pensamento não se limita aos nossos irmãos em Espiritismo; todos os homens são irmãos, seja qual for a sua crença.

Se fôssemos exclusivos, nem seríamos espíritas, nem cristãos. É por isto que incluímos em nossas preces, em nossas exortações e em nossas felicitações, conforme o estado em que se achem, todos os Espíritos aos quais nossa assistência pode ser útil, tenham ou não partilhado de nossas crenças quando encarnados.

O conhecimento do Espiritismo não é indispensável à felicidade futura, porque não tem o privilégio de fazer eleitos. É um meio de chegar mais facilmente e com mais segurança ao objetivo, pela fé raciocinada que dá e pela caridade que inspira; ilumina o caminho, e o homem, não seguindo mais às cegas, marcha com mais segurança; por ele se compreende melhor o bem e o mal, pois dá mais força para praticar um e evitar o outro. Para ser agradável a Deus, basta observar suas leis, isto é, praticar a caridade, que as resume todas. Ora, a caridade pode ser praticada por todo o mundo. Despojar-se de todos os vícios e de todas as inclinações contrárias à caridade é, pois, a condição essencial da salvação.



REVISTA ESPÍRITA

DEZEMBRO DE 1864


Allan Kardec

Nenhum comentário:

Postar um comentário