sábado, 3 de abril de 2010

Desejos vãos

Desejos vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!


Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!


Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!


E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisa-as toda a gente!...




Florbela Espanca (1894-1930)

Foto: Cachoeira de Santo Anjo, na Venezuela. Convite a agradecer ao Pai a dádiva da Vida em mais uma existência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário