domingo, 27 de setembro de 2020

 

O ESPÍRITO DE SISTEMA E AS NOVAS VERDADES

 

“Veio João não comendo nem bebendo, e dizem: Ele tem demônio. Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis um homem glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! E contudo a sabedoria é justificada pelas suas obras.”

(Mateus, XI, 18-19.)

 

“Então lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, de modo que o mundo falava e via. E toda a multidão, admirada, dizia: É este porventura, o Filho de Davi? Mas os fariseus, ouvindo isto, disseram: Este não expele os demônios senão por Belzebu, chefe dos demônios.”

(Mateus, XII, 22-24.)

 

O mundo não tem progredido senão à custa de lutas e sofrimentos. Todas, as novas descobertas, todas as grandes verdades, todos os grandes homens não têm conseguido exercer a sua missão no nosso planeta senão com grandes sacrifícios e depois de uma luta terrível contra o espírito de ignorância, que ensombra todas as camadas sociais!

Percorrendo atentamente as páginas dos Evangelhos, vemos a luta incessante que Jesus sustentou contra o espírito de sistema que compunha, não só a classe sacerdotal, mas também a classe doutoral do seu tempo.

Nos Atos dos Apóstolos acham-se narradas as perseguições que sofreram os discípulos do Mestre Nazareno, que também enfrentaram não menores lutas com os “sábios” daquela época.

Mas não foram só eles que se sacrificaram neste mundo em que os grandes são os depositários das crenças avoengas.

Cada jato de luz que vibra na mansão das trevas agita os ignorantes sistemáticos, assim como os lampejos do Sol alvoroça os morcegos e as corujas que só se comprazem com a noite.

A árvore secular das idéias sistemáticas e preconcebidas dos nossos avós não pode cair com um ligeiro sopro, assim como a árvore dos bosques não cai ao primeiro golpe do machado; é preciso muitas “machadadas” e grande trabalho para arrasar a floresta inculta das concepções humanas. E o progresso não se faz de uma vez; vem paulatina, gradativamente, presenteando-nos com suas generosas dádivas, para que, ofertando aos poucos seus inestimáveis dons, nos tornemos afeitos ao trabalho e ao es tudo, fonte principal de todo o entendimento humano.

Que tem sido a vida de todos os grandes homens que nos têm legado o bem-estar que agora possuímos? Aí está a História, de cujas páginas não se poderá excluir uma só letra, e que demonstra o quanto pode o espírito de classe, os conservadores de rotina unidos aos poderes conjugados do papado.

Disse um sábio contemporâneo, falando de Allan Kardec: “Aquele que se adiantou cem anos a seus contemporâneos, precisa de mais cem anos para ser compreendido”.

Esta verdade se reflete em todas as épocas históricas.

Antes do Cristo, Sócrates havia sido consumado pela sicuta, por causa da sua doutrina, precursora do Cristianismo. E depois do Cristo, quantos suplícios infligiram aos Apóstolos, quer no ramo da Ciência, quer no ramo da Religião! É quase incalculável o número de mártires que passaram pelo batismo da perseguição.

Galileu teve de reparar a “insólita pretensão” que teve de ver a Terra girar em torno de seu eixo, fato este ensinado atualmente no mundo todo e abraçado pela Congregação Papalina, que, afinal, abjurou a crença antiga de “parada do Sol por ordem de Josué”.

Giordano Bruno foi queimado vivo por afirmar a existência de outros mundos.

Bailly, o célebre astrônomo francês, e Lavoisier, o grande químico, foram guilhotinados durante a Revolução Francesa; Priestley, Pai da Química Moderna, viu incendiada a sua casa e destruída a sua biblioteca, entre exclamações da populaça inconsciente: “Não queremos mais filósofos!”

Com grande dificuldade lutou Cristóvão Colombo para nos deixar este grande legado, a América, onde nascemos, donde tiramos o pão cotidiano, e onde atualmente vivemos!

Quando Arago apresentou à Academia o seu trabalho sobre a navegação a vapor, levantou-se uma tempestade tão grande que quase a sua descoberta naufragou entre apupos e maldições da gente sábia!

A Lei da Gravitação foi considerada uma heresia, uma blasfêmia contra os ensinos ortodoxos, e Newton não pode escapar ao desprezo de grande número dos seus contemporâneos.

Os estudos da eletricidade dinâmica, feitos por Galvani, foram repelidos pelo mundo; entretanto, todos nós hoje gozamos, não só desta descoberta, como também de todas as que nos proporcionam comodidade e bem-estar. É que a Verdade termina sempre pelo triunfo, e quando ela começa a iluminar, os obstáculos não conseguem senão retardar-lhe a marcha, mas chegado o termo, vem a vitória!

Quanto tempo levou em lutas o magnetismo, antes que os sábios lhe abrissem as portas das academias?

Mas os fatos se impunham e a verdade conseguiu triunfar na luta que lhe moviam seus perseguidores.

Pois bem; todas essas lutas, essas perseguições, esses trabalhos que sofreram as grandes verdades e seus defensores, se têm repetido em relação ao Espiritismo e aos seus seguidores.

Uns acoimam-no de diabólico; outros dizem que ele produz loucura; outros que é contrário à Religião. São as mil bocas da ignorância falando do que não estudaram!

São as investidas do espírito de sistema contra as novas idéias, que vêm desenraizar erros, decepar a árvore secular da ignorância, causa de todos os sofrimentos na Terra.

Enfim, o mundo não se transforma sem lutas; é da luta que vem a vitória e, então, a verdade aparece.

Nos tempos antigos, como hoje, a luz não pode ser trevas. O argumento demoníaco está ainda muito valorizado pelos sectários. Mas estão próximos os tempos em que a Verdade dominará, guiando os homens para os seus destinos imortais!

 

Cairbar Schutel

 

Parábolas e Ensinos de Jesus

 

(1ª Edição -1928)

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