quarta-feira, 20 de julho de 2016


O IRMÃO DO CAMINHO

 

Maria Dolores

 

Simeão era muito moço ainda

Quando escutou a história de Jesus

E, acendendo esperanças na alma linda

Inflamou-se de fé, amor e luz...

 

Morando numa choça da montanha

Junto de antiga estrada, sem vizinho,

Era a bondade numa vida estranha,

O amigo dedicado aos irmãos do caminho.

 

Lia os ensinamentos do Senhor,

Mas afirmava precisar

De ação que lhe exprimisse o grande amor

Na fé que decidira praticar.

 

Na pequena morada, pobre e agreste,

Cavou no solo um poço... Água de mina,

Que ele, olhos em luz e sorriso na face

Oferecia a quem passasse

Por lembrança de paz da Bondade Divina...

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Simeão alcançara os oitenta janeiros,

Trabalhando e servindo dia a dia,

Sem quaisquer outros companheiros

Que não fossem viajantes

A pedirem pousada, companhia,

Uma noite de paz ou um copo de água fria.

Alta noite, uma voz chamou, baixinho:

-"Simeão, Simeão!... Meu irmão do caminho!..."

-"Quem sois vós?" Respondeu o interpelado.

-"Um peregrino desacompanhado...

Rogo pousada, irmão!" -Chamou o forasteiro.

Ergueu-se devagar o cansado hospedeiro,

Fez luz, abriu a porta.

Mas o vento avançou a chama semi-morta.

-"Entrai!..." disse o velhinho.

-"Agora sei que não estou sozinho."

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O velhinho, entre passos mal firmados,

Sempre movimentando a luz acesa,

Trouxe a bacia de água morna e leve

Mergulhando-lhe os pés ensangüentados...

Ao ver-lhe os dedos maltratados,

Disse ao viajor, tomado de surpresa:

-"Quanto sangue verteis!... Como tendes andado!...

Deu-lhe o estranho viajante esta resposta leve:

-"Deus te abençoe, amigo, a assistência bem-vinda!...

creio que devo andar por muito tempo ainda!..."

De joelhos, Simeão,

Em lhe lavando os pés com infinito carinho,

A refletir nas pedras do caminho,

Ao lhe tocar nas crostas das feridas

A fim de removê-las,

Viu as chagas abertas

Eram duas estrelas...

O velhinho assombrado

Buscou fitar-lhe as mãos com ternura e respeito

E viu que estavam nelas

Grandes marcas da cruz, luminosas e belas,

Ampliando o fulgor que lhe envolvia o peito...

Ele grita, chorando de alegria:

-"Jesus!... Sois vós Jesus?!..."

E o Senhor, levando as mãos em luz,

Disse, abraçando o ancião:

-"Vem a mim, Simeão,

É chegado o teu dia

De repouso e de luz no Mais Além..."

Simeão esqueceu a velhice e o cansaço

E pousou a cabeça em seu regaço...

Depois do amanhecer, outros viajantes

Chegaram como dantes,

Pedindo água, descanso, reconforto,

Mas viram que Simeão o irmão do caminho

De joelhos, para, ali sozinho,

Muito embora sorrisse, estava morto...

 

Trechos da mensagem "O irmão do caminho", psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, extraída do livro "A Vida Conta" Edição: CEU)

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