sexta-feira, 23 de outubro de 2015


Desfazendo Acusações


Nas ruidosas campanhas contra o Espiritismo, não raro surge aqueles que acusam os desencarnados através de variados modos.

Por que motivo os Espíritos não descobrem os segredos ocultos da Natureza, atenuando as dificuldades que rodeiam a existência do homem? Porque não escrevem livros técnicos avançados, solucionando os intrincados problemas da Ciência e da Indústria? Como não oferecem recursos para a cura da morféia ou o câncer? Regressando às escalas mais baixas, no pentagrama das inquirições puramente intelectuais, encontramos criaturas perguntando porque não indicamos o local onde se encontra bolsa perdida da senhora M. ou que razão nos leva ao desinteresse pela procura do anel de preço, esquecido no bonde pelo senhor B.


Desconhecendo a Bondade de Deus, o Doador Anônimo do Universo, os escritores orgulhosos afirmam que todas as conquistas da cultura humana são devidas ao pensamento dos vivos, como se as suas declarações se destinassem a ferir a suposta vaidade dos mortos, para que venham disputar com os homens, na aquisição de gloríolas efêmeras.

É preciso considerar, todavia, que se os desencarnados assumissem na Terra o papel de orientadores tangíveis da evolucão, na descoberta de utilidades novas, esses mesmos escritores se revoltariam contra eles, acoimando-os de infratores da lei de liberdade, a invadirem seara alheia. Estejam, porém, tranquilos os nossos amigos do mundo físico, porque ninguém, com bastante esclarecimento, em nosso plano, se sente autorizado a interferir diretamente nas edificações que competem aos missionários, estudiosos e trabalhadores da Terra. A esfera que habitamos agora, se oferece bastante luz à nossa mente, oferece também problemas inúmeros, que precisamos resolver, atendendo às nossas necessidades para a vida eterna. A morte do corpo não se faz acompanhar de estacionamento, no qual seríamos forçados a contemplar os encarnados, nem das delícias do céu ou das torturas do inferno. Somos compelidos por ela a novos caminhos de ascensão, em que o Infinito nos deslumbra. A matéria diferenciada convida-nos a trabalhar em fascinantes enigmas, a evolução apresenta outros aspectos e a universalidade conduz-nos a maravilhosas invenções de felicidade e paz.


O campo de lutas renovadas não nos deixa ensejos à interferência indébita no labor cometido ao homem de carne, e, ainda que as oportunidades nos permitissem a colaboração dessa natureza, não seria lícito subtrair a criatura humana à faculdade de orientação própria, na descoberta de si mesma.


Se o pauperismo e a enfermidade fossem eliminados de vez, possivelmente o orgulho e a vaidade consolidariam o seu império na existência terrestre, encerrando os habitantes do Planeta em grosseira crosta de egoísmo, por milênios inumeráveis, além de cerrar-lhes a visão do panorama universal. Quanto ao serviço de invenções e descobrimentos, a esfera invisível, atendendo aos superiores desígnos de Deus, presta concurso fraternal e indireto às realizações terrenas, mas não impõe inovações espetaculares ao quadro evolutivo das criaturas.


E por falar nos engenhos de que a civilização se enriquece, cada vez mais, é imprescindível considerar que o homem não se pode queixar no tocante às edificações que lhe foram autorizadas pela Providência Divina, importando observar como as utiliza.


Permitiu Deus que a criatura humana recebesse a embarcação a velas: organizou-se então a pirataria do passado; deu-lhe o navio a vapor e armaram-se verdadeiras cidades flutuantes, que atacam as coletividades praieiras sem aviso prévio; conferiu-lhe o Senhor a descoberta da matéria explosiva, para que as montanhas de pedra calçassem a residência aos filhos da Terra e a fim de que as mãos humanas colaborassem na estruturação de uma superfície planetária mais acolhedora e mais bela. Entretanto, fêz-se da conquista preciosa a bomba destruidora que deixa, cair a chuva da morte sobre lares e hospitais inocentes. Concedeu o Altíssimo ao mundo necessitado o trator e o automóvel; em breve, porém, tornavam-nos como padrão para o fabrico de tanques arrasadores que talam as mais humildes ervas do campo. Autorizou o Pai a entrega do telefone sem fio às nações insuladas umas das outras, a fim de que aprendessem a fraternidade legítima; aproveita-se o recurso para a expedição de sinistras mensagens de morte a submarinos criminosos que atacam mulheres e crianças em viagem no mar. Mandou o Doador Divino que o avião fosse entregue aos povos terrestres, facilitando o intercâmbio entre as diversas regiões do Globo e incentivando a solidariedade mundial; todavia, a máquina do ar foi convertida no pássaro do extermínio, ferindo e deformando, matando e destruindo.


Que fez o homem do progresso científico que o Senhor conferiu à Terra, se ele saiu da caverna da idade da pedra, a caminho dos palácios gregos e dos anfiteatros romanos, dos castelos medievais e dos arranha-céus modernistas, regressando, agora, apressadamente, à caverna de cimento armado dos abrigos antiaéreos?


Não formulamos a interrogação como as pessoas atacadas de pessimismo crônico.


Acreditamos sinceramente no mundo melhor, na fraternidade legitima e na paz restaurada.


Queremos responder tão somente aos inquiridores ociosos que indagam, sarcásticos, sobre a atuação dos espíritos desencarnados, no círculo das invenções e descobrimentos, que a Terra tem recebido excessivamente da Bondade de Deus, retribuindo mal a confiança celeste, acrescentando que se eu fosse alguém, com bastante autoridade, rogaria ao Altíssimo interromper o serviço de doação de novos engenhos para o homem terrestre, pelo menos durante mil anos sucessivos, até que ele reconsidere a velha atitude de menosprezo aos bens divinos, crescendo devidamente para a verdadeira compreensão da luz espiritual.

Irmão X

Do livro: Lázaro Redivivo, Médium: Francisco Cândido Xavier

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