sábado, 13 de agosto de 2011

Seara espiritual


Seara espiritual

“Dizeis vós que ainda há quatro meses para a ceifa? eu, porém, vos digo: Erguei os vossos olhos e contemplai esses campos, que já estão branquejando próximos da ceifa. E o que ceifa, recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna, para que assim o que semeia, como o que sega, juntamente se regozijem. Pois nisto é verdadeiro o provérbio, que um é o que semeia e outro o que sega.” (João, 4:35 a 37.)

No campo espiritual a época da sementeira é, a seu turno, a época da sega. Semear e ceifar são tarefas que se realizam simultaneamente. Não há estações exclusivas para semear ou para ceifar. Em todas elas se espalham as sementes, e em todas elas se recolhem as messes. O que semeia num tempo recolhe as primícias de outros tempos. Na lavoura espiritual a solidariedade é lei inelutável. Não há obreiros cujo mister consista exclusivamente em semear ou em ceifar. O que semeia colhe, e o que colhe semeia. O que sega alegra-se na colheita cuja sementeira foi trabalho de outrem; por isso ele semeia também, a fim de que outros recolham o fruto dos labores. Trabalho e justiça, justiça e amor.

Os tempos são sempre chegados. A hora vem, e agora é. Só os ociosos aguardam épocas longínquas, que jamais chegam. Os laboriosos não perdem tempo: os campos branquejam para a colheita, as leiras esperam pela sementeira. Não existe pretérito, não existe futuro; existe o presente eterno convidando o Espírito ao trabalho. Todos são capazes, todos são aptos: é bastante querer. O chamado persiste, a seara é incomensurável.

A geração atual goza, em todo o sentido, de uma grande soma de benefícios, de comodidades e direitos que, em seu conjunto, representa o esforço, a luta e o sacrifício de gerações passadas. O presente é a consequência do pretérito, assim como o futuro será a resultante do presente. Em matéria de liberdade, fruímos hoje as conquistas dos mártires de outrora, que pela liberdade se sacrificaram. É certo que ainda perduram os vestígios da tirania e do despotismo de outras eras. Cumpre, portanto, trabalharmos por extingui--los totalmente, preparando para os vindouros um mundo melhor, onde a liberdade e a justiça sejam soberanas.

É ilícito receber e não dar. O egoísmo é contraproducente; quem ceifa contrai a obrigação de semear. Demais, para quem semeamos? Para quem será o mundo melhor, o mundo escoimado de iniquidades, de hipocrisias, de vícios e de crimes? Para quem estaremos preparando a Nova Jerusalém, a terra onde há de habitar a justiça? Tudo fazemos para nós mesmos; pois as gerações que se sucedem no cenário terreno somos nós próprios, são os nossos filhos, os nossos irmãos, os objetos do nosso amor. Nossa existência passa como sombra; “somos de ontem, e ignoramo-lo”!

Nada de egoísmo, pois; nada de ócios infindáveis. Obreiros da vinha do Senhor! mãos à obra; semeai e colhei, porque na seara espiritual todas as estações são próprias, todas as épocas são favoráveis, todos os tempos são bons, tanto para semear como para colher.

A hora vem, e agora é.



Vinícius
Nas pegadas do Mestre

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