ACIDENTADOS DA ALMA
Compadeces-te dos caídos em
moléstia ou desastre, que e apresentam no corpo comovedoras mutilações.
Inclina-te, porém, com igual compaixão para aqueles outros que comparecem,
diante de ti, por acidentados da alma, cujas lesões dolorosas não aparecem.
Além da posição de necessitados, pelas chagas ocultas de que são portadores, quase
sempre se mostram na feição de companheiros menos atrativos e desejáveis.
Surgem pessoalmente bem-postos,
estadeando exigências ou formulando complicações, no entanto, bastas vezes
trazem o coração sob provas difíceis; espancam-te a sensibilidade com palavras
ferinas, contudo, em vários lances da experiência, são feixes de nervos
destrambelhados que a doença consome; revelam-se na condição de amigos,
supostos ingratos, que nos deixam em abandono, nas horas de crise, mas, em
muitos casos, são enfermos de espírito, que se enviscam, inconscientes, nas
tramas da obsessão; acolhem-te o carinho com manifestações de aspereza,
todavia, estarão provavelmente agitados pelo fogo do desespero, lembrando
árvores benfeitoras quando a praga as dizima; são delinquentes e constrangem-te
a profundo desgosto, pelo comportamento incorreto; no entanto, em múltiplas
circunstâncias, são almas nobres tombadas em tentação, para as quais já existe
bastante angústia na cabeça atormentada que o remorso atenaza e a dor
suplicia...
Não te digo que aproves o mal sob
a alegação de resguardar a bondade. A retificação permanece na ordem e na
segurança da vida, tanto quanto vige o remédio na defesa e sustentação da
saúde. Age, porém, diante dos acidentados da alma, com a prudência e a piedade
do enfermo que socorre a contusão, sem alargar a ferida.
Restaurar sem destruir. Emendar
sem proscrever. Não ignorar que os irmãos transviados se encontram encarcerados
em labirintos de sombra, sendo necessário garantir-lhes uma saída adequada.
Em qualquer processo de reajuste,
recordemos Jesus que, a ensinar servindo e corrigir amando, declarou não ter
vindo à Terra para curar os sãos.
ASPECTOS DA DOR
Os soluços de dor são
compreensíveis até o ponto em que não atingem a fermentação da revolta, porque,
depois disso, se convertem todos eles em censura infeliz aos planos do Céu.
A enfermidade jamais erra o
endereço para suas visitas.
As lágrimas, em verdade, são
iguais às palavras. Nenhuma existe destituída de significação.
Somente chega a entender a vida
quem compreende a dor.
A evolução regula também o
sofrimento das criaturas e nelas se evidencia mais superficial ou mais
profunda, conforme o aprimoramento de cada uma.
Se você pretende vencer, não
menospreza a possibilidade de amargar, algumas vezes, a aflição da derrota como
lição no caminho para o triunfo.
Aprende melhor quem aceita a
escola da provação, porquanto, sem ela, os valores da experiência permaneceriam
ignorados.
A dor não provém de Deus, de vez
que, segundo a Lei, ela é uma criação de quem a sofre.
EMMANUEL E ANDRÉ LUIZ
Do livro “Estude e viva”
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER E WALDO
VIEIRA.
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