domingo, 15 de janeiro de 2017


Simão, o Mendigo

 

Doente, pobre, velhinho,

O desditoso Simão,

Arrimado a seu bordão,

Andava devagarzinho...

 

Pés e mãos em chaga aberta,

Lá ia o velho, coitado!

Enfermo, desamparado

E humilde na estrada incerta.

 

Cabelo todo branquinho,

Rugosa a face morena,

O pobre metia pena

A vagar pelo caminho...

 

De onde viera? Ora, quem

Buscava saber ao certo?

Vinha de longe ou de perto?

Ninguém sabia, ninguém.

 

Só lhe sabiam do nome,

E que, em miséria, sem nada,

Ele esmolava na estrada,

A fim de matar a fome.

 

Estendendo seu chapéu,

Pedia cheio de dor:

-Uma esmola, meu senhor,

Por amor ao Pai do Céu!...

 

Mas, oh! Deus, que desalento

Neste mundo de aflição!

Ninguém ouvia Simão

Nas horas de sofrimento.

 

-Passai de largo! É o leproso!...

diziam homens cruéis –

-Oh! Não vos aproximeis

deste ancião perigoso!...

 

 

 

 

-Ah! Que graça! Põe-te à brisa! –

Exclama outro passante –

Nada de esmola ao tratante,

Que este velho não precisa!...

 

O mendigo, nos seus ais,

Dizia: -Viva a saúde!

Trabalhei enquanto pude,

Agora, não posso mais...

 

Toda a gente lhe fugia,

Ninguém lhe dava uma sopa,

Nem um trapinho de roupa

Para a noite de agonia.

 

Muito tempo era passado

E o desditoso velhinho

Sentia-se mais sozinho,

Mais doente, mais cansado...

 

Chegou, enfim, um momento

Em que o velho sofredor

Caiu de frio e de dor

Na estrada do sofrimento.

 

“-Escuta, meu bom Simão,

não temas, querido amigo!

Sê forte! Eu estou contigo.

Chegaste à ressurreição”.

 

Não chores. Estou aqui!...

Terminou tua aflição,

Estás em meu coração!

Pensavas que te esqueci?

 

Enquanto o mundo enganado

Atormentava-te ao peso

De zombaria e desprezo,

Eu sempre estive ao teu lado.

 

Teus prantos e tuas dores

São, hoje, a luz que te veste

No campo do amor celeste,

Repleto de eternas flores.

 

E Jesus, em voz mais terna,

Concluía: “Vem, Simão,

À doce consolação

Do mundo de luz eterna!...

 

E Simão, chorando e rindo,

A seguir, ditoso, o Mestre,

Esqueceu a dor terrestre,

No céu venturoso e lindo.

 

O caminho era de estrelas

De tão sublime matiz

Que o pobre ria, feliz,

Sem saber como entendê-las.

 

No outro dia, ao reconforto

Do Sol de coroa erguida,

Acharam Simão sem vida...

O mendigo estava morto.

 

JARDIM DE INFÂNCIA

 

 FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER   JOÃO DE DEUS

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