sexta-feira, 30 de dezembro de 2016



A Senda do Discípulo

 

 

A Senda do Discípulo, também chamada “Via Crucis” ou Caminho da Cruz, parece ser um Curso da Pedagogia Divina, exigido de todo Espírito que, amadurecido nas experiências reencarnatórias, e já saturado dos valores perecíveis dos mundos materiais, suspira por libertar-se do seu jugo hipnótico, determinando-se à conquista de valores eternos. Tal suposição encontra respaldo nas provas dolorosas experimentadas pelos grandes benfeitores da Humanidade, principalmente pelos heróis da fé. Ao que tudo indica, nenhum Espírito se libertará dos grilhões que o prendem aos mundos das formas passageiras, sem que percorra uma senda de sacrifícios semelhante à do Cristo. Aliás, Ele mesmo sentenciou: – “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me.” (Marcos, 8:34.)

O Messias, sem que necessitasse de tais provas, teria sido o “Modelo Cósmico” da senda espinhosa que conduz à Vida Maior: Ele foi o modelo da Senda do Discípulo, porque tudo foi profetizado com antecedência de mais de setecentos anos.

 

Recordemos Isaías (Cap. LIII):

 

“Levantar-se-á como um arbusto verde na ingratidão de um solo árido...

Carregado de opróbrios e abandono dos homens.

Coberto de ignomínias, não merecerá consideração.

Será Ele quem carregará o fardo pesado de nossas culpas e sofrimentos, tomando sobre si todas as nossas dores.

Parecerá um homem vergado sob a cólera de Deus...

Humilhado e ferido, deixar-se-á conduzir como um cordeiro, mas, desde o instante em que oferecer sua vida, os interesses do Eterno hão de prosperar em suas mãos.”

Tudo aconteceu como previra Isaías! E o Mestre não nos ensinou o “Caminho” como quem ensina uma peça teatral, mas o exemplificou na própria carne. Não raro, os que tentam percorrer a Senda do Discípulo fracassam nas primeiras etapas. Assim ocorreu com os apóstolos: durante três anos eles acompanharam o Mestre, ouvindo seus ensinos, testemunhando seus exemplos e seus “prodígios”. Mas, ao que parece, aquilo era apenas o Curso Elementar do Evangelho. A Senda Dolorosa que os elevaria à verdadeira promoção espiritual viria mais tarde, quando fossem convocados aos extremos testemunhos de fé, coragem, abnegação e renúncia de suas próprias vidas.

No dia de sua prisão, Jesus, sentindo que os aprendizes do seu Evangelho ainda não estavam preparados, advertiu-os: – “Ainda esta noite todos serão postos à prova e fracassarão.” Porque assim também se cumpriria o que, com grande antecedência, previra o profeta Zacarias (13:7): – “Ferirei o Pastor e as ovelhas se dispersarão.” Mas, se os apóstolos fracassaram na primeira etapa, após a tragédia da cruz, todos, caindo em si, aceitaram, jubilosos, a Senda de Sacrifícios que os elevaria às dimensões vibratórias dos autênticos Discípulos do Senhor.

Sem dúvida, o Messias trouxe à Terra ensinos, hábitos e comportamentos de uma Humanidade que ainda está por ser construída. Ele era um estrangeiro, modelo de cidadão de um futuro remoto... uma espécie de “estranho no ninho” terrestre. E, ainda hoje, todo aquele que ouve seus ensinos e tenta praticá-los é nota dissonante no concerto da multidão. Estamos ensaiando o tipo humano de uma nova era. Nossos gostos, nossas tendências e nossos comportamentos não raro desafinam com o modo de ser de familiares, vizinhos, colegas de profissão, etc. Justo, pois, que o mundo nos ofereça o Caminho da Cruz, como fizeram ao Messias, aos profetas e a todos os benfeitores da Humanidade.

Porém, se, como aspirantes ao grau de discípulos, aceitarmos o Caminho, operar-se-á em nós misteriosa transformação: gradativamente, as vibrações densas, de baixa frequência, próprias do nosso egoísmo, orgulho, vaidade e demais ramificações, cederão lugar às vibrações sutis, de alta frequência, inerentes à submissão à Vontade de Deus (humildade, paciência, resignação, prudência, renúncia de bens efêmeros e trabalho constante em benefício da coletividade).

Percorrer a Senda do Discípulo significa exercitar, sem esmorecimentos, as virtudes citadas e outras que, em conjunto, representam a vivência das bem aventuranças do Sermão da Montanha.

Entendemos que todos os Espíritos que se transformaram em focos de bondade, luz e sabedoria, é porque superaram todas as provas da Senda do Discípulo, despindo-se das vibrações densas de suas imperfeições. A História do mundo está repleta de exemplos de vidas heróicas que se sublimaram percorrendo uma “Via Crucis” semelhante à do Messias. Moisés viveu entre experiências terríveis e dolorosas. Jeremias conheceu longas noites de angústia, trabalhando pela preservação do patrimônio religioso entre as perdições de Babilônia.

Amós, Esdras, Ezequiel, Daniel e muitos outros vultos do Velho Testamento percorreram Sendas de Sacrifícios. Os seguidores do Cristo, tanto os que com Ele conviveram, quanto os que vieram depois, só alcançaram a sublimação espiritual após percorrerem o Caminho da Cruz... sem esquecermos os milhares imolados no circo do martírio.

 

A Senda de Paulo

 

Ele se convertera, incondicionalmente, ao Cristo, às portas de Damasco.

Através de Ananias, recuperara a visão e conhecera a Boa-Nova. Só por isso, imaginava-se pronto para dar início imediato ao apostolado da nova causa.

Como se enganara! Uma sequência infindável de fracassos e incompreensões, apupos e abandonos, solidão e remorsos, enfermidades e lágrimas, marcaria o longo percurso que haveria de trilhar, a fim de tornar-se aquele campeão das lides evangélicas que todos nós conhecemos e admiramos.

Para que se despojasse da indumentária grosseira das imperfeições que abrigava o “homem velho”, teria de percorrer as estações do martírio, cujo longo trajeto começara com sua entrega ao Cristo às portas de Damasco, e só terminaria em Tarso, quando Barnabé foi buscá-lo para que desse início à sua grandiosa missão.

Vale lembrar que, embora sua “Via Crucis” continuasse até a morte, o discípulo agora estava pronto e sintonizado com o Mestre.

 

A Senda dos Modernos Discípulos

 

Nos dias do “Consolador”, o preconceito e a perseguição, a calúnia e a mentira, a zombaria e o desprezo foram provas que marcaram a senda de Modernos Discípulos. Allan Kardec, Adolfo Bezerra de Menezes, Francisco Cândido Xavier e muitos outros diplomaram-se nesses cursos difíceis, empregando suas vidas em benefício da Humanidade! São Espíritos que se tornaram merecedores das bem-aventuranças prometidas por Jesus. São modelos de uma futura Humanidade.

Seus trabalhos estão impregnados das vibrações da verdadeira Caridade, conforme a conceituou o Apóstolo Paulo, em sua Primeira Epístola aos Coríntios (13:1-7):

 

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse Caridade, nada disso me aproveitaria. A Caridade é sofredora, é benigna; a Caridade não é invejosa; a Caridade não trata com leviandade; não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.

 

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

 

Se o Apóstolo dos Gentios estivesse hoje entre nós, provavelmente diria que o trabalho do Discípulo, por abundante que fosse, se destituído de Amor, melhor seria substituí-lo pelos incríveis robots, e com grande vantagem, pois eles não se cansam, não dormem, são frios, insensíveis e indiferentes a julgamentos, censuras ou aplausos. Podem operar nos mais adversos ambientes, e executam com perfeição o programa que lhes foi traçado.

 

Finalmente, transcrevemos mensagem do Espírito Albino Teixeira, ditada a Francisco Cândido Xavier, em 1964, com título e conteúdo bem adequados ao assunto em foco:

 

Promoção

 

1 – Quando o fracasso nos desafia de perto...

2 – Quando a tentação e a enfermidade nos visitam...

3 – Quando a nossa esperança se dissolve no sofrimento...

4 – Quando a provação se nos afigura invencível...

5 – Quando somos apontados pelo dedo da injúria...

6 – Quando os próprios amigos nos abandonam...

7 – Quando todas as circunstâncias nos contrariam...

8 – Quando a mágoa aparece...

9 – Quando a incompreensão nos procura, ameaçadora...

10 – Quando somos intimados a esquecer-nos, em benefício dos outros.

 

Então, é chegado para nós o teste de aproveitamento espiritual, na escola da vida, para efeito de Promoção.”
O assunto pode parecer estranho, mórbido e até amedrontador; todavia, ante fatos desmoronam quaisquer argumentos, pois, na verdade, Jesus, os profetas do Velho Testamento, os apóstolos de ontem e de hoje, assim como os grandes benfeitores da Humanidade... todos eles percorreram o Caminho da Cruz. Quanto a nós, que estamos trilhando a Senda do Discípulo, se ainda não fomos suficientemente provados, por certo o seremos mais adiante.

Quanto a mim, estou convicto de que, se ainda não alcancei as frequências vibratórias dos autênticos Discípulos do Senhor, é porque ainda convivo com imperfeições cujas densidades me mantêm cativo de baixos planos mentais e emocionais.

 

Enfim: tenho mais informações do que realizações.

 

ADOLPHO MARREIRO JÚNIOR
 
 

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