segunda-feira, 8 de junho de 2015


Não Há Morte

Depois que partiram do círculo carnal aqueles a quem amas, tens a impressão de que a vida perdeu a sua finalidade.

As horas ficam vazias, enquanto uma
angústia que te dilacera e uma surda desesperação que te mina as energias se fazem a constante dos teus momentos de demorada agonia.

Estiveram ao teu lado como bênçãos de Deus, clareando o teu mundo de venturas com o lume da tua presença e não pensaste, não te permitiste acreditar na possibilidade de que eles te pudessem
preceder na viagem de retorno.

Cessados os primeiros instantes do impacto que a
realidade te impôs, recapitulas as horas de júbilo enquanto o pranto verte incessante, sem conforta-te, como se as lágrimas carregassem ácido que te requeima desde a fonte do sentimento à comporta dos olhos, não diminuindo a ardência da saudade.

 . .
Antes da situação, o futuro se te desdobra sombrio, ameaça
dor, e interrogas como será possível prosseguir sem eles.

O teu coração pulsa destroçado e a tua
dor moral se transforma em punhalada física, a revolver a lâmina que te macera em largo prazo.


Temes não suportar tão cruel sentimento. Conseguirás porém superá-lo. Muito justas, sim, tuas saudades e sofrimentos.

Não, porém, a ponto de levar-te ao desequilíbrio, à
morte da esperança, à revolta.

 . .
Os seres a quem amas e que morreram, não se consumiram na voragem do aniquilamento. Eles sobreviveram.


A vida seria um engodo, se se destruísse ante o sopro desagregador da morte que passa.


A vida se manifesta, se desenvolve em infinitos matizes e incontáveis expressões. A forma se modifica e se estrutura, se agrega e se decompõe passando de uma para outra expressão vibratória sem que a energia que a vitaliza dependa das circunstâncias transitórias em que se exterioriza.

Não estão portanto, mortos, no sentido de destruídos, os que transitaram ao teu lado e se transferiram de domicílio.

Prosseguem vivendo aqueles a quem amas.

Aguarda um pouco, enquanto, orando, a
prece te luarize a alma e os envolvas no rumo por onde seguem.


Não te imponhas mentalmente com altas doses de mágoas, com interrogações pressionantes, arrojando na direção deles os petardos vigorosos da tua incontida aflição.

Es
força-te por encontrar a resignação.


O amor vence, quando verdadeiro, qualquer distância e é ponte entre abismos, encurtando caminhos.


Da mesma forma que anelas por volver a senti-los, a falar-lhes, a ouvir-lhes, eles também o desejam.


Necessitam, porém, evoluir, quanto tu próprio.

Se te prendes a eles demoradamente ou os encarcera no
egoísmo, desejando continuar uma etapa que hora se encerrou, não os fruirás, porque estarão na retaguarda.

Libertando-os, eles prosseguirão contigo, preparar-te-ão o reencontro, aguarda-te-ão...


Faze-te, a teu turno, digno deles, da sua confiança, e unge-te de amor com que enriqueças outras vidas em memórias deles, por afeição a eles.


Não penseis mais em termos de “adeus” e, sim, em expressões de “até logo mais”.


Todos os homens na terra são chamados a esse testemunho, o da temporária despedida. Considera, portanto, a imperiosa necessidade de pensar nessa injunção e deixa que a reflexão sobre a morte faça parte do teu programa de assuntos mentais, com que te armarás, desde já para o retorno, ou para enfrentar em paz a partida dos teus amores. . .

Quanto àqueles que viste partir, de quem sofres saudades infinitas e impreenchíveis vazios no sentimento, entrega-os a Deus, confiando-os e confiando-te ao Pai, na certeza de que, se souberes abrir a
alma à esperança e a , conseguirás senti-los, ouvi-los, deles haurindo a confortadora energia com que te fortalecerás até o instante da união sem dor, sem sombra, sem separação pelos caminhos do tempo sem fim, no amanhã ditoso.

Joanna de Ângelis

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