segunda-feira, 15 de junho de 2015


BICO DE LUZ

Richard Simonetti


Um homem transitava por estrada deserta, altas horas. Noite escura, sem luar, estrelas apagadas...

Seguia apreensivo. Por ali ocorriam, não raro, assaltos.

Percebeu que alguém o acompanhava.

− Quem vem lá? − perguntou assustado.

Não obteve resposta.

Apressou-se, no que foi imitado pelo perseguidor. Correu... O desconhecido também.

Apavorado, em desabalada carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no peito, pulmões em brasa, passou diante de um bico de luz. Olhou para trás e, como por encanto, o medo se desvaneceu. Seu perseguidor era apenas um velho burro, acostumado a acompanhar andarilhos.

A história se assemelha ao que ocorre com a morte. A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera na espiritualidade.

As religiões, que poderiam preparar os fiéis para a vida além-túmulo, conscientizando-os da sobrevivência e descerrando a cortina que separa os dois mundos, pouco fazem nesse sentido, porquanto se limitam a incursões pelo terreno da fantasia.

O Espiritismo é o bico de luz que ilumina os caminhos misteriosos do retorno, afugentando temores irracionais e constrangimentos perturbadores.

A Doutrina Espírita nos permite encarar a morte com serenidade, preparando-nos para a grande transição. Isso é muito importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência humana: todos morreremos um dia!

A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação; um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas; uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores; uma escola para os que compreendem que a vida não é mero acidente biológico, nem a existência humana simples jornada recreativa, mas não é o nosso lar. Este está no plano espiritual, onde podemos viver em plenitude, sem as limitações impostas pelo corpo carnal.

Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz.

O primeiro passo nesse sentido é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural... Há condicionamentos milenares nesse sentido. Há pessoas que simplesmente se recusam a conceber o falecimento de um familiar ou o seu próprio. Transferem o assunto para um futuro remoto! Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação.

Onde está, ó morte, o teu aguilhão?− pergunta o apóstolo Paulo (I Cor 15, 55), a demonstrar que a fé supera os temores e angústias da grande transição.

O Espiritismo nos oferece recursos para encarar a morte com idêntica fortaleza de ânimo, inspirados, igualmente, na fé. Uma fé que não é arroubo de emoção. Uma fé lógica, racional, consciente. Uma fé inabalável de quem conhece e sabe o que o espera, esforçando-se no campo do Bem e da Verdade para que o espere o melhor.

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