domingo, 6 de janeiro de 2013

O Negócio do Doação

O professor chaves, pioneiro da Doutrina espírita, em Uberaba, Minas, foi procurado por prestigioso amigo do campo social, que lhe falou sem rebuços:

- Chaves, agora desejo doar duzentos contos para obras espíritas; entretanto, como você não desconhece, tenho aspirações políticas desde muito tempo.


O distinto educador, sumamente conhecido por sua virtuosa austeridade, guardava silêncio.



E o outro prosseguia:


- Já auxiliei construções espíritas numerosas, mas tudo sem resultado. Tenho apenas recebido ingratidões e mais ingratidões. É uma lástima. Em toda parte, mentiras e mentiras. Queria, desse modo...



Como a reticência se prolongasse, Chaves perguntou:


- Queria o que, meu amigo?



- Desejava a sua palavra empenhada, o apoio de seu prestígio diante dos espíritas, para que me garantissem o voto.



- Nada posso fazer – disse o professor, peremptório.



- Que é isso? – falou o amigo, com ar de censura - você prometeu receber-me e atender ao meu problema.



- Pensei que o senhor estivesse tratando de caridade, mas o que francamente procura é a realização de um negócio – disse Chaves, imperturbável.

- Que idéia! – falou o visitante, desencantado. – Entrego duzentos contos, duzentos contos de réis... Que é caridade, então?



Humilde e simples, o professor explicou:


- Caridade é o amor de Deus no coração humano. E esse amor, meu amigo, conforme nos ensina o Espiritismo, não tem preço. Onde é que o senhor já viu alguém pagar a luz do sol, a bênção do ar, o tesouro do verdadeiro amor ou o espetáculo do céu estrelado?...



- Mas Chaves, disse o outro -, isso é muita filosofia... O que eu desejo é fazer uma dádiva...


Para vocês, espíritas, o que vem a ser uma dádiva?



E o educador respondeu sereno:


- Dádiva é o bem que a gente faz sem esperar recompensa de coisa alguma.

O político, nervoso, despediu-se e procurou distração num bilhar. E inquirido por alguns correligionários quanto aos resultados da entrevista, deu primorosa tacada e falou que o professor João Augusto Chaves não passava de um louco.



Hilário Silva


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