quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Judas de Kerioth e Joana Darc


Judas de Kerioth e Joana DarcA lei da reencarnação é um claro e insofismável ensinamento que encontramos no Evangelho de Jesus, no capítulo XVI:13 a 20, de Mateus ("Quem diz o povo ser o filho do homem?"); em João, III:1 a 12 (colóquio com Nicodemos), e IX:1 a 7 (cura de um cego de nascença).




 
Segundo Anatole France, a Universidade de Paris, então corporação eclesiástica, foi a principal responsável pela prisão e condenação de Joana d’Arc. Foi vendida pelo conde de Luxemburgo, por proposta da universidade, aos ingleses que a odiavam, por 10.000 libras, além de uma pensão vitalícia ao soldado que a prendera.

Pedro Cauchon, bispo de Beauvais e aliado dos ingleses, dirigiu o processo de Rouen, constituído o tribunal de padres católicos, que não permitiram nenhuma defesa.

Léon Denis afirma que Joana d’Arc declarava ouvir de suas vozes: "Tem coragem! Serás libertada por uma grande vitória"; e também: "Sofrer é engrandecer-se, é elevar-se."

Foi queimada viva em praça pública de Rouen, em 30 de maio de 1431. Quando as labaredas começaram a atingi-la, bradou em estado de êxtase: "E as minhas vozes não me enganaram, estou sendo libertada por uma "grande vitória". Vislumbrava uma bela cena espiritual em que via Jesus vindo pessoalmente ao seu encontro, acompanhado dos onze apóstolos e grande número de espíritos de luz, que a felicitaram, embora ela no momento ainda ignorasse que tivesse sido a reencarnação de Judas de Kerioth. Aliás, Judas era oleiro e natural de Kerioth, povoado situado a 35 quilômetros ao sul de Jerusalém. Era o único judeu entre os doze apóstolos.

A igreja católica, após muitos anos, por pressão do povo francês, sob o comando de Calixto III, mandou rever o processo, em 1455, reabilitando Joana d’Arc. Mais tarde, em abril de 1909, beatificou-a, canonizando-a, finalmente, em 16 de maio de 1920. O bispo Pedro Cauchon foi excomungado "post-mortem".

No 3º volume de Os Quatro Evangelhos, de J.-B. Roustaing, p. 207, 7ª edição, temos as palavras probantes de Jesus de que o apóstolo Judas viria a estar em situação idêntica à dos outros (Mateus, XIX: 28):

"Em verdade vos digo que vós que Me seguistes, quando vier o Filho do Homem, ao tempo da regeneração, estiver assentado no trono da sua glória, também estareis assentados em doze tronos a julgar as doze tribos de Israel.

"Estas palavras, cujo sentido ora conheceis, despojando o espírito da letra, Jesus as dirigiu: tanto aos onze apóstolos que se conservariam fiéis, como a Judas Iscariote que, sabia-o ele de antemão, viria a traí-lo, falindo gravissimamente à sua missão. Provam elas, portanto, que, nos séculos futuros, ao tempo da regeneração, Judas estará em situação igual à dos outros onze, provando, conseguintemente, que vias e meios de purificação e de progresso moral e intelectual lhe estavam reservados e lhe seriam proporcionados, com o auxílio do tempo, como a todos os Espíritos culpados, consistindo na expiação e na reencarnação que, conforme já dissemos, constituem o inferno, o purgatório, a reparação e o progresso.

"Aquelas palavras proclamaram previamente a falsidade do dogma humano, ímpio e monstruoso, da eternidade das penas para o Espírito culpado; desse inferno eterno que, segundo a Igreja romana, tragou para toda a eternidade a Judas Iscariote, que essa mesma Igreja considera o maior dos réprobos, condenado eternamente ao inferno eterno que ela instituiu."

Dentro da lei de Justiça, Amor e Caridade, Joana d’Arc foi a última reencarnação expiatória de Judas de Kerioth.

No livro Joana d’Arc Médium, Léon Denis assim descreve:
"Ela então se dirige a Isambard de la Pierre e diz: Eu vos peço, ide buscar-me a cruz da igreja mais próxima; quero tê-la erguida bem defronte de meus olhos, até o último instante. Quando lhe apresentaram a cruz, cobre-a de beijos e de pranto. No momento em que vai morrer de uma morte horrível, abandonada por todos, quer ter diante de si a imagem desse outro supliciado que, nos confins do Oriente, no cume de um monte, deu a vida em holocausto à verdade.

"Os carrascos põem fogo à lenha e turbilhões de fumaça se enovelam no ar. A chama cresce, corre, serpeia por entre as pilhas de madeira. O Bispo de Beauvais acerca-se da fogueira e grita-lhe: Abjura! Ao que Joana, já envolvida num círculo de fogo, responde: "Bispo, morro por vossa causa, apelo do vosso julgamento para Deus!"

"Alguns minutos depois, em voz estridente, lança à multidão silenciosa, aterrorizada, estas retumbantes palavras: "Sim, minhas vozes vinham do Alto. Minhas vozes não me enganaram. Minhas revelações eram de Deus." Ecoa um grito sufocado, supremo apelo da mártir de Rouen ao Mártir do Gólgota: "Jesus".

Examinando a obra literária Crônicas de Além-Túmulo, psicografada por Francisco Cândido Xavier, em bela passagem de uma entrevista do espírito Humberto de Campos com Judas Iscariote, este, ao ser questionado por aquele se "chegou a salvar-se pelo arrependimento", responde:
- "Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois de minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimentos expiatórios da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minha provas culminaram em uma fogueira inquisitorial onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios de meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentido na fronte o ósculo do perdão da minha própria consciência."

Conforme se vê, Judas de Kerioth ou Joana d’Arc é de há muito, no plano espiritual, um espírito liberto, dotado de imensa humildade, comprovando que as vidas sucessivas no processo evolutivo nos dão a oportunidade de retornar ao caminho, conhecer a verdade religiosa para a vida em plenitude que o Mestre Jesus traçou (O Livro dos Espíritos, q. 625).

(Transcrito de O Franciscano, editado pela Associação Espírita Francisco de Assis, Rio de Janeiro, RJ, no período de 1996 a 1998, revisto pelo autor.)

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