quarta-feira, 1 de setembro de 2010

DESTINO E RESPONSABILIDADE


DESTINO E RESPONSABILIDADE



O primeiro e mais imediato efeito da fé que assenta sobre as bases da razão é a consciência da responsabilidade.



Não tendo o homem senão uma visão estreita da vida, limitada aos curtos horizontes da existência terrena, as suas aspi­rações tornam-se de breve período e pequena extensão, tendo em vista o término que se anuncia ante o advento da morte.



Pelo contrário, considerando o corpo como sendo uma veste de rápida duração e elaborado para a sua finalidade transi­tória, embora fundamental ao progresso da alma,dilatam- se as ambições e transferem-se para o futuro, através de um fenômeno natural, sem acomodação ao conformismo, as metas que não po­dem, de imediato, ser alcançadas.



Os estímulos para a luta fazem-se mais poderosos e as realizações constituem vitórias logradas no dia-a-dia da existência corporal. Por outro lado, os sofrimentos perdem a aparência pri­mitiva e revelam-se como desafios que são colocados ao longo do caminho do progresso, com a finalidade de promover o indivíduo e facultar-lhe a aquisição de valores que, sem esses testes e imposi­ções, permaneceriam adormecidos.



Semeador diligente e responsável, o homem ciente dos seus deveres não tem pressa, tampouco retarda a marcha, por­quanto sabe que há época para preparar o solo, ensementá-lo, cuidar das débeis plântulas até que elas respondam corretamente através do fatalismo que lhes jaz inato. Não tem, desse modo, a presunçosa preocupação de colher em solo não semeado, assim como não pretende resultados antes do tempo adequado. Cada ação se dá no seu momento próprio.



O que antes se lhe afigurava enigma ou injustiça, cede lugar a uma ordem natural, com o conhecimento da qual tudo se aclara e revela.



A criança frágil e macerada, enferma e mutilada no corpo ou na mente, nao foi criada, como ser algum, no momento do seu nascimento, nem ali se encontra para punir os genitores ou ancestrais mais recuados, cuja conduta arbitrária ou equívoca ensejasse a rude expiação. Pelo contrário, carpe o próprio ser os seus desatinos que foram transferidos de uma para outra existência corporal, qual ocorre com o aluno rebelde e incapaz, que a benefício dele mesmo como da sociedade, no educandário, ao invés de ser promovido, o que seria uma injustiça, é conservado na mesma classe para revisar os assuntos não assimilados e aprender o que lhe permite a ascensão a outro nível.





Cumprido o áspero período de recuperação e reparação dos erros, aquele ser prisioneiro na dor se liberta e volve à sua individualidade, que reúne todas as suas conquistas, prosseguindo em novas etapas de progresso sem o sinete da aflição ou o limite explatorio.



No intervalo entre uma e outra reencarnação, reintegrado nos seus valores intelecto-morais, mantém correspondência me­diúnica com os afetos que permanecem no corpo, animando-os e impulsionando-os ao progresso, mediante o qual volverão mais tarde a reunir-se, felizes, em grupos familiares ou fraternais.



Recuperando a lucidez após a morte do corpo físico, com­preende a necessidade da provação anterior a que foi submetido, bem como as razões que ligaram os seus pais ao quadro de dor, podendo explicar-lhes tais sucessos e armá-los de valor para pro­cedimentos futuros.



A ignorância, a falta de discernimento, as limitações são corporais, logo superadas após a libertação do cárcere orgânico no qual esteve por breve ou largo período para a redenção educativa.





Pais e filhos crucificados nas traves invisíveis das enfer­midades físicas, psíquicas ou morais são comparsas dos mesmos delitos, novamente reunidos para a renovação de propósitos, através do ressarcimer o dos débitos que ficaram após a morte anterior e que não foram saldados.



As leis fomentadoras do progresso reúnem os incursos nos mesmos códigos da Justiça e os trazem aos sítios onde delin­qüiram, de modo que, juntos outra vez, recomponham a paisagem moral danificada, soerguendo os que ficaram vitimados pela sua tirania ou insensibilidade...



Manoel P. de Miranda

Nenhum comentário:

Postar um comentário