domingo, 6 de janeiro de 2019


Amor e renúncia - Pedro quis saber por que em Caná Jesus transformara a água em vinho, já que este poderia cooperar para o desenvolvimento da embriaguez e da gula. “Simão -- disse o Mestre --, conheces a alegria de servir a um amigo? As bodas de Caná foram um símbolo da nossa união na Terra. O vinho, ali, foi bem o da alegria com que desejo selar a existência do Reino de Deus nos corações. Estou com os meus amigos e amo-os a todos. Os afetos dalma, Simão, são laços misteriosos que nos conduzem a Deus. Saibamos santificar a nossa afeição, proporcionando aos nossos amigos o máximo da alegria; seja o nosso coração uma sala iluminada onde eles se sintam tranqüilos e ditosos.” E aduziu: “As mais belas horas da vida são as que empregamos em amá-los, enriquecendo-lhes as satisfações íntimas”. (PP. 81 e 82)
        72. Pedro indagou então: “E quando os amigos não nos entendam, ou quando nos retribuam com ingratidão?” O Mestre respondeu-lhe asseverando que o amor verdadeiro e sincero nunca espera recompensas: “A renúncia é o seu ponto de apoio, como o ato de dar é a essência de sua vida. A capacidade de sentir grandes afeições já é em si mesma um tesouro. A compreensão de um amigo deve ser para nós a maior recompensa. Todavia, quando a luz do entendimento tardar no espírito daqueles a quem amamos, deveremos lembrar-nos de que temos a sagrada compreensão de Deus, que nos conhece os propósitos mais puros”. “Ainda que todos os nossos amigos do mundo se convertessem, um dia, em nossos adversários, ou mesmo em nossos algozes, jamais nos poderiam privar da alegria infinita de lhes haver dado alguma coisa!...” (P. 82)
        73. Um dia, Jesus deu a perceber que os homens que não estivessem decididos a colocar o Reino de Deus acima da família não podiam ser seus discípulos. Pedro estranhou tais palavras e perguntou-lhe: Como conciliar essa postura com as anteriores observações que ele fizera acerca dos laços sagrados entre os que se estimam? “Simão -- asseverou o Cristo --, a minha palavra não determina que o homem quebre os elos santos de sua vida; antes exalta os que tiverem a verdadeira fé para colocar o poder de Deus acima de todas as coisas e de todos os seres da criação infinita.” Ato contínuo, completou: “Tenho dado aos meus discípulos o título de amigos, por ser o maior de todos.  O Evangelho não pode condenar os laços de família, mas coloca acima deles o laço indestrutível da paternidade de Deus. O Reino do Céu no coração deve ser o tema central de nossa vida. Tudo mais é acessório”. (PP. 83 e 84)
        74. Jesus esclareceu que a família, no mundo, está igualmente subordinada aos imperativos dessa edificação. Todos os homens sabem conservar, mas raros sabem privar-se. Na construção do Reino de Deus, chega um instante de separação, que é preciso suportar com sincero desprendimento. A edificação do Reino do Céu no coração dos homens deve constituir a preocupação primeira, a aspiração mais nobre da alma, as esperanças centrais do espírito. (P. 84)

Boa Nova

Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Editora da FEB, 11a  edição, 1941.

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