sexta-feira, 18 de maio de 2018


NA ERA DO ESPÍRITO

 Antonio de CASTRO ALVES 1

 O caos invadira a França,
− Olimpo do pensamento.  
3 O ódio − lobo famulento ,
 Range as presas com furor.
Nas ruas − Paris descansa ;
Em casa − chora em segredo;
Gigante, arrosta, com medo ,
As iras do Imperador.

A Nação encarcerada
Lança em nota clandestina
As safras da guilhotina
E explode: − “ Revolução! ”
 Recorda a Bastilha irada,
Lê Rosseau, à luz da vela,
Esmurra as grades da cela,
Protesta rugindo em vão .

A crença herdada do Cristo
Caíra no sorvedouro
 − Turbilhão de pompa e ouro −,
Dobrada ao tacão dos reis.
Em tormento jamais visto ,
Nos frios templos, o povo
Exorava aos Céus, de novo ,
 24 Novos rumos, novas leis.

A Ciência − clava forte − ,
Contra as cadeias medievais ,
Partia os grilhões das trevas
Em sarcástico festim,
A exprobar de sul a norte,
Por tirana revoltada:
− “Dominemos! Deus é nada! ”
A morte − o portal do fim ! ”

Ninguém na fé militante...
Mavorte, em fúria, galopa
Nos campos de toda a Europa!
Na África − a abjeção!
Na Austrália − o progresso infante!
Na Ásia − o suor dos parias
Rola em bagas milenárias!
Na América − a escravidão!

Mas o Espaço se descerra!
Jesus, no esplendor dos sóis,
Recruta gênios e heróis
A iluminar o porvir.
De pólo a pólo, na Terra,
46 Flamejam etéreas lampas ,
Mensagens brotam das campas ,
Ao toque de ressurgir!

Aos clarões da Imensidade,
Kardec chega e inaugura
A Doutrina viva e pura
Da razão à luz do bem.
O Espírito de Verdade
Semeia Divina Messe,
O Evangelho reaparece
Nas Vozes do Grande Além!

Falam tumbas, dançam mesas,
Nascem livros, surgem almas,
Luzem preces, chovem palmas,
Hosanas aqui e ali!
Consciências dantes presas
Rompem torva cidadela;
Pastor guiando a procela,
Jesus conclama: − “Servi!”

Ante a ribalta terrestre,
O Direito renovado
Deixa, ao tropel do passado,
Distinções de raça e cor!
Em triunfo, volve o Mestre,
E acende na mente humana,
Desde o palácio à choupana,
O facho do Eterno Amor!...

O mundo voga num misto
De infortúnio e de esperança,
Pranteia a sorrir e avança
Nas Bênçãos do Excelso Pai!
Kardec reflete o Cristo;
Desfralda, em bandeira à frente,
O convite permanente:
− “Espíritas, trabalhai!...”

(*) Poeta social que exerceu profunda influência sobre a mocidade acadêmica, “o nosso genuíno poeta condoreiro”, no dizer de Álvaro Lins e Aurélio Buarque de Hollanda (Rot. ,II, Pág. 533), estudou Direito no Recife e em São Paulo, sem, contudo, concluir o curso. É, sem dúvida, um dos mais importantes bardos da América. “A sua musa” − disse-o Rui Barbosa − “não é só a da Natureza e a do Amor: é também, e sobretudo, a do Heroísmo, a do Direito e a da Glória.” (Apud Exposição castro Alves, pág. 339) (Fazenda das cabaceiras, Município de Muritiba, Esta. Da Bahia, 14 de Março de 1847 − Salvador, Bahia, 6 de Julho de 1871.)
BIBLIOGRAFIA: Espumas Flutuantes; Gonzaga ou a Revolução de Minas; A cachoeira de paulo Afonso,etc. PRIMAVERAS

ANTOLOGIA DOS IMMORTAIS FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

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