segunda-feira, 19 de março de 2018



Por Rita Foelker.

 
Cena do Bhagavad Gitã, com Krishna e Arjuna.
 

Os livros vêm guardando, há séculos, as bases das mais diversas doutrinas e religiões no mundo todo. Temos assim o Bhagavad gitã, para os hindus; o Corão, para os muçulmanos; a Bíblia para católicos e protestantes; a Torá para os judeus; a Codificação para os espíritas, apenas para citar alguns dos mais conhecidos entre nós.
Esses livros adquiriram grande importância cultural e histórica, como fontes de conhecimento destinado aos seres humanos que buscam aproximar-se de Deus e pautar sua conduta por ideais elevados de vida, no âmbito pessoal, familiar e social. Sua influência nos costumes de cada povo é inquestionável.


Uma base doutrinal ou filosófica reunida especialmente em livros supõe uma comunidade de adeptos ou seguidores aptos a lerem e a compreenderem o que leem.
Ler, por sua vez, é muito mais que decodificar símbolos gráficos e visualizar palavras. Ler é um processo que envolve compreensão de significados e percepção de sentidos do texto; recurso a conteúdos gravados na memória, libertação de muitos preconceitos, tudo isso para assimilação do conteúdo da forma mais límpida e pura possível.


Nós, contudo, raramente nos lembramos de tudo isso. Ao depor nosso olhar sobre uma frase, carregamos este olhar com estilos de pensar e crenças preexistentes, com nossos preconceitos e gostos pessoais, com nossas noções rígidas de certo e errado que contaminam a leitura, comprometendo a compreensão do trecho lido.
Assim é que, hoje, ao ler as obras de Kardec, a fim de atingir um bom grau de entendimento das ideias e conceitos ali presentes, precisamos nos libertar de formas de pensar trazidas de meios de onde viemos e de textos anteriormente lidos.



Um exemplo


A Torá, o livro sagrado dos judeus.

A ideia de uma punição após a morte física, reservada aos seguidores que não cumprem certos preceitos de comportamento e moral, e de recompensa pela conduta adequada, é comum a várias religiões.


Mas, e quanto aos livros de kardec, o que eles dizem? Que a alma, ao desencarnar, irá vivenciar as condições inerentes ao seu grau de evolução e ao estado de consciência moral em que se encontre. E que estas condições íntimas o aproximarão de criaturas afins do plano espiritual e, mesmo, entre os encarnados.


O que existe, portanto, não é um decreto divino de prisão, sofrimento, paz ou felicidade, mas a própria dinâmica das leis divinas que define a situação do espírito desencarnado o qual, acrescente-se, também não é estático, mas condicionado ao arrependimento e à procura da melhoria interior, sempre acessível em qualquer momento da jornada e estágio evolutivo alcançado.
Tudo o que foi dito pressupõe, então, a transformação intima como chave para se entender o sentido das afirmações da doutrina espírita em seus livros básicos, ainda quando a linguagem deste ou daquele espírito fale de penas e recompensas, pois é preciso capturar o sentido dessas expressões dentro do contexto geral do espiritismo e não, como se fosse um texto católico, judaico ou outro.



Logo...


O Corão ou Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos.
 

Quando procuramos conhecer outros pensamentos filosóficos ou religiosos, quando lemos o Gitã ou a Torá, a mesma atitude deveria prevalecer, com abertura de entendimento para significados e sentidos diversos daqueles aos quais o conhecimento espírita nos possa ter habituado. As concordâncias e discordâncias entre visões distintas precisam ser objetivas e, não, forçadas por pontos de vista parciais.


A observação de Kardec nos "Prolegômenos" de O livro dos espíritos, segundo a qual "o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado", aplica-se a qualquer ordem de conhecimento novo para nós, que desejemos adentrar.

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