domingo, 7 de setembro de 2014

AUTOSSUPERAÇÃO.


 
AUTOSSUPERAÇÃO.

   O egoísmo é filho espúrio do atraso moral da criatura humana, responsável por incontáveis danos que dificultam a sua ascensão espiritual no rumo da sua destinação plena. Ao mesmo tempo é genitor do orgulho que se veste de prepotência para criar embaraços a todos quantos não se lhe curvam à infantil presunção, efeito natural da imaturidade psicológica. Não apenas contribui para os conflitos entre os indivíduos como gera sentimentos de belicosidade, produzindo perturbações lamentáveis, que poderiam ser evitadas.
   Ao mesmo tempo, é responsável pelo vírus do ciúme que conduz à revolta e torpedeia as florações da beleza e do bem, que lhe não dizem respeito, causando-lhe contínuo mal-estar. Instável, porque é inseguro emocionalmente, favorece a intriga nos arraias onde predomina, ampliando o quadro morboso dos relacionamentos doentios e perversos.
   Quando o ser humano despertar realmente para a sua realidade de espírito imortal que é, esforçar-se-á com todo o empenho para diminuir os miasmas doentios, autossuperando-se. Quando o egoísmo domina a pessoa, embora seja portadora de bons propósitos, deixa-a sempre armada contra todos, considerando os demais como inamistosos e vendo-os como competidores, adversários, vigias do seu comportamento, sofrendo e produzindo amarguras naqueles que lhes experimentam as tenazes do rancor.
   O egoísmo individual fomenta o de natureza coletiva, abrindo espaço para as graves e infelizes condutas preconceituosas, por considerar tudo quanto não é resultado do seu labor como de natureza inferior. Aí proliferam as aversões a etnias, religiões, partidos políticos, filosofias, comportamentos sexuais e tantos outros, responsáveis por calamidades morais inomináveis.
   Na raiz dos conflitos psicológicos sempre estão unidos o egoísmo com máscara disfarçando-se e a culpa defluente da forma de viver e relacionar-se com as demais pessoas e com a vida.
   O ser humano, porém, avança, inevitavelmente, do instinto para a razão, dessa para a intuição, para a angelitude, o que significa sair da ignorância, da treva do obscurantismo para a luz do conhecimento, para a conquista da sabedoria na qual se fundem o intelecto com o sentimento.
   O egoísta sabe justificar-se e está sempre em cautela, equipado de argumentos que lhe escamoteiam as emoções servis, cobrindo-se de direitos que não concede a seu próximo. Esse insensível inimigo do progresso espiritual do ser humano é contraditório e selvagem.
   Ao ser identificado, porém, começa a perder o seu predomínio sobre sua vítima, sendo diluído pelo esforço do bem a todos devem aspirar, afadigando-se por consegui-lo.
   Os antídotos para o egoísmo são o altruísmo, a aspiração pelo bom, pelo belo, pelo amor em toda a sua plenitude. Cabe ao ser humano manter a vigilância constante contra esse mal que predomina na natureza.
   Pequenos hábitos mentais em torno da reflexão de pensamentos edificantes constituem eficazes métodos para a superação desse adversário insano, que o acompanha desde há muitos milênios e deve ser deixado à margem.
   O silêncio sem revolta ante acontecimentos que aparentemente ferem o ego proporciona eficiente recurso para ver do ponto de vista do outro a ocorrência agradável ou não.
   O esforço por facultar ao próximo o direito de comportar-se conforme lhe apraz, mesmo quando não se lhe submete às exigências é de salutar importância.
   Considerar que tudo no mundo é transitório (o poder, a glória, a saúde, a fortuna, a beleza, assim como a doença, o degredo, a feiura, o insucesso, a escravidão) constitui segura terapia para a doença virótica que é o egoísmo.
   À medida que se dilatam os sentimentos de ternura em relação aos demais, de compaixão pelos infelizes, de compreensão fraternal para com todos, as correntes férreas do egoísmo arrebentam-se e a sua vítima experimenta especial, peculiar alegria de viver e de servir.
  Preenche os vazios existenciais com ricos objetivos emocionais que dão sentido à vida, constituindo estímulos contínuos para o bem-estar, para alegria sem jaça.
   Já não importam os aplausos e as veleidades antes exigidas por haverem perdido o seu significado emocional egóico. Igualmente, os comentários ácidos e as censuras injustificadas não encontram guarida nos seus sentimentos pela ausência total de presunção, considerando que todos experimentam as mesmas ou parecidas circunstâncias, dissabores, realizações, importando a meta a ser alcançada e não os impedimentos que lhe surgem à frente.
   Quem se detém ante obstáculos imaginários nunca atinge o objetivo da existência. Realmente fazem-se valiosos a amizade espontânea que recebe, o sorriso fraterno que lhe é dirigido, a palavra gentil que se lhe endereça.
   A gentileza reponta na emoção e amplia sua área, sobrepondo-se à pompa de bolha de sabão da vaidade egotista e sem sentido.
   Nesse maravilhoso desenvolvimento ético-moral e de transcendência emocional, a real alegria de viver predomina ao lado da legítima ação da benevolência e da caridade.
   Não dês trégua a esse adversário da harmonia humana. Vigia as nascentes do coração e conseguirás impedir-lhe o surgimento ou a sua manutenção.
   Mas se tiverdes dificuldade na experiência íntima e pessoal busca o auxílio da oração, entregando-te a Deus e por Ele deixando-te conduzir.
  Francisco de Assis, o iluminado da Úmbria, compreendeu a necessidade de vencer o atavismo egoístico na sua Oração simples em todos os postulados e, especialmente, quando exarou em um dos delicados tópicos: Que em console mais do que seja consolado. Reconhecia o cantor de Deus que é servindo e renunciando-se a si mesmo que se pode fruir de plenitude.
   Desse modo, ante o egoísmo sandeu, outra atitude não existe senão o imediato esforço pela autossuperação, buscando mais consolar do que ser consolado.
JOANNA DE ÂNGELIS.

Fonte: Texto retirado da publicação do Tablóide “Maringa Espírita” 03/02/13, pgs 04 e 05, “Coluna Joanna de Ângelis”. Página psicografada por Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 28 de novembro de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção em Salvador, Bahia. Agradecimentos a Dom José Ricardo Rodriguez y Rodriguez.

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