Marcos Paterra |
Suicídio
Suicidas –
Morrem… mas… Não desencarnam
Marcos
Paterra
No espiritismo costuma se usar o termo “Desencarnar” quando uma
pessoa morre, porém no caso do suicídio as coisas ocorrem de forma mais lentas.
Em diversas
obras encontramos trechos em que os espíritos afirmam que ficam presos ao corpo
até sua completa extinção, Allan Kardec nos revela isso com propriedade
na entrevista publicada na Revista Espírita de junho de 1858 com o titulo
“ O suicida de Samaritana”
“5. Qual foi
o motivo que vos levou ao suicídio? – R. Estou morto?… Não…
Habito meu
corpo… Não sabeis o quanto sofro!… Eu estufo… Que mão compassiva procure me
matar!
13. Que
reflexões fizestes no momento em que sentistes a vida se extinguir em vós? – R.
Não refleti; senti… Minha vida não está extinta… minha alma está ligada ao meu
corpo… Sinto os vermes que me roem.”
No livro
“Depois do Suicídio” de Cleonice Orlandi de Lima, temos o depoimento de
Jacinto[1] : “ Continuei com o corpo morto, mas sem poder
me separar do cadáver. Assim paralisado assisti aos funerais, ouvi os lamentos
e as recriminações dos presentes pelo meu ato. Horrorizado, vi fecharem o
caixão sobre mim.
Fui conduzido, assistindo a tudo e sempre sentindo a dor do
ferimento na boca. Carregaram-me ao cemitério, enterraram-me e me deixaram
sozinho. Senti a sufocação do fundo da cova, mas não podia fazer o mais leve
movimento. Estava colado ao corpo morto! As dores que sentia eram fabulosamente
insuportáveis. E, logo a seguir, passei a sentir o cheiro do corpo apodrecendo.
Senti a mordedura dos vermes, milhões de mordidas ao mesmo tempo, por todo o
corpo. Dores incríveis!
Muito tempo depois a carne foi se separando dos ossos, foi se
acabando e eu sempre ali, sentindo as dores e assistindo a tudo. A sede, a fome
e o frio me torturavam. A dor do ferimento da boca nunca me abandonou. Jamais
tive um único minuto de descanso, em que pudesse dormir.”
Emmanuel no
livro “O Consolador” confirma :
“Suicidas há que continuam experimentando os padecimentos físicos
da última hora terrestre, em seu corpo somático, indefinidamente. (…) a pior
emoção do suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o processo da
decomposição do corpo abandonado no seio da terra, verminado e apodrecido.”[2]
Yvone
Pereira no livro “Memoria de um Suicida” nos trás uma visão do que ocorre
quando finalmente o espírito se desliga do corpo contando a história de Camilo
Castelo Branco que desencarnado, foi para o “Vale dos Suicidas”,
onde sofreu horrores, , durante 12 anos até ser resgatado em 1903.
Devemos
ainda levar em conta que o suicídio não é só aquele brutal e relativamente
rápido, tem também os fumantes, alcoólatras, e/ou viciados de maneira geral.
“O suicídio brutal, violento, é crueldade para com o próprio ser.
No entanto, há também o indireto, que ocorre pelo desgastar das forças morais e
emocionais, das resistências físicas no jogo das paixões dissolventes, na
ingestão de alimentos em excesso, de bebidas alcoólicas, do fumo pernicioso,
das drogas aditícias, das reações emocionais rebeldes e agressivas, do
comportamento mental extravagante, do sexo em uso exagerado, que geram
sobrecargas destrutivas nos equipamentos físicos, psicológicos e psíquicos…”[3]
Kardec
é bem claro sobre a questão do suicídio no Livro dos espíritos entre as
questões 944 até 946.
“Na morte
violenta as sensações não são precisamente as mesmas. Nenhuma desagregação
inicial há começado previamente a separação do perispírito; a vida orgânica em
plena exuberância de força é subitamente aniquilada. Nestas condições, o
desprendimento se começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente.
No suicídio, principalmente, excede a toda expectativa. Preso ao corpo por
todas as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as sensações
daquele. Com sofrimentos cruciantes.”[4]
Muitos podem
questionar se o suicídio pode ser induzido por um obsessor, Yone Pereira
novamente nos brinda com a resposta : “Não obstante, homens comuns ou
inferiores poderão cair nos mesmos transes, conviver com entidades espirituais
inferiores como eles e retornar obsidiados, predispostos aos maus atos e até
inclinados ao homicídio e ao suicídio. Um distúrbio vibratório poderá ter
várias causas, e uma delas será o próprio suicídio em passada existência.”[5]
A doutrina
espírita nos ensina que a morte não é o fim; e que de outra forma a vida
continua. Que muitas vezes somos influenciados por obsessores, porem esses só
agem devido ao nosso desiquilíbrio, e que precisamos ter consciência do que
ocorre, caso desistamos da vida a qual tivemos o privilegio de através da
reencarnação buscar compreender e superar as provas e expiações.
“A certeza da vida futura, com todas as suas consequências, transforma
completamente a ordem de suas ideias, fazendo-lhe ver as coisas por outro
prisma: é um véu que se ergue e lhe desvenda um horizonte imenso e
esplêndido. Diante da infinidade e da grandeza da vida além da morte, a
existência terrena desaparece, como um segundo na contagem dos séculos, como um
grão de areia ao lado da montanha. Tudo se torna pequeno e mesquinho e nos
admiramos por havermos dado tanta importância às coisas efêmeras e infantis.
Daí, em meio às vicissitudes da existência, uma calma e uma tranquilidade que
constituem uma felicidade, comparados com as desordens e os tormentos a que
nos sujeitamos, ao buscarmos nos elevar acima dos outros; daí, também,
ante as vicissitudes e as decepções, uma indiferença, que tira quaisquer motivos
de desespero, afasta os mais numerosos casos de loucura e remove,
automaticamente, a idéia de suicídio.”[6]
Artigo
publicado pela RIE em Junho de 2012
[1] Rio de
Janeiro, outubro de 1917- Ed. DPL. São Paulo.1998.
[2] XAVIER,
Francisco C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7 ed. Rio de Janeiro:. p.
96. FEB, 1977
[3] FRANCO
Divaldo P. ADOLESCÊNCIA E VIDA. CAPÍTULO 25 – O ADOLESCENTE E O
SUICÍDIO. P. 76. Ed. FEB.1999.
[4] KARDEC,
Allan. O Céu e o Inferno. Capítulo 1, 2ª Parte, ítens 11 e 12Ed. FEB.
Rio de Janeiro.2.000
[5] PEREIRA,
Yvone. Recordações da Mediunidade. Editora FEB. Rio de Janeiro.
[6] KARDEC,
Allan. O Principiante Espírita. Cap. Consequências do Espiritismo (item
100). P. 44. Ed. Pensamento. São Paulo. 1955
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