quinta-feira, 31 de janeiro de 2019


NOTA DE FÉ

Maria Dolores

Em qualquer fase da vida,
Quando a prova te apareça,
Tempestade ou mágoa espessa
Ao peso de férrea cruz,
Recorda que o Céu te envia
Mais amparo do que pensas,
Mesmo nas trevas mais densas,
Deus te acende nova luz.

Conflitos, problemas, lutas,
Nas sendas por onde vamos,
São lições que precisamos,
A fim de saber servir;
Não há desprezo ante os Céus,
Olha o charco que se enflora,
Pensa na noite e na aurora
E guarda a fé no porvir.

Sofrimento é igual à nuvem...
Estrondo, fúria, ameaça...
Depois... é chuva que passa,
Frutos ganhando apogeus;
Se hoje sofres, não te esqueças,
Que amanhã, no Espaço Infindo,
O dia virá mais lindo,
Brilhando no amor de Deus.

MARIA DOLORES
Chico Xavier Maria Dolores

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019


RELIGIÃO

 A ciência multiplica as possibilidades dos sentidos e a filosofia aumenta os recursos do raciocínio, mas a religião é a força que alarga os potenciais do sentimento.

Por isso mesmo, no coração mora o centro da vida. Dele partem as correntes imperceptíveis do desejo que se substanciam em pensamento no dínamo cerebral, para depois se materializarem nas palavras, nas resoluções, nos atos e nas obras de cada dia.

Na luta vulgar, há quem menospreze a atividade religiosa, supondo-a mero artifício do sacerdócio ou da política, entretanto, é na predicação da fé santificante que encontraremos as regras de conduta e perfeição de que necessitamos para o crescimento de nossa vida mental na direção das conquistas divinas.

A humanidade, sintetizando o fruto das civilizações, é construção religiosa.
Dos nossos antepassados invertebrados e vertebrados caminhamos nos milênios, de reencarnação em reencarnação, adquirindo inteligência, por intermédio da experimentação incessante, mas não é somente a razão o fruto de nosso aprendizado, no decurso dos séculos, mas também o discernimento ou a luz espiritual, com que pouco a pouco aperfeiçoamos a mente.

A religião é a força que está edificando a Humanidade. É a fábrica invisível do caráter e do sentimento.

Milhões de criaturas encarnadas guardam, ainda, avançados patrimônios de animalidade. Valem-se da forma humana, como quem aproveita de uma casa nobre para a incorporação de valores educativos. Possuem coração para registrar o bem, contudo, abrigam impulsos de crueldade. O instinto da pantera, a peçonha da serpente, a voracidade do lobo, ainda imperam no psiquismo de inumeráveis inteligências.

Só a religião consegue apagar as mais recônditas arestas do ser. Determinando nos centros profundos de elaboração do pensamento, altera, gradativamente, as características da alma, elevando-lhe o padrão vibratório, através da melhoria crescente de suas relações com o mundo e com os semelhantes.

Nascida no berço rústico do temor, a fé iniciou o seu apostolado, ensinando às tribos primárias que o Divino Poder guarda as rédeas da suprema justiça, infundindo respeito à vida e aprimorando o intercâmbio das almas. Dela procedem os mananciais da fraternidade realmente sentida, e, embora as formas inferiores da religião, na antiguidade, muita vez incentivando a perseguição e a morte, em sacrifícios e flagelações deploráveis, e apesar das lutas de separação e incompreensão que dividem os templos nos dias da atualidade, arregimentando-os para o dissídio em variadas fronteiras dogmáticas, ainda é a religião a escola soberana de formação moral do povo, dotando o espírito de poderes e luzes para a viagem da sublimação. 

A ciência construirá para o homem o clima do conforto e enriquecê-lo-á com os brasões da cultura superior; a filosofia auxiliá-lo-á com valiosas interpretações dos fenômenos em que a Eterna Sabedoria se manifesta, mas somente a fé, com os seus estatutos de perfeição íntima, consegue preparar nosso espírito imperecível para a ascensão universal.

Emmanuel, do livro Roteiro, psicografia de Chico Xavier.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019


O GRANDE EDUCANDÁRIO

De portas abertas à glória do ensino, a Terra, nas linhas da atividades carnal, é, realmente, um universidade sublime, funcionando, em vários cursos e disciplinas, com dois bilhões de alunos, aproximadamente, matriculados nas várias raças e nações.

Mais de vinte bilhões de almas conscientes, desencarnadas, sem nos reportarmos aos bilhões de inteligências sub-humanas que são aproveitadas nos múltiplos serviços do progresso planetário, cercam o domicílio terrestre, demorando-se noutras faixas de evolução.

Para a maioria dessas criaturas, necessitadas de experiência nova e mais ampla, a reencarnação não é somente um impositivo natural mas também um prêmio pelo ensejo de aprendizagem.

Assim é que, sob a iluminada supervisão das Inteligências Divinas, cada povo, no passado ou no presente, constitui uma seção preparatória da Humanidade, à frente do porvir.

Ontem, aprendíamos a ciência no Egito, a espiritualidade na Índia, o comércio na Fenícia, a revelação em Jerusalém, o direito em Roma e filosofia na Grécia. Hoje, adquirimos a educação na Inglaterra, a arte na Itália, a paciência na China, a técnica industrial na Alemanha, o respeito à liberdade na Suíça e a renovação espiritual nas Américas.

Cada nação possui tarefa especifica no aprimoramento do mundo. E ainda mesmo quando os blocos raciais, em desvairo, se desmandam na guerra, movimentam-se à procura de valores novos no próprio engrandecimento.

Nos círculos do Planeta, vemos as mais primitivas comunidades dirigindo-se para as grandes aquisições culturais.

Se é verdade que a civilização refinada de hoje voa, pelo mundo, contornando-o em algumas horas, caracterizando-se pelos mais altos primores da inteligência, possuímos milhões de irmãos pela forma, infinitamente distantes do mundo moral. Quase nada diferindo dos irracionais, não conseguiram ainda fixar a mínima noção de responsabilidade.

Os anões docos da Abissínia, sem qualquer vestuário e pronunciando gritos estranhos à guisa de linguagem, mais se assemelham aos macacos.

Os nossos irmãos negros de Kytches passam os dias estirados no chão, à espera de ratos com que possam mitigar a própria fome.

Entre grande parte dos africanos orientais, não existe ligação moral entre pais e filhos.

Os Latucas, no interior da África, não conhecem qualquer sentimento de compaixão ou dever. 

Remanescentes dos primitivos habitantes das Filipinas erram nas montanhas, à maneira de animais indomesticáveis.

E, não longe de nós, os botocudos, entregues à caça e à pesca, são exemplares terríveis de bruteza e ferocidade.

No imenso educandário, há tarefas múltiplas e urgentes para todos os que aprendem que a vida é movimento, progresso, ascensão.

Na fé religiosa como na administração dos patrimônios públicos, na arte tanto quanto na indústria, nas obras de instrução como nas ciências agrícolas, a individualidade encontra vastíssimo campo de ação, com dilatados recursos de evidenciar-se.

O trabalho é a escada divina de acesso aos lauréis imarcescíveis do espírito.

Ninguém precisa pedir transferência para Júpiter ou Saturno, a fim de colaborar na criação de novos céus. A Terra, nossa casa e nossa oficina, em plena paisagem cósmica, espera por nós, a fim de que a convertamos em glorioso paraíso.

Emmanuel, do livro Roteiro, psicografia de Chico Xavier.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019


 SINTONIA

As bases de todos os serviços de intercâmbio, entre os desencarnados e encarnados, repousam na mente, não obstantes as possibilidades de fenômenos naturais, no campo da matéria densa, levados a efeito por entidades menos evoluídas ou extremamente consagradas à caridade sacrificial.

De qualquer modo, porém, é no mundo mental que se processa a gênese de todos os trabalhos da comunhão de espírito a espírito.

Daí procede a necessidade de renovação idealística, de estudo, de bondade operante e de fé ativa, se pretendemos conservar o contato com os Espíritos da Grande Luz.

Simbolizemos nossa mente como sendo uma pedra inicialmente burilada.

Tanto quanto a do animal, pode demorar-se, por muitos séculos, na ociosidade ou na sombra, sob a crosta dificilmente permeável de hábitos nocivos ou de impulsos degradantes, mas se a expomos ao sol da experiência, aceitando os atritos, as lições, os dilaceramentos e as dificuldades do caminho por golpes abençoados do buril da vida, esforçando-nos Por aperfeiçoar o conhecimento e melhorar o coração, tanto quanto a pedra burilada reflete a luz, certamente nos habilitamos a receber a influência dos grandes gênios da sabedoria e do amor, gloriosos expoentes da imortalidade vitoriosa, convertendo-nos em valiosos instrumentos da obra assistencial do Céu, em favor do reerguimento de nossos irmãos menos favorecidos e para a elevação de nós mesmos às regiões mais altas. 

A fim de atingirmos tão alto objetivo é indispensável traçar um roteiro para a nossa organização mental, no Infinito Bem, e segui-lo sem recuar.

Precisamos compreender - repetimos - que os nossos pensamentos são forças, imagens, coisas e criações visíveis e tangíveis no campo espiritual.

Atraímos companheiros e recursos, de conformidade com a natureza de nossas idéias, aspirações, invocações e apelos.

Energia viva, o pensamento desloca, em torno de nós, forças sutis, construindo paisagens ou formas e criando centros magnéticos ou ondas, com os quais emitimos a nossa atuação ou recebemos a atuação dos outros.

Nosso êxito ou fracasso dependem da persistência ou da fé com que nos consagramos mentalmente aos objetivos que nos propomos alcançar.

Semelhante lei de reciprocidade impera em todos os acontecimentos da vida.

Comunicar-nos-emos com as entidades e núcleos de pensamentos, com os quais no colocamos em sintonia.

Nos mais simples quadros da natureza, vemos manifestado o princípio da correspondência.  

Um fruto apodrecido ao abandono estabelece no chão um foco infeccioso que tende a crescer, incorporando elementos corruptores.

Exponhamos a pequena lâmina de cristal, limpa e bem cuidada, à luz do dia, e refletirá infinitas cintilações do Sol.

Andorinhas seguem a beleza da primavera.

Corujas acompanham as trevas da noite.

O mato inculto asila serpentes.

A terra cultivada produz o bom grão.

Na mediunidade, essas leis se expressam, ativas.

Mentes enfermiças e perturbadas assimilam as correntes desordenadas do desequilíbrio, enquanto que a boa-vontade e a boa intenção acumulam os valores do bem.

Ninguém está só.

Cada criatura recebe de acordo com aquilo que dá.

Cada alma vive no clima espiritual que elegeu, procurando o tipo de experiência em que situa a própria felicidade.

Estejamos, assim, convictos de que os nossos companheiros na Terra ou no Além são aqueles que escolhemos com as nossas solicitações interiores, mesmo porque, segundo o antigo ensinamento evangélico, “tecemos nosso tesouro onde colocamos o coração”.

Emmanuel, do livro Roteiro, psicografia de Chico Xavier.

domingo, 27 de janeiro de 2019


EM NOSSAS TAREFAS ESPIRITUAIS

I

No caminho de suas realizações e tarefas, o bom trabalhador contará sempre com o auxílio do Mais Alto através de recursos espirituais.

Mas, da mesma forma, os Benfeitores Maiores contarão sempre com a segurança de sua fé, ante as trilhas que lhes cabe percorrer e superar.

Pois que as nossas atividades mediúnicas e o trabalho metódico no grupo espírita a que nos vinculamos obterão o maior rendimento no Bem sempre que confiarmos ao amparo de Jesus a nossa sementeira de paz e amor.

II

Confiemos em Jesus, fazendo, sempre, o melhor em nosso alcance e os mensageiros espirituais do Mais Alto prosseguirão colaborando na sustentação de nossas forças, para a desincumbência de nossos compromissos.

III

Filhos, sem dúvida, nosso coração poderá usar a palavra dos Amigos Espirituais, pela inspiração com o Evangelho, sempre que nos dispomos ao trabalho com Jesus. A idéia Cristã é patrimônio que nos pertence a todos. Jesus conosco!

IV

Em nossas tarefas dignas e edificantes seremos sempre sustentados com o amparo de Jesus, através de abnegados amigos do Alto.

V

Dever bem cumprido é degrau de ascensão à vitória. Não nos faltará o socorro Divino no fiel desempenho de nossas obrigações. Roguemos ao Senhor nos multiplique as energias.

VI

Permaneçamos firmes em nossas tarefas e confiemos em Jesus hoje e sempre. Só assim a nossa saúde orgânica e espiritual receberá o melhor contingente de forças, através do campo vibratório do círculo espiritual a que nos integramos.

VII

Guardemos sempre a serenidade e a fé viva em nossos caminhos e confiemos no amparo de Jesus.

APELOS CRISTÃOS
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Ditados por Bezerra de Meneses

sábado, 26 de janeiro de 2019


Sepulcros abertos

“A sua garganta é um sepulcro aberto.” – Paulo. (Romanos, 3:13.)

Reportando-se aos espíritos transviados da luz, asseverou Paulo que têm a garganta semelhante
a sepulcro aberto e, nessa imagem, podemos emoldurar muitos companheiros, quando se afastam da Estrada Real do Evangelho para os trilhos escabrosos do personalismo delinquente.

Logo se instalam no império escuro do “eu”, olvidando as obrigações que nos situam no
Reino Divino da Universalidade, transfigura-se-lhes a garganta em verdadeiro túmulo
descerrado. Deixam escapar todo o fel envenenado que lhes transborda do íntimo,
à maneira dum vaso de lodo, e passam a sintonizar, exclusivamente, com os males que ainda apoquentam vizinhos, amigos e companheiros.

Enxergam apenas os defeitos, os pontos frágeis e as zonas enfermiças das pessoas de
boa-vontade que lhes partilham a marcha.

Tecem longos comentários no exame de úlceras alheias, ao invés de curá-las.

Eliminam precioso tempo em palestras compridas e ferinas, enegrecendo as intenções dos outros.

Sobrecarregam a imaginação de quadros deprimentes, nos domínios da suspeita e da intemperança mental.

Sobretudo, queixam-se de tudo e de todos.

Projetam emanações entorpecentes de má-fé, estendendo o desânimo e a desconfiança contra a prosperidade da santificação, por onde passam, crestando as flores da esperança e aniquilando os frutos imaturos da caridade.

Semelhantes aprendizes, profundamente desventurados pela conduta a que se acolhem,
afiguram-se-nos, de fato, sepulcros abertos...

Exalam ruínas e tóxicos de morte.

Quando te desviares, pois, para o resvaladiço terreno das lamentações e das acusações,
quase sempre indébitas, reconsidera os teus passos espirituais e recorda que a nossa
garganta deve ser consagrada ao bem, pois só assim se expressará, por ela, o verbo
sublime do Senhor.

Francisco Cândido Xavier

Fonte Viva


4o livro da Coleção “Fonte Viva”
(Interpretação dos Textos Evangélicos)


Ditado pelo Espírito
Emmanuel

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019


Os Quinhentos da Galiléia
Depois do Calvário, verificadas as primeiras manifestações de Jesus no cenáculo singelo de Jerusalém, apossara-se de todos os amigos sinceros do Messias uma saudade imensa de sua palavra e de seu convívio. A maioria deles se apegava aos discípulos, como querendo reter as últimas expressões de sua mensagem carinhosa e imortal.

O ambiente era um repositório vasto de adoráveis recordações. Os que eram agraciados com as visões do Mestre se sentiam transbordantes das mais puras alegrias. Os companheiros inseparáveis e íntimos se entretinham em longos comentários sobre as suas reminiscências inapagáveis.

Foi quando Simão Pedro e alguns outros salientaram a necessidade do regresso a Cafarnaum, para os labores indispensáveis da vida.

E, breves dias, as velhas redes mergulhavam de novo no Tiberíades, por entre as cantigas rústicas dos pescadores.

Cada onda mais larga e cada detalhe do serviço sugeriam recordações sempre vivas no tempo. As refeições ao ar livre lembravam o contentamento de Jesus ao partir o pão; o trabalho, quando mais intenso, como que avivava a sua e recomendação de bom ânimo; a noite silenciosa reclamava a sua bênção amiga.

Embebidos na poesia da Natureza, os apóstolos organizavam os mais elevados projetos, com relação ao futuro do Evangelho. A residência modesta de Cefas, obedecendo às tradições dos primitivos ensinamentos, continuava a ser o parlamento amistoso, onde cada um expunha os seus princípios e as suas confidências mais recônditas. Mas ao pé do monte o Cristo se fizera ouvir algumas vezes, exaltando as belezas do Reino de Deus e da sua justiça, reunia-se invariavelmente todos os antigos seguidores mais fiéis, que se haviam habituado ao doce alimento de sua palavra inesquecível. Os discípulos não eram estranhos a essas rememorações carinhosas e, ao cair da tarde acompanhavam a pequena corrente popular pela via das recordações afetuosas.

Falava-se vagamente de que o Mestre voltaria ao monte para despedir-se. Alguns dos apóstolos aludiam às visões em que o Senhor prometia fazer de novo ouvida a sua palavra num dos lugares prediletos das suas pregações de outros tempos.

Numa tarde de azul profundo, a reduzida comunidade de amigos do Messias, ao lado da pequena multidão, reuniu-se em preces, no sítio solitário. João havia comentado as promessas do Evangelho, enquanto na encosta se amontoava a assembléia dos fiéis seguidores do Mestre.

Viam-se, ali, algumas centenas de rostos embevecidos e ansiosos. Eram romanos de mistura com judeus desconhecidos, mulheres humildes conduzindo os filhos pobres e descalços, velhos respeitáveis, cujos cabelos alvejavam de neve dos repetidos invernos da vida.

Nesse dia, como que antiga atmosfera se fazia sentir mais fortemente. Por instinto, todos tinham a impressão de que o Mestre voltaria a ensinar as bem-aventuranças celestiais. Os ventos recendiam suave perfume, trazendo as harmonias do lago próximo. Do céu muito azul, como em festa para receber a claridade das primeiras estrelas, parecia descer uma tranquilidade imensa que envolvia todas as coisas. Foi nesse instante, de indizível grandiosidade, que a figura do Cristo assomou no cume iluminado pelos derradeiros raios de Sol.

Era Ele.

Seu sorriso desabrochava tão meigo como ao tempo glorioso de suas primeiras pregações, mas de todo o seu vulto se irradiava luz tão intensa que os mais fortes dobravam os joelhos. Alguns soluçavam de júbilo, presas das emoções mais belas de sua vida. As mãos do Mestre tomaram a atitude de que abençoava, enquanto um divino silêncio parecia penetrar a alma das coisas. A palavra articulada não tomou parte naquele banquete de luz imaterial; todos, porém, lhe perceberam a amorosa despedida e, no mais intimo da alma, lhe ouviram a exortação magnânima e profunda:

- "Amados - a cada um se afigurou escutar na câmara secreta do coração -, eis que retorno a vida em meu Pai para regressar à luz do meu Reino!... Enviei meus discípulos como ovelhas ao meio de lobos e vos recomendo que lhes sigais os passos no escabroso caminho. Depois deles, é a vós que confio a tarefa sublime da redenção pelas verdades do Evangelho. Eles serão os semeadores, vós sereis o fermento divino. Instituo-vos os primeiros trabalhadores, os herdeiros iniciais dos bens divinos. Para entrardes na posse do tesouro celestial, muita vez experimentareis o martírio da cruz e o fel da ingratidão... Em conflito permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de suas leis implacáveis e egoístas, até que as bases do meu Reino de concórdia e justiça se estabeleçam no espírito das criaturas. Negai-vos a vós mesmos, como neguei a minha própria vontade na execução dos desígnios de Deus, e tomai a vossa cruz para seguir-me.

"Séculos de luta vos esperam na estrada universal. É preciso imunizar o coração contra todos os enganos da vida transitória, para a soberana grandeza da vida imortal. Vossas sendas estão repletas de fantasmas de aniquilamento e de visões de morte. O mundo inteiro se levantará contra vós, em obediência espontânea às forças tenebrosas do mal, que ainda lhe dominam as fronteiras. Sereis escarnecidos e aparentemente desamparados; a dor vos assolará as esperanças mais caras; andareis esquecidos na Terra, em supremo abandono do coração. Não participareis do venenoso banquete das posses materiais, sofrerei a perseguição e o terror tereis o coração coberto de cicatrizes e de ultraje. A chaga é o vosso sinal, a coroa de espinhos, vosso percurso ditoso da redenção. Vossa voz será a do deserto, provocando, muitas vezes, o escárnio e a negação da parte dos que dominam na carne perecível.

"Mas, no desenrolar das batalhas incruentas do coração, quando todos os horizontes estiverem abafados pelas sombras da crueldade, dar-vos-ei da minha paz, que representa a água viva. Na existência ou na morte do corpo, estareis unidos ao meu Reino. O mundo vos cobrirá de golpes terríveis e destruidores, mas, de cada uma das vossas feridas, retirarei o trigo luminoso para os celeiros infinitos da graça, destinados ao sustento das mais ínfimas criaturas!... Até que o Reino se estabeleça na Terra, não conhecereis o amor no mundo; eu, no entanto, encherei a vossa solidão com minha assistência incessante. Gozarei em vós, como gozareis em mim, o júbilo celeste da execução fiel dos desígnios de Deus. Quando tombardes, sob as arremetidas dos homens ainda pobres e infelizes, eu vos levantarei no silêncio do caminho, com as minhas mãos dedicadas ao vosso bem. Sereis a união onde houver separatividade, sacrifício onde existir o falso gozo, claridade onde campearem as trevas, porto amigo, edificado na rocha da viva, onde pairarem as sombras da desorientação. Sereis meu refúgio nas igrejas mais estranhas da Terra, minha esperança entre as loucuras humanas, minha verdade onde se perturbar a ciência incompleta do mundo!...

"Amados, eis que também vos envio como ovelhas aos caminhos obscuros e ásperos. Entretanto, nada temais! Sede fiéis ao meu coração, como vos sou fiel, e o bom ânimo representará a vossa estrela! Ide ao mundo, onde teremos de vencer o mal! Aperfeiçoemos a nossa escola milenária, para que aí seja interpretada e posta em prática a Lei de Amor do Nosso Pai, em obediência feliz à sua vontade augusta!"

Sagrada emoção senhoreara-se das almas em êxtase de ventura. Foi então que observaram o Mestre, rodeado de luz, como a elevar-se ao céu, em demanda de sua gloriosa esfera do infinito.

Os primeiros astros da noite brilhavam no alto, como flores radiosas do Paraíso. No monte Galileu, cinco centenas de corações palpitavam, arrebatados por intraduzível júbilo. Velhos trêmulos e encarquilhados desceram a encosta, unidos uns aos outros, como solidários, para sempre, no mesmo trabalho de grandeza imperecível. Anciãs de passo vacilante, coroadas pela neve das experiências da vida, abraçavam-se às filhas e netas, jovens e ditosas, tomadas de indefinível embriaguez dalma. Romanos e judeus, ricos e pobres confraternizavam, felizes, adivinhando a necessidade de cooperação na tarefa santa. Os antigos discípulos, cercando a figura de Simão Pedro, choravam de contentamento e esperança.

Naquela noite de imperecível recordação, foi confiado aos quinhentos da Galiléia o serviço glorioso da evangelização das coletividades terrestres, sob a inspiração de Jesus - Cristo. Mal sabiam eles, na sua mísera condição humana, que a palavra do Mestre alcançaria os séculos do porvir. E foi assim que, representando o fermento renovador do mundo, eles reencarnaram em todos os tempos, nos mais diversos climas religiosos e políticos do planeta, ensinando a verdade e abrindo novos caminhos de luz, através do bastidores eternos do Tempo.

Foram eles os primeiros a transmitir a sagrada vibração de coragem e confiança aos que tombaram nos campos do martírio, semeando a no coração pervertido das criaturas. Nos circos da vaidade humana, nas fogueiras e nos suplícios, ensinaram a lição de Jesus, com resignado heroísmo. Nas artes e nas ciências, plantaram concepções novas de desprendimento do mundo e de belezas do céu e, no seio das mais variadas religiões da Terra, continuam revelando o desejo do Cristo, que é de união e de amor, de fraternidade e concórdia.

Na qualidade de discípulos sinceros e bem-amados, desceram aos abismos mais tenebrosos, redimindo o mal com os seus sacrifícios purificadores, convertendo, com as luzes do Evangelho, à corrente da redenção, os espíritos mais empedernidos. Abandonados e desprotegidos na Terra, eles passam, edificando no silêncio as magnificências Reino de Deus, nos países dos corações e, multiplicando as notas de seu cântico de glória por entre os que se constituem instrumentos sinceros do bem com Jesus Cristo, formam a caravana sublime que nunca se dissolverá.

Humberto de Campos
Do livro: Boa Nova, Médium: Francisco Cândido Xavier.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019


NOS PASSOS DO SENHOR

 “...Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para vida....” Jesus; Mateus, 7:4

Nos domínios da alma, não há conquista sem merecimento e não existe merecimento sem trabalho.

O caminho da ilusão é de fácil acesso, mas o que conduz à vida plena constitui permanente desafio e somente conseguem percorrê-lo os que já sabem renunciar.

A porta da felicidade que procuramos Abrir-se-á com a chave do dever cumprido.

Jesus traçou o caminho que precisamos percorrer por nós mesmos, sustentando nos ombros a cruz das provas remissoras.

Ninguém avança sozinho.

Os que seguem à frente nos auxiliam mas, por nossa vez, devemos socorrer aos companheiros da retaguarda.

Prossigamos nos passos do Senhor e Nada nos desnorteará.

Irmão José

TENDE BOM ÂNIMO

Francisco Cândido Xavier e Carlos Antonio Baccelli
(autores Diversos)

terça-feira, 22 de janeiro de 2019


JARBAS L. VARANDA

Escritor, Jornalista, Radialista, Orador espiritualista e notável Advogado do Fórum de Uberaba, Minas.
CHICO XAVIER 50 anos como porta-voz dos Espíritos.
Para entendermos a beleza e a importância da vida missionária, de Francisco Candido Xavier, no campo da mediunidade, é preciso situá-lo no contexto histórico. Para isso, basta recordar a missão do Brasil no concerto das Nações, do ponto de vista espiritual. Nesse sentido, nada melhor do que transcrever o que nos diz Humberto de Campos em "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho":
"Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima de seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, FRUTIFICANDO EM OBRAS DE AMOR PARA TODAS AS CRIATURAS." (Humberto de Campos, em "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho").
"O Brasil, segundo sua história, é um país onde a paz e a concórdia se estabelecerão, como penhor de um evangelismo convincente e digno de ser imitado", (Prof. Carlos Pepe, em "Jesus, Kardec, Emmanuel").
Humberto de Campos ressalta o esforço da Espiritualidade visando preservar a integridade territorial do "Coração do Mundo" e a incumbência do Divino Mestre a ISMAEL, para ser o seu zelador espiritual.
A MISSÃO DE CHICO XAVIER NO BRASIL.
Nessa ordem de idéias, estando o Brasil com uma elevada missão, e como o Alto necessitasse de um continuador de KARDEC, DISCÍPULO FIEL, no desempenho da tarefa de manter vivos os ensinos de JESUS que o Espiritismo revive em sua pureza primitiva, CHICO XAVIER aparece como um dos mais "LÚCIDOS DISCIPULOS DE KARDEC, ALMA TEMPERADA EM REPETIDAS EXPERIÊNCIAS". (Roque Jacinto, em "Quarenta Anos no Mundo da Mediunidade"), estreitamente ligado ao Cristianismo primitivo, e que deveria enobrecer a MEDIUNIDADE, com vistas ao levantamento INTELECTO-MORAL da Humanidade, como realmente aconteceu.
Escolhido a dedo pelo Alto, Chico Xavier reencarna na Terra em 1910 com a elevada missão de difundir e exemplificar o Evangelho de Jesus na Pátria do Evangelho, nela permanecendo já há 50 anos no sagrado labor mediúnico, sem claudicar, continuando FIEL, aos ensinos dos Espíritos!
Sua vida é de toda conhecida. Nasceu em berço humilde e toda a sua existência foi decalcada no sofrimento, nas dificuldades de toda sorte. Cresceria pobre e sem título acadêmico.
Todavia, jovem ainda, acordou para a mediunidade.
E com ele estaria não apenas o Espírito de sua progenitora, naqueles formosos diálogos no fundo do quintal de sua casa em Pedro Leopoldo, mas e sobretudo EMMANUEL para guiar-Ihe os passos, porque no COMANDO DA FALANGE incumbida de florescer o Evangelho nas Terras brasileiras!
E as obras mediúnicas, através de sua psicografia, iniciada em 8 de julho de 1927, tornaram-se um fenômeno, tendo na vanguarda uma OBRA CICLÓPICA e que por si só bastaria para demonstrar a imortalidade da alma e o objetivo maior de sua missão - a evangelização das almas pela mensagem e pelo exemplo: "PARNASO DE ALÉM-TÚMULO!"
Sua obra mediúnica abarca toda a gama de conhecimentos humanos, não se ajustando a qualquer hipótese no campo das explicações científicas atuais, sendo, todavia, considerado por Herculano Pires, como um Homem-Psi, ou um paranormal, um "interexistente", isto é, um ser que vive entre dois planos: o físico e o extrafísico, dotado, assim, de percepções extra sensoriais.
E mais ainda: Se o Espiritismo sustenta e a Parapsicologia demonstra, em pesquisas de laboratório (através de um Price, de Oxford, Soal, de Londres, Carington, de Cambridge, e Fernandes, de B. Aires) a comunicação extrafísica, Chico Xavier tem realmente demonstrado no labor humilde e desinteressado de sua mediunidade, em 50 anos sem interrupção nem desfalecimento, essa permanente comunicação de mentes desencarnadas com as criaturas humanas!...
- CONCLUSÃO -
De, PARNASO DE ALÉM-TÚMULO", lançado em 1932, até "COMPANHEIRO", de Emmanuel, completando 150 obras, em 1977, as mãos benditas de Chico Xavier, a serviço dos Espíritos, inscreveram na história da mediunidade uma verdadeira epopéia de Amor.
Há livros e livros, nós bem o sabemos, mas a obra mediúnica de Chico Xavier está isenta de joio. E parafraseando Castro Alves, poderíamos dizer: "Oh, bendito o que semeia livros espíritas a mancheias e leva o povo a pensar!"
Para aquilatarmos da importância de Chico Xavier para a difusão do Espiritismo no Brasil e, conseqüentemente, a projeção do Brasil no concerto das Nações como País que tem por missão reviver o Cristianismo primitivo, basta recordaras suas entrevistas no "Pinga-Fogo", realizadas no Canal 4 de São Paulo. Graças a este acontecimento, o Espiritismo ganhou, sem sombra de dúvida, 50 anos de adiantamento no reconhecimento e no respeito dos seus ensinos evangélicos perante a opinião pública!...
Daí a nossa gratidão, o nosso carinho para com essa alma que encarna as virtudes cristãs da bondade, da humildade, da autenticidade, do serviço perseverante e desinteressado na mediunidade, sem descanso, sem férias, sem reclamação, sem exigências, com um só pensamento: semear os ensinos dos Espíritos, que revivem Jesus!
Daí, a nossa gratidão, sim, pelo trabalho evangélico e missionário daquele que não apenas difunde esses ensinos, mas, sobretudo, os tem vivido em todos os instantes de sua vida. Nós poderíamos mesmo dizer que, se Allan Kardec foi "o bom-senso encarnado" na feliz expressão de Camille Flammarion, Chico Xavier é o Evangelho personificado!
Chico, que Deus o abençoe. Temos certeza de que de cada um dos espíritas brasileiros se eleva, nesta ocasião uma prece ao Pai rogando que o cubra de bênçãos espirituais, recompensando-o pelo muito que nos tem dado!...
CHICO XAVIER, A GRANDE PRESENÇA
Sem dúvida, nosso querido Chico é a grande presença no trabalho da divulgação da IDÉIA espírita, através da mensagem esparsa e do livro espírita, recebidos num ambiente de simplicidade e pureza doutrinárias, numa demonstração permanente de serviço desinteressado no bem em favor da nossa abençoada Doutrina Espírita, e, consequentemente da Humanidade.
Nesse sentido, ainda, entendemos ser, a obra mediúnica de Chico Xavier, a PRINCIPAL Fonte Mediúnica para o desenvolvimento e desdobramento dos ensinos de ALLAN KARDEC em razão da sua absoluta fidelidade ao pensamento dos Espíritos.
E recordando as primitivas casas do Cristianismo primitivo, o GEP constitui, na atualidade, um oásis de Paz, de Consolo e esclarecimento espirituais de quantos o procuram, enfim, uma verdadeira "Casa do Caminho" em termos espírita cristãos!
A PALAVRA DO PRESIDENTE DA FEB, FRANCISCO THIESEN, ATRAVÉS DE "O ESPÍRITA MINEIRO":
ENTREVISTADOR: Como encara a missão de Chico Xavier?
"F. Thiesen: Encaramos com o maior respeito e admiração o trabalho do valoroso médium mineiro, Francisco C. Xavier.
Acostumamo-nos a apreciar o valioso intercâmbio entre os dois mundos, iniciado há cinquenta anos em Pedro Leopoldo, através da figura humilde, simpática e laboriosa desse lutador perseverante.
O nosso companheiro tem honrado, sobremaneira a mediunidade, dando-nos, no Espiritismo e fora dele constantes e difíceis testemunhos, os quais nos autorizam considerar a tarefa que realiza como legítimo mediunato.
Aproveitamos o ensejo que nos oferece o "O Espírita Mineiro" para enviar ao querido médium o abraço fraternal dos Diretores da Casa-Mater, renovando-lhe, assim, nossos votos de Paz, Amor e Trabalho na Seara do Senhor".

Fonte: Do livro “LUZ BENDITA”


FRANCISCO CANDIDO XAVIER
RUBENS SILVIO GERMINHASI

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019


CONFIDÊNCIA DE MÃE

Andradina América de Andrada E Oliveira*

Dei-te um berço de rendas e de flores,
Adorei-te por nume excelso e amigo
E inclinei-te, meu filho, a ser comigo
Soberano de sonhos tentadores.

Ordenava, no orgulho que maldigo:
– “Não te curves nem sirvas, onde fores...”
Entreguei-te mentiras por louvores
E enganosa fortuna por abrigo.

Hoje, de alma surpresa, torno a casa;
Tremo ao ver-te no luxo que te arrasa,
Como quem dorme em trágico veneno!

E choro, filho meu, choro vencida,
Por guardar-te entre os grandes toda a vida,
Sem jamais ensinar-te a ser pequeno.

(*) Poetisa, contista, romancista, iniciou sua vida literária, quase menina, conforme afirma sua filha Lola de Oliveira em Minha Mãe!, escrevendo em inúmeros periódicos sul-riograndenses. Foi também teatróloga e aplaudida conferencista. Professora pela Escola Normal de Porto Alegre, com distinção em todas as matérias, a poetisa de Folhas Mortas lecionou em cursos particulares, em várias cidades gaúchas, depois de nove anos dedicados ao magistério público. Fundou um jornal literário feminino, O Escrínio, mais tarde transformado em revista ilustrada, e formou, segundo Antônio Carlos Machado, entre as maiores feministas brasileiras de sua época. De 1920 até à sua desencarnação, residiu na capital paulista. (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 12 de Junho de 1878 – S. Paulo, 19 de Junho de 1935.)

BIBLIOGRAFIA: Folhas Mortas; Preludiando, contos; Cruz de Pérolas, contos ; etc.

Fonte: ANTOLOGIA DOS IMMORTAIS
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER